No mundo das frustrações

Amigos corais, não sei o que diabos esses jogadores do Santa têm no espírito e nas pernas.
Quando jogam no Arruda correm feito o cão, fazem gols, sustentam vitórias, viram jogos memoráveis, não tomam conhecimento de ninguém, nos enchem de alegria e esperança, mas…
Basta sair da fronteira de Pernambuco, que os caras literalmente amarelam.
Quando começa um jogo fora de casa, eu fico até com raiva quando sai um gol. Eles, os jogadores, imediatamente abandonam o padrão de jogo que vinham impondo ao adversário, recuam vinte metros depois do meio do campo e ficam esperando o óbvio ululante – o empate adversário. É questão de minutos.
Ontem, quando terminou o primeiro tempo, comentei com meu cunhado Pedoca:
“Eles vão levar um esporro do caralho do Martelotte e vão entrar no segundo tempo cuspindo fogo, comendo a grama”.
Qual o quê.
O time parece que aproveitou os 15 minutos do intervalo para tirar um cochilo.
Voltaram tirando a remela dos olhos, bocejando, lamentando ter deixado o lençol e travesseiro no hotel.
No segundo gol do escrete do Paraná, parecia que a bola dava choque em quem botasse o pé nela.
Ela foi sendo tocada de pé em pé. A pelota passou pelo lateral, pelo meia, passou pela zaga, pelo roupeiro, massagista, pelos médicos do Santa, e de repente o adversário estava na frente do Paredão. O atacante tirou o celular do bolso, fez uma selfie, postou no facebook, recebeu 22 curtidas e fez o gol. E nossos atletas bocejando.
Depois veio o terceiro. Foi nessa hora que rezei para não levarmos uma goleada.
Ainda fizemos o segundo gol, mas a sina continua – vitória, só em casa.
Eu já estava puto, quando vi na TV ao lado (estava no Clube Alemão, no aniversário de um sobrinho) o gol da Barbie, digo, do Náutico, no apagar das luzes.
Um sujeito de uns 60 anos começou a pular, quase quebrou a cadeira, aos gritos de “É campeão, porra!”
Que merda, foi o que pensei.
Ou seja, o meu sábado, graças aos atletas corais, terminou numa frustração que nenhuma avaliação merda ou comentário de jogador (ou de treinador) pode curar.
Até porque eles sempre dizem “é levantar a cabeça e pensar no próximo jogo”, e qualquer perna de pau de pelada sabe que quem está com a cabeça baixa joga olhando para o chão – e não acerta um passe.
*
Mas já estou com o ingresso da terça no bolso, porque esse sonho da Série A, pelo que estou vendo, vai render até a última rodada…

Uma noite inesquecível

Passava das cinco da tarde e Thiago manda um zap-zap para avisar que já estava no Shopping. Ele e mais uma centena de torcedores.

Meia hora depois, envia outra mensagem, poética e provocativa.

“Gerrá, parece que eu estou no centro da cidade, numa segunda-feira, depois de uma vitória do Santa Cruz”.

Logo em seguida o telefone toca. Era a primeira-dama. “Estou chegando em Boa Viagem.”

Não pensei duas vezes. Fechei um documento que tava fazendo, salvei, desliguei o computador e me mandei pra Esposende.

Cheguei logo depois das 18h e a loja estava entupida de gente.

Thiagão já me esperava na fila. Alessandra estava com as meninas, vendo umas roupinhas. E os corredores do shopping era todo Santa Cruz.

Uma coisa bonita de ser ver. Preto, branco, vermelho, sarará, galego, gordo, magro, rico, pobre, morena, velho, menina, moça. Todos juntos e misturados, como é a verdadeira massa coral.

— Como é contagiante, nossa torcida. Como é linda! – falo silenciosamente e seguro a emoção.

Na minha frente, um rapaz humilde, pergunta se a gente pode tirar uma foto dele. Era Gilmar. Estava sozinho e sua maior angustia era como iria fazer pra registrar o momento de encontro com os jogadores.

— Queres que tire foto tua com quem?

— Com todos eles.

De repente, uma vibração única toma conta do lugar. Parecia que o Santa estava entrando em campo. Nossos atletas haviam chegado.

Anderson Aquino, Grafite e Renatinho é sorriso puro. Thiago Cardoso, a tranquilidade de sempre. Raniel, um garoto ainda tímido no meio dos adultos.

