Politicamente incorreto

Meus amigos tricolores, uma das coisas mais politicamente incorretas que conheço é o tal de apelido de jogador de pelada. Começa pelo próprio nome do jogo: pelada. Pode ter sido derivado do termo péla, as bolas de couro, ou do fato de não ter grama nenhuma no campo.
Seja como for, pelada é aquele lugar muito estranho onde os amigos se reúnem para bater uma bolinha e tomar umas cervas depois de suar a camisa. Há peladas de grandes amigos onde o objetivo é só se divertir mesmo. E há aquelas em que os caras se acham profissionais da bola e, vez ou outra, o pau canta. Seja por uma entrada mais dura, por alguém que faz corpo mole ou por uma falta não marcada – e quase sempre todo mundo é juiz também na pelada.
Na minha adolescência, eu jogava pelada num campinho na praia do Janga. Pense nas figuras mais esdrúxulas do mundo que compareciam àquela várzea. E quase todos carregavam os nomes mais estapafúrdios possíveis.
Lembro de um nerd de óculos e cabelos desgrenhados que ia jogar. O apelido? Taboclécio, o tabacudo. Apelido composto. Taboclécio tinha a maior cara de punheteiro donzelo. Mal emitia uma palavra e jogava mal pra caralho.
Tinha um cara que possuía uma das pernas menores. Ele andava equilibrando o corpo e gingava entre a perna maior e a menor. Batizaram o cara de Amassa barro. Outro, marombeiro e que só falava em carnaval e nas mulheres da festa, foi batizado de Pipoca.
O grupo era bem eclético: Tição, Monstro, Pereba que era um gordão desengonçado e que batia que nem um filho da puta, Epocler que era um cachaceiro inveterado, Goió, Maluqinho que era um maconheiro convertido, Gordo e Satã. Satã era feio feito o diabo, daí o apelido carinhoso.
Fiquei imaginando um narrador profissional narrando essa pelada. Seria mais ou menos assim:
“Taboclécio pega a bola, vê Tição correndo pela esquerda. Goió se aproxima para tomar a bola. Taboclécio lança pra Tição…. coooortaaaa Satã. Satã carrega a pelota, lança para a esquerda para Epocler. Epocler treme, faz que vai vomitar, toca a bola de qualquer jeito. Domina Maluquinho. Maluquinho corre pela direita, vai chegando na área. Amassa Barro chega com violência, acerta a perna de Maluquinho e é… faaaaltaaaaaa”.
Aí começa uma confusão da porra. Briga daqui, briga dalí e a falta vai ser cobrada. Volta o narrador:
“Gordo bate a falta tocando para Epocler que já se recuperou da vomitada. Epocler lança para Satã que peeerde a bola pra Monstro que chegou com tudo. Monstro dribla Goió e passa voando pelo Gordo. Monstro toca pra Tição que toca para Pereba que vê Taboclécio na esquerda e Monstro na direita. Pereba lança para Taboclécio, Maluqinho e Satã se aproximam para tomar a bola. Taboclécio, em pânico, chuta para a barrinha e… é Gollllllllllllllllllllllllllllllllllll. Gol de Taboclécio”.
Os amigos se reúnem e se abraçam celebrando o gol. A zona pra cima do adversário era uma coisa obrigatória.
“Perdesse, otário. Vou dar aula na próxima pelada”.
Num universo tomado pelo politicamente correto – onde os velhos Trapalhões já estariam presos – a pelada segue contra todos e contra ninguém. Fazendo sempre parte desse imenso país que ama e respira futebol. Do seu jeito.

Confraternização

Desta vez, ao invés de marcarem num boteco, a confraternização foi no apartamento de Assis.

No ano passado, fizeram em um bar. Deram o azar de encontrarem uma confraternização de uns almofadinhas alvirrubros. Na mesa deles, havia uns oito ou nove barbianos. O mais escuro tinha a pele branco gelo e o cabelo repartido de lado.

Celso, já com o carburador meio encharcado e sem controle do volume do som, disse: “setenta por cento da torcida do timbu tá naquela mesa”.

