Última postagem do Blog do Santinha.

Adeus, adiós, chao, goodbye, au revoir, adieu, arrivederci, ciao, auf wiedersehen e por aí vai. Bem, minhas amigas e meus amigos tricolores corais, esta é a última postagem do Blog do Santinha.
Anos de histórias, muita paixão, greia, pensamento crítico, alucinações e iluminações passaram por aqui. Mas nossa finitude radical – eita, o velho Heidegger – se expressa em tudo, inclusive naquilo que escrevemos.
O maior legado deixado por Sama, Inácio e Gerrá foi a publicação da Trilogia das Cores. Lembro de Sama me apresentando esse clássico da crônica futebolística pernambucana na Bodega do Abel, o português mais brasileiro de todos. Só texto foda. Icônico é pouco.
Muita honra ter participado dessa peregrinação santacruzense, etílica, literária e insana. Sim, muito insana.
Mas é inegável que essa modernidade líquida cansada – uma junção de Bauman e Byung-Chul Han – prefere os textos curtos. E isso quando há, nas redes sociais, o interesse em ler. Não há, creio, mais espaço para textos longos.O Twitter dita a regra dos textos curtos.
Nesse quesito – textos longos – vou me recolher à Literatura e à Filosofia, minhas paixões desde sempre. Os blogs morreram ou estão em estertores doloridos. Ataraxia estóica é isso: reconhecer aquilo que não podemos mudar.
A paixão pelo Santinha é imorredoura. Estarei no Arruda sempre, seja em tempos caóticos, ruins, mornos, bons ou excelentes.
Como diria T.S. Eliot, valeu a pena. Sim, valeu a pena demais. E pena, aqui, é antes de tudo escrever, compartilhar, xingar e amar.
Valeu, Blog do Santinha. Valeu a quem teve saco de acompanhar e ler essas linhas, essas postagens sempre cheias de verdade e amor.
E salve, sempre, o nosso Santinha!

É punk-rock-hardcore.

A galera costuma dizer que a Série D é um campeonato muito difícil. De boa, existe algum campeonato fácil? Seja no Brasileirão, nas diversas séries do campeonato inglês, as pelejas na Argentina ou em Camarões, não tem jogo fácil em lugar nenhum.

As dificuldades de cada certame se dão por suas diferenças. No caso da Série D, as características que acentuam o elemento punk-rock da competição se traduzem pela baixa qualidade técnica dos jogadores, baixo investimento, gramados para lá de sofríveis, jogos pegados na violência mesmo e pela quase inépcia tática universal.

Tudo se mistura. E não foi diferente nesse jogo do Santinha contra o CSE. O gramado surrado pela chuva do estádio Juca Sampaio em Palmeira dos Índios estava uma coisa linda. No primeiro tempo, sem dúvida alguma o melhor do jogo foi a zaga com Poço de Lama, Buraco e Grama Podre. Puta que pariu, que campo é esse?

Nesse quesito, o Arruda se garante demais. Enquanto Léo Medrado falava um bocado de bosta na rádio, a torcida que teve coragem de viajar para ver o jogo em terras alagoanas merece todo o respeito do mundo.

A partida de polo aquático, digo, futebol, foi uma das coisas mais horrorosas do ano. Mas não podemos colocar a culpa nos atletas, uma vez que nem Messi ou CR7 (Ronaldo ou Flávio) não teriam muito o que fazer em meio ao caos advindo de tanta água. E a drenagem? Porra de drenagem, é piscina mesmo.

Como diria os Devotos do Ódio, essa porra é punk-rock-hardcore. O segundo tempo começou mais rápido – creio que os jogadores atingiram a iluminação e compreenderam a mecânica do gramado encharcado – e a água parecia ter diminuído um pouco. Lembrei-me de uma regra de ouro do futebol de botão: quanto mais tempo a bola ficar na defesa do adversário, melhor. Era o melhor que se podia fazer.

Ratinho nadou que só a porra. O escafandro de Rafael parecia pesar uma tonelada. Jefferson deu uma saída terrível e quase fez merda. E aí começou o festival de chutão, apesar do Santa Cruz ter acordado, imprimindo, dentro do possível, o ritmo de jogo. Porém isso não durou muito e o CSE teve mais posse de bola.

Mas esse jogo de usina ou de várzea terminou em um zero a zero feioso que só a porra. Menos mal. Um pontinho importante. O jeito agora é aguardar dia 19 para voltarmos ao Arruda. E que seja um dia de sol: a torcida, o futebol e principalmente o povo da RMR merece.

