Vou brincar meu carnaval

Eu já estava na sétima ou oitava rainiqué! Já havíamos devorado um bocado de picanha, cupim e toscanas.

Aí, me sobrinho grita: vai começar o jogo!

Eu reúno a pirralhada e prometo: se o Santa Cruz ganhar todo mundo vai pra sorveteria hoje.

Sentamos todos e fizemos aquela corrente pra frente.

Minha filha maior diz: eu não conheço ninguém desse time. Oxi!

A bola rola. A formação é bem diferente do jogo contra o Vitória das Tabacas. Bujão de Gás foi sacado do gol, Vitor não está na lateral direita, o bom voltante Jorginho ficou de fora.

Ainda não tinha acabado os primeiros 45 minutos e Augusto se machucou. O famoso problema muscular que sempre acontece no começo do ano. Entra o tal do Robinho Mota. Pelo futebol que joga, tenho certeza que esse rapaz não fez teste vocacional no colégio. Dizem que ele é novo. Se for, é melhor tentar a vida em outra profissão. Mas é o aposta barata…

O jogo segue, o futebol é sofrível. Alguém pondera que é início de temporada e é assim  mesmo: desentrosamento, falta de preparo físico, jogadores ainda para estrear.

De repente reparo que João Ananias está em campo. Não sei se esse rapaz é afilhado de algum cartola coral, pra quem não sabe ele começou a carreira no Santa Cruz,  ou caiu nas graças do treinador. Até hoje não entendi sua contratação, muito menos a sua permanência no elenco. Mas é começo de temporada, tudo bem! Espero que daqui para Série C ele seja dispensado ou apareça algum clube que leve ele para puta-que-pariu.

Fim do primeiro tempo.

Reinicio da partida. O garoto que está jogando na lateral-direita faz uma falta por trás e é expulso.

Minha esposa pergunta: quem é esse idiota?

– É Ítalo. É da base. Temos que ter paciência. Lembra de Rivaldo? – eu disse.

Levanto e vou tirar a água do joelho. Aproveito e pego umas raininqué.

O futebol é de dar calo na vista.

Minha sobrinha diz: vou pra piscina.

Eu faço o alerta: ei, se quiser tomar sorvete mais tarde, tem que torcer pelo Santa.

A garota responde: eu vou ficar torcendo lá da piscina, mesmo.

Numa arrancada coletiva, a meninada se mandou e foi brincar dentro d’água.

E nós ficamos enchendo a cara de cerveja para aguentar esse tormento de começo de temporada. Nossa equipe ainda é um bando que está se organizando. Nesse primeiro semestre, é torcer para não fazer vergonha na Copa do Nordeste e para não ficar de fora dela no próximo ano. É torcer também para avançar algumas fases na Copa do Brasil e para não ficar fora dela em 2019.

E torcer fervorosamente para diretoria não se afobar e sair contratando na doidice, nem aumentar nosso principal problema: o passivo do clube.

De resto, vou é curtir as férias e brincar meu carnaval. Depois da folia, volto a acompanhar o Santa Cruz de perto.

O boêmio voltou.

