Apocalypse Now

A torcida foi chegando ao Arruda numa animação só. Nem parecia que o desespero estava tão perto. Um pouco mais de dez mil torcedores cantavam e xingavam ao mesmo tempo num misto de amor e ódio e isso contra a Luverdense que era adversário direto para evitar nosso rebaixamento.
Peste Bubônica bate o tiro de meta para a lateral. Tuberculose conduz a bola pela direita e toca no meio para Faringite. Faringite segura a bola, olha à frente e toca de lado para Rubéola. Rubéola espera o marcador da Luverdense chegar e devolve a bola para Faringite. Ele inverte a bola para a esquerda.
Leucemia sai correndo pela esquerda, é travado pelo lateral, empurra e dá um chutão. A bola sai pela lateral. Arremesso para o Santa Cruz. O próprio Leucemia pega a bola e lança no meio. Trombose tromba com o meia da Luverdense, empurra daqui, empurra dali e manda a bola na boca da área para Hipocrisia.
Hipocrisia segura a bola, faz que gira e não gira e perde a bola para o cabeça de área. Aderlan pega a bola e lança no meio para Ratão. Ratão passa por Trombose e toca na frente para Baggio que chuta para fora.
Peste Bubônica bate o tiro de meta e a peleja corre pela esquerda com Leucemia. Ele toca no meio para Catapora que segura a bola, vê Culpa correndo desembestado pela esquerda. Lança Culpa que vai disparado e lança na área, Hipocrisia esbarra em Afasia e a bola fica com o goleiro Diogo Silva.
O primeiro tempo foi todo assim. Um time sem identidade, atabalhoado e que não finalizou uma única vez. No segundo tempo, Encefalite trocou Hipocrisia por Cisticercose, Culpa por Difteria e Sarampo por Esquizofrenia. O que mudou?
O Santa Cruz conseguiu colocar duas bolas na trave. O lance do jogo foi o chute de Leucemia que fez a torcida urrar de mais desespero. E assim se instalou nosso Apocalypse Now. E, ainda assim, o pulso ainda pulsa.
No final da partida, lá no velho Abílio, parecia que todo mundo tava era muito puto da vida. Jerry e Ridoval brincavam com nossa situação desesperadora. Juninho ficou tão indignado que nem quis saber de tomar uma cerva.
Sábado que vem tem mais martírio. Será a 33ª rodada. Como diria o escritor Henry Miller, uma crucifixação encarnada. E ainda mais contra as barbies.
Vamos lá que doidice pouca é bobagem.

Oh, oh, oh, esse mundo é tricolor

Por um bom tempo, isso aqui foi o bar onde vários se encontravam para vibrar, cornetar, reclamar, marcar encontros, resenhar, comemorar as vitórias, chorar os fracassos. Aqui se discutia, aqui se fazia amizades. Inácio, Samarone, João Valadares, J., Chiló, Emília, Fred Arruda, Eduardo Ramos, Dani Tricolor, Arnildo Ananias, os Azevedos, Marcelo Beltrão, Hélio Mattos, Andrézinho, Galdino, Edward, El Cabron, Cel Peçonha, Coral, Tricolor Arretado, entre tantos e tantas outras figuras apaixonadas pelo Santa Cruz. Faltaria espaço para escrever o nome de todos.

E foi neste Blog que conheci Alexandre, o Papa-Defunto. Faz tempo que ele mora longe. Do Arruda para casa dele, são quase 1.250 KM de distância.

Quando a conversa é o Santa Cruz, ele nunca nega fogo. Alexandre já montou consulado na casa dele, lá em Vitória da Conquista. Estampou o escudo do Santa Cruz na porta da sua caminhonete. Tatuou nosso símbolo maior no ombro. E se estamos precisando de apoio, ele pega a estrada e vem jogar junto com o clube do coração.

Certa vez, a gente se encontrou lá no Rio Grande do Norte, em Goianinha. Era pela sericê, em 2013. Alexandre nem passou no Recife, foi de Conquista direto para lá. Vencemos aquela partida por 3 a 1.

