Arruda, eu te amo!

Um dia histórico. É o mínimo que pode ser dito sobre esse retorno ao Arruda. A emoção do reencontro da torcida com o Santinha em campo pode ser comparada a rever a amada, ter aumento no salário, celebrar com os amigos ou viver o nascimento de um filho. É emoção bruta, pura e cristalina.

Estive no Arruda pela manhã para deixar minha neta no ballet. E não é que revejo o grande tricolor Ridoval?! “Zeca, ele me disse, vou ficar por aqui tomando uma até a hora do jogo”. Porra, eu pensei, que inveja. Tive que deixar as meninas em casa, almoçar e me arrumar para chegar ao Arruda às 15 horas.

Quando desci na Avenida Beberibe, uma sensação atávica de bem estar invadiu meu corpo. A torcida no bar do posto, os varais com camisas do Santa Cruz, os abraços entre amigos, os risos em cada rosto, o cheiro do espetinho na brasa, a cerveja gelada e as três cores mágicas reverberando no dia que se instalava com força.

Assim que cheguei no Bar de Abílio, me encontrei com Heitor, tricolor de coração e alma. Depois revi a velha guarda: novamente Ridoval, Marc, Jerry, Juninho, Renato, Lampi e sua filha linda. Conheci, enfim, Anízio. Tricolor gente fina demais. Uma pena que o velho Sama não pode comparecer. Mas Samir com quatro meses fica difícil mesmo. Completamente compreensível.

E aí, em um assomo de ansiedade e amor incondicional, fui pego ao entrar no estádio, ao subir aquelas escadas amarelas. Puta que pariu, que sensação maravilhosa! A torcida urrava, o sol enaltecia nossa paixão, os deuses e as deusas celebravam conosco. Havia uma docilidade impensável em cada ser humano presente ali. Só mesmo o Santa Cruz para fazer isso.

Senti falta da galera do cachorro-quente e do espetinho que não estava presente nas sociais. Mas a cerveja estava geladíssima e isso valeu muito a pena. E quando o time entrou em campo, como em um espiral que se eleva, cada tricolor coral santacruzense trouxe seu coração para campo, trouxe sua paixão transbordante para aquele momento único.

Quando a bola rolou, era visível como a torcida empolgava o time. Leston chegou a falar isso em uma entrevista após o jogo. Matheusinho foi o primeiro a arriscar um chute de fora da área. O time embalou. E temos que reconhecer: esse goleiro do Caruaru City pega demais. Um senhor berrou ao meu lado, após ele fazer uma defesa absurda: “”Esse filho da puta só que ser o Banks”. Ser comparado a Gordon Banks não é para qualquer um não.

O segundo tempo trouxe nosso primeiro gol com Rafael Furtado. A torcida enlouqueceu. Alegria demais. E aí, quando fui pegar outra cerva, vi um pai com seu filho e sua filha se divertindo, rindo, descontraídos e em paz absoluta. Aquela cena me emocionou demais: lembrei-me de meu pai me levando ao Arruda quando eu tinha cinco anos de idade. Fiquei com vergonha de início, mas tive coragem de pedir para tirar uma foto deles e publicar aqui.

O pai das crianças, Jackson, foi absurdamente educado e solícito comigo. “Claro, ele disse, pode tirar a foto sim. A honra é nossa”. Na verdade, a honra foi toda minha. No meio da conversa, saiu nosso segundo gol. Essa foto que encabeça esse post é dessa família tricolor coral maravilhosa. Valeu, Jackson. Sua família é linda demais.

E ainda deu tempo de Esquerdinha meter o terceiro gol. Depois foi só alegria no retorno ao Bar de Abílio. Como cheguei em casa? Sinceramente, não lembro. Cana arretada. Esse Santa Cruz é foda demais. Arruda, eu te amo!

Salve meu Santinha!

Segue o jogo.

Após um período tenebroso de erros, muita arrogância, lambanças e burrices crônicas, finalmente o ProSanta lavrou. Como sempre repito, política é a arte do possível. Não dá para engolir eleições indiretas nem com a porra. Mas a vida segue e temos que pensar sempre, e antes de tudo, no bem maior, o Santa Cruz.

A retirada estratégica das chapas que competiriam com ALN pode ter duas explicações: 1. Aquela foto que viralizou nas redes sociais com Tininho na cabeceira da mesa e os grandões do Santinha em encontro para firmar a vitória de ALN pode ter como causa a compreensão, enfim, de que é preciso unir forças, deixar a vaidade um pouco de lado, arregaçar as mangas e trabalhar para erguer o Mais Querido com muito trabalho e foco. 2. Tudo isso já estava esquematizado desde a viagem de Joaquim Bezerra para o exterior e nada passou de um jogo de cartas marcadas. Tudo foi encenação e ALN já havia sido aclamado como futuro presidente desde sempre, visando a SAF.

