Polícia para quem?

Não é indignação o que estou sentindo com o acesso da torcida no famoso Portão 9. É a mais pura raiva mesmo.
Depois alguém escreve sobre a importante vitória. Que encontre inspiração.
Eram 20h quando cheguei com meu ingresso para ver um jogo decisivo do meu time. Ou seja, estávamos a meia hora do início da partida.
Havia um caos completo. A rua estava numa escuridão quase completa. Cenário perfeito para confusão, roubos, brigas.
Falam rios das “Torcidas Organizadas”, mas ninguém lembra que temos uma “Polícia Desorganizada”, incapaz de organizar o acesso de pessoas com ingresso a um evento esportivo.
A cada minuto, a multidão se amontoava, porque ninguém saia do canto.
Ficamos parados, por vários minutos, até que saí e fui para perto da entrada, ver o que estava acontecendo.
Os PMs da Tropa de Choque estavam retirando todas as barras de ferro que botam, em um jogo ou outro, para organizar a fila, e jogando na calçada!
Tudo isso no breu.
Era inevitável que, quando abrissem para a massa entrar, haveria mais confusão.
Minha sorte foi ter dado uma de jornalista, para ver a merda toda.
No meio desse caos completo, uma quantidade imensa de carros, no meio do povo que estava do lado, esperando algo se resolver.
Quando a PM liberou a massa, foi correria, gente caindo, chorando.
“Painho, painho!”, gritou um jovem, ao ver seu pai quase sendo esmagado. O homem se levantou e saiu correndo.
Foi assim que a torcida do Santa entrou ontem, nas arquibancadas. Tropeçando, correndo, esbaforida, tentando se proteger. Uma manada. Cada um tentando escapar de uma queda. Isso implica estudo, planejamento, previsão de torcida, reconhecimento do local.
Eu vivo batendo nesta tecla. A PM só vai trabalhar de forma decente e ordenada quando criar um batalhão não de CHOQUE, mas de acesso e acompanhamento de eventos esportivos.
Consegui entrar, porque no meio disso tudo, um sujeito afastou a barra de ferro e algumas pessoas conseguiram passar.
Quando passamos pelas catracas, parecíamos uns refugiados que tinham pisado em um solo seguro.
Teve gente entrando com 15, 20 minutos depois do jogo, e repetindo:
“Tem meio mundo de gente do lado de fora”.
Na saída do estádio, vocês sabem o que mais atrapalhava o fluxo da massa coral: a escuridão e os vários ônibus da PM.
Ou seja – o único lugar do entorno do Arruda que não poderia estar escuro, era na saída do Portão 9.
O único lugar que vários ônibus não deveriam estar, era junto da saída do Portão 9.
Sei que nem o governador, nem o comandante da PM, nem ninguém vai fazer porra nenhuma.
Torço para que o presidente do Santa Cruz Futebol Clube, Alírio Moraes, lidere um movimento por uma “Polícia Organizada” em Pernambuco, antes que tragédias aconteçam.
Até isso, vou perguntar seguidas vezes: Polícia para quem?