Terça-feira, era umas oito e vinte da noite, Alexandre me chama pelo zap.

“Boa noite amigo Gerrá”.

“Fala, meu nobre”. “Manda”. Eu respondi.

“Como estão as coisas?”. “E a família ?”. “Tô subindo o morro”. “Vou pra Recife, buscar 6 pontos”.  “Amanhã pego o carro e vou pra estrada”. “Mala pronta”.

Na quarta-feira de manhã, o Papa-Defunto jogou a bagagem no carro e pegou a 116. Veio cortando a Bahia. Passou por Jequié, subiu deserto acima até Feira de Santana. Deu uma paradinha pra esticar a coluna, esvaziar a bexiga e encher o bucho.  Lembro da vez que fiz esse roteiro, sendo ao contrário, daqui para lá. Saímos de ônibus do Recife para Belo Horizonte. Em Jequié, paramos. Era mês de novembro. Até aquele dia, eu nunca tinha visto calor daquele tamanho. Não sei se hoje melhorou, mas era um calor dos infernos.

Sim, voltemos para viagem de Alexandre.

De Feira, nosso exilado seguiu caminho. Passou por Serrinha,  continuou em frente, virou à direita, chegou em Jeremoabo. Os jeremoabeiros que me perdoem, mas confesso que nunca havia escutado falar nessa cidade. Sei que Jeremoabo fica já próximo de Paulo Afonso. E de Paulo Afonso para Pernambuco é um salto.

Fico imaginando a ansiedade de um cabra que mora no sul da Bahia e que vem visitar a terra querida para ver o jogo do Santa Cruz. Quando chega em Paulo Afonso é bem capaz de querer pegar um avião pra chegar mais rápido.

Não havia entendido o motivo desse roteiro. Por que ele não vinha pelo litoral. Curtindo a brisa, tomando uns banhos de mar e limpando a vista. “vou passar em afogados da ingazeira, desvio 300 km a mais, dar um abraço num amigo tricolor que veio do Acre e está morando lá. conheci pelo blog do santinha. Edmundo”.

Hoje, Alexandre me mandou um áudio. Já estava em Afogados da Ingazeira proseando com Edmundo. No aúdio, Edmundo falou que conhece um grande amigo meu, Boba. “Fui vizinho de um amigo seu, Boba. Eu pegava carona com o pai dele para ir para o colégio São Bento”.

Minha reação foi simplesmente dizer: caralho.

Eu conheço um cara que mora em Vitória da Conquista, que conhece um sujeito que vive em Afogados da Ingazeira, que este sujeito quando era adolescente pegava carona com o pai de um amigo meu. E todos são Tricolores Corais Santacruzenses das bandas do Arruda.

Na boa, esse mundo realmente é preto-branco-encarnado.

O pulso do Santa Cruz ainda pulsa

O pulso ainda pulsa

O pulso ainda pulsa…

Peste bubônica

Câncer, pneumonia

Raiva, rubéola

Tuberculose e anemia

Rancor, cisticercose

Caxumba, difteria

Encefalite, faringite

Gripe e leucemia…

E o pulso ainda pulsa

E o pulso ainda pulsa

Hepatite, escarlatina

Estupidez, paralisia

Toxoplasmose, sarampo

Esquizofrenia

Úlcera, trombose

Coqueluche, hipocondria

Sífilis, ciúmes

Asma, cleptomania…

E o corpo ainda é pouco

E o corpo ainda é pouco

Assim…

Reumatismo, raquitismo

Cistite, disritmia

Hérnia, pediculose

Tétano, hipocrisia

Brucelose, febre tifóide

Arteriosclerose, miopia

Catapora, culpa, cárie

Cãibra, lepra, afasia…

O pulso ainda pulsa

E o corpo ainda é pouco

Ainda pulsa

Ainda é pouco

Pulso

Pulso

Pulso

Pulso

(O Pulso) – Arnaldo Antunes

Com os pés no chão.

