Cerveja nos estádios: Agora depende da gente (Parte I)

Amigos corais, na semana passada entrevistei o deputado estadual Antônio Moraes (PSDB). Não o conhecia pessoalmente. É um senhor de 61 anos, muito educado, gentil, conversa franca, me deixou boa impressão. Torce pelo Náutico e é uma voz quase solitária na Assembléia Legislativa, quando o assunto é o retorno da venda de bebidas nos estádios de futebol de Pernambuco.

Caso vocês não saibam (embora estejam sofrendo na goela), desde abril de 2009, foi proibida a venda de qualquer bebida alcoólica em nossos estádios. O projeto de lei 13.478 , apresentado pelo deputado Alberto Feitosa (PR) foi aprovado com tranquilidade (na verdade, quase por unanimidade). Estamos há seis anos vivendo com essa bobagem monumental.

Pois bem. Em 2013, Moraes resolveu ir à luta. Convocou uma audiência pública e levou para a Assembléia o Ministério Público, Federação Pernambucana de Futebol, Juizado do Torcedor (que se posicionou a favor, inclusive mostrando números favoráveis). Não havia nenhuma conexão real entre venda de cerveja x aumento da violência, porque neste período de abstinência, teve gente morta a tiros (defronte aos Aflitos) ou vítima de arremesso de uma privada (no Arruda).

O deputado descobriu que o projeto tinha grande chances de ser aprovado. Naquele momento, tinha apoio da Federação Pernambucana, dos clubes, do Governo do Estado (até porque a Arena construída em São Lourenço se chama “Arena Itaipava”). Começou a tramitar com o projeto, que já fora aprovado, inclusive, por três comissões da AL.

Com o passar do tempo, viu que “ninguém botava a cara nem se posicionava”. Ele defendia a volta da cerveja aos estádios, apresentava os argumentos, mas, na mídia, “era o único que mostrava a cara e levava chumbo”. Pela falta de apoio, decidiu tirar de tramitação. Se avançasse e fosse derrotado no plenário, era o fim do projeto (pois teria que começar da estaca zero, passar por três comissões novamente etc).

No dia 18 de novembro de 2014, sentiu que era o momento. O Brasil sediara uma Copa do Mundo que teve cerveja em todos os estádios. Pediu o “desarquivamento do Projeto de Lei 2153/2014”. Peguei uma cópia do documento. Há um parágrafo lindo:

“II – é autorizada a venda e consumo de bebidas alcoólicas em bares, lanchonetes e congêneres destinados aos torcedores, bem como nos camarotes e espaço VIP dos estádios e arenas, sendo que a venda deve iniciar 02 (duas) horas antes de começar a partida;”

Desta vez, uma novidade: o presidente do Sport se posicionava contra.

O projeto foi a votação. No plenário, estavam 25 deputados. Para ser aprovado e já valer, precisava de maioria simples – 13 votos.

“A gente tinha 18 votos certos”, lembra Moraes.

Mas há, na Assembléia, a “Bancada Evangélica”, com 10 deputados. O discurso deles é que vai aumentar a violência, que é um retrocesso etc. “Eles acabam influenciando outros deputados que nunca foram a um estádio”, diz Moraes, que é torcedor do Náutico e gosta de ir a campo.

Na hora da votação, o deputado Clodoaldo Magalhães decidiu “pedir vistas” para estudar mais o projeto e dar seu voto. Como estava encerrando a legislatura, o projeto foi arquivado.

Bem, para a conversa não alongar muito, o projeto já foi aprovado em duas comissões, está na Comissão de Saúde, e caminha para uma nova votação. Há uma possibilidade real de aprovação, mesmo com a posição contrária do Sport e o “em-cima-do-murismo”, do Governo do Estado (que não mostra a cara, mas se for aprovado, vai gostar muito).

Além disso, Alberto Feitosa, considerado “um calo” na tramitação do projeto, se afastou da Asembléia. Em fevereiro, assumiu a Secretaria de Saneamento da Prefeitura do Recife. Que faça uma grande obra de saneamento na nossa cidade e nos deixe, nós torcedores, em paz com nossa cerva gelada os 90 minutos.

Para Moraes, não faz o menor sentido continuar tendo esta proibição de vender bebida nos estádios de Pernambuco, quando estados como Ceará, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Bahia, já liberaram. “Há estados que nunca proibiram, como Goiás”, diz.