Um dos brancos rebateu: “tricolor só tem dinheiro pra tomar skol”.

Celso quis pegar ar, mas a turma segurou a onda.

“Tu vai dar atenção a esses atabacados, é? Deixa pra lá…”. – Ivan falou.

Por uns instantes, o clima acalmou. Mas à proporção que o consumo de combustível ía aumentando, qualquer gargalhada soava como provocação, qualquer “tomar no cu” era falta de respeito do adversário.

A bronca foi quando Celso, voltando do banheiro, resolveu entrar no campo deles. Foi até a mesa adversária e desejou um feliz ano novo. “Galera, na boa, eu queria desejar um ano novo cheio de paz, saúde e felicidades pra vocês…”.

“Claro, rapaz! Tudo de bom, pra vocês também! Somos da paz”, retribuiu um galego.

Celsinho completou: “… e que vocês continuem sem título e comemorando o hexa!”.

A confusão foi grande. Não fossem os seguranças do estabelecimento, tinha havido uma guerra.

Depois desse fato, ficou decidido que a confraternização de 2016 seria na casa de alguém. No sorteio, saiu o apartamento de Assis. Assis Mosca Morta.

Compraram um barril de chope e mandaram fazer uma feijoada. Cada um levou um brebote. Amendoim, castanha, salgadinhos, essas coisas.

Vez por outra, a turma fazia o seguinte ritual: uma rodada de caldinho e uma lapada de aguardente.

Josué já ía no décimo ou nono copo de chope, com a voz meio embolada ele: “se num amigo secreto, por exemplo, eu tirasse Allan Vieira, eu dava uma flanela a ele, pra ele deixar de jogar bola e ir tomar conta de carro”.

Tacinho perguntou: “e se tu tirasse Márcio Araújo?”

“Eu dava uma enxada a ele”.

A risadagem foi grande.

Na retrospectiva do ano, algumas recordações. Nomes como Mazinho, Chimbinha, Vágner, além de Allan Vieira e Mário Sérgio, foram escolhidos por unanimidade para serem titulares do time de perronhas de 2016. Para treinador, houve empate técnico entre Milton Meme e Deriva.

Quem soltou a maior perua foi Naldinho. “Tudo indica que vamos contratar Luis Fabiano”. Quase leva um babau.

Lembraram a viagem para Campina Grande. “Eu não esqueço daquela gostosinha chorando de alegria. Nunca mais vi aquele filé em jogo do Santa. Sou doido pra encontrar ela de novo”.

Até hoje, Josué se lembra daquela garota no jogo da decisão da Copa do Nordeste.

Ele só não recorda mesmo, como foi que chegou em casa depois da confraternização. O limite da lembrança é a hora em que fizeram um brinde e alguém disse que o chope havia acabado. Sabe que a bebedeira continuou, mas não sabe como terminou.

Josué acordou com marteladas na cabeça. Teimou em não abrir os olhos. “Puta que pariu, que ressaca do caralho!”.

Virou de lado e pegou no sono de novo. Sonhou com o Santa Cruz campeão em 2017.

Apostaço na Timemania

Amigos tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda, faz tempo que não apareço neste Blog. Depois que voltamos aos velhos tempos das cestas básicas, salários atrasados, essas coisas, pedi licença para tratamento de interesses particulares e dei um tempo.

Mas estou por aqui. Revigorado e renovando a esperança. Torcendo que tudo volte ao normal e que 2016 acabe o mais rápido possível. E que 2017 venha cheio de conquistas, felicidades e comemorações.

Daí, pra finalizar esse terrível semestre, mostrando que quem é cobra coral do gramado do Arruda não morre fácil, muito menos abaixa a cabeça, vamos entrar com a gota serena nos jogos da Timemania.

Pra quem ainda não sabe, a gente precisa manter o Santa Cruz entre os 20 melhores da Timemania, pois só assim, temos um bom percentual para abater a nossa dívida federal.

Esse Blog e a turma da Minha Cobra bolou uma ideia pra ajudar. O cabra que fizer cinco apostas, ganha um dos livros do Blog e concorre a um sorteio de duas camisas da Troça Minha Cobra – 2017 e uma camisa da lojinha do clube.

