Sábado coral

Amigos corais, imaginemos a cena ideal. É sábado, as chuvas deram uma pausinha, o dia está exageradamente belo. Você tem saúde, algum dinheiro no bolso, e, tirando os problemas normais da vida, você não está vivendo nenhum drama espetacular. Nenhuma tragédia faz parte deste dia. E às 16h30, o Santa Cruz joga, em pleno Arruda.

Acrescentemos um ovo de codorna ao seu caldinho de feijoada – você vive no Recife, ou próximo ao Recife. E pode ir ao jogo. E vai. E sorri, com uma certa vaidade, ao saber que o estádio do seu clube não é uma opulenta e desalmada Arena, a vinte ou trinta quilômetros de sua casa. Seu estádio é o Arruda, onde certamente seu pai ou seus irmãos ou parte dos seus amigos sorriu, sofreu, chorou, amou. Cada pedaço daquele colossso tem cheiro, memória, vida.

Seu estádio está encravado na Zona Norte do Recife, a mais bela da cidade, com seus morros e sua história, em plena Avenida Beberibe, não na Avenida Deus é Fiel (endereço da Arena Pernambuco).

Se você torce pelo Santa e não agradece por esta combinação de fatos ideais, me perdoe, meu amigo, mas você está sendo ingrato com a vida. E ingratidão cobra um preço enorme.

Como não sou chegado a ingratidão, compartilho meu sábado coral.

Saí de casa às 14h em ponto. Mal chego ao Parque 13 de Maio, passa um Avenida Norte/Macaxeira. A cobradora me dá o troco saboreando uma delicosa “quentinha”. O ônibus quase não para e rapidinho estamos na encruzilhada. Resolvo descer, para tomar alguma cerva com algum amigo, já que marquei com Esequias às 15h. Dou uma passeada, tem um trio de forró, aquela agitação, eu só ficaria se fosse a finada Sanfona Coral. Debreei.

Fiz o contorno, voltei. Gosto de caminhar, mas eu só pensava na gelada. Precisava tomar uma atitude. Passa um Dois Unidos/Prefeitura. Mal entrou no veículo, passam uns batedores a todo vapor, como se tivessem escoltando algo muito importante, um rei da Inglaterra, o Papa Francisco ou aquela mulher da propaganda da Itaipava, a Verão.

Era mais que isso – a escolta do ônibus coral, com os atletas e comissão técnica, patrimônio da torcida mais apaixonada do Brasil.

“Esse ônibus ainda é o velho. O novo vai chagar mais tarde, com Grafite dentro”, me disse o motorista, com um riso de satisfação.

Ele, por sinal, está mais bem informado que eu.

Quando o ônibus passou defronte ao bar Dragão, pedi para dar uma paradinha.

“Desce por aqui mesmo”, disse o motorista.

Desci pela frente. Quem disse que neste mundo não há cortesia?

Ninguém conhecido de novo. Porra, onde estão meus amigos às 14h30 de um sábado de jogo do Santa? Tomei uma cerva e vi a galera passando. Vou me embora é para o Arruda, pensei. E obedeci a mim mesmo. Encontrei com Esequias, sofri para comprar meu ingresso de arquibancada (a diretoria vai ter que mexer naquele vespeiro com urgência, já que os cambistas estão mandando e desmandando), e finalmente cheguei ao Bar de Abílio.

Voltando às minhas metafísicas dos costumes clubísticos. Se você chega uma hora antes do jogo e vai ao bar de Abílio, dentro da sede e não encontra um amigo, ou você é insuportável ou é dente-de-leite da torcida do Santa. Ou é um seminarista. Ou coroinha da Igreja. Ou candidato a pastor.

Estava lá Esequias, claro, com aquela conversinha mansa dele. Como ele é colecionador de coisas do Santa Cruz, levei um punhado de ingressos que venho guardando. Ele arregalou os olhos e ficou apreciando cada um, como se fossem figurinhas de um álbum da vida inteira. Bebemos nossa cerva gelada. É uma coisa da Idade Média, proibir uma reles e simplória cerveja num estádio de futebol. Os idiotas que fazem leis, neste país, são mesquinhos. Jogo pragas neles todos os dias.

Já na entrada, encontrei Pablo, da Planalto Coral. Ele e uma amiga. Dos três, o menos cabeludo era eu.