“O que está acontecendo é que o entorno dos estádios se tornou um imenso bar a céu aberto. As pessoas enfiam o pé na jaca antes de entrar. Não está ajudando nada, o torcedor esta, isso sim, é bebendo muito mais, chegando em cima da hora. Além disso, os clubes estão tendo uma perda financeira enorme. O próprio Estado, que tem uma Arena batizada de “Itaipava” poderia ser beneficiado, já que a Arena está dando prejuízos”.

Para a aprovação (sem data certa para ser votada), Moraes conta com um único aliado de verdade – o torcedor, que vai a campo, acompanhar seu time.

“As redes sociais têm grande força”, diz.

Em outras palavras, a bola agora está com a gente. Vamos mexer?

(Contato do deputado: antonio_moraes@alepe.pe.gov.br)

Esse gol tinha que ser dele

Aquela jogada ainda não saiu da minha cabeça. Vez por outra, ela bate na porta da minha cachola e aí, eu fico me lembrando daquela pintura lance.

Ele acabara de entrar no jogo. Já estamos no segundo tempo. A partida está empatada e a torcida impaciente.

O garoto pega a bola na lateral do nosso meio-campo. Ginga o corpo franzino pra lá, faz que vai driblar, engana os marcadores, surpreende a todos os presentes e toca para o companheiro que parte pela direita e puxa o contra ataque.

Pelo meio, o menino abusado deu o passe e partiu na carreira. Preto, de pernas finas, com passos firmes, ele conhece como ninguém cada folha daquela grama. O rapaz voa pelo gramado e acompanha a jogada.

Dono de uma personalidade de quem já nasceu craque, ele não tem medo e pede a bola.

“Eu, eu, eu”. “Toca, toca, toca”.

Recebe o passe e, com a coragem de quem tem intimidade com a pelota, numa fração de segundos, ele olha a barra, vê onde o  arqueiro está colocado, mira e bate de primeira.

O goleiro nem se mexeu. Ficou estático. Parado. Apenas girou a cabeça e assistiu à bola entrar caprichosamente no fundo da rede.

De onde eu estava, lá longe, no alto, do outro lado e em posição diagonal, não consegui acompanhar a trajetória da bola. Até achei que tinha sido um chutezinho qualquer. Uma cafofa. Só me dei conta do fato real, quando vi o barbante sendo estufado e o grito de gol ecoando pelo nosso estádio.

Golaço. Gol do caralho. É gol, porra!

Pulei da cadeira. De punhos fechados e coração batendo forte, vibrei com há tempo eu não fazia. Fiquei em êxtase.

Ao meu lado, uma moça se abraçou com um amigo. Um pirralho, na faixa de uns treze pra catorze anos, quase leva uma queda nas escadas.

A vibração da torcida foi algo diferente. Foi um ato coletivo de carinho. Não apenas pelo gol, nem somente pela grande jogada, mas pelo ator principal.

“Tinha que ser dele. Tinha que ser dele”, gritava um senhor.

Sim! Claro! Concordei plenamente.

Aquele gol era para ser dele. Não podia ser de mais ninguém.

“Esse menino não merece chibata e castigo. Ele merece é jogar, jogar e jogar”, eu falei.

Ontem, antes de dormir, eu revi o lance.

Cada vez que vejo, parece que o gol fica mais bonito.

Hoje pela manhã, um colega chegou e perguntou se eu havia visto o gol que um tal de Soares fez no jogo Barcelona e Real Madrid. Descreveu toda a jogada e ao final falou que foi um golaço.

“Vi não. Nem assisti ao jogo. Duvido que tenha sido mais bonito do que o gol que Raniel fez sábado”, eu disse.

Vitória dentro e fora de campo

Amigos corais, costumo levar o radinho para o estádio, mas no jogo de ontem, fiquei surpreso. Ante de começar o jogo, o repórter entrou ao vivo, para entrevistar o presidente Alírio Moraes, que recebia nas tribunas do Arruda Jane Andrade dos Santos, coordenadora e parte da equipe técnica do escritório do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) para os estados de Alagoas, Paraíba e Pernambuco.

Unicef? Santa Cruz?

Eu não tinha bebido nada. Pensei estar delirando, já que acusam o presidente coral de ser um “Delírio”.