A regra é simples:

A cada cinco jogos realizados, o torcedor que apresentar as apostas na loja Cobra Coral, ganha um dos livros do Blog do Santinha e concorre a duas camisa da Troça Minha Cobra, uma camisa oficial de jogo e uma camisa casula da loja Cobra Coral.

Então, meu nobre! É correr pra loteria, ajudar o Santa Cruz a se manter entre os 20 primeiros e ir na loja Cobra Coral pra ganhar brinde.

Finalizou, mas para começar tudo de novo.

Meus amigos tricolores, final de ano é aquele período infernal para qualquer professor: aplicar milhões de provas, corrigi-las e lançar as notas e, o pior de tudo, escutar o chororó dos alunos incompetentes que não conseguiram passar.
Nesse turbilhão natalino, mal tive tempo de acompanhar as notícias de nosso Santinha. Escutei a entrevista de Alírio. Falou o que todos nós já sabemos: a crise financeira do clube desgasta a gestão e compromete os planos futuros. Pelo que me lembro – e pode pegar qualquer jornal da época – desde sempre o Santa Cruz vive com dívidas imensas. Há 30, 40 anos que essa lengalenga se repete.
O papo de que o Arruda vai ser leiloado deveria entrar para o rol dos mitos pernambucanos: a emparedada da Rua Nova, Bio do olho verde e a perna cabeluda. Era criança quando ouvia as notícias de que o Santa iria fechar. Os séculos passam e ninguém faz nada. Não estaria na hora de profissionalizar esse clube de uma vez? Permitir que capital árabe – por exemplo – administrasse o Mais Querido? Transparência e uma gestão enxuta e técnica são mais do que bem vindas.
Um professor amigo meu falou de uma entrevista na Rádio Jornal de um dos conselheiros do clube descendo o sarrafo na diretoria de futebol. Tininho é um caso específico de amor e ódio. Amado no primeiro semestre e odiado no segundo. Natural: ganhamos o PE e a Copa do NE, mas nos lascamos feio na Série A – e ainda fico me perguntando quem foi beneficiado com tantas contratações neste segundo semestre.
Tiago Cardoso se foi. Foi, é e será ídolo eterno no Santa Cruz. Algo como Nunes, Pedrinho, Givanildo e Mancuso. Mas acho inevitável reconhecer que a porrada de frangos que ele tomou na Série A contribuiu e muito para nossa queda. Fase é fase, companheiro. E ídolo é ídolo.
Eutrópio chegou com uma leva de novas contratações. Nosso novo treinador teve passagens pelo Fluminense, Chape, Ponte Preta e até esteve em terras pernambucanas entre as barbies girls. Desejo-lhe todo o sucesso do mundo nessa nova empreitada. Vamos ver no que vai dar – não tenho nenhum dom de profeta. Logo, só a bola rolando para saber se acertamos ou não.
Vai dar uma saudade danada de Keno, JP e Grafite. Fizeram bonito, não tem como negar. Outros não vou querer nem lembrar o nome de tanta raiva que fizeram. MM e Doriva, por exemplo, nem sei mais quem são esses senhores.
2016 foi um ano ambíguo. Tivemos duas grandes glórias e uma triste derrocada de volta à seribê. E, o mais triste de tudo, o acidente com a Chape vai marcar o futebol brasileiro para sempre. Foi muito bonito ver as homenagens em todos os estádios desse imenso país na última rodada do Brasileirão. Emocionante. Como seria bom se essa utopia de torcidas unidas se tornasse uma realidade.
Estamos olhando para trás e vendo o que se foi. 2017 já desponta ante todos nós. As esperanças se reacendem. Esse é o ciclo natural de todas as coisas. Ansioso para voltar ao Arruda, para torcer e vibrar pelo nosso Santinha. Ser campeão em 2017 no Pernambucano se tornou obrigação.
Este ano está finalizando. Mas nada acaba e tudo se renova. Finalizou, mas para que a roda da vida – como a serpente de Uroborus – possa voltar a girar. Assim como nossa paixão por essas três cores que definem uma nação inteira de loucos e santos.