Seja como for – e isso mesmo a despeito de nossa indignação com um pleito eleitoral que não teve participação dos sócios (na verdade, nem teve) – é preciso reconhecer que novos ares sopram no Arruda sem a presença nefasta do ProSanta e sua galera.

No Twitter, a despeito dos idiotas esféricos (para usar uma expressão de Esequias Pierre), há um clima ambíguo: muita gente está apoiando ALN como o salvador da pátria e clamando pela SAF como o melhor dos mundos e, por outro lado, há uma tropa de elite indignada com ALN e as eleições indiretas.

O caso ALN é, em si, também ambíguo no Santa Cruz. Fato que ele conseguiu tirar o Santinha da famigerada Série D. Mas também é fato que autocracia atrapalha e muito a gestão de um clube que nasceu e é do povo.

Por falar em Série D, é preciso lembrar que saímos da D para a A sem SAF. É preciso lembrar do time fuderoso da A com Grafite, Keno e João Paulo sem SAF. O que nos fudeu naquele ano? Salários atrasados. Grafite, inclusive, teve que doar cestas básicas para o pessoal que trabalhava no apoio ao clube. Culpa de quem? Da porra da má administração. Ora, se o time sai da D para A na velocidade de um meteoro, que porra ocorreu para ele não se sustentar lá? E isso sem  esse papo de SAF (lembrando que SAF paga apenas 20% das dívidas do clube).

No mundo real e possível, o clima interno de quem vai trabalhar com ALN parece ser  dos melhores. Até parece que estamos na A e ganhando todas. Eu, de minha parte, torço sempre pelo bem do Santa Cruz, mesmo que esteja com os dois pés atrás – gato escaldado tem medo de água fria, camarada.

E ontem, com o fantasma dos salários atrasados e a esperança de mudanças positivas no Arruda, fomos na garra enfrentar o Capibaribe no Clássico das Emoções. Meu amigo Pietro Wagner chegou aqui em casa às 19 horas. Começamos tomando umas enquanto aguardávamos o jogo. Pietro me disse, em tom cerimonioso, assim que a peleja começou: “Tem momentos que a respiração para no jogo”. E clássico é foda mesmo. Haja coração!

Assim como o jogo contra o Do Recife, o Santinha foi time de um tempo só. Mandou no primeiro tempo. Matheusinho, com aquela bola na trave, fez com que nossa respiração parasse e o coração quase saiu pela boca.

Logo no início do segundo tempo fizemos um gol com Mr. Anderson da Matrix. Parecia que iríamos ganhar facilmente. Uma porra. O time morreu em campo. O Capibaribe foi esperto e fez mudanças rápidas enquanto monsieur Leston ficou comendo mosca. Era visível o cansaço do time e a falta de qualidade na marcação, nos passes e no posicionamento.

O Capibaribe mudou o jogo e começou a mandar na partida. O empate surgiu e até que foi um bom resultado, pois com a ruindade que vimos no nosso elenco, a falta de substituições e mudança tática, era quase provável levarmos uma lapada. Vamos para as quartas de final do pernambucano contra o Caruaru City (espero que o Arruda seja liberado, porra!) e garantimos o calendário de 2023. Ufa! Segue o jogo.

Eu e Pietro finalizamos a noite escutando Smetana, Borodin e Orff , tomando todas e conversando sobre Dostoiévski.Viagem pura. Santa Cruz é isso mesmo: muita emoção, amizade, tradição e história, muita história.

Salve meu Santinha!

Fora da ordem.

Em uma de suas canções, Caetano Veloso canta: “Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial”. No caso do Santinha, pode-se dizer que alguma coisa está, há muito tempo, fora da velha ordem do clube.

Com os sucessivos desastres do ProSanta e a saída prematura e bem-vinda de Joaquim Bezerra, novas eleições indiretas foram convocadas. O problema aqui não é dizer que estamos sendo democráticos seguindo o estatuto. O problema é que o estatuto deixou de ser democrático exatamente por não ter previsto eleições diretas em casos como esse.

Daí a velha ordem ressurgiu das cinzas. Albertino e ALN lançaram suas chapas.Waldemar Oliveira – que tinha o apoio de alguns grupos políticos – abandonou logo a empreitada e deixou essa galera revoltada.

Os dois contendores se debatem na tentativa torpe de um impugnar a candidatura do outro. Isso é tão vergonhoso e triste que revela a total falta de empatia desses grupos com a real situação do Santa Cruz.

Tem um pessoal revoltado no Twitter dizendo que, se Albertino se tornar presidente, irá torcer para o Íbis, abandonar o Mais Querido. Nem com a porra eu faria isso. Não apoio nem ALN e nem Albertino. Ninguém quer mais do mesmo, mas é exatamente isso que o ProSanta nos entrega. É revoltante ver como essa galera é descolada do clube.