A moça foi revistada por duas policiais militares. Não foi uma revista, aquilo. Foi um baculejo que quase alcançou as entranhas. Revistaram a bolsa da moça ítem por ítem. Eu e Pablo passamos rapidinho e ficamos vendo a cena. Era tão absurdo, que teve hora que virou luta de classe. Será que a revista numa moça branca com cabelo liso e aloirado seria a mesma de uma mulher negra, de cabelos crespos?

Mas entramos. E toda vez que entro naquelas arquibancadas, fico imediatamente três graus mais feliz. Celsius ou Fahrenheit, não importa. Os rostos, as figuras, as conversas, a paixão incansável por um time obstinado, teimoso, que não se dobra. Ou seja – a torcida do Santa é a metáfora perfeita do clube.

O fato é que veio o gol e a vitória e os três pontos.

E se Grafite vem mesmo, para resolver o drama do gol, saiam da frente – a gente vai soltar fogo pelas ventas.

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Ps. É preciso aplaudir de pé os senhores Inácio França e Laércio Portela pelo novo site do clube (www.santacruzpe.com.br). Está bonito pacas, dinâmico, articulado com as redes sociais etc. Se forem olhar o site agora, já tem a entrevista com o treinador após o jogo, fotos da partida e  os melhores lances (filmagens da TV Coral). É de dar gosto. 

Empaterrota

Desde quarta-feira estou em Fortaleza. Vim para o lançamento de meu último livro de poesias e já conheci um bocado de escritores, artistas, compositores.  A turma  daqui bebe com paixão e profissionalismo.

O esquema para o jogo estava rigorosamente perfeito. Desde que botei minha postagem, conclamando para irmos ao jogo no Castelão (“Arena Castelão” um caralho), recebi retorno de corais que iriam ver o Santinha. O José Paulo me ligou, oferecendo carona. No domingo, às 13h, ele passaria aqui no hotel onde estou e depois a gente se encontraria com a torcida “800 quilômetros de paixão”.

Já pensou? Uma vitória fora de casa, para começar uma arrancada?

No sábado, minha mãe avisou:

“Meu filho, você está lembrado do forró que sua tia Theresa convicou, né?”

O forró era domingo, começando mais ou menos 19h, na casa da querida tia. Estariam lá também vários primos e pessoas queridas, que não vejo há tempos.

Fiquei com aquilo martelando. Se eu fosse para o jogo, perderia o forró da tia. Não sou de ir para jogo do Santa e me comportar bem. Sei que beberia todas. Ultimamente, estou até já olhando os telefones do AA.

No sábado, fui dar uma entrevista na Rádio CBN e chamei um táxi. O sujeito era chato pacas e veio com a camisa do Ceará. É “Sócio-Bronze”, algo assim. Paga R$ 50,00 por mês e todo jogo do Ceará, como mandante, entra de graça, só com a carteirinha. Nem fila pega.

“No Castelão, tem uma área só para a gente, que é sócio”, disse.

Ele esculhambou o time de leste a oeste. Parecia a galera aqui do Blog, quando está de mau humor. Segundo Chatoso, o time nem de longe lembra o que ganhou a Copa do Nordeste.

Na volta, dei sorte. Um taxista torcedor do Fortaleza muito simpático disse que a “Carniça” (singelo apelido que a torcida do Fortaleza inventou para denominar o time rival) estava “só o bagaço” e que iria torcer pelo Santa.

“Macho, vocês têm que dar uma peiada boa nessa desgraça”, sugeriu.

Falei para ele sobre meu drama, de querer ir ao forró e ao jogo, mas ele, com seus cabelos brancos, foi direto:

“Rapaz, vá ver sua tia e sua família. Eles devem estar com saudades de você. E você sabe que jogo tem até o fim do ano”.

Depois dessa, o jeito foi fingir que esqueceria o jogo. O José Paulo me ligou e tive que declinar do convite. Minha irmã ficou de me buscar no hotel.

Domingo comecei cedo a tomar umas jurubebas e caramurus. Almocei o cozidão da Dona Ermira botando os papos em dia com o Tonho, meu irmão, Pedim, Netão e os sobrinhos. O João Victor, sobrinho que nasceu no Recife, me recepcionou vestido com a camisa do Santa. O pestinha tem sete anos e usa três pilhas alcalinas em cada pé. Só parei quando bateu o sono.

Estava no hotel me recuperando da soneca, quando o Tonho me ligou.