Meus amigos tricolores corais, a situação parece que só se complica. Ter fé e esperança pode até ser importante e útil, mas a velha e boa razão nos obriga a olhar o mundo de maneira nua e crua, sem firulas e frescuras.
Voltamos para os velhos cálculos de matemática básica. Estamos com 83% de chance de cairmos para a séricê. Temos oito rodadas para fazermos 47 pontos. Temos 30, ou seja, temos que fazer 17 pontos em oito jogos que faltam. Pensem bem: 17 em 24 possíveis.
Amanhã pegaremos o Brasil de Pelotas que, em casa, venceu oito das quinze partidas disputadas. Para complicar a situação, Guarani e Figueirense – cada um com 35 pontos – possuem 36 e 25 % de chance de queda, respectivamente.
Além do velho desânimo que é treinar e jogar com salário atrasado, ainda temos que lidar com os problemas de escalação. Mas a situação está tão ruim que surge uma questão inevitável: será isso realmente um problema? Sim, é.
No meio, Bruno Paulo, Natan (o homem de vidro), João Paulo e Primão estão de fora do jogo de amanhã contra o Pelotas. A solução possível para Martelotte é Jeremias (que organizou a roconha e colocou todo mundo para dançar).
Confirmados estão Nininho (e aí o cara fica pensando em que momento do jogo ele vai fazer aquela lambança e estragar tudo),Yuri ( nem sei o que pensar) e Júlio César (aí o cara fica novamente pensativo, esperando aquele momento de braço de cotoco).
Nosso ataque conseguiu, enfim, fazer dois gols contra o Oeste. Numa boa, até que o time – apesar de tantos problemas e limitações – não foi tão horrível assim. Sempre repito: essa séribê está nivelada por baixo, por isso a culpa dessa situação é apenas nossa. Muitos torcedores acenderam aquela chama irracional da esperança. A razão explica.
Guilherme Mattis, em entrevista recente, falou em compromisso com o clube e a torcida para tirar o Santinha dessa situação crítica. Mas é impossível não pensar que há um problema gerencial crônico no clube. E isso em todas as esferas: da diretoria de futebol ao financeiro e jurídico.
Martelotte disse que só saberemos a escalação definitiva um pouco antes da partida. Racionalmente, só nos resta pensar que a motivação possa surgir nesse grupo nessa reta final a partir daquilo que Mattis disse:
“Os treinadores do Brasil têm um olho clínico muito grande, sabem que o jogador não está compromissado com o elenco, o clube e acaba tirando. Vemos um grupo (o elenco do Santa Cruz) totalmente focado, independente das dificuldades”.
Traduzindo: ou a gente começa a jogar pensando no futuro de nossas carreiras e evitamos o rebaixamento ou nossos nomes como jogadores profissionais vão ficar queimados. Sacaram?
Pois é. Amanhã estarei em Olinda com Sama tomando umas e torcendo irracionalmente.
Se ganharmos amanhã, tudo o que foi dito aqui será esquecido por alguns dias. Que assim seja!

Por um milagre

Não era nem quatro horas da tarde e Anízio manda um zap avisando que já estava liberado para ir ao Arruda. Desde a segunda-feira havíamos convocado todos para irmos juntos ver o jogo da arquibancada. “Pra ver se dar sorte”. Na hora do desespero, até o mais ateu reza pra alguma coisa.

Da turma, Marconi, Micrurus, eu, Anízio e Odilon fechamos a corrente. Nos encontramos antes, aceleramos o passo, tomamos uma cerveja com caldinho de feijão no bar de Simone. Até Rafa veio também. Fazia tempo que não botava os pés no Arruda. Vi Samarone e sua juba. Encontrei o incansável Jathyles. Batemos um papo rápido.

As organizadas, de forma inédita, se juntaram atrás da barra e empurram o time pra frente. Inferno Coral, P-10, Império e outras, cada uma puxava um grito de guerra. Uma energia linda. Era como se nossa casa estivesse lotada.

E nosso esquadrão começou a todo vapor. Pressão no adversário. O gol era uma questão de tempo. Mas aí, eis que perdemos uma bola no meio e nosso jogador ao invés de matar a jogada, resolve derrubar o adversário dentro da nossa área.

