Doidice coral.

Eu estava tomando um chope na saudosa Budega do Abel quando vi Samarone entrando com uma porrada de livros na mão. Ele estava divulgando A Trilogia das Cores, 3 volumes que traziam uma caralhada de textos do Blog do Santinha escritos por ele, Gerrá e Inácio França. Uma seleção das melhores crônicas desse blog. O ano era 2015.

Eu já vinha realizando algumas parcerias filosóficas, literárias e artísticas com Sama. Essa parceria se tornou ainda mais ativa quando ele abriu o também saudoso Sebo Casa Azul nas ladeiras lisérgicas de Olinda.

O nosso amado Santinha estava em processo de eleição e a galera maluca do Poço da Panela – capitaneada pelo mais que saudoso e gigante Naná – começou a realizar umas feijoadas regradas a muita cana para divulgar as chapas. A maioria da galera estava apostando em Alírio.

Não tem jeito, somos seres de esperança. Ainda bem. Diante de uma crise, de má gestão, de desacertos e ruindade escancarada, a boa e velha esperança surge em nosso socorro. Conheci Alírio e sua trupe e acompanhei a vitória da chapa que, como sempre, prometia transparência, boa gestão e bons resultados em campo.

Uma das coisas que considero inegavelmente boa nessa gestão foi a contratação de Sama e Inácio para a comunicação do clube. É preciso entender que ambos são jornalistas formados, grandes profissionais que possuem todo o respeito da classe. Possuem inteligência, honestidade, clareza e um puta talento para escrever.

Foi aí que Sama veio falar comigo: “Zeca, a situação da grana tá meio apertada e recebi uma proposta de emprego foda: trabalhar na comunicação do Santinha”.

“Caralho, eu disse, que arretado, meu velho. Muito boa essa notícia”.

“Mas tem um problema, ele me disse, não poderei mais escrever no Blog do Santinha. Trata-se de uma questão ética. Tu sabes que o Blog é muito crítico, uma greia geral e não dá para conciliar as duas coisas”.

“Então, eu questionei, o blog vai fechar?”.

“Fechar uma porra, ele respondeu de uma tacada só. O Blog vai continuar. Pensamento crítico é uma coisa que nunca podemos desistir. Ainda mais quando falamos do Santinha. Por isso queria te convidar para entrar no blog e continuar nossa tarefa. Não posso escrever e descer a porrada, mas tu podes”. Daí ele me deu a Trilogia de presente. E que presente!

Puta que pariu, eu pensei. Que responsabilidade do cacete. Assumir a escrita em um blog que tem leitoras e leitores cativos e que vai perder, por uma questão mais do que natural que é a necessidade de grana, dois grandes escritores de uma tacada só. Os fundadores dessa bagaça. Mas aceitei o desafio na hora. Tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda não arrega nem com a porra. Vamos nessa.

Escrevi meu primeiro texto. Sama deu algumas dicas de tamanho do artigo e orientações que só um jornalista foda sabe e publicamos meu primeiro texto. Antes disso, eu reli a Trilogia de um fôlego só. Percebi que Inácio era o racionalista do grupo. Sama era o torcedor porra louca apaixonado e Gerrá possuía uma crítica ferina e muito humor no sangue. Acho que, inconscientemente, terminei agregando essa doidice coral toda.

Que fique claro para aqueles que acusam Sama ou Inácio de se “venderem” à diretoria de Alírio: eles são profissionais e precisam de grana. Trabalham com orgulho e uma honestidade acima de tudo. Basta ver o Marco Zero Conteúdo. Se eles tivessem deixados a rebeldia de lado, recebido um cala boca vergonhoso, teriam encerrado o blog. Mas por uma questão de ética profissional incontornável – a não ser que o sujeito seja alma sebosa – perceberam que poderiam contornar essa situação e me chamaram.

Podem me acusar da puta que pariu, mas nunca deixei de ter pensamento crítico e amor pelo Santinha. Para o bem ou para o mal. Ou melhor, parafraseando Nietzsche, para além do bem e do mal.

Sabem quanto ganhamos escrevendo aqui? Nada. Nadinha. Porra nenhuma. É só paixão mesmo. Paixão por essa torcida maravilhosa recheada de pessoas loucas e cheias de amor. Paixão por esse clube único e sua história. Paixão pelo pensamento e pela escrita. Fazemos isso de coração. Amor por compartilhar, pelo desabafo, pelas gargalhadas e pelas críticas sempre presentes.

Espero que o Santinha volte logo a campo e que possamos nos encontrar em Abílio antes dos jogos. Todos vacinados, com a cara cheia de cerva e o coração vibrando de alegria.

Salve meu Santinha! Salve Sama e Inácio!

2 respostas para “Doidice coral.”

  1. Texto muito bom, cita na minha opinião três ícones da torcida tricolor.Sua leitura da personalidade dos três é perfeita. Particularmente me chocava com a crueza dos textos de Gerrá ria meio envergonhada(ser sexagenária talvez explique isso), no entanto foi o que mais tive contato e descobri um tricolor verdadeiro, honesto com o coração de ouro.Virei fã dele, do Blog e mais do que tudo tive certeza que é bom demais fazer parte dessa torcida.
    Viva o santa, viva o Blog do Santinha toda força para sua volta, o terror de nordeste vai precisar.

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