Usina F. C.

Este final de semana estou em Santos, SP, a terra do “sol paulista”. Ontem, no dia do Clássico das Emoções, estava tomando umas cervas com meu amigo Fred no Guarujá. Estava vestindo a camisa da Volt do Santa Cruz. Quando fomos pegar o carro dele no estacionamento, o cara que toma conta do lugar arregalou os olhos assim que me viu e lançou essa:

“Eita. É a camisa do Santinha, é?”.

Só quem diz “eita” é pernambucano. Respondi:

“Sim, a camisa do Mais Querido”.

Ele mudou de expressão na hora. Abriu um sorriso largo, os olhos marejaram e parecia empertigado com alguma força sobrenatural.

“Joguei nos juniores em Pernambuco, ele disse. Joguei no Arruda, nos Aflitos e na Ilha. Jogávamos as partidas preliminares antes dos jogos principais”.

“Caralho, eu exclamei, me lembro demais dessas partidas pré-jogo. Arretado demais”.

Ele desandou a contar a vida dele no Recife, o orgulho de ser pernambucano e o amor que seu pai tinha pelo Santa Cruz. Quando estávamos saindo, ele gritou: “Até a vitória!”. Pensei que era o presságio que faltava para garantir nossa vaga na final diante do Capibaribe.

Quando cheguei no ap da Airbnb, abri uma cerva, sintonizei o jogo no notebook e fui torcer.

 E o que vimos nos 90 minutos de jogo? A pelada mais horrível desse campeonato. Inacreditável o nível de ruindade. Meu amigo Vini, do Recife, me mandou essa mensagem no zap no intervalo: “Pqp, que jogo feio da porra”. Acrescentei: “Ruim x Ruim”.

Foi, de longe, o pior jogo do ano. Jogo truncado pela falta de qualidade, muitas faltas, um cai-cai da porra, uma tonelada de passes errados. Mas até que o Santinha se mostrou “superior” e dominava a partida. Jean Carlos parecia fatigado, exausto e não acertava uma. Bom pra gente, confabulei.

Entretanto, a peleja continuou no nível entre horripilante e tétrico. A melhor tradução para esse jogo: Usina Futebol Clube. Muito chutão, finalizações risíveis e nenhum comprometimento com a bola.

O Santinha quase chegou ao gol em um lance de bola parada e em um tropeção de Rafael Furtado. O que era feio ficou horrível e o que era horrível ficou inominável. Segue a pelota e vamos para os pênaltis. E pênaltis, meus amigos e minhas amigas, é loteria (inclusive um jogador de Santos ganhou na Megasena. Deveria ter jogado nessa porra, ao menos).

Logo de cara Jean Carlos perdeu a penalidade. Realmente, não era o dia dele e creio que qualquer torcedor coral das bandas do Arruda tenha acreditado que iríamos direto para a final. Mas aí, em uma brincadeira dos deuses do futebol, o modo Usina F. C. foi ativado e Alex Alves botou a bola para a puta que pariu e perdeu o pênalti. Assim é foda, meu filho. É perna de pau que se chama, é?

Tudo empatado e fomos para a última cobrança. Júnior Tavares colocou no canto e quase que Kléver faz uma defesa fuderosa. Aliás, o único que se salvou nesse show de horrores. E aí colocaram Ratinho para finalizar. E o que ele fez? Jogou a bola na trave. Na verdade, quando anunciaram que ele iria cobrar, eu pensei: “Fudeu”! Dito e feito. Nosso tricolor coral de Santos deve estar decepcionado com o que viu.

Agora é juntar os cacos e se focar na Série D. Bem, a D é nível hard de Usina F. C. Essa semifinal valeu para entrarmos no clima. Ao menos isso.

E salve meu Santinha!

3 respostas para “Usina F. C.”

  1. Brilhante análise: fazendo nascer lírio na lama, quer dizer, na usina…
    O melhor de tudo foi descobrir um tricolor saudoso. No fim das contas, o amor, a saudade, é o que vale!
    Sdc tricolores!!!

  2. Pra variar ótimo texto Zeca, pena que mais uma vez retrata um momento triste do Santinha.
    Mas o que valeu mesmo pra mim foi a menção do ao tricolor/jogador. Quando criança mesmo sempre nos fazia chegar antes para assistir as preliminares. Saudade desses tempos.

    Salve o Santinha que venha a famigerada Série D

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *