Cerveja nos estádios: Agora depende da gente (Parte I)

Amigos corais, na semana passada entrevistei o deputado estadual Antônio Moraes (PSDB). Não o conhecia pessoalmente. É um senhor de 61 anos, muito educado, gentil, conversa franca, me deixou boa impressão. Torce pelo Náutico e é uma voz quase solitária na Assembléia Legislativa, quando o assunto é o retorno da venda de bebidas nos estádios de futebol de Pernambuco.

Caso vocês não saibam (embora estejam sofrendo na goela), desde abril de 2009, foi proibida a venda de qualquer bebida alcoólica em nossos estádios. O projeto de lei 13.478 , apresentado pelo deputado Alberto Feitosa (PR) foi aprovado com tranquilidade (na verdade, quase por unanimidade). Estamos há seis anos vivendo com essa bobagem monumental.

Pois bem. Em 2013, Moraes resolveu ir à luta. Convocou uma audiência pública e levou para a Assembléia o Ministério Público, Federação Pernambucana de Futebol, Juizado do Torcedor (que se posicionou a favor, inclusive mostrando números favoráveis). Não havia nenhuma conexão real entre venda de cerveja x aumento da violência, porque neste período de abstinência, teve gente morta a tiros (defronte aos Aflitos) ou vítima de arremesso de uma privada (no Arruda).

O deputado descobriu que o projeto tinha grande chances de ser aprovado. Naquele momento, tinha apoio da Federação Pernambucana, dos clubes, do Governo do Estado (até porque a Arena construída em São Lourenço se chama “Arena Itaipava”). Começou a tramitar com o projeto, que já fora aprovado, inclusive, por três comissões da AL.

Com o passar do tempo, viu que “ninguém botava a cara nem se posicionava”. Ele defendia a volta da cerveja aos estádios, apresentava os argumentos, mas, na mídia, “era o único que mostrava a cara e levava chumbo”. Pela falta de apoio, decidiu tirar de tramitação. Se avançasse e fosse derrotado no plenário, era o fim do projeto (pois teria que começar da estaca zero, passar por três comissões novamente etc).

No dia 18 de novembro de 2014, sentiu que era o momento. O Brasil sediara uma Copa do Mundo que teve cerveja em todos os estádios. Pediu o “desarquivamento do Projeto de Lei 2153/2014”. Peguei uma cópia do documento. Há um parágrafo lindo:

“II – é autorizada a venda e consumo de bebidas alcoólicas em bares, lanchonetes e congêneres destinados aos torcedores, bem como nos camarotes e espaço VIP dos estádios e arenas, sendo que a venda deve iniciar 02 (duas) horas antes de começar a partida;”

Desta vez, uma novidade: o presidente do Sport se posicionava contra.

O projeto foi a votação. No plenário, estavam 25 deputados. Para ser aprovado e já valer, precisava de maioria simples – 13 votos.

“A gente tinha 18 votos certos”, lembra Moraes.

Mas há, na Assembléia, a “Bancada Evangélica”, com 10 deputados. O discurso deles é que vai aumentar a violência, que é um retrocesso etc. “Eles acabam influenciando outros deputados que nunca foram a um estádio”, diz Moraes, que é torcedor do Náutico e gosta de ir a campo.

Na hora da votação, o deputado Clodoaldo Magalhães decidiu “pedir vistas” para estudar mais o projeto e dar seu voto. Como estava encerrando a legislatura, o projeto foi arquivado.

Bem, para a conversa não alongar muito, o projeto já foi aprovado em duas comissões, está na Comissão de Saúde, e caminha para uma nova votação. Há uma possibilidade real de aprovação, mesmo com a posição contrária do Sport e o “em-cima-do-murismo”, do Governo do Estado (que não mostra a cara, mas se for aprovado, vai gostar muito).

Além disso, Alberto Feitosa, considerado “um calo” na tramitação do projeto, se afastou da Asembléia. Em fevereiro, assumiu a Secretaria de Saneamento da Prefeitura do Recife. Que faça uma grande obra de saneamento na nossa cidade e nos deixe, nós torcedores, em paz com nossa cerva gelada os 90 minutos.

Para Moraes, não faz o menor sentido continuar tendo esta proibição de vender bebida nos estádios de Pernambuco, quando estados como Ceará, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Bahia, já liberaram. “Há estados que nunca proibiram, como Goiás”, diz.

“O que está acontecendo é que o entorno dos estádios se tornou um imenso bar a céu aberto. As pessoas enfiam o pé na jaca antes de entrar. Não está ajudando nada, o torcedor esta, isso sim, é bebendo muito mais, chegando em cima da hora. Além disso, os clubes estão tendo uma perda financeira enorme. O próprio Estado, que tem uma Arena batizada de “Itaipava” poderia ser beneficiado, já que a Arena está dando prejuízos”.

Para a aprovação (sem data certa para ser votada), Moraes conta com um único aliado de verdade – o torcedor, que vai a campo, acompanhar seu time.

“As redes sociais têm grande força”, diz.

Em outras palavras, a bola agora está com a gente. Vamos mexer?

(Contato do deputado: antonio_moraes@alepe.pe.gov.br)