“Fudeu”. “Puta que pariu”. “Vai tomar no cu”. “Filho da puta”. “Que bicho burro do caralho”.

“Vai ser por fora”. “Na trave”. “Esse porra vai perder”. “Defende Julio Cesar, te consagra”.

Que nada, a maldição do ex-jogador resolve dar as caras. Mazinho, aquele mesmo que perdeu um gol feito naquele jogo contra o DIM que nos tirou da Sulamericana, apenas tocou rasteiro para o fundo do barbante. Nosso goleiro, o ex-capibaribe, pula no outro lado e nem vê a bola se arrastar na grama  e entrar suavemente.

Mas vamos lá. Para o Santa Cruz nada é fácil, assim diz a lenda, assim é nossa história. Continuamos na luta, no grito e jogando com o nosso time. Para nossa sorte, Primão havia se machucado e Bruno Paulo tinha entrado ainda no primeiro tempo.

Eis que surge um penalti no velho Grafa. Ainda bem que ele continua batendo bem. Empatamos. E toda a força ressurge. A esperança volta correndo para nos abraçar.

Estamos com um jogador a mais. Continuamos na pressão. Ao meu lado tem gente querendo jogar uma pedra na cabeça do treinador para ver se ele bota alguém na ponta direita.

E aí, de novo, a maldição do ex-jogador. De novo ele, o Messi Black. Pega uma bola na nossa direita, ninguém chega junto, ele chuta cruzado, a bola vai rasteira, polindo a grama.

Ali de onde estávamos, vimos a imagem em HD. Vimos o ex-goleiro da Barbie levar um gol bisonho.

Aquela posição, meus amigos, a de goleiro, não é lugar para os fracos. Aquele habitat é para quem consegue garantir o resultado, é para quem consegue fazer uma defesa milagrosa, para quem consegue tirar uma bola indefensável. O bom guarda-metas é o cara que salva o time quando a turma da defesa falha.

De novo, o placar é adverso. Fomos pro abafa e até conseguimos empatar. Nos esgoelamos. Torcemos. Fizemos de tudo.

No apito final, um gosto amargo e uma sensação de que só um milagre nos salvará.

 

E assim, vamos chutando pedrinhas

Dois textos que li, resumem tudo que eu iria escrever. Um deles está no meio dos comentários da postagem de Zeca: Futebol, política e Arte.

Quando Geraldo Mesquita diz que “desde a Era Cabeção a gente ouve falar em mudanças. Ao final de cada gestão, a gente ver que nada mudou”, ele parece que leu meu pensamento.

Eu estava lembrando de quando juntamos cerca de 30 tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda, arregaçamos as mangas e fomos voluntariamente trabalhar no clube. A ideia era elaborar um projeto administrativo para o Santa Cruz.

Nos dividimos em vários grupos: administrativo(contadores, administradores de empresa, auditores, entre outros profissionais), jurídico (advogados), patrimonial (engenheiro civil e arquitetos) e outra áreas que não lembro bem, afinal isso já faz uns dezoito anos que aconteceu. Sonhadores, nos deslumbramos em estar contribuindo para modernizar o nosso amado Clube, o mais querido de todos, o nosso Santa Cruz. Passamos meses lá dentro. Produzimos alguns relatórios. Mas esbarramos em forças ocultas que não queria mudança. Fomos cansando e, do nosso trabalho, restou apenas algumas amizades.

Certa vez, fui levado para uma reunião de diretoria. Eu havia feito parte do grupo que apoiou a turma que foi eleita. Ao final, o então presidente, pegou um bocado de ingresso e fez todo mundo comprar alguns lotes. Não comprei nenhum e nunca mais participei de outra reunião. Nessa mesma época, uma turma boa que conheço se encontrava todos os sábados no Arruda para elaborar um planejamento estratégico para o Clube. Tudo de forma voluntária. Ao final tudo foi engavetado.

Ali é assim. Engana-se aqueles que acham que as portas estão abertas para quem quiser ajudar a mudar o Santa Cruz. Só é bem recebido, os que colaboram comprando rifas, dando  cesta básica, comprando um livro, um bolo ou um caminhão de areia. E tem que contribuir e ficar de olhos fechados para o que há de errado nos corredores das Repúblicas Independentes do Arruda.