“Gol do Santa Cruz aos 45 do segundo tempo: 3 x 2!”.

Quase dei um grito, mas iria assustar Silvinha.

Estava a caminho do frigobar, para abrir uma latinha (fone do AA, please), quando ele me ligou de novo.

“Empate da Carniça”.

Puta merda, que empate com sabor de derrota do caralho!

Minha irmã passou meia hora depois, no Fiat da minha mãe que só funciona bem mesmo o motor. Meu irmão diz que quando o carro chega na oficina, o mecânico toma logo uma antitetânica, de tanta ferrugem que tem.

O forró foi ótimo. Esqueci a derrota, digo, o empate, por umas duas horas. Chopp de rodo, tira-gosto etc.

José Paulo, obrigado pela oferta da carona. Tomamos umas no bar de Abílio, num jogo desses da vida. Espero que em outra posição na tabela…

Pela paz

O Blog do Santinha e o ex-presidente do Santa Cruz, José Neves, já não têm qualquer pendência jurídica. Depois de anos parada na Justiça, a ação cível impetrada contra o Blog teve marcada sua primeira audiência em meados de maio. O problema é que, a essa altura do século XXI, quando o Santa Cruz vive um momento totalmente diferente com paz e a busca pela união entre todos os protagonistas que fazem parte da história do clube, já não havia razão para continuar uma briga tão velha. O que passou passou e priu. Tanto os blogueiros quanto Zé Neves resolveram se antecipar à Justiça: antes mesmo da audiência, trocamos não sei quantos telefonemas e acertamos tudo.

Pelo acordo, Inácio e Samarone entregariam 10 cestas básicas cada um ao clube, para serem distribuídas entre os funcionários mais humildes do quadro administrativo. Zé, em troca, concordaria com a extinção da ação de uma vez por todas. A audiência teve que acontecer. A cena foi até engraçada: a assessora do juiz toda séria, toda cheia de dedos, com medo que nos engalfinhásssemos. E nós rindo, contando histórias de torcedores fanáticos, das demências de Samarone, dos apertos que Zé Neves passou em plena arquibancada da Ilha, quando tentou assistir sem ser reconhecido à final de 2013. Ou de 2012, já não lembro. A moça achou que estivéssemos tirando onda.

Ontem, tudo foi resolvido: as 20 cestas foram entregues ao diretor de Relações de Mercado & Comunicação do clube, o ilustríssimo senhor Jorge Arranja. Zé não pôde ir, enroscou-se numa reunião complicada, mas era para ele ter aparecido na foto. Samarone também não foi para Fortaleza lançar seu livro de poesias premiado junto com outros poetas cearenses desgarrados.

Vamos invadir o Castelão!

Amigos corais, por sorte do destino, lancei um livro de poesias ontem cá em Fortaleza, onde morei por mais de dez anos.

Só depois que cheguei foi que me avisaram que o Santa Cruz joga contra o Ceará, no sábado à tarde, em pleno Castelão.

Como eu tinha passagem de volta marcada para sábado à noite, vou à rodoviária daqui a pouco, para fazer a troca e voltar somente no domingo.

Agora a pergunta fatal: onde a massa coral se encontra, aqui em Fortaleza?

Dados sobre o adversário:

O Ceará está com quatro pontos em setes jogos, Uma vitória, um empate e cinco derrotas. Aproveitamento de 19%.

Sei que Gerrá fez as contas dele, mas não lembro nosso percentual. Deve ser meio por cento melhor.

Mas a questão é pensar somente (e obcecadamente) na vitória, sábado.

Aguardo o retorno da massa coral, em Fortaleza, para irmos juntos ao Castelão. Se for perto da praia, melhor. É bom ir com gente conhecida, porque a turma das organizadas daqui bate pesado.

Sozinho, com a camisa do Mais Querido, posso virar picadinho.

Fazendo contas

Tá lasca acompanhar o meu time nesse período junino. Até agora, só pude ver alguns jogos do Santa Cruz. No Arruda, não fui a nenhum. Pela televisão, assisti aos jogos contra Macaé, Paraná e Luverdense.

Vou logo deixando claro que não é por mi-mi-mi, muito menos por cornura.

A bronca é que, infelizmente, os jogos têm coincidido com os forrós que a gente anda fazendo por aí. Parece que a CBF fez questão de atrapalhar minha ida ao Arruda, marcou esses nossos três primeiros jogos em casa, sempre na noite da sexta-feira.