***
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A alma de um time em um gesto

Amigos corais, o futebol tem lances que são eternos. Lances e gestos.
Poderia passar a manhã lembrando alguns. Vou a um dos mais inesquecíveis.
Final da Copa de 1958, na Suécia. O Brasileiro jamais tocara na taça Jules Rimet. Final conta os donos da casa. Aos quatro minutos e pouco, gol da Suécia. Quem não gelou, lembrando da tragédia de 1958. Um jogador brasileiro que não identifico pega a pelota e Didi sai do meio de campo para buscá-la. Ele vai com ela segurando com a mão esquerda, altivo, dono de si. Vai caminhando mansamente, quase assobiando algum chorinho, como quem diz aos demais jogadores – “calma, que o jogo nem começou direito, vamos virar essa partida já já e dar olé nesses Zé Ruela”.
Resultado: apresentação de gala do Brasil. Vitória por 5 x 2 e o primeiro título mundial.
Não foi um lance, foi um gesto.
Mas não posso me estender. Já é final início da tarde e a cidade do Recife respira as três cores corais. Os telefonemas se multiplicam, o zap-zap está em tempo de entrar em colapso. Twitter, facebook estão feito a gora, gritos para chamar o vizinho para tomar umas, enfim. Tudo caminha para a Avenida Beberibe, logo mais à noite. São milhões de combinações de horários, lugares, botecos, barracas, caronas, desculpas no trabalho para sair mais cedo, além dos efeitos colaterais, como a absoluta falta de concentração para abotoar até a camisa, nervosismo para botar açucar no café ou para discutir qualquer coisa lógica. Se sua mão já está tremendo, não se preocupe, você é absolutamente normal, torce mesmo pelo Santa.
E no meio deste frenesi, um lance não me sai da memória.
O jogador do Bahia se prepara para bater a falta – perigosíssima, por sinal.
Nosso zagueiro, Alemão, está na barreira. Ele sabe que o lance pode ser fatal para o Santa, precisa fazer algo.
Então ele resolve provocar.
Começa a bater com a mão no peito esquerdo, olhando fixamente para o jogador do Bahia. Pela TV, dá para ver ele gritar:
“Chuta aqui, é! Aqui!”
Ele fica repetindo com força, e batendo no escudo coral. Parece tomado. Não tira o olho dos olhos do adversário. Está em transe. Ao seu lado, está nosso artilheiro Grafite, um mero coadjuvante.
Alemão segue aos berros. Foram alguns segundos, mas me pareceram intermináveis minutos.
“Aqui! Chuta aqui!”
Ninguém, em sã consciência, quer levar uma bicuda no peito. Quem joga pelada, sabe que isso dói pacas.
Mas Alemão, ali, preferia sentir a dor no corpo, do que sentir a dor da massa coral, em caso de um gol baiano.
Na hora me ocorreu estar presenciando um desses gestos inesquecíveis do futebol. Ali, Alemão sabia que estava sendo um dos milhões de torcedores do Santa Cruz, defendendo a barra do paredão Thiago Cardoso.
O jogador do Bahia, certamente querendo dar um troco, não chutou no ângulo, como costuma fazer. Pegou ar e acertou uma bicuda no nosso Grafite, que ficou vendo estrelinhas. A bola não chegou à barra e o jogo seguiu.
Para mim, o lance da falta, acompanhado do gesto do nosso zagueiro, definiu uma mudança definitiva nesta reta final de Série B.
São 11 homens correndo, chutando, brigando, batendo no peito, por causa de uma nação de apaixonados. Não por acaso, ele ficou batendo do lado do coração e do escudo coral.
Quem pensa que o jogo contra o Oeste vai ser fácil, pode tirar a sua Shinerayzinha da chuva. Vai ser osso duro, e teremos que lutar muito.
Mas até o mais depauperado torcedor coral repete isso, a cada rodada:
“As coisas nunca foram fáceis para o Santa”.
Mas o espírito do time, para mim, está representado no gesto de Alemão, batendo no peito e pedindo para levar um bombaço.
Ali estava alma do Santa Cruz, nesta jornada épica, para voltar à Série A.
Vamos todos ao Arruda, arrancar mais esta vitória.

“O Santa Cruz tomou uma transfusão de sangue!”

Quando desci para comprar o pão, na quarta-feira, o jornal “AquiPE” tinha uma foto de Grafite na capa e o título:

“O artilheiro está de volta”.

Caso raríssimo: o jornal foi mais importante que o pão.

Depois do meio-dia, já fui me concentrando para a cerimônia da chegada do craque: 15h30, no Arrudão.

Às 14h, liguei para Esequias.

“Já estou a caminho do Arruda”, disse. O bicho é apressado mesmo.

Na sede, uma efervescência. Fui à sala para atualizar minha situação de sócio, mas não cabia nem a sombra de ninguém.

No bar de Abílio, aquela agitação.

Após dar uma boa golada, Esequias solta uma frase sonora e musical:

“O Santa Cruz se reencontra com o Santa Cruz”.

Começa a falar sobre a história do Santa, sua origem negra, humilde, batalhadora, e arrematou.

“Esse negro Grafite é a cara do Santa”.

Foi uma sorte imensa ter conversado com Esequias. Minutos depois, uma amiga de uma TV me pegou para uma entrevista. Usei os mesmos argumentos do meu amigo e devem ter me achado inteligente pacas. Valeu Esequias!

Depois de circular por tudo que era canto, chegamos às sociais, lotadas. Os vendedores gritavam a plenos pulmões:

“CERVEJA, Coca e água!”

Eles exageravam na palavra “CERVEJA” porque sabiam que aquele momento era único, sem proibição. A massa coral se esbaldou nas Itaipava geladíssimas.

Foi uma linda e tanto, divisora de águas. O clube realmente está se modificando. Marketing, comunicação e futebol funcionaram numa rara e perfeita harmonia.

“CERVEJA, Coca e água!”, insistiam os vendedores.

Até a TV Globo, que adora uma exclusividade, exibiu, no Globo Esporte, a entrevista que Grafite deu à TV Coral. Golaço!