A loja se transforma num verdadeiro caldeirão de gente. Molhado de suor, o simpático Alírio, o nosso presidente, é vibração pura. Faz selfie com alguns, abraça outros, cumprimenta todos.

A fila está cada vez maior.

Atrás de nós, uma família que mora no Curado. Pai, filha e avó. Cada um com uma camisa para ser autografada.

Minha pequena Sofia é ansiedade pura. Com as mãozinhas suadas, diz que está doida pra ver Grafite.

De repente uma turminha que está a nossa frente, começa a puxar: “ô, ô, ô, o Grafite chegou, o Grafite chegou”.  Todo mundo olha e a gargalhada é geral.  Era um sósia do nosso craque. Um sujeito moreno, quase preto, e careca. O cabra era a cara de Grafite.

E assim foi a noite. Como bem disse Thiagão, o Shopping Center que já foi considerado o maior da América Latina em linha reta, ontem ficou parecendo o Mercado da Encruzilhada em dia de jogo do Santa Cruz.

E eu, com o coração lavado de felicidade, vou guardar a noite de ontem na minha caixa de boas recordações.

Esses nossos heróis anônimos

Quase sempre, antes de pegar no batente, passo uma vista na minha caixa de correio eletrônico.

Hoje no meio de um monte de mensagens sem muita importância, vejo um e-mail enviado por Gileno, o famoso Parral da nossa pelada. O título do assunto é bem objetivo e escrito em caixa alta: TIMEMANIA.

Clico na mensagem e me deparo com o seguinte:

Tricolores,

Estou de volta com as apostas da TIMEMANIA. Os tricolores da expansão podem deixar o valor da aposta (R$ 10, ou 20,) com Diogo Melo (Gerente da Caixa) facilitando a arrecadação.

Estarei recolhendo até quarta-feira (26/08) para fazer as apostas na quinta-feira.

Se conhecerem outros tricolores e quiserem divulgar a empreitada, manda entrar em contato comigo. Segue a relação que tenho atualmente.

No anexo, Parral coloca uma prestação de contas sem firulas, mas que dá uma credibilidade danada a ação. É uma simples planilha Excel com o nome e o contato dos contribuintes e os respectivos valores que a turma dar mensalmente.

Antes que alguém pergunte quem é esse tal de Gileno, ele é sócio do Santa Cruz, seu pai e sua mãe são do Santa Cruz, os três filhos dele torcem pelo Santinha, a esposa é do Santa, e pra finalizar é meu irmão.

Perguntei a ele como havia surgido a ideia.

— Quem deu a ideia foi Adilson Lira. Aí, eu comecei a mobilizar uns tricolores. Aos poucos o grupo foi aumentando.

Na primeira convocatória, eles conseguiram uns dez adeptos. E bem rápido, chegaram a trinta apostadores.

A lógica da ideia é simples: o maior atrapalho é a falta de tempo para alguns irem até uma casa lotérica.

E é verdade. Perto da minha casa, por exemplo, não tem nenhuma loteria.

Fico aqui no pensamento e na viagem…

Imaginem se em cada repartição, nas fábricas, nas empresas, nas torcidas organizadas, igrejas, terreiros, alguém promovesse uma ação desta de juntar alguns torcedores corais santacruzenses das bandas do Arruda e fazer jogos na Timemania! Não precisava nem ser toda semana. Bastava uma vez no mês, que iria botar nosso Santa Cruz entre os vinte times melhores colocados nesse jogo.

Certa vez, o presidente Alírio Moraes comentou sobre esses heróis anônimos. Tenho pra mim que ele se referia a gente como Gileno e Adilson.