Não estava. Era uma ação estratégica de comunicação e marketing do clube, sob a batuta de Jorge Arranja, Inácio França e Laércio Portela.

“O convite foi feito em razão do novo momento pelo qual passa o clube”, explicou-me o senhor Inácio França, em entrevista exclusiva hoje de manhã, após a XII Corrida das Pontes.

A lógica é simples, mas nem todo mundo consegue associar simplicidade com a marca de um clube centenário como o nosso.

“Com a política de zerar o déficit do clube, o Santa Cruz está saindo da “clandestinidade” administrativa e fiscal. Por isso, precisa estar aberto para a sociedade, assumindo as responsabilidades de um clube de futebol na formação dos valores de todas as crianças e adolescentes, não apenas da sua torcida”, continuou Inácio, enquanto mastigava uma singela barrinha de cereais e lembrava do aniversário do filho Bruno.

Após pegar a medalha por ter completado bem a prova (não me disse o tempo), França seguiu detalhando a iniciativa, e o que ela pode representar.

“Uma das responsabilidade de todos os clubes de futebol, não apenas o Santa Cruz, é o de reconhecer que tem um papel de formação moral e social das crianças, adolescentes e jovens. Por isso, o santa se coloca à disposição do Unicef  para eventuais campanhas e projetos que envolvam o esporte educacional. Afinal, um clube de futebol pode alcançar corações e mentes de uma forma que nenhuma outra instituição consegue”.

Creio que só amanhã, com as matérias dos jornais e TVs, teremos uma ideia de como isso repercutiu na mídia.

A vitória dentro de campo e a classificação nos deixaram aliviados nesta caminhada de 2015. Demos um enorme passo para fortalecer o grupo de atletas, o treinador e todo um trabalho, que está apenas começando.

Fora de campo, o Santa Cruz começa a pensar em outros caminhos, novos rumos, horizontes.

Ou seja, nada nos impede de sermos um grande clube dentro e fora de campo.

Ps. Já tive oportunidade de trabalhar como consultor do Unicef, o suficiente para dizer que Jane Santos é uma grande mulher, amiga e torcedora apaixonada da Cobra Coral, filha de outro grande torcedor. Imagino a emoção que viveu, ao ser convidada pelo presidente para se associar ao programa “Sou Santa Cruz de Corpo e Alma”. Vou pedir que escreva sobre esta experiência.

Vai pra cima deles Tricolor!

Amigos corais, estou contando nos dedos os pontos para a classificação. Depois, começa outro campeonato.

Este ano, temos algo no horizonte esportivo, dentro e fora das quatro linhas. Vejo, sinto e percebo, na torcida rubro-negra, uma preocupação que beira ao pânico.

“A cobra coral não está morta!. Eles podem passar para o quadrangular final!”

Pior: O Santa cruz pode chegar à final do Estadual de 2015.

Sim, estou botando o carro em cima dos bois, mas quem deve ser razoável e racional é um economista, advogado, engenheiro, médico. Cronista coral não pode ter nada disso em seu cérebro. Deve ser totalmente irracional. Deve prever sempre o melhor, o imponderável, o impossível.

Os comentaristas de plantão vão dizer que temos problemas em várias posições do time, que o treinador é isso, que falta aquilo, há uma seleção de resmungões profissionais aqui no Blog do Santinha, mas o fato é que o Santa Cruz mudou, nos últimos anos, o equilíbrio emocional com o rival preto e vermelho.

Foram três lapadas seguidas, que deixou o time leonino na lona. Só perdemos aquela semifinal do ano passado porque aquele triste do Vica resolveu se acovardar. Nem gosto de lembrar daquele jogo fatídico, que nos levaria à beira do tetra.

Cada vez que encontro um rubro-negro e começamos a conversar sobre os muitos problemas nacionais, sinto no ar aquela nuvem escura em cima deles. É aquele incômodo existencial:

“Será que essa praga do Santa Cruz vai para a final com a gente, de novo?’, é o que sinto o rubro-negro pensando.

E uma suor frio de tensão vai escorrendo pela testa.

Então, camaradas, vamos logo comprar os ingressos para sábado. É jogar bem, ganhar e avançar na classificação e pensar nas finais.

Da arquibancada, já sinto o grito ecoar:

“Ôôôôôôô… Vai pra cima deles Tricolor!”

100 anos de amor e paixão pelo Santa Cruz

Eu nunca imaginei que um dia, alguém iria telefonar para mim, me convidando para um aniversário de cem anos.