Na volta, dei uma espiada na entrevista coletiva. O Negão fala bem que só.

Dei um abraço no eterno Rodolfo Aguiar, que soltou o arremate:

“Hoje o Santa Cruz tomou uma transfusão de sangue!”

Sangue negro, pois, como o das nossas origens.

Ainda há tempo

Eu já contabilizava essa derrota de ontem e também a do próximo sábado. Essa frase foi tirada de um e-mail que recebi hoje pela manhã de Milton Jr.

Pois bem, eu havia conversado com a primeira dama sobre isso antes do jogo de ontem (sim, lá em casa a gente conversa sobre futebol). Tinha dito a ela que com o futebol que o Santa Cruz tá jogando, se a gente voltasse dessas duas partidas fora de casa com um ponto, já seria um bom negócio.

Mas meus nobres, eu só não imaginava que na nossa conta de derrotas continuássemos levando gols ridículos.

Não bastasse as pixotadas contra o América Mineiro e o gol que levamos do ABC, outra  vez tomamos gols típicos de pelada.

Ontem começou pela lambança do goleiro Fred. Aquela tapinha que ele deu na bola, nos mostra o quanto é limitado esse rapaz. Pra completar a cena, o adversário que fez o gol se livrou tranquilamente da marcação.

No segundo gol, o jogador do Paysandu, que é um pouco mais alto do que Renatinho e Catatau, nem precisou pular pra cabecear e estava livre na nossa área.

Desculpe os que pensam diferente, mas essa nossa dupla de zaga mais parece dois retardados. Jogam como dois meninões adonzelados que ainda não tiraram o queijo.

Não é de agora que muita gente percebeu que nosso time é fraco.

Aqui pra nós, ganhamos o estadual numa cagada histórica. Na primeira partida da final, o Salgueiro brincou de perder gols. No segundo jogo, o do Arruda, não jogamos nada e graças aos deuses, Anderson Aquino achou aquele gol.

Levantamos a taça por uma dessas surpresas que saem da caixinha do futebol.

Alguém pode dizer que a sorte faz parte do futebol. Ok, mas ela não marca presença eternamente. Principalmente, num campeonato longo feito a seribê.

Alguns falam que nosso problema é o atraso de salários. Claro que o correto é pagar em dia, mas isto não pode ser visto como um fato isolado. Temos exemplos e mais exemplos de times que, mesmo com a folha de pagamento atrasada, conseguem ser vencedores. Pra quem não lembra, em 2005 subimos para Série A e tínhamos salários  atrasados. E mais, podem pagar em dia rios de dinheiro a Emerson Santos, Pedro Castro, Nathan e outros perronhas que eles vão continuar nos aborrecendo.

A culpa é dos jogadores? Não!

A culpa é de quem os indicou e de quem os trouxe.

Não sei quem foi indicado por Ricardinho, por Sandro, por Tininho, nem por Alírio. Não sei se Adriano, Ataíde e Jomar trouxeram alguém.

Não faço a mínima ideia de quem contratou ou deixou de contratar.

A única coisa que sei é que ainda há tempo para consertar.

Porém, é preciso atitude e é necessário dar o tiro certo. Talvez  esta seja a bronca: dar o tiro certo.

Adiar o jogo vai ser bom para a torcida, para o time e para Inácio França.

Amigos corais, são 14h em ponto e teremos um jogo do Santa às 19h30.

Por conta da greve dos motoristas de ônibus e dos rodoviários, fazer qualquer coisa na cidade do Recife está inviável. Outras categorias paralisaram suas atividades para protestar contra o projeto de Terceirização, que está sendo encaminhado pelo Congresso. Até os camelôs, que são a última ponta da terceirização, já foram pra casa.

Pois bem: soube que até o senhor Inácio França parou tudo, em adesão ao movimento, e está deitado na sua rede, lendo o segundo volume dos “Irmãos Karamazov”.

Gerrá já me ligou. Daqui a pouco sai do trabalho para uma fisioterapia no braço. Não entendo isso. O sujeito joga pelada toda quarta-feira e o problema é no braço. Freud explica.

Então, me parece que o mais lógico, o mais decente, o mais sensato, é adiar o jogo de hoje à noite (que não vai dar ninguém) e remarcá-lo para amanhã (um dia muito mais propício à prática futebolística e torcidística, por sinal).

Como a CBF foi pega com a mão na massa pelo FBI, e o atual presidente saiu correndo da Suiça (com medo de também ser algemado), talvez eles não tenham tempo (nem paciência) de decidir isso. Contemos, então, com a força jurídica do presidente Alírio.