Mesmo assim, tenho acompanhado essa campanha medíocre que estamos fazendo. Vejo os melhores momentos na internet, converso com um amigo, dou uma espiada nos comentários do Blog, essas coisas.

Confesso que já comecei a usar a calculadora.

Até agora, temos somente 23,8% de aproveitamento. Quase nada pra quem entrou na competição falando em se classificar para Série A.

Disputamos vinte e um pontos, ganhamos apenas cinco. E o pior, jogamos três partidas em casa e só fizemos quatro pontos.

Desde que inventaram os pontos corridos na Seribê, o percentual mais baixo de aproveitamento para um clube se livrar do rebaixamento foi em 2012. Naquele ano, o Guaratinguetá se segurou com quarenta e três pontos, o CRB fez quarenta e dois pontos e foi rebaixado. O Santa fez uma pífia campanha na Sericê (toc, toc, toc).

O ano onde a pontuação foi mais alta para não ser empurrado pra Sericê foi em 2007. Justamente o ano em que nosso Santa Cruz começou a rolar ladeira abaixo(toc, toc, toc, de novo).

Naquele brasileiro, o Ceará fez cinquenta pontos e conseguiu ficar em décimo sexto colocado. O primeiro dos rebaixados foi o Paulista que fez quarenta e cinco.

Ainda nos restam trinta e um jogos. Desses, dezesseis serão no Arruda. Não dá para saber ainda, quantos pontos são necessários para fugir desta sericê, mas dos jogos que restam em casa, para não correr risco de rebaixamento, vamos ter que ganhar praticamente todos.

Bom, mas trocaram o treinador. E torcedor que é torcedor, sempre renova as esperanças.

Espero que Martelloti consiga ajeitar esse time e animar o elenco. Só assim eu esqueço a calculadora de lado e deixo de fazer cálculos para ver se a gente consegue ficar na Seribê.

Deixemos de cornura!

Puta merda, nunca vi tanta azia, má-digestão, mau olhado, quizila, caminho fechado, ingrisia.

O time joga numa sexta-feira à noite, tem greve de metrô, ônibus, cai uma chuva de arrombar, e… perde;

Amanhã, jogo às 21h50, novamente sexta-feira. Se bobear, pode chover de novo.

Para arrematar, o time está uma bosta. Desculpem, mas hoje estou com a boca suja.

Sim, E DAÍ?

Quem abandona o time na magra, como estamos acostumados a ver? Sabemos bem: Náutico e Sport.

Quando estão na boa, é tudo lindo. Se cai na tabela, é vaia e estádio vazio. E somem da paisagem. Não se vê uma camisa na rua, nem para remédio.

Nós somos a torcida do Santa Cruz, caralho!

Amanhã é obrigação cívica não só ir ao estádio, como chamar amigos, mandar ver nesses negócios do Facebook, celular, convocando para empurrar o time.

A gente pode entupir os sites e blogs do mundo inteiro, com nossas justas reclamações, mas o simples gesto físico de ir ao estádio, amanhã, vale mais que mil palavras.

Desculpem o péssimo trocadilho, mas “Um tocedor do Santa Cruz vale mais que mil palavras”.

Deixemos de cornura, de mimimi, de raivinha, de raivona, de ódio, de mau agoro.

Vamos ao Arruda, fazer como certos casais, que se amama mas se afastam, resolvem “dar um tempo”, por pura raivinha, e se reencontram, três anos depois, e dizem, quase ao mesmo tempo:

“Quanto tempo perdido…”

Um ano que nunca será esquecido

Dei uma passada para ver os comentários e me deparo com uma boa nostalgia. Daquelas que faz o sujeito voltar no tempo e ter saudades.

O ano era 2005. O Santa Cruz foi campeão estadual. Ganhamos os dois turnos. No segundo, jogamos em Petrolina, numa quarta-feira e ganhamos o campeonato de forma antecipada e incontestável. O time do velho Giva foi campeão com os pés nas costas.

Da quarta-feira até a última rodada, o jogo contra a Barbie no domingo, a cidade ficou pintada de preto-branco-encarnado e o estoque de bebida da Região Metropolitana sofreu uma grande baixa.

Entramos na série B com o time todo organizado e fomos embalando. Lembro que ainda nas primeiras rodadas, metemos um 4 a 2 no Bahia, lá dentro.