Meu celular toca.

“Oi Gerrá. Sou Catarina, tudo bom? Você não me conhece. Peguei teu número com fulano de tal (desculpem mas não prestei atenção ao nome de quem deu meu número a Catarina). Sabe o que é? É que meu avô vai completar 100 anos. E vamos fazer uma festa para ele, lá em Bezerros. Ele é torcedor do Santa Cruz. Será que vocês poderiam levar a Minha Cobra para festa do meu avô?”

Daí pra frente foram trocas de e-mails, telefonemas, mensagens, etc. Aos poucos a história foi se organizando. A turma de Catarina mandou buscar a Minha Cobra e fez questão de contratar a orquestra oficial da Troça.

Domingo passado, fomos participar dos cem anos de Seu José de Félix.

Uma festa linda. Daquelas que contagia o mais morgado dos seres humanos. Festa que fica registrada no caderno da memória.

A princípio, tentamos organizar uma VAN para nos levar. Samarone foi o primeiro a botar o nome na lista. Inácio se animou, mas logo deu pra trás. Boy, Ninha e Naná confirmaram presença. Na lista já tinha dez nomes. Mas faltando uns três dias para o evento, o povo foi farrapando. Dos dez que deram o nome, oito já haviam desistido. Pra não correr risco, resolvi ir de carro. Chamei um conhecido que não bebe, para dirigir e nos mandamos para Bezerros. Eu, Alessandra, Esequias e Maria.

Chegamos antes da missa que foi celebrada em ação de graças. A capela da casa de recepção tava lotada e ficamos embaixo de um toldo colocado ao lado da capela. Nossa curiosidade era ver o aniversariante de perto, afinal de contas não é nada comum se encontrar por aí, alguém com um século de vida.

Seu Zé de Félix chegou. Esbanjando alegria e com um sorriso no rosto, foi recepcionado pela banda marcial Cônego Alexandre.

Um senhor que estava ao meu lado disse baixinho, “ele foi trombonista dessa banda”.

Ao meu lado, Esequias comentou, “Gerrá, o véi tá inteiro todo”.

“Meu irmão, tem nego que não chega nem nos oitenta nessa forma aí”, eu disse.

A paixão e o amor pelo Santa Cruz forma herdados do pai. Seu Félix, pai de Seu José, chegou a jogar no Santa Cruz. Era do tipo que torcia pelo Santa até assistindo videotaipe de jogo. “Mesmo sabendo que o Santa tinha perdido, meu bisavô assistia os videotaipes e ficava torcendo para o Santa Cruz empatar”, me disse Catarina.

Seu Zé de Félix mora em Vitória de Santo Antão. Escuta tudo que é resenha e é frequentador assíduo do Arruda. Sócio em dia, este ano ele foi até para os amistosos. Seu clã é formado por nove filhos, 20 netos e 10 bisnetos.

Certa vez, há uns três anos atrás, ou seja, aos noventa e sete anos de idade, Seu Zé de Félix saiu de Vitória com uns amigos para um jogo do Arruda. Chegaram em cima da hora, no corre-corre, compraram ingressos do Todos com a nota, se mandaram para o anel superior e deram de cara com a Inferno. A torcida foi ao delírio, “uh, terror! O vovô é tricolor!” e Seu Zé fez a festa da galera. Assistiu à partida e ao final foi escoltado por alguns integrantes da organizada até onde o carro estava estacionado.

Ontem, perguntei a Catarina:  “E aí, vocês vão domingo?”

“É claro. Vovô, papai, meus primos, todo mundo!”

Não sei se ela me incluiu nesse todo mundo, mas domingo eu também vou.

É tudo ou nada, doutora…

Amigos corais, ser cronista do Mais Querido tem suas alegrias e suas tristezas. A pior dela é a falta de assunto.

Eu, Gerrá e Inácio já gastamos uma fortuna com o celular, discutindo algum assunto para escrever, mas o time parece que transfere, para a torcida e para os cronistas corais, a falta da raça. O time está sem ritmo de jogo, a torcida está amuada e os cronistas estão caçando assunto. Essa derrota para o Salgueiro, parodiando o velho compositor, foi “de amargar”.

Lá vamos, mais uma vez, no domingo, para o “tudo ou nada”.