Se adiar, Inácio vai chegar ao final do segundo volume da obra de Dostoiévsky antes da novela das 21h.

Pelos meus cálculos, vai ficar faltando apenas um livro para ele bater no peito e dizer que já leu “toda a obra de Dostoiévsky”.

Com um argumento desse, não tem quem discuta com Inácio. Já começou perdendo por séculos de história da Rússia.

É bem possável que ele fique chato pacas. Mas de que adianta, se ele não sabe nem o que é um “Lá e lô” no dominó?

Aguardemos as decisões superiores, que geralmente não levam em questão duas palavras que, quando andam juntas, ajudam bastante nossas vidas: bom + senso.

Ps. Acabamos de saber, pelo nosso incansável Arnildo Ananias, que vei mesmo ser realizado o jogo. Ele acrescenta algo importante:

“Vai haver jogo. Vai existir esquema especial de onibus. Haverá promoção de de taxis através do 99taxis a partir das 17h código: torcida99pe”.

Faltou dizer o que é esta promoção. O cara pega o táxi e ganha o ingresso de brinde? É isso?

 

Minha nova obsessão: o camisa 10

Foto: Antônio Melcop
O craque-guerreiro sangrando

Amigos corais, ser cronista do Santa Cruz implica em algumas obrigações, que faço com rara felicidade.

Ir a todos os jogos em casa (não tenho um superprograma de milhagens para viajar Brasil afora) e ver tudo o que acontece dentro e fora das quatro linhas;

Ter reuniões semanais de pauta com os demais cronistas Inácio França e Gerrá Lima;

Levar alguns esporros monumentais de Inácio, porque posto crônica sem foto;

Acompanhar as notícias sobre o Santa;

Ver as novidades da TV Coral, que agora é de uma velocidade incrível;

Desenvolver e tratar alguma obsessão semanal envolvendo nosso clube.

Pois bem. Minha obsessão atual é nosso craque da camisa 10.

Minha é forma de dizer. É a obsessão da massa coral, o craque João Paulo.

**

Ouso dizer que nosso título começou a nascer na Ilha do Retiro, quando ele fez o gol de cabeça nos acréscimos, botando a cabeça sem medo e rasgando o rosto com uma botinada do zagueiro adversário. Saiu batendo no peito e sangrando. Quando vi a imagem, pensei:

“Começamos a pensar no título”.

Ele não sentia dor nem nada. Só pensava no empate, que calou a torcida adversária. Depois vi as imagens da TV Coral, no vestiário. Os jogadores eram uma alegria só.

Assisti a partida contra o Paraná acompanhado de uma sucessão de gemidos, lamentos. A cada matada de bola do nosso 10, a cada passe rasteiro, no pé de algum atacante coral, aquele tipo de bola que só falta o sujeito dizer “toma, faz o teu”, eu escutava um sofrido comentário.

“Meu Deus, vão levar ele!”

João Paulo dava um drible, alguém sussurrava ao meu lado:

“Sei que o miséria do Sport está já está de olho!”

Um passe, uma dividida, e um senhor com ar grave, dois lances de arquibancada acima do escudo soltava:

“Tem que proibir passar jogos do Santa na TV. Se ele aparecer jogando, vão levar na hora”.

A cada gol do Santa, a comemoração durava trinta segundos. Logo se instalava uma mesa redonda do pessimismo.

As especulações são as mais malucas. De que o contrato dele está prestes a acabar. Que podem leva-lo por qualquer trocado. Que o Santa precisa fazer um contrato mais longo, fora as perguntas biográficas as mais diversas. De onde ele veio. Como Tininho foi encontrar o rapaz, que estava meio abandonado no Goiás. Quanto custa para levá-lo.

Macumbas as mais diversas estão sendo feitas para o Sport tirar o olho grande, até porque dificilmente eles acertam, quando vêm com ingresias para o nosso lado. Vejam o caso de Anderson Pedra. Levaram e deu errado. Há vários outros casos históricos.

Por trás disso tudo, de especulações e sofrimentos antecipados, devemos reconhecer o trabalho nos bastidores dessa selva futebolística para garimpar –  no meio de milhares de jogadores, procuradores, blefadores, pilantras – um craque da camisa 10.

Temos um craque no Arruda, e o nome dele é João Paulo.

Anotem no caderninho de vocês o que digo, neste 18 de maio de 2015, já segunda-feira. Se nosso craque ficar e o moleque Raniel jogar na fase final da Série B, a gente começa 2016 na série A.

Deus queira que eu tenha conseguido colocar a foto. Caso contrário, Inácio vai descer a lenha, na hora do almoço.