Disseram nas redes sociais que a Inferno está apoiando ALN. Não sei se procede. Criticaram o ProSanta e Joaquim com veemência. Creio que seria a hora da nossa organizada fazer política e exigir eleições diretas em vez de apoiar x ou y.

Se eu fosse conselheiro, votaria nulo e escreveria uma carta aberta à torcida exigindo eleições diretas e tempo para que chapas progressistas se candidatassem. Essa velha ordem vai afundar ainda mais o clube.

E para quem ainda defende essa temeridade da SAF como a salvação eterna, o que me diriam se Laércio Guerra comprasse o Santa Cruz? Ou se um grupo de investidores ligados a Joaquim Bezerra assim o fizesse? Em SAF, meus amigos e minhas amigas, não tem crítica, não há democracia e que se foda o povão. Iludir-se com isso não é minha praia.

Mas em política não dá só para criticar e não ter propostas factíveis, é preciso ser propositivo e pragmático. Sendo assim, tenho minha chapa em mente em um mundo ideal, surreal, anárquico, revolucionário, onírico e carnavalesco. Quem comporia minha chapa?

Esequias Pierre para presidente. Sama para vice. Fred Dias no jurídico. Gerrá em assuntos aleatórios. Inácio como diretor de futebol e minha nora, Anna, no marketing. Oxe, em pouco tempo estaríamos disputando a Séria A, a Libertadores e caminhando para o Mundial. Sonho só tem preço na padaria.

No mundo real, vou convidar meu amigo Pietro Wagner para vir aqui em casa na próxima quarta-feira para acompanharmos a peleja contra o Capibaribe. Gelar umas cervas, deixar o tira-gosto pronto e torcer, abstraindo essa realidade absurda que ronda o Arruda.

Mas não é só torcer o que nos resta. Ação política contínua deve ser o norte de nossa torcida. Sem luta, camaradas, não há mudança. Essa galera já deu, de boa. Para uma nova ordem mundial, só eleições diretas já!

E salve meu Santinha!

Travou, mas voltamos!

Depois daquela derrota vergonhosa contra o Retrôcesso, eu  escrevi uma crônica chamada “A vergonha! A vergonha!” inspirada em uma frase de Joseph Conrad, “O horror! O horror!” de sua obra O Coração das Trevas que virou o filme Apocalypse Now.

Depois de escutar muita zoação por causa daquela vergonha, fui entrar aqui no blog para postar. E não é que o acesso estava interditado?! Dava a porra e eu não conseguia publicar nada. Até Rubens, leitor do blog, havia me enviado um texto para publicar aqui como colaboração. Demorou, mas agora vai.

Falei com Sama, Gerrá e Inácio sobre o problema. A solução? Anízio. O caba saca tudo de tecnologia de comunicação e me explicou que era preciso pagar o domínio e a hospedagem do blog. Me ajudou demais e pagamos e aqui estamos de volta.

Há muitas histórias nesse blog. Muita tradição. Textos primorosos e temos que manter essa chama sempre viva. Vida longa ao Blog do Santinha!

Nesse ínterim, muita coisa aconteceu. Conseguimos ganhar de maneira sofrível contra o Vera Cruz. Minhas amigas e meus amigos, que pelada foi aquela? Que jogo horrível. Parece inegável que o futebol pernambucano está vivendo uma crise enorme. É preciso pensar isso com cautela e encontrar soluções imediatas e para o futuro. Do jeito que vai não está nem um pouco legal.

A notícia bomba veio no meio do caminho: Joaquim Bezerra renunciou ao cargo de presidente do Santinha após menos da metade do mandato realizado. Incrível o que o ProSanta e o IPC conseguiram fazer com o clube em tão pouco tempo.

A galera está nervosa no Twitter e a palavra de ordem parece ser o clamor por eleições diretas já no Arruda. Alguém aí acredita em Marino Abreu à frente da gestão do clube? Mais do mesmo? Creio que sim.

Defendo plenamente a abertura de um processo eleitoral no Santinha. Creio que esse período tétrico serviu, ao menos, para nos vacinarmos contra propostas mirabolantes e redentoras.

As forças progressistas precisam se pronunciar, montar chapas realmente sintonizadas com o Santa Cruz e com expertise suficiente para reverter esse cenário de devastação que assola o Arruda.

Incrível que, até agora, não conseguimos nem mesmo ir ao estádio para ver uma partida ao vivo. Inacreditável isso. Saudade do melhor cachorro-quente do mundo, dos papos malucos em Abílio, da energia da torcida em campo, da emoção de ver o time entrando no gramado e, mais do que tudo, gritar gol feito loucos alucinados. É bom demais.

Salve meu Santinha! E eleições diretas já no Arruda!