Hoje à tarde, terminando o tratamento dentário, a Dra Lúcia resolveu dar uma limpeza geral nos tártaros e descobriu uns pontos pretos atrás da arcada.

“O senhor toma muito café ou fuma?’

Tenho uma sorte danada para dentista que me faz perguntas com aquela broca roncando na minha boca.

“Hummmmmaaannns, respondi.

Quando fui cuspir, ela disse que não tinha entendido.

“Tomo muito café, mas em jogo decisivo do Santa Cruz, fumo dois ou três cigarros, por causa do nervosismo”.

“Ah, e já está tendo jogo decisivo?’, disse ela, acelerando a broquinha.

“Hummmchhhtrooo”. continuei.

Eu tentava dizer à dentista que o Santa vive uma fase que é cruel – todo jogo é decisivo. Cada ponto é de vida ou morte. O pênalti perdido por Betinho, contra o Náutico, nos custou dois pontos. O gol que levamos contra o Salgueiro, domingo, mais um (estava caminhando para o empate). Era para estarmos com três pontos a mais.

Mas de que adianta? “Era” e “Se” não funcionam para o futebol. Aliás, não funcionam para porra nenhuma na vida. Ficam entre o passado e o impossível.

Só tem uma saída. O time entrar comendo a grama, domingo, se impor como time grande, e ganhar. Precisa alguém que grite, dentro de campo, que puxe a responsabilidade.

A outra saída é a torcida se invocar e encher o Arrudão, empurrar o time, e arrancar a vitória. A torcida tem que dobrar o tamanho dos pulmões.

Fazer como aqueles dentistas brutais, que arrancam o dente na marra, usando aquele alicate alemão.

Se o Santa ficar entre os quatro, começa outo campeonato. Essa frase é típica de cronista fora de forma.

Mas vale.

Nossa casa é o Arruda – capítulo final

Encerramos aqui, nossa série de textos sobre a desgraça que é levar o Santa Cruz para jogar lá em São Lourenço da Mata, na Itaipava Arena Pernambuco. A famosa Arena do Defunto.

Esta semana, com todos os tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda que encontrei, perguntei sobre essa coisa de fazer jogos na Arena. Sem exceção, os tantos com quem falei não gostam de ir para Arena Pernambuco. A reclamação é geral e os motivos são vários.

No embalo do assunto, pegamos por e-mail a opinião de outros frequentadores assíduos do nosso Arruda.

O descontentamento de todos é claro.

O bom seria era que nosso Conselho Deliberativo e o Executivo tomassem uma atitude com relação aos cinco jogos que ainda teremos que fazer lá na Arena do Defunto, para não acontecer o que houve no ano passado, quando fizemos jogos importantíssimos longe da nossa casa. E que não inventem de querer levar mais jogos para aquele fim de mundo.

Ontem, recebi um texto que foi publicado no www.central3.com.br, cujo título é “A libertadores será goumertizada?”. Gabriel Brito, o autor, expõe seu ponto de vista sobre esse modelo de comportamento padronizado que são essas tais Arenas que chegaram por aqui e vão se alastrando pela América do Sul.

O cara termina o texto dizendo o seguinte:

“Depois, ao sair do estádio comportado e cheiroso, esse mesmo torcedor não encontrará a malha de transporte inglesa, o sistema de saúde alemão, a segurança pública holandesa ou os direitos sociais franceses. E, consumado o golpe, se questionará aonde foi que deixamos a nossa alma.”

Tenho pra mim que Gabriel já deve ter vindo assistir a algum jogo na Arena daqui.

Vou ficando por aqui, torcendo para que domingo nosso time vença o jogo lá no sertão e junte mais uma vitória.

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Gustavo Souto  – Auxiliar de Depto. Pessoal

Moro no bairro do Curado e estou mais perto da Arena que a maioria dos tricolores, daí fica mais fácil ir para os jogos. Fui para uns 6 jogos (America,Vasco, Vila Nova, Luverdense, Porto e Boa Esporte). Em um deles,  fui de transporte publico, pra mais nunca. Todas as outras vezes, procurei ir de carro ou em algum transporte alugado.
Não vejo reais motivos para o Santa Cruz jogar na Arena, um estádio sem necessidade nenhuma de ter sido construído. Para quem mora perto como eu, é bom(menos ruim), mas fico imaginando quem mora longe, que depende do transporte publico para chegar em casa. Um estadio mal localizado que se chama Arena Pernambuco, que nas emissoras de televisão falam que fica localizado em Recife, mas todos nos sabemos que se encontra em São Lourenço da Mata. Um bom exemplo dessa situação foi o primeiro clássico desse ano contra o Nautico(mandante) que teve como publico menos de 5.000 pessoas. Se o jogo fosse nos aflitos daria no minimo 15.000 pelo motivo da localização e transporte. A pessoa vai para arena gasta no minimo R$100,00(ingresso, estacionamento, comida ruim, guarana ruim e cerveja sem álcool)