 

 

Cerveja nos estádios (II): o falso moralismo e a liberação em outros estados

é a fraca!
Damos prioridade a quem patrocina o Santa!

Nada como uma Sexta Feira Santa para seguir minha breve (e inútil) série de textos sobre a imbecilidade que é proibir a venda de cerveja nos estádios, sob o argumento de que ela gera mais violência.

Os diversos comentaristas deste afamado Blog são rápidos nas críticas à situação financeira do clube, como se isso – a falta de dinheiro – não tivesse relação com a capacidade administrativa de gerar soluções, prever problemas, conseguir pagar atletas de maior qualidade. Nossos apaixonados corais esquecem que temos pouquíssimas (e fracas) fontes de renda. Ou será que o PSG é um dos melhores do mundo só por causa da eficiência administrativa?

Nossas fontes: o dinheiro dos sócios em dia (que não é lá essas coisas); o dos jogos no Arruda (que não estão sendo muitos), e o da cota da TV (que é uma merreca, se olharmos o tamanho do Santa).

O dinheiro da venda de cerveja, pelo clube, é uma fonte importantíssima de renda para o Santa, que tem uma torcida que costuma lotar seu estádio. Outro dia conversei com um especialista da área e ele me informou que o cálculo é simples – uma média de três latinhas por torcedor. Ou seja, um público de 15 mil pessoas = 45 mil latinhas. Faz falta não? Do ponto de vista estratégico, essa aprovação vai ter um impacto enorme nas finanças corais.

O Sport, nosso principal rival, recebe seu cheque de R$ 3 milhões por mês. Vai se preocupar com o trabalho de vender cerveja? O Santa, este ano, vai receber, salvo engano, R$ 300 mil (por mês) de direitos da TV pela Série B. Além disso, começamos o ano sem dois patrocinadores: Copa do Nordeste e Copa do Brasil. Só com o time em campo, entra dinheiro no Arruda.

Depois escreverei sobre outra aberração em nosso futebol, que é a tendência à “espanholização” do futebol brasileiro, com base no excelente estudo de Emanuel Ferreira Leite Júnior, intitulado “As cotas de televisão do Campeonato Brasileiro: O “apartheid futebolístico” e o risco de “espanholização”.

Mas voltemos ao tema.

Se Pernambuco seguir a tendência nacional, a aprovação da venda de cerveja nos estádios vai ser até natural. Vejamos alguns exemplos de liberação que não representaram incremento nenhum na violência nos estádios:

Bahia – Liberou. Felizes os baianos;

Rio Grande do Norte – Liberous. Viva os potiguares;

Goiás – Uma liminar na Justiça garante a venda da cerva gelada. Grandes goiano;

Rio Grande do sul – Em 26 de fevereiro, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre aprovou a venda (faltava a sanção do prefeito). Cerveja com chimarrão;

Espírito Santo – Venda liberada após votação na Assembléia Legislativa, em dezembro de 2014 (dos 24 deputados, 20 votaram a favor). O governador, que tem nome de jogador, Casagrande, já sancionou o projeto. Viva o Espírito Santo;

Paraná – A caminho, graças à união dos três grandes (que deveria acontecer aqui).

Vejam que ótima iniciativa. No começo de março, Atlético Paranaense, Curitiba e Paraná se juntaram, contrataram um escritório de advocacia fuderoso e entraram na Justiça, para liberar a venda de cerveja nos estádios paranaenses, proibida desde aquela onda conservadora-proibitiva que assolou o país, entre 2009 e 2010);

Pernambuco – Em tramitação. A favor, somente Náutico e Santa. Federação Pernambucana e Governo do Estado apoiam na surdina, mas não se pronunciam.

O projeto está agora na Comissão de Saúde, esperando o voto da relatora Simone Santana, para ir a votação em plenário. Vale lembrar que a cervejaria Itaipava, que patrocina a Arena Pernambuco, tem um contrato anual de R$ 10 milhões, e já pensa em sair. Como o sujeito vai patrocinar a sua marca de cerveja se o seu produto é proibido?

**

Nestas muitas pesquisas que fiz, li inúmeros artigos, consultei portais, mas no portal do Grêmio na ESPN, assinado por Fernanco Risch (www.espnfc.espn.uol.com.br/grêmio) que encontrei alguém que pensa parecido comigo. Como hoje é Sexta-Feira Santa, e ainda nem molhei o bico com vinho, não vou ficar gastando meu latim. Vejam o que diz o nobre gremista:

“Autor do projeto que criou o veto às bebidas alcoólicas nos estádios, o deputado estadual Miki Breier (PSB-RS) já refuta a decisão da Câmara, alegando que, com a liberação, haverá mais violência nos estádios. Além disso, o deputado, em sua conta no Twitter, afirmou: “Vereadores de Porto Alegre poderiam ajudar na busca de segurança, restringindo o consumo de álcool ao
redor dos estádios, não liberando”.