O outro texto é de Pedro Costa e foi publicado no Arrudiando (ESPN FC). O título diz: Santa Cruz sucumbiu à sua eterna bagunça: só um milagre salva o Tricolor.

No texto, Pedro Costa vai pontuando os eternos atrasos de salários, o abandono do clube por parte da diretoria, dos jogadores que vieram e que não chegaram (Bileu, Walber, Alex Travassos, Pachu e outro que não lembro). Fico aqui pensando qual foi a lógica usada para se trazer tanto jogador ruim. Trouxeram até jogador que enfrentava sério problema de saúde na família e que não tinha a menor condição de jogar bola.

Como diz um amigo meu (que é tão Santa Cruz quanto todos que acompanham este Blog e todos que frequentam o cimento do José do Rego Maciel), nosso Clube é uma massa falida.

Na verdade a gente vai sobrevivendo apenas da paixão do nosso torcedor e dos acasos do futebol. Vez por outra um título, uma vitória, um campeonato na casa do adversário faz a massa coral vibrar de alegria e esquecer os problemas.

E assim nos resta apenas continuar criticando e ir chutando pedrinhas na esperança por uma vitória contra o Oeste.

São Bambo, escutai todas as nossas preces!

Futebol, política e arte.

Assisti ao jogo do Santinha contra o Figueira na casa de Juninho. Ridoval, Jorge, Big e Júlio estavam lá para animar a conversa. Pense numa galera de primeira. Veridiana, a esposa de Juninho, foi tão atenciosa e carinhosa com tudo e todos que era impossível não se sentir em casa. Tudo de primeira, exceto o jogo.
O nosso ataque é AM: ataque morto. Nosso meio de campo é ISCC: incompetente sem criatividade crônica. Nossa zaga é VS: vacilo sempre. Zé Love fez o primeiro gol no meio de cinco corais. E nosso técnico é B de burro mesmo. Puta que pariu, que demora para substituir Grafite (vire técnico ou diretor, por favor) e André Luís (vá comprar uma caixa de Biotônico Fontoura, meu filho). Yuri é uma desgraça e Nininho, mais uma vez, entregou o ouro ao bandido.
O jogo mostrou nossa apatia, nossas fraquezas, nossos problemas crônicos. Jorge, que sempre é alegre, estava morgado depois da derrota. Nem as suas célebres loas ele teve inspiração para entoar.
“Juninho vai apoiar Albertino, disse Ridoval depois do jogo, mas quero ver primeiro a plataforma política dele e dos outros para decidir meu voto”.
Muito justo. A inteligência de Ridoval sempre antagoniza com Juninho e isso torna o debate sempre legal. E essa ideia é tão boa que assim que tivermos acesso às plataformas dos futuros candidatos à presidência do Santinha, iremos postar aqui. Democracia se faz com transparência. Da minha parte, creio que se não houver mudanças estruturais radicais e os cardeais das antigas não largarem o osso, estamos fudidos e mal pagos. E é preciso profissionalizar todos os setores do clube, em especial o financeiro e a diretoria de futebol. Basta desta gestão da década de 70.
Assim que o jogo acabou, começou o debate sobre nossa atual situação. Juninho lembrou de nosso antigo professor de matemática, Agostinho Meireles:
“Ainda há esperança. Pense na estatística como Agostinho. Basta ganhar todas em casa”.
Por esse otimismo eu não esperava. E nem Ridoval. Ficamos debatendo. Nosso returno está uma desgraça. Estamos assombrosamente próximos da séricê e isso, meus amigos, desanima qualquer um. Não temos mais o que mudar – só tem tu, vai tu mesmo. Está complicado.
Desistimos de falar sobre futebol e política do clube e fomos à audição: blues, jazz e o mais fino da nossa MPB – tudo de primeira qualidade. Foi tão legal que até esqueci que estamos à beira do abismo. Acordei hoje de ressaca e consciente, novamente, de nossa situação crítica.
De volta à realidade. Alguma sugestão miraculosa?