O Arruda é nossa casa é onde me sinto bem e não troco ele por nenhum estadio. O dinheiro que foi gasto para construção do elefante branco mas conhecido como Arena Pernambuco deveria ter sido utilizado para reforma do nosso querido Arruda, da casa da barby e do mangue. 

Danilo Cardoso – Técnico em Informática

Já fui a 4 jogos na Arena e sou totalmente contra o Santa Cruz ir jogar ali. Nós temos um Estadio, não precisamos mandar jogos na Arena. Sem contar na mobilidade e a distancia pra chegar ali.

Infelizmente, o torcedor nunca é respeitado nessas decisões. Ninguém sabe quanto o clube realmente ganhou, não há uma transparência. Como eu já falei, o Arruda é nossa casa e nunca poderá ser deixado em segundo plano.

Ayrton Senna – Técnico em Refrigeração e estudante de engenharia mecânica

Para o santa cruz, mais do que Sport e Náutico, é um verdadeiro equívoco jogar na Arena!

É nítido que pra quem vai pra um jogo do Santa no Arruda, ver que a zona norte tem o Arruda como uma segunda casa. No Arruda a população de baixa renda tem a geral, e na arena? Alguém pode dizer: “mas tem todos com a nota” Mas é longe, a comida é cara, a bebida é cara, e se você precisar sair no meio do jogo pra casa numa emergência?? e aí? o que fazer?

Fui a 7 jogos na arena, mas não porque era na Arena, fui porque acompanho o time mesmo fora de casa e é assim que me sinto quando jogo na Arena. Pra mim e pra muita gente ali é como se estivesse jogando fora de casa. Primeiro que as regras que são impostas aos torcedores que se submetem a ir para lá são totalmente contra o verdadeiro sentido do futebol. A torcida não pode ficar em pé, o cara não pode tirar a camisa pra rodar e cantar jogando com o seu time, eu não posso levar a minha bandeira pra colocar em alguns espaços do parapeito da arquibancada.Querem que os torcedores apenas assistam ao jogo! Mas os torcedores não querem apenas assistir ao jogo, eles querem participar do jogo, querem jogar com o seu time. Essa é a essência que faz o torcedor por mais novo que seja ir no Arruda em seu primeiro jogo e ver 78 mil pessoas na arquibancada num clássico contra o seu maior rival, e grande parte dessa multidão fazer a diferença, jogar com o time, cantar, vibrar, balançar as suas bandeiras com a convicção de que estão defendendo a sua pátria. Isso faz a diferença! Isso sim é uma experiência marcante! E não ir a um lugar que não pode ter lotação máxima “por questões de segurança” num clássico. Ir num lugar que parece mais uma loja de um shopping onde você é tratado como apenas mais um consumidor! 

É inadmissível jogar como mandante na arena num clássico, quando o nosso estadio está apto a receber esse jogo e a torcida pronta a usar a sua própria casa. Mais inadmissível ainda é firmar um acordo dessa magnitude sem consultar o povo (torcida/sócios) que ajudou a construir a sua própria casa trazendo até materiais de construção. Desrespeito com a torcida! Nenhuma consulta foi realizada para saber a intenção dos torcedores em usar a arena.

Lucas Alves – Estudante

Estive em todos o jogos que fizemos lá. Como mandante e como visitante. Mas acho um absurdo ir jogar na Arena! Temos nossa casa, temos nossas tradições e temos nossas gloriosas histórias marcadas no Mundão do Arruda.
Eu cresci no Arruda, me apaixonei pelo Santa Cruz no Arruda e é lá que eu quero ficar. É ali que fica a minha segunda casa e eu não quero conforto de primeiro mundo, eu quero emoção e vibração de terceiro mundo!