Até lá, é escutar muito Heavy Metal e ter paciência. Não tenho dúvida que a torcida mais apaixonada do Brasil vai fazer sua parte. Sempre fizemos a diferença e temos que ajudar o clube a sair dessa famigerada Série D. Mostramos isso no domingo passado.

E salve meu Santinha!

Deu liga.

Domingo amanheceu ensolarado. E dia de sol, ultimamente no Recife, é uma vitória. E era isso o que a torcida coral queria que ocorresse na celebração dos 50 anos do Arruda. Acordamos com o espírito sobrelevado, uma alegria legítima e aquela velha e boa sensação de que tudo iria dar certo.

Cheguei nos arredores do Mundão às 15h30. Fui bater o centro em Abílio. Mandava fotos e notícias do jogo, via zap, para meu amigo Heber que mora em Brasília. Essa paixão ocupa o Brasil inteiro. Na entrada das sociais me encontrei com Heitor. Estava, como todos ali, exaltado de alegria. A atmosfera era incrível: sorrisos esparsos, gritos de guerra, camisas tricolores para todo lado… era gente pra caralho.

Comprei os tickets para uma porrada de cerveja e entrei nas arquibancadas das sociais. O Arrudão estava lindo. O sol, senhor todo poderoso desse dia, prenunciava ventos bons e um gosto de conquista pairava no ar.

A torcida cantava embalada por data tão especial. E a entrada do time em campo foi saudada com essa mesma alegria. Foi, de longe, o melhor primeiro tempo do Santinha na Série D.  Parecia outro time: aguerrido, concentrado e jogando com vontade. O domínio era absoluto sobre o Sergipe. Criamos várias chances de gol. Ratinho acertou o passo e jogou bem. Alemão foi um dos melhores em campo e Wescley criou situações de perigo para a meta de Dida.

Daniel Pereira meteu um chutaço no ângulo que foi espalmada com categoria. Jogada plástica. Uma pintura. A pressão coral era avassaladora, não dava trégua. Até que aos 42 do primeiro tempo – após gols perdidos e bola no travessão – Furtado cruza na pequena área e Hugo Cabral, no melhor estilo Usain Bolt, ultrapassa a zaga e faz o gol. O Arruda explodiu de alegria. Chuva de cerveja, abraços aleatórios e muita, mas muita felicidade.

O segundo tempo começou com uma postura menos ofensiva do Santa Cruz. A torcida chiou e berrava para Martelotte atacar. Parece que o time escutou e partiu pra cima. De boa, esse jogo era para termos ganho de, ao menos, 3 x 0.

Após o apito final, fui me encontrar com Juninho, Jerry, Marc, Roberval e Big em Abílio. No meio de muita cerva e cantorias de vitória, Big soltou essa: “É, parece que essa torcida deu liga ao time”.

Porra, exatamente isso. Na mosca. Essa torcida coral é muito foda mesmo. Empurrou o time o tempo todo, acreditou e foi agraciada com a nossa entrada no G4 do grupo. Era impressionante como todo mundo ria, as piadas mais sem graça soavam como a coisa mais cômica do universo.

Os brindes se multiplicavam, a cantoria seguia noite adentro e aquele sentimento que o sol havia nos fornecido no início da manhã e por toda a tarde parecia ter encontrado abrigo em nossos peitos. Uma vitória solar para iluminar nossa estrada a partir de agora.

Eu já estava bêbado quando me encontrei com Lucas no posto na Av. Beberibe. Estava tentando pegar um táxi para ir me encontrar com meu grande amigo Leonardo Neves no Rosarinho, pois a cachaça tinha que continuar, ainda mais quando havia tantos motivos para celebrar.

Lucas era só sorriso. Essa alegria própria que nós tricolores corais portamos é uma coisa linda demais. Trata-se de um sentido de pertencimento coletivo que emanou de 19.999 corações que estiveram presentes no jogo.

Sair do Arruda com uma conquista superlativa é bom demais. Avante, meu Santinha. Se ganharmos o próximo jogo contra o CSE fora de casa, segure a onda, pois o Arruda vai lotar dia 19 contra a Jacuipense. É bom demais ser Santa Cruz de corpo e alma. Ninguém nos segura depois desse domingo. Deu liga e só vou apostando.

Salve meu Santinha!