É rezar e beber

Desde o último jogo, a derrota para o América de Minas, algo como um “já vi isso” vem passando na minha mente. Clube abandonado, jogadores pedindo para ir embora, salários atrasados e a torcida sem esperança.

Quem ainda tiver uma dose de otimismo, por favor bote num copo e me dê uma lapada. Do jeito que tá, o certo é tomar uma para se animar e se agarrar a tudo que a fé. Vale promessa, fé, macumba, bruxaria e tudo que mais vier. As bebidas, sugiro as destiladas.

Sobre promessa, me indicaram São Expedito. Dizem que é o santo das causas urgentes. Bom, já passou da hora de vencermos fora de casa. Então,Santo Expedito dê uma força aí pra nós. “Santo Expedito das Causas Justas e Urgentes, socorra a gente nesta hora de desespero. Faça com que nosso Santa Cruz Futebol Clube ganhe o jogo desse sábado, para que isso traga paz e conforto para toda família tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda”.

Falaram também que Santa Rita pode ajudar. Segundo eu soube, ela também dá uma força nas causas impossíveis. “Santa Rita, minha querida! Interceda por nós. Nós que somos Santa Cruz, o time do santo nome que nasceu na frente de uma igreja. Fazei com que a gente vença nem que seja de 1 a 0. Pode ser até com um gol de Primão, de Barbio, de qualquer um”.

Um amigo sugeriu oferecer algo a Logunedé. Outra falou que eu me agarrasse com Iemanjá. E a mãe de um conhecido disse que na hora do jogo, o bom é pegar uma toalha molhada e ficar dando nó nelas, para amarrar as pernas do adversário.

E tem nosso eterno amigo e salvador, São Bambo. “Meu São Bambo, você que sempre esteve ao nosso lado, fazei com que neste dia 14 de outubro, quando o nosso Santa Cruz entrar em campo, todos os caminhos se abram na nossa frente e que todos os sinais fiquem vermelhos quando o adversário vier com a bola.

Faça com que o velho Grafite tire a inhaca e consiga mandar uma bola para os fundos da rede do nosso inimigo. Pode ser de penalti. Ilumine os pés de André Luiz para ver se ele consegue chutar uma bola no gol. Solte os braços de Julio César para que ele defenda tudo que vier contra nossa meta. Aprume o pé de Anderson Sales para que a gente volte a ver um golaço de falta. Abra a porra da cabeça desse treinador e não deixe demorar a mudar o time, nem fazer substituições equivocadas.

Por fim, meu santo São Bambo, traga a vitória para nós, porque o que vale são os três pontos. E se a gente perder amanhã, é fumo”.

No mais, meus amigos, quem for de rezar, reze.

Alá, Jesus, Maomé, Buda, Ogum, Nossa Senhora da Conceição.

E quem for de beber, beba.

Pitú, Teacher, Montilla, Vodka.

Na próxima a gente ganha

Texto enviado pelo nosso colaborador Lucas Pinto

Esse é um texto que eu sabia que iria escrever. Só não tinha certeza sobre o sentimento que iria colocar nele. Eis que me restou escrevê-lo com preocupação e esperança.
Mas eu queria mesmo era que fosse de entusiasmo e felicidade.
No sábado do jogo contra o América, estive pela manhã na escola da minha filha mais velha, era a feira de ciências dela. Durante uma apresentação, apareceram dois coroas com peças do Santa Cruz, o mais velho um boné e o outro uma camisa. Cheguei Pra Bia e falei “Bia, vai lá naquele tio, diz a ele que o Santa hoje vai ganhar e com gol de Grafitte”. A menina foi pra lá, foi pra cá, pensou, arrodeou e decidiu não dizer nada, estava com vergonha. Tudo bem.

Quando sai de casa indo comprar cerveja, esperando meu grande amigo coral Batata, passei pelo frigorífico do tricolor. Aí rolou aquele tradicional diálogo rápido, entre a caminhada:
– Dale tricolor!
– Bora tricolor!
– E aí, vamo ganhar hoje né?!
– Vamo, mas se não ganhar hoje, a gente ganha na próxima. – com um riso sincero, ele respondeu.