Segundo a lógica do conservador Breier, para diminuir a violência, há de se proibir o álcool, pois ele seria a força motriz que leva uma pessoa a dar um soco no rosto da outra. Concordo que o álcool desinibe o ser humano a ponto de coisas absurdas, mas não é assim que se resolve um problema”.

Ele cita um fenômeno que ocorre nos estádios que têm proibição, e que já vi várias vezes (onde eu viajo, vou a estádio);

“Mas, já que o assunto aqui é bebida alcoólica, algo que ainda não é proibido no Brasil ao ponto de algum Al Capone contrabandear uísque, há também o álcool nos estádios. Torcedores entram com luvas cirúrgicas, cheias de vodka ou uísque, escondidas nas cuecas. Não é algo que se detecte, por mais que se reviste bem. No estádio, compram um refrigerante e misturam a bebida. Ninguém
percebe”.

E prossegue:

“Na Arena, já vi um torcedor abrir uma garrafa de cachaça na minha frente. Uma garrafa nova de cachaça. Eu ouvi o rótulo se romper. Depois de servido em um copo de Coca Cola, fui oferecido com a bebida. Tomei um gole pra ter certeza. Posso dizer que uma cervejinha teria caído bem melhor”.

Ele cita o caso da Copa do Mundo, onde adversários, lado a lado, assistiam aos jogos sem confusão.

“Não é a cerveja que dá um soco, é um ser humano estúpido”.

“Argumentos como este do deputado Miki Breier, que para diminuir a violência basta proibir o álcool, é compatível em dizer que, para evitar que as mulheres sejam estupradas na rua, elas devam ser atadas no pátio de casa, para que não corram riscos transitando pela cidade; argumentos como este são os mesmos que pedem torcida única nos clássicos, para evitar que adversários se digladiem”.

Para encerrar meu texto de hoje, pesquei o comentário do meu conterrâneo, o cearense e blogueiro Gabriel Lobo, no texto de Risch.

Ele diz que o vice-líder do Governo, Evandro Leitão, deputado estadual e ex-presidente do Ceará, propôs uma votação sobre o tema na Assembléia Legislativa. Ele é a favor da venda de bebidas, alegando que seu uso não é a principal causa de violência nas praças esportivas.

“No entanto, nesta semana, um grande absurdo chegou a ser debatido por uma deputada completamente lunática, Silvana Oliveira, pedindo uma votação estúpida (ao meu ver). A deputada, além de ser contra a venda de bebidas, sugeriu que nos estádios de futebol do Ceará sejam colocados bafômetros nas entradas para impedir que o torcedor que ingeriu qualquer tipo de bebida possa adentrar para assistir ao jogo”, diz Lobo.

Amigos, vamos à luta. Se a idéia da deputada chegar à AL de Pernambuco, estamos é perdidos.

Já pensaram, chegar ao Arrudão e encontrar um Bafômetro, junto à entrada? Seria a glória do falso moralismo, que vai reinando país afora.

Eu não sei como seria nas sociais, mas as arquibancadas ficariam às moscas.

Feliz Páscoa e vamos pra cima da coisa tricolor!

Cerveja nos estádios: Agora depende da gente (Parte I)

Amigos corais, na semana passada entrevistei o deputado estadual Antônio Moraes (PSDB). Não o conhecia pessoalmente. É um senhor de 61 anos, muito educado, gentil, conversa franca, me deixou boa impressão. Torce pelo Náutico e é uma voz quase solitária na Assembléia Legislativa, quando o assunto é o retorno da venda de bebidas nos estádios de futebol de Pernambuco.

Caso vocês não saibam (embora estejam sofrendo na goela), desde abril de 2009, foi proibida a venda de qualquer bebida alcoólica em nossos estádios. O projeto de lei 13.478 , apresentado pelo deputado Alberto Feitosa (PR) foi aprovado com tranquilidade (na verdade, quase por unanimidade). Estamos há seis anos vivendo com essa bobagem monumental.

Pois bem. Em 2013, Moraes resolveu ir à luta. Convocou uma audiência pública e levou para a Assembléia o Ministério Público, Federação Pernambucana de Futebol, Juizado do Torcedor (que se posicionou a favor, inclusive mostrando números favoráveis). Não havia nenhuma conexão real entre venda de cerveja x aumento da violência, porque neste período de abstinência, teve gente morta a tiros (defronte aos Aflitos) ou vítima de arremesso de uma privada (no Arruda).