Infelizmente teremos que cumprir o acordo que foi feito e um contrato que foi firmado. Nos resta jogar esses 5 jogos e lutar para que novos contratos não voltem a ser firmados.

Junior Aguiar – Jornalista

Já fui há vários jogos na Arena, incluindo os jogos da copa das Confederações e Copa do Mundo.

Definitivamente, quando o Santa joga na Arena é verdadeira merda.. Tudo é complicado. Transportes e tal. Além do mais, acredito que o povão mesmo da massa, aquele que realmente o Santa, não vai do jeito que vai no Arruda. 

Essa coisa de futebol moderno que transforma o torcedor em um mero expectador, é tudo que há de ruim e de infeliz!

Edgar Assis – Contador

O Santa Cruz tem estádio. Ir para a Arena só mostra o quanto somos dependentes do TCN. Acho uma merda pra torcida e pra quem gosta do futebol de verdade. Eu mesmo não vou pra nenhum dos cinco jogos restantes.

 

Não negociem nossa alma!

Amigos corais, não sei quem negocia (ou negociou) os jogos do Santa Cruz com a Arena Pernambuco. Não sei quem é consultado. Não sei se o tal “Conselho Deliberativo” delibera alguma coisa. Não sei quanto entra (ou entrou) de dinheiro a cada jogo – e para onde vai (ou foi)  este dinheiro. Não sei de nada sobre essa estranha forma de tratar nossa casa, que é o Arrudão, um dos maiores estádios particulares do mundo.

O que está acontecendo, amigos, é que estão negociando nossa alma.

Quando saio de casa, para ir ao Arruda, saio rindo. Sou tomado de uma alegria particular, só minha, como o sujeito que recebe uma declaração de amor da mulher que ama, antes de sair de casa. Sei que vou encontrar a minha torcida. O meu povo. A massa coral, tão múltipla e indecifrável, quanto bela.

Tomo uma latinha de cerveja aqui em dona Nita, na frente do prédio, vou andando até o Parque 13 de Maio, pego um ônibus na Cruz-Cabugá – que já vem lotado de corais -, e em dez, quinze minutos, estou na porta do Arruda.

No entorno, barracas de cerveja, espetinho esfumaçado, macaxeira com charque, latão, latinha, promoção, aqueles sandubas misteriosos que o sujeito só come na beira do Arruda, ônibus passando, carro chegando, bandeiras, bandeirolas, casas com gente na calçada, tomando umas, escutando “Santa Cruz/Santa Cruz/Junta mais essa vitória…”

Ouso dizer que a Zona Norte do Recife, uma das mais povoadas da cidade, muda todo o seu cotidiano. Os morros descem. A geografia se modifica. Uma nuvem de paixão e poesia ronda e arranca as pessoas de casa.  É uma procissão de apaixonados. O Arruda, por sinal, pode ser visto de vários bairros, de muito longe.

Encontro com os amigos, biritas, enfrento a complicada entrada no estádio. Vou por debaixo das arquibancadas, aquele corredor que lembra um “túnel da torcida”, que vai mesmo entrar em campo, até que chego às arquibancadas e um portal se abre. Está lá, o graminha verde coral, o cheiro da torcida, a nossa casa. As figuras que conhecemos, mesmo sem saber o nome direito. A certeza de que, naquele lugar, muitas glórias aconteceram, muitos craques passaram, gerações se abraçaram, riram, choraram, se emocionaram, cantaram. Ali, nossa felicidade se multiplica, e nossa dor é amparada.

Agora, temos esta novidade, esta petulância – os atravessadores da nossa alma.

Somos obrigados a deixar nossa casa para assistir jogos numa “Arena” asséptica, fria, distante, com jeito de primeiro mundo, fruto de uma soberba do poder. Um estádio distante de tudo, construído para as elites, que sonham com os 90 minutos numa cadeira confortável. Um estádio que provoca, no torcedor coral, um sentimento trágico – ele sai de casa já irritado, chega irritado, assiste a um jogo deslocado (parece que está na casa de um primo rico e boçal), e volta pra casa ainda mais irritado. Mesmo que o time vença, o sujeito chega em casa puto, dizendo que não vai mais.

Falta tudo no entorno da tal “Arena”. O que seria uma “Cidade da Copa” é um descampado, incapaz de oferecer um reles boteco, um fiteiro, um muquifo, para o sujeito escorar o cotovelo e pedir uma cerveja, uma moela, uma cabidela. Um estádio para quem tem carro. Para quem tem dinheiro. Para quem tem paciência vendendo e sobrando. Para quem é corno manso.