Sem grandes craques, sem salário em dia e sem coordenador técnico, fosse aquela seribê de pontos corridos, teríamos sido campeões.

Naquela época, eu, Chiló e Alessandra já fazíamos uns forrozinhos para os amigos. Voltando do São João de Arcoverde, com triângulo, sanfona e zabumba no carro, Chiló deu a ideia de irmos para o Arruda tocar forró. Era um domingo de junho e o Santa Cruz iria jogar em casa. Fomos direto pro jogo e a farra foi grande. Ali nasceu a Sanfona Coral, que dias depois, numa mesa do Empório Sertanejo, foi constituída como torcida musical organizada.

Muita gente ainda pergunta por que a Sanfona não volta. Por um simples motivo, éramos movidos à cerveja e o precioso liquido não pode mais entrar na arquibancada.

Foi naquele ano mágico que Inácio e Samarone tiveram a brilhante ideia de fazer um blog, o Blog do Santinha.

Era em 2005 que João Peruca, filho de Zé, promovia o fezão. Se a rodada fosse no final de semana e o Santa jogasse no Arruda, Joãozinho fazia uma suculenta feijoada, botava umas aguardentes na roda e estava organizada a preliminar. Isso foi virando um ritual e todos tinham certeza que o fezão dava sorte. Ir para o jogo, sem antes comer a feijoada, dava um azar danado.

Tinha a Kombi Coral. Seguíamos para os jogos fazendo forró dentro da Kombi, dando carona a todo mundo que estivesse pelo caminho e parando de bar em bar para abastecer o organismo e jogar álcool dentro da pança de Naná.

Certa vez, íamos pela Santos Dumont e um rapaz vestido com nosso manto sagrado caminhava pela calçada. Paramos a kombi e oferecemos carona. Ele aceitou. Pra puxar conversa nos disse que estava vindo a pé do Mercado da Boa Vista, que sempre fazia isto. Quando ele acabou de dizer, Naná parou a kombi e botamos ele pra fora.

— Tu tás doido, é? Vai a pé que o Santa tá ganhando tudo. A gente não pode dar sopa pro azar.

2005 nunca será esquecido.

Um ano cheio de boas histórias. Nossa viagem para ver o jogo contra a Portuguesa. Nossa invasão ao treino no Arruda. As amizades que duram até hoje. As figuras. Os pergonagens.

Passaria horas e horas escrevendo sobre aqueles dias.

Ainda há tempo

Eu já contabilizava essa derrota de ontem e também a do próximo sábado. Essa frase foi tirada de um e-mail que recebi hoje pela manhã de Milton Jr.

Pois bem, eu havia conversado com a primeira dama sobre isso antes do jogo de ontem (sim, lá em casa a gente conversa sobre futebol). Tinha dito a ela que com o futebol que o Santa Cruz tá jogando, se a gente voltasse dessas duas partidas fora de casa com um ponto, já seria um bom negócio.

Mas meus nobres, eu só não imaginava que na nossa conta de derrotas continuássemos levando gols ridículos.

Não bastasse as pixotadas contra o América Mineiro e o gol que levamos do ABC, outra  vez tomamos gols típicos de pelada.

Ontem começou pela lambança do goleiro Fred. Aquela tapinha que ele deu na bola, nos mostra o quanto é limitado esse rapaz. Pra completar a cena, o adversário que fez o gol se livrou tranquilamente da marcação.

No segundo gol, o jogador do Paysandu, que é um pouco mais alto do que Renatinho e Catatau, nem precisou pular pra cabecear e estava livre na nossa área.

Desculpe os que pensam diferente, mas essa nossa dupla de zaga mais parece dois retardados. Jogam como dois meninões adonzelados que ainda não tiraram o queijo.

Não é de agora que muita gente percebeu que nosso time é fraco.

Aqui pra nós, ganhamos o estadual numa cagada histórica. Na primeira partida da final, o Salgueiro brincou de perder gols. No segundo jogo, o do Arruda, não jogamos nada e graças aos deuses, Anderson Aquino achou aquele gol.

Levantamos a taça por uma dessas surpresas que saem da caixinha do futebol.

Alguém pode dizer que a sorte faz parte do futebol. Ok, mas ela não marca presença eternamente. Principalmente, num campeonato longo feito a seribê.