O deputado descobriu que o projeto tinha grande chances de ser aprovado. Naquele momento, tinha apoio da Federação Pernambucana, dos clubes, do Governo do Estado (até porque a Arena construída em São Lourenço se chama “Arena Itaipava”). Começou a tramitar com o projeto, que já fora aprovado, inclusive, por três comissões da AL.

Com o passar do tempo, viu que “ninguém botava a cara nem se posicionava”. Ele defendia a volta da cerveja aos estádios, apresentava os argumentos, mas, na mídia, “era o único que mostrava a cara e levava chumbo”. Pela falta de apoio, decidiu tirar de tramitação. Se avançasse e fosse derrotado no plenário, era o fim do projeto (pois teria que começar da estaca zero, passar por três comissões novamente etc).

No dia 18 de novembro de 2014, sentiu que era o momento. O Brasil sediara uma Copa do Mundo que teve cerveja em todos os estádios. Pediu o “desarquivamento do Projeto de Lei 2153/2014”. Peguei uma cópia do documento. Há um parágrafo lindo:

“II – é autorizada a venda e consumo de bebidas alcoólicas em bares, lanchonetes e congêneres destinados aos torcedores, bem como nos camarotes e espaço VIP dos estádios e arenas, sendo que a venda deve iniciar 02 (duas) horas antes de começar a partida;”

Desta vez, uma novidade: o presidente do Sport se posicionava contra.

O projeto foi a votação. No plenário, estavam 25 deputados. Para ser aprovado e já valer, precisava de maioria simples – 13 votos.

“A gente tinha 18 votos certos”, lembra Moraes.

Mas há, na Assembléia, a “Bancada Evangélica”, com 10 deputados. O discurso deles é que vai aumentar a violência, que é um retrocesso etc. “Eles acabam influenciando outros deputados que nunca foram a um estádio”, diz Moraes, que é torcedor do Náutico e gosta de ir a campo.

Na hora da votação, o deputado Clodoaldo Magalhães decidiu “pedir vistas” para estudar mais o projeto e dar seu voto. Como estava encerrando a legislatura, o projeto foi arquivado.

Bem, para a conversa não alongar muito, o projeto já foi aprovado em duas comissões, está na Comissão de Saúde, e caminha para uma nova votação. Há uma possibilidade real de aprovação, mesmo com a posição contrária do Sport e o “em-cima-do-murismo”, do Governo do Estado (que não mostra a cara, mas se for aprovado, vai gostar muito).

Além disso, Alberto Feitosa, considerado “um calo” na tramitação do projeto, se afastou da Asembléia. Em fevereiro, assumiu a Secretaria de Saneamento da Prefeitura do Recife. Que faça uma grande obra de saneamento na nossa cidade e nos deixe, nós torcedores, em paz com nossa cerva gelada os 90 minutos.

Para Moraes, não faz o menor sentido continuar tendo esta proibição de vender bebida nos estádios de Pernambuco, quando estados como Ceará, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Bahia, já liberaram. “Há estados que nunca proibiram, como Goiás”, diz.

“O que está acontecendo é que o entorno dos estádios se tornou um imenso bar a céu aberto. As pessoas enfiam o pé na jaca antes de entrar. Não está ajudando nada, o torcedor esta, isso sim, é bebendo muito mais, chegando em cima da hora. Além disso, os clubes estão tendo uma perda financeira enorme. O próprio Estado, que tem uma Arena batizada de “Itaipava” poderia ser beneficiado, já que a Arena está dando prejuízos”.

Para a aprovação (sem data certa para ser votada), Moraes conta com um único aliado de verdade – o torcedor, que vai a campo, acompanhar seu time.

“As redes sociais têm grande força”, diz.

Em outras palavras, a bola agora está com a gente. Vamos mexer?

(Contato do deputado: antonio_moraes@alepe.pe.gov.br)

Ganhei na Timemania!!!!!!!!!!!!!!!!!

Não é brincadeira não: ganhei na Timemania! Agora sim, é que vou poder ajudar ainda mais o meu querido Santa Cruz Futebol Clube.

Foi a primeira vez em minha vida que ganhei na loteria. Antes disso, nem bingo ou sorteio de qualquer coisa. Sou um sucesso total em matéria de azar. Ou um fracasso completo em matéria de sorte.

Aliás, é bom corrigir: eu era. A uruca é coisa do passado.