Fui uma vez, no jogo contra  a Luverdense, e prometi nunca mais voltar.

Depois da primeira vitória contra o Náutico, me animei para ir, botei meu nome na Van que saía do Poço, mas aos poucos fui pensando melhor:

“O que eu vou fazer naquele fim de mundo, se temos a nossa casa, que é o Arruda?’

Arranjei uma desculpa fajuta e não fui. E não vou nunca mais.

A decisão é simples. Quero que qualquer dirigente do Santa Cruz, em qualquer tempo, qualquer gestão, seja qual for seu partido, ideologia, classe social, saiba que a nossa alma está no Estádio do Arruda, e com isso não se negocia.

Dizem que já “venderam” cinco jogos da Serie B deste ano para a Arena. Isso, para mim, é um crime contra o clube e sua imensa e apaixonada torcida. Precisamos juntar nossas forças para reverter isso o mais rápido possível.

No último domingo, escutei o jogo pelo rádio. A única coisa que eu pensava era como estaria o Arruda, no mesmo horário. Todos sabemos como estaria o Arruda. Estaria cheio. Estaria em festa.

Minto – pensava em outra coisa – na grande sacanagem que é botar a massa coral dentro daquela Arena gelada e sem alma.

Repito – não negociem a nossa alma.

Quero o meu Arruda de volta. Arena nunca mais.

Nosso lugar é o Arruda

Pela terceira vez na minha vida fui assistir a um jogo na Itaipava Arena Pernambuco. A tal Arena do Defunto. O Dudumbo. A Arena do morto.

Havia ido numa partida entre Santa Cruz e Luverdense. Depois, fui ver uma pelada da Copa do Mundo, Grécia contra Costa Rica.

Empolgado com a vitória no meio da semana, resolvi ir mais uma vez para aquele estádio.

Me juntei a outros e alugamos a Van de Teresa.

Por incrível que pareça, levamos somente quarenta e cinco minutos para chegar naquele fim de mundo. É que Teresa é desenrolada e fez um caminho pra lá de esquisito e mal sinalizado, mas que é bem deserto, facilitando assim, nossa mobilidade.

Então, quando chegamos, ainda faltavam  uns quinze minutos para o começo da partida. Tempo suficiente para se tomar aquela cerveja, comer algum brebote e tirar uma onda. Mas ficamos sem ter o que fazer. No entorno daquele estádio não há uma barraca sequer para se comprar bebida descente e um bom tira-gosto.

Não tem espetinhos, nem caldinhos, muito menos amendoim. Não tem o delicioso cheiro da charque assada. Nem queijo coalho assado na brasa.

Tibério sentiu falta do bar de Abílio. Eu tive saudades das barracas da beira do canal. Alguém falou do bar da moela.

O que se ver ao redor daquela Arena, é um vazio de cor acinzentada. Uma grande área de concreto que esfria a emoção de quem realmente gosta de futebol.

Pra quem é frequentador assíduo do Arruda, é difícil se acostumar com esse modelo de estádio que querem nos enfiar goela abaixo.

Nele, falta o essencial para nós tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda: calor humano e o cheiro de povo.

Com quem eu falo, todos são unânimes em dizer que preferem o Arruda.

Não sei o que pensa o presidente Alírio sobre isso.

Muito menos os eternos cartolas do Santa. Rodolfo Aguiar, Antônio Luiz Neto, João Caixero, entre outros.

Só sei que o Santa Cruz já tem acertado de fazer seis jogos na Arena Pernambuco. Fizemos dois. Não faço a menor ideia de quais são as outras partidas, nem quanto nosso clube está ganhando com isso.

O que já deu para perceber é que a Federação, o estado e as forças ocultas estão fazendo de tudo para o Santa Cruz ir jogar lá. Afinal, aos quatro cantos se fala que a Arena está dando prejuízo danado e Pernambuco está pagando um preço alto pela sacanagem que fez.

Tenho a opinião que, em relação a este assunto, toda nossa torcida deve ser escutada. Não apenas o Conselho Deliberativo e os sócios.

E tenho a certeza que aquele estádio de São Lourenço da Mata, não é um local apropriado para nós tricolores de corpo e alma.

Ali não é espaço para o povão.