Uma obsessão: O acesso

Amigos corais, sem obsessão, o sujeito não faz sequer a feira.
Falo, obviamente, do Santa Cruz.
Começamos o campeonato estadual como reles coadjuvantes. Na Paixão de Cristo, seríamos o bilheteiro, e olhe lá.
A muito custo, dizia a crônica esportiva, chegaríamos em quarto lugar.
O título já era do Sport, vinte rodadas antes da tabela. O clube que recebe da TV uns R$ 35 milhões por ano, que é patrocinado pela Adidas, só treinava depois de tirar a foto de campeão. Os jogadores receberam o bicho antes de chegarem as chuteiras novas, feitas na Europa, com couro de búfalo criado em cativeiro.
Enquanto isso, nós fazíamos vaquinha para ficar entre os vinte da Timemania. Com os R$ 350 mil mensais em 2015, garantiríamos pelo menos metade do salário do elenco. Teve gente que vendeu a Variant 1977 para ajudar.
Para resumir, o Santa Cruz foi foi o vigésimo colocado na Timemania e papou a taça de Campeão Estadual de 2015.
Pois bem.
Começamos a Série B como sempre. Aquele cão pulguento, que fica olhando os galetos rodarem na maquininha.
Isso, se o tricolor for bem de vida, como Gerrá, Robson Senna, Esequias, Inácio França.
Se for um tricolor bolsa-família, o negócio é ficar olhando o galeto assar na brasa, com 200 kg de fumaça para encher o bucho dele e dos filhos.
O Clube Náutico, por exemplo, começou a Série B com 377 pontos à nossa frente. Eu não podia ver um alvirrubro passando de carro, que ele parava seu Citroen, abria a carteira e dizia:
“Olha aqui o que temos sempre – dinheiro. Para a elite, não falta dinheiro. Já estamos na Série A de novo, porque nascemos para a elite”.
O alvirrubro seguia para o restaurante Leite, para comemorar suas vitórias e sua maldição, o hexa.
Agora eles têm uma nova maldição – a Arena, que vai minando a já frágil Torcida Citroen.
Eu não respondia. Seguia para o bar Sukito, defronte ao 13 de Maio e pedia uma cerva, um tira-gosto e um quartinho. Juntando tudo, dá R$ 15,00 + R$ 2,00 do garçom.
Pois bem de novo.
O jogo de ontem foi sofrível
Não fumo, mas ontem fumei uma carteira de Derby.
Quem se preocupa com a saúde, durante um jogo do Santa Cruz, torce pelo time errado.
Nada funcionava direito e o mais pessimista já olhava para o placar que não existe e pensava: um empate vai ser uma tragédia. E seria.
Ontem foi a divisão do campeonato. Um empate, e estaríamos de novo na lona.
Mas o time agora tem Grafite, e aquele noivado eterno dele com a bola.
Diria que Grafite não teve direito a mamadeira, peito de mãe, papa. Deram a ele a bola e diseram: Te vira!
O negão foi lá e fez o que aprendeu na vida – driblar as broncas e criar vitórias.
O fato é que se instalou em mim e na massa coral, uma reles, simples e canina obsessão vira-lata: O acesso à Série A.
Estar entre os 20 melhores clubes do país é nosso dever moral, cívico, existencial.
Se fosse vivo, o filósofo Sartre diria:
“Le Santa Cruz cest la Série A”.
O poeta Garcia Lorca não deixaria por menos:
“Puro como la negra noche – Santa Cruz!”
Aos incomodados com o jogo ruim de ontem, lembro que o Santa Cruz é o time mais improvável do Brasil.
Produzimos Givanildos, Rivaldos, Ricardo Rochas, Caça-Ratos, Thiago Cardosos, fazemos ressurreições improváveis, com Dênis Marques e descobrimos o óbvio ululante: havia um craque jogando no fim do mundo, apaixonado pelo Santa e que pensava em voltar.
ÔôôôO o Grafite chegou….
Então, lembro que, de ontem, trouxemos algo maravilhoso – a vitória e os três santos pontos.
Ganhamos títulos improváveis, passando o chapéu, fazendo rifas, jantares, bingos.
Do alto da minha prosopopéia, já começo a sentir aquela fisgada emocional coral e aquela certeza:
Vamos subir.
Até amanhã, em Feira Nova, com a diretoria e parte do elenco.

Já comprei a minha

Ontem, aproveitei a hora do almoço e me mandei para o Tacaruna. Do Recife Antigo pra lá, foi bem rápido. O trânsitoestava tranquilo e calmo.

Entro na Esposende, passo uma vista na loja. O movimento está meio fraco. Um sujeito moreno e quase careca se aproxima e, antes que ele me ofereça sapato,  eu já vou perguntando se tem camisa do Santa Cruz.

Os olhos do vendedor brilharam.

— Tem, chegou agora de manhã. – ele diz e me mostra a camisa na vitrine.

Peço uma, tamanho M.

Eu estava ali esperando o careca trazer minha camisa. Daí, um rapaz gordo, de bermuda estampada entra na loja com a irmã.