Essa resposta veio como uma bomba no meu juízo. Foi um misto de sentimento e de raciocínios. Foi nesse momento que este texto que vos escrevo nasceu. Sentia o medo da premonição, mas também, o orgulho de ter ouvido aquela frase forte, esperançosa e resistente “se não ganhar hoje, a gente ganha na próxima”. E veio o dilema, iria escrever sobre aquilo num momento alegre ou triste?

Eis-me aqui. Madrugada de Domingo, preocupado. Pensando em como precisamos encontrar o “x da questão” urgentemente. Voltar para o inferno é fora de cogitação.
Mas, e nós, torcedores? O que nos resta e cabe nesse momento? Uma coisa é certa: fugir da raia é que não é.

Infelizmente, a diretoria claramente demonstra estar com os recursos esgotados. Mas, buscou fazer o seu papel, isso é inegável. A comissão técnica parece um pouco confusa. Então, só quem pode tomar atitudes fortes a ponto de mudar o panorama, é o time e a torcida. Mais uma vez, como em tantas outras. Somente o time e a torcida podem fazer alguma coisa!

Então, guerreiros e guerreiras, os 9 mil de todo jogo ou os milhões de corais: não podemos baixar a cabeça! Vamos se manter firme na luta, firme no cumprimento do papel, pois a torcida também tem o seu, e acompanhar de perto, apoiando e cobrando, para que o elenco também cumpra o dele.

E levar, no coração e na alma, a convicção de um coral que conhece a camisa que veste e a ideologia que nos envolve: se a gente não ganhar hoje, a gente ganha na próxima!

A torcida guerreira de Pernambuco

Texto enviado pelo colaborador Lucas Pinto

Os tempos atuais são confusos. Muitos fatores alteraram a realidade das arquibancadas do Arruda, hoje vazias… Mas a história ninguém muda.

Sinônimo de torcida guerreira é a torcida do Santa Cruz. É o que constantemente ouvimos em todo o mundo. Sim, todo o mundo! Nossa resistência na peleja rodou o planeta e quando se fala no futebol pernambucano, nós que somos a representação da força na bancada.

Se engana quem pensa que fomos postos à prova somente nos “anos terríveis”. A vida nunca foi fácil na Zona Norte do futebol da cidade. Porém, a forma com que nossa nação entra de cabeça na luta, sempre chamou atenção e fez com que nos tornássemos uma torcida modelo.

Daí veio a paixão da maioria dos corais da minha geração. Vivemos décadas difíceis, de raras conquistas dentro de campo. A festa, o povão, a alegria de (simplesmente) ir ao Arruda ver o Santinha, a honra de suar essa camisa no concreto armado do Colosso, foi o que nos apaixonou. Tenho certeza, isso não está morto!

A luta é permanente. As vezes por títulos, as vezes por classificações, as vezes por permanências…, mas sempre estará acontecendo, sempre estará se desenrolando uma peleja e a nossa sede de lutar é infinita!

Guerrear pelas três cores é a nossa razão. Isso é o futebol para os torcedores corais!
Não iremos nos distanciar do time, não iremos ficar apenas assistindo. Vamos entrar em campo junto com o manto santa-cruzense. Vamos nos fazer efetivos e decisivos. Estaremos presentes!

Temos 6 jogos em casa até o final da temporada. Jogos estes que precisamos vencer! Mas, para que a Cobra Coral entre forte na cancha, seu povo deve estar nas arquibancadas, deve estar ao lado, jogando junto.
Se a gente levar um gol, vamos cantar pela virada! Se a partida tiver apertada, vamos fortalecer o Santa com nossos gritos. Vamos cantar os 90 minutos e “ai” de quem estiver com a energia contrariando nossa busca pela vitória!

O momento é de “sangue nos olhos”. Todo mundo se ajudar, mas também se cobrar.
Se queremos empenho no gramado, precisamos nos empenhar no concreto!