A história é a seguinte: na véspera de mais uma viagem para Belém do Pará e Tocantins, achei dois contos no bolso. Uma nota velha, amassadinha, mas limpa depois de passar por não sei quantas lavagens na máquina lá de casa. Um dinheirinho quase perdido, troco de uma conta imemorial, talvez de uma água mineral comprada após um jogo no Arruda ou de um saquinho de jaca no centro da cidade. Não importa, o que importa é que adoro jaca e que ganhei na Timemania.

Fiz a aposta, preguei o volante no quadro de cortiça bem na frente da mesa do meu notebook e fui embora para a Amazônia Legal Brasileira. Na volta, esqueci de conferir a aposta. Só ontem à noite, depois de batucar o texto de um free-lancer, notei o volante agitado graças à ventania do Ciclone pendurado no teto.

Na internet, foi fácil  achar o resultado: 07-12-29-44… coração na boca. Conferi uma, duas vezes. Na mosca.

E vou usar o prêmio todo para ajudar meu time.

Podem conferir o resultado da Timemania 626. Eu fui um dos 13.240 apostadores que acertaram quatro números e faturaram R$ 6,00. Vou agora mesmo na loteca reapostar tudinho e marcar o coraçãozinho do Santa.

As indecisões definitivas do treinador, e a torcida que continua crescendo

Estou de saco cheio desse converseiro maluco do treinador, Sérgio Guedes. Nem no ensino fundamental eu escutava tanta besteira. Tudo bem que eu não entendia muita coisa que o professor de Moral e Cívica falava, mas ele não era um treinador de futebol e eu não era jogador profissional. Alguém precisa dizer para ele: Deixa de falar merda e bota esse time para ganhar!

Nem pensador francês fala tanta coisa que não leva a lugar nenhum. Deleuze, Guatari, Foucault, todos são mais compreensíveis do que ele.

Resumindo tudo, temos um homem indeciso à frente dos atletas. A obsessão do time ideal acaba deformando o time possível. É o típico sujeito que tem dúvida até no par ou ímpar. Porra, mas logo no Arruda?

Mudando de assunto.

Vejo nos principais jornais a pesquisa realizada pelo Lance/Ibope sobre as maiores torcidas do Brasil. O Santa, apesar das quedas e coices para as séries C e D (toc toc toc), em nenhum momento perdeu torcida. Muito pelo contrário. O Santa aumentou o tamanho da sua massa e está na décima sétima posição nacional.  Não sei quantos times tem hoje no Brasil, mas estamos entre as maiores.

Isso não é novidade. A novidade é que os jogadores parecem não ter o coração na ponta das chuteiras. Como mandante da Série B, a equipe coral só venceu três dos oito jogos. Se dependêssemos apenas dos jogos em casa, estaríamos na zona de rebaixamento.

Dos 20 clubes da Série B, a nossa é a quarta pior campanha.

Ahm , sim, tivemos dois jogos nos Aflitos (um sem público) e um na Arena Pernambuco (argh), mas mesmo assim, os números permanecem: cinquenta e quatro por cento dos pontos em disputa.

Os jogadores têm medo de torcida?

Voltando ao nosso cientista maluco.

O treinador do Náutico, Dado Cavalcanti (prata da casa coral) chegou, mexeu em algumas peças, resgatou os escanteados, deve ter dado umas broncas, mandou todo mundo correr atrás da bola como se fosse um prato de arroz com feijão. Resultado: o time embalou, ganhou três seguidas e já está na nona posição. Sem firulas, sem frescuras, sem dramas existenciais. Não dá para ficar lendo Hamlet à beira do gramado.

Sérgio Guedes gosta de inventar uma roda. Já testou três esquemas táticos nas últimas partidas. Mudou o time em todos os jogos. No treino de ontem, fez quatro mudanças. Não sei se tem filho. se tiver, é aquele pai que muda os meninos de colégio todo ano, porque suspeita que os professores não são bons.

Cito trecho do Diário de Pernambuco de hoje:

Guedes tirou Natan e colocou Pingo. Em um outro momento retirou Wescley, Keno e Sandro Manoel para colocar Julinho, Bileu e o retorno de Natan. Indecisões que só são definidas momentos antes da partida. 

Jogo pelada toda semana. A melhor coisa do mundo é quando eu conheço como jogam os caras que estão no meu time. Já sei até em que área do campo eles gostam de jogar.

De indecisão em indecisão, Sérgio Guedes, mais um campeonato vai indo para o mato.

A torcida que cresce mesmo no meio do deserto, como sempre, é a única novidade boa nas bandas do Arruda.