A menina era um pouco mais velha do que o gordo, baixinha e era cara dele. E foi ela quem perguntou a vendedora se tinha a camisa nova do Santa e pediu uma tamanho XG.  E no final, ela fez um crediário. Com certeza era irmã do gordo.

O careca vem vindo. Escuto ele comentar com uma moreninha, “puta que pariu, esse Santa Cruz é foda!”. Ela ri e balança a cabeça concordando.

Puxei conversa com Careca. Perguntei como estavam as vendas e tal e coisa. Ele começou a falar de sapatos, mas levei o papo pro rumo das camisas. Careca me disse que num tem artigo mais fácil de vender do que camisa do Santa Cruz.

— Dia dos pais, em agosto,  numa das lojas do centro, uma só vendedora mandou ver e vendeu praticamente 15.000 reais de camisas do nosso Santa. – ele comentou.

— Danou-se, só uma loja vendeu  isso tudo? – perguntei.

— A loja, não. Uma vendedora. É uma arrombada, né não?

Entra um mago de mãos dadas com uma galega. Acho que era a namorada. A galega tem um piercing no nariz e uns olhos de peixe. O mago, vestido com o nosso padrão número um, é outro que chega para comprar a promoção da Esposende.  Ele pede uma, a galega pede outra.

Quando vi a galega comprando, lembrei da primeira-dama. Tirei uma foto da camisa,  mandei pra ela e falei da promoção.

Em poucos instantes, são cinco camisas vendidas.  O mago e a galega já saem da loja vestidos com o novo manto.  Vejo eles fazendo um selfie e dando uma bicota.

Realmente, meu amigos, Careca tem razão quando diz que o Santa Cruz é foda.  Não sei quantas camisas foram vendidas até agora, mas pra nossa torcida a crise ainda não chegou.

Eu mesmo, estou pensando seriamente em domingo ir até Feira Nova, prestigiar essa história do Santa Cruz sem Fronteiras. Imagino a farra como vai ser.

Do jogo de hoje,  já estou com o ingresso nas mãos e já marquei com alguns amigos num espetinho perto do Arruda.

Minha dúvida é se vou com a camisa nova ou se visto a que está dando sorte.

Quem diria, heim?

 

Amigos corais, vamos e convenhamos – esse Santa Cruz está mudando ligeiro demais para ser verdade.

E aqui confesso. Eu raramente olhava o velho site coral. Me dava uma preguiça enorme ver alguma velha novidade do treino, o resultado do jogo da semana passada. Se ligasse para um amigo, apaixonado pelo Santa Cruz, ele tinha mais novidades.

Pois bem.

Minha mulher de vez em quando me flagra:

“De novo olhando o site do Santa Cruz? Não estás ficando viciado não”?

“Hamm, glub”, respondo.

Então vejamos o site de hoje:

“Parceria Santa Cruz/Esposende vai oferecer noite de fotos com craques corais”

http://www.santacruzpe.com.br/futebol-profissional/parceria-santa-cruzesposende-vai-oferecer-noite-de-fotos-com-craques-corais

Arregalo os olhos.

A notícia está também no twitter, facebook, instagram, essas coisas todas. Esequias Pierre já deve ter mandado para os milhares de torcedores mexicanos, asiátios, da Costa do Marfim, com quem ele se comunica, via satélite.

Como hoje é quinta e já trabalhei muito esta semana, vou ter que copiar um pedaço da matéria do site, adaptando só as datas:

“A Esposende encomendou um lote especial de camisas oficiais de todos os três padrões do Santa que começam a ser vendidas nesta quinta-feira (20) nas lojas dos shoppings Tacaruna, Recife e Guararapes.

Os mil primeiros torcedores corais que comprarem uma camisa oficial do Santa Cruz numa das lojas da Esposende desses três shoppings, a partir de hoje (20),  ganharão, no ato da compra, convite para uma noite de autógrafos com os craques Grafite, Tiago Cardoso, Renatinho, Anderson Aquino e Raniel.

A noite de autógrafos acontecerá na próxima terça-feira (25), das 18h às 22h, em uma das lojas da Esposende do Shopping Recife. A loja estará fechada para o público em geral. Só terão acesso ao espaço os torcedores de posse do convite.