Retornar ao Arruda, na primeira partida do ano, é uma alegria imensa. Trata-se de rever o Mundão, a torcida e os amigos tricolores corais. De cara, encontrei-me com Ridoval, Jerry e Marc em Galvão. A alegria e o bom humor de Ridoval e Jerry são contagiantes. Só isso já valeu a partida. Enquanto Marc é um típico gentleman inglês, Jerry é o hooligan casca grossa. Mas pense numa galera apaixonada pelo Santa Cruz. Em bom nordestinês – já que o velho Galvão havia dito que era santamarino (de Santo Amaro) -é muito arretada essa galera.
Fui para as arquibancadas me encontrar com Esequias, Gerrá e Robson. Prós e contras da partida: nosso goleiro sabe sair com a bola, mas não sabe sair na bola; Júnior Rocha arrumou direitinho a zaga, mas precisa corrigir a saída nas bolas aéreas, pois foram dois gols que levamos a partir desse fundamento; o meio de campo está disciplinado, acertando os passes, mas precisa marcar mais a saída de bola; não temos ataque e nem centroavante; a lateral esquerda está perdida, mas Vitor mostrou bom entrosamento com Augusto (esse decidiu jogar depois de tanto esporro do jogo passado) na direita.
É preciso paciência para que o time ganhe entrosamento e personalidade. Para mim, os destaques foram Genilson que mostrou segurança lá atrás; Jorginho que já considero o craque do time – levou o time pra frente e jogou com garra e inteligência; gostei de Arthur – aquela porra de bola não poderia ter entrado em vez de bater no travessão? Robinho tem futuro, precisa um pouco mais de inteligência. João Ananias e Pedro Henrique são um problema, muito fracos.
Depois do jogo e do empate – e isso mostra que temos muito que melhorar no preparo físico se quisermos algo com os grandes – fomos tomar a saideira em Abílio. Juninho apareceu e ficamos conversando – Ridoval, Jerry, Marc e Renato – sobre absolutamente tudo. Nunca esquecendo o velho e bom punk, claro.
Mas aí, o amigo leitor deve estar se perguntando: e onde caralho está essa porra de boêmio?
Pois é, meus amigos. Não encontrei Samarone no Arruda. Ele ficou com a Inferno Coral. Sama saiu do Santa Cruz. Neguinho tinha achado que ele mandava no clube, era estrela, estava rico, só bebia uísque importado. Porra nenhuma. Salários atrasados e crise. Fora do Santa Cruz, eis a notícia mais do que maravilhosa para o Blog do Santinha: Sama vai retormar suas atividades cronistas, futebolísticas, etílicas e ofídicas por essas bandas.
Porra, o cara é fundador desse amado blog e escreve bem pra cacete. Notícia para lá de boa para começarmos 2018 com o pé direito. Vai, Nelson, canta aí:
“Boemia, aqui me tens de regresso / E suplicante te peço a minha nova inscrição.
Voltei pra rever os amigos que um dia / Eu deixei a chorar de alegria; me acompanha o meu violão.
Boemia, sabendo que andei distante, / Sei que essa gente falante vai agora ironizar:
Ele voltou! O boêmio voltou novamente. /Partiu daqui tão contente. Por que razão quer voltar?”
Voltou para tornar esse blog ainda mais fuderoso. Salve Santa!!!!

Finalmente, esse tal de futebol.

Pré-temporada é um negócio morgado demais. A torcida fica discutindo política, gestão, erros e acertos, crise, futuro, contratações, mas nada de futebol. É aquele estranho momento do limbo: ninguém conhece quase nada, mas a esperança sempre está presente.
Sem futebol, como celebrar o momento do gol, xingar o juiz e os perronhas de nosso time, esculhambar o técnico, odiar a diretoria, vibrar com mais uma vitória, comer cachorro quente e tomar umas no Abílio, sentir a energia única do Arruda? Sem futebol, a vida fica um pouco sem graça.
Hoje, finalmente, o futebol volta às nossas vidas. O Santinha inicia o ano em Sergipe contra o Confiança. Nosso time é quase uma lista infindável de ilustres desconhecidos.
Júnior Rocha já confirmou nosso elenco: Tiago Machowski, Vítor, Renato Silveira, Genílson e Paulo Henrique; Jorginho, João Ananias, Daniel Sobralense e Arthur Rezende; Augusto e Robinho.
Vitor está falando em trabalho e superação. O resultado magro do jogo treino contra o América pode não ser um parâmetro, mas indica que, realmente, muita coisa terá que ser feita. Além do mais, o fantasma do DM já começou a dar as caras.
A ideia de ter um elenco enxuto e investir nos meninos da base é essencial para um clube que passa por dificuldades financeiras. Pés no chão é uma atitude minimamente razoável.
Se os resultados não chegarem, o que faz medo é a diretoria sair contratando feito louca. Aí teremos mais dividas e mais problemas. É preciso ter muita lucidez quanto às escolhas para esse início de 2018. De uma coisa eu tenho certeza: não vai ser fácil nem a pau.
Para acabar de vez com o jejum, quinta que vem tem jogo no Arruda. Meus amigos, pense numa ansiedade. Gerrá me passou uma mensagem:
“E aí, tricolor, animado? E o jogo da quinta?”.
Estaremos lá, pois lugar de torcedor tricolor coral das bandas do Arruda é no Mundão.
Não tenho dúvida que levaremos algum tempo para realmente saber quem joga e quem não joga nesse time. É preciso ter paciência e um pouco de otimismo. Só assim saberemos se teremos um time com identidade ou não.
Mas, numa boa, desde quando iniciamos uma temporada diferente disso?
E nunca podemos esquecer: estamos falando do Santa Cruz Futebol Clube, porra!
Saudações corais nesse início de temporada e muita sorte, garra e determinação para essa nova geração.

