Polícia para quem?

Não é indignação o que estou sentindo com o acesso da torcida no famoso Portão 9. É a mais pura raiva mesmo.
Depois alguém escreve sobre a importante vitória. Que encontre inspiração.
Eram 20h quando cheguei com meu ingresso para ver um jogo decisivo do meu time. Ou seja, estávamos a meia hora do início da partida.
Havia um caos completo. A rua estava numa escuridão quase completa. Cenário perfeito para confusão, roubos, brigas.
Falam rios das “Torcidas Organizadas”, mas ninguém lembra que temos uma “Polícia Desorganizada”, incapaz de organizar o acesso de pessoas com ingresso a um evento esportivo.
A cada minuto, a multidão se amontoava, porque ninguém saia do canto.
Ficamos parados, por vários minutos, até que saí e fui para perto da entrada, ver o que estava acontecendo.
Os PMs da Tropa de Choque estavam retirando todas as barras de ferro que botam, em um jogo ou outro, para organizar a fila, e jogando na calçada!
Tudo isso no breu.
Era inevitável que, quando abrissem para a massa entrar, haveria mais confusão.
Minha sorte foi ter dado uma de jornalista, para ver a merda toda.
No meio desse caos completo, uma quantidade imensa de carros, no meio do povo que estava do lado, esperando algo se resolver.
Quando a PM liberou a massa, foi correria, gente caindo, chorando.
“Painho, painho!”, gritou um jovem, ao ver seu pai quase sendo esmagado. O homem se levantou e saiu correndo.
Foi assim que a torcida do Santa entrou ontem, nas arquibancadas. Tropeçando, correndo, esbaforida, tentando se proteger. Uma manada. Cada um tentando escapar de uma queda. Isso implica estudo, planejamento, previsão de torcida, reconhecimento do local.
Eu vivo batendo nesta tecla. A PM só vai trabalhar de forma decente e ordenada quando criar um batalhão não de CHOQUE, mas de acesso e acompanhamento de eventos esportivos.
Consegui entrar, porque no meio disso tudo, um sujeito afastou a barra de ferro e algumas pessoas conseguiram passar.
Quando passamos pelas catracas, parecíamos uns refugiados que tinham pisado em um solo seguro.
Teve gente entrando com 15, 20 minutos depois do jogo, e repetindo:
“Tem meio mundo de gente do lado de fora”.
Na saída do estádio, vocês sabem o que mais atrapalhava o fluxo da massa coral: a escuridão e os vários ônibus da PM.
Ou seja – o único lugar do entorno do Arruda que não poderia estar escuro, era na saída do Portão 9.
O único lugar que vários ônibus não deveriam estar, era junto da saída do Portão 9.
Sei que nem o governador, nem o comandante da PM, nem ninguém vai fazer porra nenhuma.
Torço para que o presidente do Santa Cruz Futebol Clube, Alírio Moraes, lidere um movimento por uma “Polícia Organizada” em Pernambuco, antes que tragédias aconteçam.
Até isso, vou perguntar seguidas vezes: Polícia para quem?

***
Para quem quiser apoiar meu projeto literário, é só clicar:
www.catarse.me/ze_apml
(doações a partir de R$ 20,00)

Vitória dentro e fora de campo

Amigos corais, costumo levar o radinho para o estádio, mas no jogo de ontem, fiquei surpreso. Ante de começar o jogo, o repórter entrou ao vivo, para entrevistar o presidente Alírio Moraes, que recebia nas tribunas do Arruda Jane Andrade dos Santos, coordenadora e parte da equipe técnica do escritório do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) para os estados de Alagoas, Paraíba e Pernambuco.

Unicef? Santa Cruz?

Eu não tinha bebido nada. Pensei estar delirando, já que acusam o presidente coral de ser um “Delírio”.

Não estava. Era uma ação estratégica de comunicação e marketing do clube, sob a batuta de Jorge Arranja, Inácio França e Laércio Portela.

“O convite foi feito em razão do novo momento pelo qual passa o clube”, explicou-me o senhor Inácio França, em entrevista exclusiva hoje de manhã, após a XII Corrida das Pontes.

A lógica é simples, mas nem todo mundo consegue associar simplicidade com a marca de um clube centenário como o nosso.

“Com a política de zerar o déficit do clube, o Santa Cruz está saindo da “clandestinidade” administrativa e fiscal. Por isso, precisa estar aberto para a sociedade, assumindo as responsabilidades de um clube de futebol na formação dos valores de todas as crianças e adolescentes, não apenas da sua torcida”, continuou Inácio, enquanto mastigava uma singela barrinha de cereais e lembrava do aniversário do filho Bruno.

Após pegar a medalha por ter completado bem a prova (não me disse o tempo), França seguiu detalhando a iniciativa, e o que ela pode representar.

“Uma das responsabilidade de todos os clubes de futebol, não apenas o Santa Cruz, é o de reconhecer que tem um papel de formação moral e social das crianças, adolescentes e jovens. Por isso, o santa se coloca à disposição do Unicef  para eventuais campanhas e projetos que envolvam o esporte educacional. Afinal, um clube de futebol pode alcançar corações e mentes de uma forma que nenhuma outra instituição consegue”.

Creio que só amanhã, com as matérias dos jornais e TVs, teremos uma ideia de como isso repercutiu na mídia.

A vitória dentro de campo e a classificação nos deixaram aliviados nesta caminhada de 2015. Demos um enorme passo para fortalecer o grupo de atletas, o treinador e todo um trabalho, que está apenas começando.

Fora de campo, o Santa Cruz começa a pensar em outros caminhos, novos rumos, horizontes.

Ou seja, nada nos impede de sermos um grande clube dentro e fora de campo.