Os primeiros mil torcedores que comprarem camisa oficial do Santa nas lojas Esposende a partir desta quinta-feira (20) também receberão um ingresso de arquibancada superior para o jogo do dia 1 de setembro do Santa Cruz contra o América/MG, no Mundão do Arruda, pela 22º rodada da Série B. 

As camisas oficiais do Santa Cruz serão vendidas por R$ 169,90 em 5 vezes no crediário Esposende e em 6 vezes nos demais cartões, sem juros”.

**

Os idiotas da objetividade poderão dizer – “Sim, mas o que isso tem a ver com o jogo de amanhã, contra o escrete do Macaé?”

Tudo, meu amigo Objetivo, tudo.

Pela primeira vez, o óbvio ululante está nascendo, feito graminha, no Arruda. Departamento de Marketing + Comunicação+ Futebol se articulam, para ações que possam projetar a imagem do clube, garantir novos negócios e melhorar toda a estrutura que possibilite à diretoria, dinheiro em caixa, para fortalecer o próprio futebol.

Alguém aguentava, por acaso, o famoso “jantar de adesão”, após vários jogos com casa cheia?

Vamos a mais uma novidade: o “Santa Cruz Sem Fronteiras”

Eu já tinha avisado aos amigos essa novidade do Marketing + Comunicação – o “Santa Cruz Sem Fronteiras”.

Copio do site, de novo:

“Visando fortalecer a relação entre o Santa Cruz e seus torcedores e com o intuito de conquistar novos sócios, no próximo domingo (23), iremos começar uma séries de eventos para interiorizar os nossos serviços, possibilitando uma experiência especial para os torcedores corais. O primeiro município escolhido para esta jornada foi Feira Nova, localizado no agreste pernambucano.

O evento será um almoço adesão e contará com a presença da diretoria coral, nas figuras do presidente e vice-presidente do Santa Cruz, Alírio Moraes e Constantino Júnior, respectivamente, e de alguns jogadores do elenco profissional do Mais Querido. Além deste momento único tanto para o Santa Cruz quanto para os tricolores, os participantes poderão conferir algumas peças do nosso museu e também adquirir produtos oficiais, em espaços que serão montados no local.

O encontro ainda terá sorteios de brindes exclusivos para os sócios-torcedores presentes no local. Para participar, é preciso ser sócio torcedor do Santa Cruz e estar em dia com a mensalidade do plano. O associado poderá optar entre pagar uma taxa de R$ 10,00 ou vir acompanhado de uma pessoa interessada em se associar ao Santa Cruz. Nesta segunda opção, a entrada sai de graça. Já para os torcedores não-sócios do clube, basta associar-se a qualquer um dos planos do Santa Cruz que a entrada no evento é automaticamente liberada”. 

SERVIÇO

Santa Cruz Sem Fronteiras – edição Feira Nova

Dia: 23/08/2015 (Domingo)

Horário: a partir das 11h

Local: Clube Municipal – Estádio Gonzagão | rua da Aurora, em Feira Nova – PE

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Depois de ver esse projeto, liguei para Gerrá.

“Bora pra Feira Nova domingo?”

Bastou ele saber do que se tratava, que já começou a imaginar uma ação dessas em Bezerros, onde ele tem uma forte base eleitoral e onde a “Minha Cobra” já fez sua particiação, no aniversário de um famoso torcedor coral (fez 100 anos). Quando começou a fazer a previsão das cidade e chegou em Petrolina, eu toquei.

“Rapaz, a gente leva a Minha Cobra, uma orquestra de frevo, articula com a galera, vai ser uma onda”, disse. “Vamos fazer isso até no exterior”.

O bicho é meio exagerado.

Terminou a conversa e já fui na geladeira, procurar uma cerveja.

O fato é que o Santa está começando a pensar grande, dentro e fora do Arruda.

Quem diria, heim?

Um texto pra ser lido, relido, compartilhado e arquivado

Logo cedo, Paulo Aguiar me manda um zap-zap com um texto escrito por Ugo Giorgetti e que foi publicado no Estadão.

Giorgetti é cineasta. Entre tantos outros, fez os filmes Boleiros – Era uma vez o futebol e Boleiros 2 – Vencedores e vencidos. Não só pelo fato de reverenciar nossa torcida, mas pelo contexto geral, o texto é um primor. É daqueles que você ler e dar logo vontade de mandar para os bons amigos.

De ontem pra hoje, já perdi as contas de quantas vezes eu li. Nem me lembro de quantas vezes comentei e compartilhei com os amigos.