Alguns falam que nosso problema é o atraso de salários. Claro que o correto é pagar em dia, mas isto não pode ser visto como um fato isolado. Temos exemplos e mais exemplos de times que, mesmo com a folha de pagamento atrasada, conseguem ser vencedores. Pra quem não lembra, em 2005 subimos para Série A e tínhamos salários  atrasados. E mais, podem pagar em dia rios de dinheiro a Emerson Santos, Pedro Castro, Nathan e outros perronhas que eles vão continuar nos aborrecendo.

A culpa é dos jogadores? Não!

A culpa é de quem os indicou e de quem os trouxe.

Não sei quem foi indicado por Ricardinho, por Sandro, por Tininho, nem por Alírio. Não sei se Adriano, Ataíde e Jomar trouxeram alguém.

Não faço a mínima ideia de quem contratou ou deixou de contratar.

A única coisa que sei é que ainda há tempo para consertar.

Porém, é preciso atitude e é necessário dar o tiro certo. Talvez  esta seja a bronca: dar o tiro certo.

Uma vitória! Uma vitória para afastar o azedume!

Tenho um costume besta e absolutamente fora de moda, que é o de recortar notícias de jornais. Guardo, mando para os amigos, coleciono em cadernos. Sou o ser mais analógico do Brasil, quiçá da América Latina. Tenho 13 máquinas de datilografia, tesouras, colas diversas, enfim.  Algumas notícias recentes, da Folha de São Paulo:

“Corte de custos vai dificultar as renovações do Corinthians”.

O time está preocupado com o fraco orçamento para 2015: R$ 200 milhões.

Resultado: Acaba de levar a segunda lapada do arquirrival Palmeiras em plena Arena, salvando treinador palmeirense da demissão.

“Santos consegue empréstimo de R$ 8 milhões com o Banco BMG para quitar as dívidas com Robinho”.

Resultado: O rapaz está arrumando as malas.

“Justiça nega recurso do clube e mantém a penhora do Canindé”.

As dívidas trabalhistas da Lusa são de R$ 47 milhões. O TRT vai agendar a data do leilão e forma para a venda.

Então você pega o Santa Cruz, versão 2015.

O time começou do zero, praticamente montou um novo time. Sem dinheiro no cofre. Sem conta em banco. Sem o que chamam de “patrocinador Master”.

Sem Copa do Nordeste. Sem Copa do Brasil.

Não se sabe como, mas um time praticamente sem dinheiro arrancou o título do Estadual.

Começamos uma série B de mal jeito. O time está malamanhado, batendo cabeça, desorganizado, mas parece que tudo está se acabando.

Aqui nos comentários, referem-se a Ricardinho como um reles “entregador de colete” e coisas piores. De Tininho, que tem na conta quatro títulos em cinco anos, fora os acessos, outras barbaridades. Tem comentarista que exerce com rara felicidade a arte de ser desagradável.

Sinto muito, mas Ricardinho, com uma equipe modestíssima, levou o título para o Arruda.

Do outro lado tinha Lisca, Sérgio China e Eduardo Batista.  Quem está na foto dos bares, botequins e casas as mais diversas, é Ricardinho.

Dizem misérias sobre os bastidores do clube, há acusações monumentais, como se a diretoria estivesse nadando em dinheiro e contratar bons jogadores fosse uma questão simples – a de escolher o atleta e passar o cartão.

Não se iludam, camaradas, temos ainda um caminho grande pela frente. No último jogo, com chuva e greves diversas, tivemos cinco mil pessoas no Arruda. Sabem quanto isso dá, em dinheiro vivo?

Olho a tabela. Temos três pontos. O oitavo colocado tem seis.

Precisamos de uma vitória fora de casa, para afastar esse azedume, isso sim.

Do alto da minha prosopopéia, solto gritos lancinantes:

“Uma vitória! Uma vitória para afastar o azedume!”

Ps. Dei minha coleção de camisas, faixas e bandeiras para o colecionador Esequias Pierre. O senhor Gerrá Lima fez safadeza e insinuou que eu estava “cansado do Santa”. Já procurei meus advogados pala processá-lo por difamação e calúnia. Cansar do Santa, nem depois da morte.

Outra providência será a de banir do Blog aqueles textos eróticos (para não dizer coisa pior), que parecem ter sido escritos para a revista Brazil.

E quem tiver notícias do senhor Inácio França, favor ligar para nosso 0800 1914.