Passado de glória. E o presente?

Vocês se lembram do Bangu de Castor de Andrade? Fundado em 1904 – 10 anos mais velho do que o Santa Cruz – o clube carioca tinha destaque no futebol brasileiro nas décadas de 60 e 70. O estádio Moça Bonita foi palco de jogos antológicos e o Banguzão protagonizou cenas inesquecíveis dentro de campo quando o bicheiro mais famoso do Brasil mandava por lá. Tinha até Escola de Samba homenageando os alvirrubros.

Mas, assim como a Portuguesa que teve seus dias de glória, o Bangu decaiu tanto que hoje é quase esquecido na quarta colocação do grupo A7 da Série D. Essa competição desumana que conta com 8 grupos, tem em seu plantel equipes como o Moto Club, América-RN, Central, ASA, Gama e Joinville brigando feito cachorro louco para sair do inferno.

Parece quase natural que surja a seguinte questão: será que o Santinha, que já teve seus grandes dias de glória, está fadado a amargar o mesmo ostracismo futebolístico do Bangu? Evidente que há um quesito que nos distingue dos infortunados cariocas: a nossa enorme torcida.

Mas sem jogar, como a torcida pode ajudar seu time com a renda? E para  ter um número razoável de sócios em dia é preciso, antes de tudo, uma boa administração do futebol e que os resultados venham. Só marketing – e isso se bem feito – não é suficiente para motivar ninguém a gastar uma grana extra sabendo que a zona está comendo solta.

Digo isso porque no último dia 20, após o Santinha se lascar nos pênaltis contra o Floresta, o presida Joaquim Bezerra apareceu em uma entrevista ao vivo no programa Jogo Aberto Pernambuco. Foi uma das falas mais sem noção que ouvi na vida. O cara vai se afastar, não vai renunciar, pois há um CEO vindo que vai fazer o que ele está fazendo – e ele tem que se afastar para que o cara faça o que ele não fez – para depois ele voltar depois de 30 dias para fazer o que o CEO passou 30 dias aprendendo a fazer. Puta que pariu, que papo para boi dormir do caralho.

Seria muito mais honesto se ele dissesse: “Fui vice de ALN, lutei como vice com Albertino e meu sonho sempre foi ser presidente do Santa. Usei o ProSanta para me eleger. Vocês não se lembram que antes da eleição eu nem era carta do baralho? Realizei meu sonho, mas reconheço que quem nasceu para vice não pode ser presida. Reconheço minha incompetência e que tudo foi uma armação arretada. Vou seguir o conselho de Gerrá do Blog do Santinha: venho a público pedir para cagar e sair”.

Já corre solto nas redes sociais que Joaquim vai dar o lavra e nunca mais vai retornar. Na torcida.

Em outra entrevista, o novo CEO – adequadamente chamado aqui de Cargo Erroneamente Oferecido pelo DJ Magrones – Marcelo Segurado apareceu com um papo mole de coach que ninguém é idiota para achar que aquilo é o que ele chamou de “estamos fazendo o planejamento para 2022”.

O caba foi gerente de futebol do Goiás e Ceará e teve bons momentos no cargo e outros medianos. Mas, para além desse histórico, é bom lembrar a grana que transitava por lá e que, por aqui, será uma realidade bem diferente. Segurado vai ter que segurar o cu para lidar com a tromba de uma folha de 250 mil e problemas internos que parecem devastar e minar a cada dia o Mais Querido.

Temos um Conselho Deliberativo sobre o qual não sabemos nada, a tal transparência tão celebrada era balela, não temos uma política de responsabilidade fiscal e administrativa – algo que falamos desde sempre – e talvez seja necessário criar uma organização dos sócios para discutir nosso futuro. Acreditar que um nome apenas – e ouvi falarem em ALN, Alírio e Mirinda (o retorno dos que não foram) – seria a nossa salvação, é ingenuidade demais.

Clubes grandes entraram na linha de decrepitude futebolística e se reergueram com projetos coletivos, muita organização e verdadeiro conhecimento da ciência da administração de futebol. Vemos times como o Grêmio, Santos, Cruzeiro e o Do Recife em uma crise eterna por má administração e dívida que só a porra.

Por aqui, temos que pensar e agir porque, até ano que vem, não tem jogo para comentar. É só chanha de bastidores, política e administração. Pau na moleira.

Salve – e salvemos – o nosso Santinha!

2 respostas para “Passado de glória. E o presente?”

  1. Belo texto, Zeca. Achei massa:
    “há um CEO vindo que vai fazer o que ele está fazendo – e ele tem que se afastar para que o cara faça o que ele não fez – para depois ele voltar depois de 30 dias para fazer o que o CEO passou 30 dias aprendendo a fazer.”

  2. Acho que ele vem tirando a torcida de idiota! 5 dias pré jogo contra o floresta ele fala em investimento internacional, depois do jogo a conversa é… se houver público haverá receita! Já vi esse filme antes… e aqui nesse mesmo blog o sofrimento foi Grandeee

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