Sim, também são de Ugo Giorgetti, as palavras que apresentam o volume branco da Trilogia do Blog do Santinha.

Para quem não viu ainda, o link é esse:

http://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,o–o–o–o-grafite-chegou,1744797.

Vale ler, curtir, compartilhar e, principalmente, guardar bem guardado. Nele a gente encontra joias como estas:

“Uma torcida como a do Santa Cruz é tão impressionante que transforma o que ocorre em campo. Você fica sem saber se assiste a um grande jogo ou não. E isso pouco importa. Importa que se aquela multidão ensandecida se deslocou para lá, arrastando seu delírio e sua alegria, o jogo já é um grande jogo antes de começar.”

“O futebol visto não como conforto e comodidade, mas como loucura.”

“Se o futebol brasileiro quiser se recuperar e voltar a ser o que já foi, precisa olhar para lugares como o Arruda.”

“Sei lá se foi um grande jogo, mas o espetáculo, que vi integralmente, foi magnífico.”

E pra finalizar, o cabra escreve:

“… no meio da multidão, tenho certeza de que ouvi, temperadas a cerveja, as vozes dos amigos Inácio França e Samarone Lima, criadores do lendário Blog do Santinha, gritando “ô,ô,ô, o Grafite chegou!”.

Né por nada não, mas Ugo Giorgetti deveria ser lembrado para sempre nas dependências do Arruda. Esse, sim, merece ser homenageado.

Conversa de feira

Fui ontem ao Arruda. Consegui chegar antes das 18h, a tempo de tomar uma cerveja, bater um papo e encontrar alguns amigos.

Pra variar, Samarone perdeu o jogo. Ele achava que a partida seria às 19h30, começou a beber por volta das 16h e quando pensou em sair, já estava com a cuca cheia de cachaça e faltava somente quinze minutos para bater o centro.

O jogo não foi lá essas coisas. A chuva e o vento tomaram conta da apresentação. Mas, como diria o filósofo, “o que vale é os três pontos”.

Bom mesmo foi ver a animação hoje na feira.

Sou daqueles que gosta do movimento e da conversa no meio da feira. Prefiro a companhia dos feirantes, à solidão de um supermercado.

Além disso, o preço dos produtos é bem mais barato.

Na minha agenda, o começo da manhã das quartas é destinado a fazer feira. Acordo, visto o manto sagrado, levo as meninas ao colégio e me mando pra Casa Amarela.

Queijo coalho eu compro no mercado. A turma do box em que faço a compra, é quase toda do Santa Cruz. O sorriso dos caras estava de um canto a outro da boca.

— É Grafite, meu véi! O negão né brochador, não!

Gritou o moreno de bigode que sempre me despacha, pra um magro vestido com uma camisa amarela. Me entregou um pedaço de queijo e perguntou:

— E aí, dotô, o que tá achando?

— Tá meio salgado.

— Não, o Santa?

— Ah…., tá chegando. Grafite fora de forma tá fazendo um gol por partida, imagine quando o bicho tiver no ponto.

Bigode sorriu.

No outro lado, um gordinho fez uns passinhos e cantou:

— acabou o caô / o Grafite chegou / o Grafite chegou.

A gargalhada foi geral.

Provei umas castanhas e fui para o pátio da feira.

Ali a resenha é grande. Apesar do desprezo do poder público, o pessoal é sempre bem animado. Uns mais, outros menos. Mas no geral, a piada, a tiração de onda e alegria dominam o espaço.

Passo no freguês da acerola. A plaquinha de papelão avisa: 1 é R$ 3,00.

Uma moça faz a pechincha: 2 por 5?

— É leve. Dá pra fazer! Mas num se acostume não, senão eu quebro!

Um altão com voz aguda está aos berros:

— Baixou. Baixou. Quem vai querer a banana!

O outro grita:

— Te lasca!

Chego à barraca da freguesa das verduras. A alface tá bonita, danada! E o precinho do tomate está na medida, dois reais. Em se tratando de futebol, a dona é torcedora do time da Abdias e o marido é tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda.

— Que cara é essa, tá triste? Cadê o maridão? – eu pergunto.

— Desde sábado que aquele miserável bebe! Quando a porra do time dele ganha, eu já sei que vai dar problema. Eu queria que aquela porra se acabasse.