E a esperança se renova

Entramos em 2018. Novo presidente e nova diretoria. No futebol, depois da desgraça que foi 2017, trouxeram um executivo remunerado e botaram gente nova no comando dos bastidores futebolísticos do Santa Cruz. Tomara que façam melhor do que o ano passado. Espeto também que paguem em dia e que não fiquem prometendo o que não podem dar.

O time, aos poucos, vai sendo refeito. Por enquanto é o Desconhecido Futebol Clube. Das caras novas, vi alguns vídeos no youtube. Em um deles, um dos atletas contratados passa o tempo todo discursando sobre sua carreira. Em outro, repetem umas seis vezes a mesma cena de um gol feito pelo ator principal.

Na internet, meus amigos, até eu sou jogador de futebol.

Na verdade eu queria ter tempo para ir ver os treinos. Ano passado fui para o Olindão. Eu, Esequias, Alexandre (Micrurus) e Samarone. Naquele jogo, de cara já vimos que Primão não jogava porra nenhuma e que aquele zagueiro Jayme era apenas um grandalhão destrambelhado. Pela carreira e pela batida na pelota, já dá para perceber se o sujeito joga bola ou não.

Queria conferir de perto o que estão fazendo lá em Aldeia, para ver quem presta e quem não presta. Estou aguardando o primeiro jogo treino, para levar minha corneta e fazer minhas anotações. Espero que tenham acertado na maioria das contratações. Faz tempo que não vemos um lateral que saiba cruzar, um meia que saiba armar e uma defesa que saiba defender.

Soube que contrataram um diretor de marketing. Espero que o cabra tenha a noção que o Santa Cruz é o clube do povo.  A boa novidade é que finalmente botaram o antigo programa de sócios para correr. Tomara que venham algo que funcione e que contemple a massa coral. Depois de tantas decepções, estou no aguardo de ver este novo programa de sócios funcionar. Por enquanto criei para mim a categoria de sócio-timemania. O valor da mensalidade que eu pago ao Clube, vou destinar a jogar na timemania. Fiz isto no final do ano e me dei bem. Ganhei seis reais. Mas o importante mesmo foi ter ajudado ao Santa Cruz ficar entre os 20 primeiros da Timemania.

Por falar em Timemania, foi simplesmente do caralho, o engajamento de toda a torcida e o trabalho feito por todos.  Quem quiser que duvide do povão tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda. Basta saber convocar, que a turma chega junto.

Pelo visto, se o time suar a camisa, mostrar compromisso e a diretoria se abraçar com a torcida, a gente bota o Santa Cruz de novo no lugar que ele deve estar.

Que chegue logo o dia 18 de janeiro, porque a saudade do Arruda é grande. Triiii!