Ps. Já tive oportunidade de trabalhar como consultor do Unicef, o suficiente para dizer que Jane Santos é uma grande mulher, amiga e torcedora apaixonada da Cobra Coral, filha de outro grande torcedor. Imagino a emoção que viveu, ao ser convidada pelo presidente para se associar ao programa “Sou Santa Cruz de Corpo e Alma”. Vou pedir que escreva sobre esta experiência.

Três horas (e mais um pouco) com Alírio (final)

Quando decidimos marcar uma entrevista com o novo presidente do Santa, Alírio Moraes, passava pelas nossas cabeças, creio, uma sabatina, perguntas para conhecer, sondar, perscrutar, dissecar o que pensa o homem que será encarregado de c0mandar esta nação coral durante os próximos três anos.

Mas bastou o primeiro encontro com aquele homem de 50 anos, vestindo a camisa do Santa de 1975, com a voz calma e olhar cheio de brilho, de uma simplicidade aguda, uma modéstia nos gestos, para ver que teríamos mesmo era uma longa e extremamente prazerosa roda de diálogos sobre tudo. Clube, vida, sonhos, projetos, vida.

Uma conversa fácil, boa, sincera, sem artimanhas oratórias para mostrar capacidade de realização ou louvação si próprio. Este advogado de 50 anos comandou uma equipe que operou dois milagres no Santa – reduziu a dívida fiscal de R$ 50 milhões para R$ 13 milhões e quase liquidou a dívida trabalhista, que era de R$ 50 milhões.

Antes do encontro, Inácio lembrou que alguns comentaristas do nosso blog chamavam Alírio de “Delírio”.

Mas amigos, o que mais poderíamos querer para nosso Santa, se não um homem que se permite à loucura, ao delírio de investir parte de sua vida num trabalho insano, complicadíssimo, quase irrealizável, que era desentranhar processo a processo, em varas as mais distintas, em labirintos da burocrática Justiça brasileira, uma dívida que era uma sombra perpétua para nosso clube?

Qual de nós, reles classe média, consegue organizar sua vida com as contas vencidas, sem saber quanto vai poder gastar no próximo mês, num processo que muitas vezes arruína o cotidiano, cancela projetos, inviabiliza sonhos? Qual o empresário que quase não enlouquece (ou quebra) quando surgem as primeiras das muitas ações trabalhistas?

Pois me permito – Alírio é um delírio que só um clube como o Santa Cruz é capaz de criar.

O pai, Alírio Moraes Filho, advogado e músico, do Bairro de São José. Louco, apaixonado pelo Santa. Num momento dramático, o filho teve que ir à luta para ajudar o pai. Fez o curso de Direito para, literalmente, brigar pelo pai. É um dos momentos mais emocionantes de sua história.

Talvez, há muitos anos, quando ainda nem sabia, Alírio abraçou uma frase dita pelo pai:

“Os fatos são circunstanciais. Faça um projeto para sua vida”.

Ele fez projetos para a vida. Agora tem projetos para o Santa

A impressão que tive foi a mais simples, diria a mais óbvia – aos 50 anos, com cinco filhos, a vida estruturada, após muitas vitórias, ele foi surpreendido com uma convocatória. Sabe-se que vários ex-presidentes foram ao seu encontro propondo o cargo de presidente do Santa.

Terá marejado com uma aclamação, num clube que nunca foi modelo de gestão, onde os presidentes aparecem como seres quase solitários tapando buracos orçamentários com jantares de adesão, coletas de emergência com empresários abnegados? Terá lembrado do pai?

Não sei. O fato é que ele é um homem absolutamente focado. Diria que é um manso que sabe o que quer. Tem planos concretos de marketing, comunicação, reestruturação do futebol, da base, movimentação deda sede. Comentamos os perrengues que passamos para entrar no Arruda, em dias de jogos decisivos. Disse que vai entrar no estádio como simples torcedor, para sentir na pele o que vivemos. Para completar, sua mulher, Fernanda, é também louca pelo Santa – e vai fazer parte da gestão.

Um homem que não tem vergonha de dizer que tem ambição. E não tem vergonha de colocar a ambição na vida. O Santa Cruz precisava disso com urgência. Precisamos de dores cavalares de ambição, se quisermos botar estrelas no peito.

No dia seguinte à nossa conversa, saiu uma entrevista de página inteira com ele, no Jornal do Commercio. Retiro um trecho que expressa tudo isso.

“O Santa Cruz vai voltar a ganhar títulos porque a gente vai fazer um futebol muito forte. Eu sou muito ambicioso, embora seja um cara introspectivo. Sou um cara, imagino, voltado para o sucesso. Tenho uma capacidade de brigar muito grande e quero passar isso naturalmente para o clube”.

Falamos de várias pessoas que tentaram, em algum momento, participar da vida interna do clube, contribuir com seus conhecimentos, sua inteligência, mas sempre esbarraram num caos administrativo interno que parecia destino, carma. Caos que, num clube de multidões como o Santa, geram milhões de dívidas, descontrole interno, é tempo perdido, é faixa a menos no peito. 

Tinha uma porção de gente na sala, a conversa estava chegando ao fim, quando ele disse uma frase que para mim simboliza muito nosso novo momento (e minha secreta esperança de um clube moderno, antenado, inteligente, audacioso, apaixonante e aberto).

Inácio tinha comentado algo, ele fez um breve silêncio, saiu olhando para cada um e comentou, como se referindo aos muitos corais que querem fazer parte dos destinos do Santa:

“Inácio, quem vai mudar o Santa Cruz são essas pessoas”.

A partir do dia 11 de dezembro, pois, deliremos em preto, branco e vermelho.