— Que é isso, freguesa?! Faça isso não! Desejando que meu time se acabe… – eu disse.

— Não. Seu time, não. Eu queria é que aquela desgraça se acabasse na cachaça.

Lembrei de Samarone.

Peguei minhas verduras e sai assobiando, “acabô o caô, o Grafite chegou, o Grafite chegou”.

Diário de um delírio

Amigos corais, abri os olhos hoje de manhã e pensei em pedir minha mulher para me beliscar. Terei sonhado muito? Foi delírio de minha parte?

Pois bem, vamos ao diário de um dia inesquecível, para mim e para a massa coral.

Primeiro o “esquente” no Sukito, boteco modesto cá no centro, defronte ao Parque 13 de maio. Uma cerva, uma dose de “serotonina”, como diz o amigo e filósofo Zeca (uma lapadinha de Pitucilina com limão) e um rango.

Às 14h em ponto, ônibus para o Arruda, já coalhado de torcedores. O portão 9 como estará hoje, meu Deus. Meu sofrimento é o portão 9, por onde entram os arquibancadinos.

Primeiro bom sinal – a avenida Beberibe estava bloqueada bem antes do Arruda, facilitando o fluxo da multidão. Dou alguns passos, e passa o Ônibus Coral. A torcida entrou em festa. Acenei com minha bandeira. Meu sonho é chegar a algum jogo dentro dele, vendo a massa acenar. Nessa hora, o jogador mais frio se sente um herói, se enche de brios. Após passar por uma multidão apaixonada, não precisava nem de preleção. Eu, se fosse o treinador, ficaria apontando os torcedores de todas as classes sociais e diria:

“Joguem por eles”.

Tentei ir ao bar de Abílio, onde estariam vários amigo, mas estava impraticável. Fiquei do lado de fora, tomando umas nas barracas de isopor.

O portão 9, eu só pensava no portão 9, aquela fila esculhambada pra cacete. Encontrei Júlio Vilanova, que outro dia chegou de viagem da China. Passou três semanas entre Xangai e outras cidades menores. Cidade menor na China é aquela que tem vinte milhões de habitantes. Ele chega com uma cadernetinha com a imagem de Mao Tsé-Tung.

Só mesmo um torcedor do Santa mesmo, ser capaz de comprar um caderno na China e levar para um amigo que gosta de tomar notas de tudo. E ainda ter a esperança de encontrá-lo, no meio de milhares de pessoas.

Guardei o caderno, tomamos umas e depois peguei o beco, rumo ao Portão 9. Eram 15h e calculei chegar ao ferrinho, junto ao escudo, lá pelas 17h.

Eis o choque existencial e psicológico. Barreiras policiais logo no início da rua. Nem me revistaram, o que achei uma covardia. Poderia ter levado uma ampolazinha de Teachers.

A fila andava rápido. Mais adiante, aquelas grades de ferro, que impedem o empurra-empurra.

Não entendi nada. Em dez minutos, creio, estava dentro do estádio. Meu lugar no ferrinho só cabia mesmo a mão. Botei ela e, aos poucos, fui me esgueirando.

A massa coral em festa. Dia lindo. Dia de Grafite. Dia de arrancarmos rumo à ponta da tabela, de pegar ar e se impor na competição como um grande clube que somos.

O jogo… Ora bolas, o jogo é o óbvio. Se eu for pago pelo Blog do Santinha para escrever sobre o jogo, serei demitido.

Um sujeito ao meu lado reclamava com Grafite.

“Está fora de forma”.

“Não é o mesmo”.

E eu já amolando minha língua para dar um troco.

O sujeito esperava que Grafite entrasse, saísse driblando todo mundo e fizesse quatro gols em dez minutos.

“Eu botava Luisinho”, dizia.

E eu esperando.

Lá pelas tantas, cruzamento na área e gol de quem?

“Graaaaffiiiiiiiiiiiiiiiteeeeeeeeeeeeeeeeee!”

O sujeito se vira e me abraça, às lágrimas. Um abraço de quem chegou de um exílio no Uruguai, de vinte anos.

“Eu sabia! Esse Grafite é um predestinado”, disse ele.

“Joga demais! Tem estrela!”

Essa memória do torcedor é algo que impressiona.

A vitória foi a coroação de um trabalho enorme de um monte de gente competente. Presidência+marketing+comunicação+torcida chegando junto.

