Desde menino, eu sempre gostei de futebol. De assistir e de jogar.
Ainda pirralho, na faixa de uns 10 anos de idade, quando me perguntavam o que eu queria ser quando ficasse grande, eu respondia que seria jogador ou engenheiro. Mas minha carreira como jogador de futebol durou pouco tempo. Começou no colégio e terminou no time de Seu Gilson.
Eu era da oitava série e, depois de participar dos jogos internos, o professor de educação física me indicou para o futebol de campo. Fui para lateral-direita. Mas achava um saco ficar treinando cruzamento na área, fazendo exercícios físicos, polichinelo, abdominal, marinheiro, essas coisas.
Além disso, o técnico era um sujeito todo almofadinha, pedante e vivia dando esporro na gente. Quando um de nós fazia uma lambança, ele tinha mania de chamar a gente de mulherzinha.
E eu tenho pra mim que aquele professor era frango.
A turma contava que certa vez, ele deu uma carona para Ronaldo Ventão. No meio do caminho começou a puxar conversa de putaria e pegou no pau de Venta. Além disso, Venta era titular absoluto da zaga. Era grosso para caramba, mas não perdia a posição pra ninguém.
Saí do time porque num torneio, eu falhei na lateral e tomamos um gol no final da partida.
Ele me chamou de mulherzinha.
Eu mandei ele tomar no cu.
Fui suspenso no colégio e cortado da equipe que disputou os jogos escolares.
Joguei também no time do bairro. Eu tinha uns dezesseis anos.
Quase toda tarde a gente jogava no campinho que tinha perto da minha casa.
O campo ficava na frente do bar de Seu Gilson. O futebol era o tira-gosto principal do bar.
Ele torcia para o Santa Cruz, era aposentado e tinha sete filhos. Eram duas mulheres. Dos homens, três jogavam bola. Os outros dois não podiam jogar. Um era aleijado, tinha uma perna fina, e o outro era abilolado. Diziam que quando ele quando, levou uma pancada na cabeça e ficou com problemas mentais.
Aí, Seu Gilson fez um time e me convocou para jogar. Ele era treinador e presidente ao mesmo tempo.
E o treino era uma beleza. Dávamos algumas voltas ao redor do campo, formava-se dois times e a bola rolava até escurecer. No domingo pela manhã, sempre tinha algum amistoso.
Uma vez, ele inventou de inscrever o time num campeonato no Ibura de Baixo, perto do Sesi. Fomos para final e o pau cantou. Nesse jogo, quase quebro o tornozelo. Tive que usar uma bota de gesso por bastante tempo e ficar ouvindo reclamações da minha mãe.
Depois disto, nunca mais eu quis compromisso com futebol.
Gosto mesmo é de bater bola, a famosa pelada. Inventou de botar padrão, disputar troféu ou apostar algo, não me animo.
Mas domingo, não sei por qual motivo, eu sonhei que era jogador do Santa Cruz.