Adiar o jogo vai ser bom para a torcida, para o time e para Inácio França.

Amigos corais, são 14h em ponto e teremos um jogo do Santa às 19h30.

Por conta da greve dos motoristas de ônibus e dos rodoviários, fazer qualquer coisa na cidade do Recife está inviável. Outras categorias paralisaram suas atividades para protestar contra o projeto de Terceirização, que está sendo encaminhado pelo Congresso. Até os camelôs, que são a última ponta da terceirização, já foram pra casa.

Pois bem: soube que até o senhor Inácio França parou tudo, em adesão ao movimento, e está deitado na sua rede, lendo o segundo volume dos “Irmãos Karamazov”.

Gerrá já me ligou. Daqui a pouco sai do trabalho para uma fisioterapia no braço. Não entendo isso. O sujeito joga pelada toda quarta-feira e o problema é no braço. Freud explica.

Então, me parece que o mais lógico, o mais decente, o mais sensato, é adiar o jogo de hoje à noite (que não vai dar ninguém) e remarcá-lo para amanhã (um dia muito mais propício à prática futebolística e torcidística, por sinal).

Como a CBF foi pega com a mão na massa pelo FBI, e o atual presidente saiu correndo da Suiça (com medo de também ser algemado), talvez eles não tenham tempo (nem paciência) de decidir isso. Contemos, então, com a força jurídica do presidente Alírio.

Se adiar, Inácio vai chegar ao final do segundo volume da obra de Dostoiévsky antes da novela das 21h.

Pelos meus cálculos, vai ficar faltando apenas um livro para ele bater no peito e dizer que já leu “toda a obra de Dostoiévsky”.

Com um argumento desse, não tem quem discuta com Inácio. Já começou perdendo por séculos de história da Rússia.

É bem possável que ele fique chato pacas. Mas de que adianta, se ele não sabe nem o que é um “Lá e lô” no dominó?

Aguardemos as decisões superiores, que geralmente não levam em questão duas palavras que, quando andam juntas, ajudam bastante nossas vidas: bom + senso.

Ps. Acabamos de saber, pelo nosso incansável Arnildo Ananias, que vei mesmo ser realizado o jogo. Ele acrescenta algo importante:

“Vai haver jogo. Vai existir esquema especial de onibus. Haverá promoção de de taxis através do 99taxis a partir das 17h código: torcida99pe”.

Faltou dizer o que é esta promoção. O cara pega o táxi e ganha o ingresso de brinde? É isso?

 

O Santa, na “Bodega do Abel”

Eis a placa...
Eis a placa…

fachada

Na sexta-feira passada, minhas obrigações clubísticas diziam que eu deveria estar na Arena, para ver Santa x Boa Esporte, às 19h40.

Mas no meio do caminho tinha: engarrafamento, horário de pico, a Abdias de Carvalho e outros milhares de carros. Como não tenho carro, não queria levar minha impaciência aos limites. Resolvi assistir na Bodega do Abel, aconchegante reduto coral, na rua das Creoulas, defronte àquela farmácia da rua das Pernambucanas.

Desde a primeira vez que entrei lá, meio ao acaso, me tornei assíduo. Até paguei um “Clube do Whisky” para meu cunhado coral, o senhor Pedoca, que mora ao lado, mas ele anda mal do juízo: Não foi bebericar seu presente.

O resultado foi que, a cada visita, eu beliscava umas doses. Na sexta, eu avisei que iria acabar o presente. Ele ficou preocupado.

Marquei com Gerrá e Inácio, mas, como sempre, a fuleiragem foi grande. Gerrá enrolou tanto que perdeu o primeiro tempo em casa.

O Abel, dono da bodega, é um português invocado, Santa Cruz desde que os portugueses cá chegaram e decretaram:

“Pois, pois, esta é a Terra do Santa Cruz”.

O Caminha errou e digitou “Terra de Santa Cruz”. Mudaram para “Brasil” por pirraça.

A clientela é majoritariamente coral. Até perguntaram pelos livros da “Trilogia das Cores”. Breve, abriremos uma filial do Blog do Santinha lá, para vender os livros.

Bem, mas o fato é que bastou o jogo começar, o uísque a deslizar manso, que o Santa desarnou e começou a jogar outro futebol.

Alguns rubronegros secavam ardorosamente, mas Abel deu logo seu recado-esporro:

“Eu adoro quando esses rubronegros fiquem secando, porque essa energia passa para os jogadores, e ele jogam é mais bola”.

Pedoca chegou quando eu bebia a última dose. Quase chora. O jeito foi dar outro presente, desta vez um “Cavalo Branco”. Esse Santa Cruz me deixa um cara bem mais legal, todo mundo diz isso, até minha mulher.

Ao lado, vários corais com os olhos brilhando. Três a zero no primeiro tempo, com o time totalmente mudado, mordendo a bola, marcando, tocando, fazendo a festa da massa.

O lirismo logo começou a se espalhar.

“Ah, o Santa Cruz, quando ganha e joga bem, deixa a humanidade feliz. A humanidade inteira fica muito mais feliz quando o Santa ganha”, repetia um senhor, na mesa ao lado. Todos concordavam.

Pedimos espetinho de picanha, com cebola e vinagrete. Na medida. Outra dose. Hummm… Que falta de saudade eu sentia da Arena…

O segundo tempo foi só para manter o resultado, não forçar a barra. Eu e Pedoca botamos todos os papos em dia, bebemos nossas doses, rimos, confirmamos que é um ótimo lugar para ver jogos do Mais Querido.

Vou pedir ao Abel para reservar a mesa sete só para a galera do Blog. Em dia de jogo a gente leva uns livros da trilogia e vende com algum desconto.

O bom é que se eu empurrar o pé na jaca, meu cunhado mora a 200 metros. Dá para me levar no lombo.