Foi uma vitória dentro e fora das quatro linhas, coroada com o gol do nosso craque.

À saída, uma nova surpresa. TODOS os portões das arquibancadas estavam abertos. Não havia aquela centena de vendedores de cerveja logo de cara, facilitando o fluxo.

Como ninguém é de ferro, a PM insiste em deixar seus ônibus da Tropa de Choque estacionados justo ali, na rua, atrapalhando a multidão.

Mas registro uma vitória: não vi um cavalo, a tarde inteira. Nem spray de pimenta na cara da gente.

Passei em Abílio, vi os amigos, alguns assinaram seus nomes na minha bandeira, que , ao final do ano, vai para a coleção de Esequias Pierre.

Passei na sala de Imprensa, para ver se Inácio estava lá. Nada. Mas vi uma entrevista de Tininho, dizendo que até o bicho do jogo já tinha sido pago.

Só deu tempo de comprar mais uma cerva, pegar um ônibus e voltar para casa, com um sorriso na alma.

O Santa está passando por uma mudança que ainda não percebemos direito – é de mentalidade.

Os jornalistas, logo que o presidente Alírio Morais assumiu a presidência do Santa, começaram a apelidá-lo de “Delírio”, por causa de suas idéias pouco convencionais.

Recorro ao “Aurélio”:

“Delírio”: “1. Distúrbio mental caracterizado por idéias que contradizem a evidência e são inacessíveis a crítica; 2. Exaltação do espírito; desvairamento”.

Deixem que ele delire à vontade – e leve consigo uma equipe profissional azeitada e competente e toda uma nação apaixonada.

Não existe nada mais parecido com o Santa Cruz do que a exaltação do espírito, ao desvairamento.

Lembro agora de Chico Buarque, o poeta, que se refere a “estar doente de uma folia”.

É isso o que sinto.

Enlouquecemos. E sábado está longe. E viva as tricoletes!

 

tricoletes_04

Amigos corais, a cidade está louca.

A torcida do Santa tem este poder mágico, metafórico, de perturbar o juízo de uma das maiores capitais do Brasil.

Caminha-se duas esquinas, e o verdureiro comenta:

“Grafite tá chegando, visse?’

Joga-se no bicho:

“Vai dar cobra”.

Vou, bucolicamente, tirar xerox para minhas aulas de literatura da quinta-feira, passo em frente ao Kaldácio.

“E aí, poeta, já comprasse o ingresso?’, me pergunta o dono da venda.

Mostro o ingresso na carteira.

Sem pedir, ele já me bota um Ele/Ela.

Eu, por questão moral, bebo. Deixo as xerox para amanhã.

Carlinhos Monteverde beberica algo. Se aproxima, liga o celular.

“Já escutasse?’

É uma música para Grafite, que ele fez no dia da chegada do negão: A volta.

Escuto, maravilhado.

“Está bombando na Internet, no meu Facebook”.

Ele me dá uma cópia e diz:

“Mandei fazer dez mil, para vender sábado, a R$ 5,00. De cada disco, R$ 1,00 vai para o Santa”.

Volto e vejo se o sapato que deixei para consertar está pronto.

“A cobra está invocada”, me diz o Rufião Melancólico da rua da Saudade.

Dou uma parada para jogar no bicho.

“Se der cobra, a banca vai quebrar”, diz a mulher que passa o jogo.

Dou uma parada no Princesa Isabel, para saber das novidades. Alguém tem notícias do Sport, Náutico?

“Eu só quero chegar perto do G-4 faltando dez rodadas. Deixa a coisa e a barbie na ilusão. Só quero na reta final”, me diz o vendedor de amendoim.

“Faltando dez rodadas, ninguém segura o Santinha”.

Já perto de casa, encontro Júnior Black.

“Sábado não vou beber. Meu pai quer ir ao Arruda”.

Nunca ouvi isso na minha vida. Júnior Black sóbrio no Arruda, levando o pai.

A custo, chego em casa.

Acho que, por ser escritor sobre o Santa, a população coral se acha no direito de desabafar comigo suas dores e esperanças.

Na portaria, está Joab, o rei do Morro da Conceição.

Ele acende um cigarro metafísico e me diz, com um sorriso:

“A massa coral endoidou de novo, Samarone”.

Eu sei. E como ninguém aguenta mais ver a foto de Grafite, botei a imagem das tricoletes dos anos 1980.

Faz parte da loucura.