É hora de secar e de “apoiar”

Hoje é dia de usar o secador no volume máximo. Não só contra o Bahia Futebol Axé Music, mas contra todos que estão por perto do nosso Santa.

Não tem muito o que ficar filosofando. Não tem outra pedida. É secar, torcer, rezar, azarar, fazer despacho, promessa, etc e tal. Fora isso, o resto é conversa paralela.

Por falar em conversa paralela, um dos fundadores deste espaço, está com um projeto na rua. O escritor, poeta, jornalista, peladeiro e frequentador assíduo das arquibancadas do Arruda, Samarone Lima, pretende reescrever o livro Zé. Publicado há 17 anos, hoje este livro artigo raro.

Para isto, Sama resolveu buscar apoio e patrocínio junto aos amigos reais e virtuais, através de um financiamento coletivo (crowdfunding). Na prática, podemos dizer que um crowdfunding é se usar as redes sociais para se conseguir dinheiro para execução de um projeto.

Bom, a empreitada do cabeludo está bem explicadinha no seguinte endereço https://www.catarse.me/ze_apml. Tem até um vídeo, onde Samarone fala sobre o projeto.

Pra saber, contribuir, apoiar e compartilhar é só clicar no link acima e mandar brasa.

 

Minha companhia é o meu melhor lugar

Corri nas tarefas do trabalho e consegui sair mais cedo, a tempo de passar em casa e vestir o manto sagrado.

Cansado, mas animado e confiante, me mandei para o Arruda.

Antes, porém, quando estava saindo de casa, tive o desprazer de escutar Seu Luís dizer que o jogo era difícil. Que o Criciúma quase empatava com o Bahia na Fonte Nova.

Fosse eu, Nelson Rodrigues, teria chamado ele de idiota da objetividade.

Sim…, precisamente às seis e quarenta e sete, me encontrei com o resto da tropa. De um tempo pra cá, o ritual da turma é antes da partida, comer espetinho, tomar litrinho e, se Samarone estiver, beber umas lapadas de aguardente. Tudo isto, ao som de um excelente brega, na radiola de ficha. De lá, cada um se manda para o seu setor preferido, aquele que dá sorte.

Todos tem seu ritual e no estádio, o seu território.

Naná e cia, obrigatoriamente, tomam uma no Poço da Panela, segue para o Arruda e antes de entrar para as sociais, eles bebem no bar de Abílio.

Nas sociais, Naná, Boy, Ninha, Oswaldo Titio e Diazepan ficam sempre entre o banco de reservas do Santa Cruz e a barra do canal. Sentam mais ou menos no quinto ou sexto degrau.

Quem encontrei no jogo, foi Mardônio. Na nossa pelada semanal, o apelido dele é John Lenon. Ele também gosta das sociais.

Descobri que Mardônio ver o primeiro tempo em um lado e o segundo em outro. Vai para onde o Santa está atacando e se posiciona rente a linha de escanteio. Jonh não é muito de beber antes do jogo.

Samarone já é famoso. As vezes já vem de casa tomando sua latinha. Quem quiser saber se ele está no estádio é só mirar os olhos para aquele escudo que fica na lateral do gramado, no lado da arquibancada, e ir levantando a vista para ver se encontra o barbudo encostado no parapeito. Por tradição, o poeta gosta de assistir ao jogo com uma e outras na cabeça.

Tem uma galera gente boa que demarcou um território na arquibancada, batizaram de Ventilão e só assistem ao jogo de lá. João Peruca, Jr Black, Marquito e outros bons são praticamente donos daquele território. Antes de irem para o Ventilão, os caras fazem a preliminar no Tonhão.

Na época da Sanfona Coral, tomávamos a primeira no Poço da Panela. Depois tinha o fezão, feijoada e aguardente, num apartamento na Jaqueira e, antes de entrar no estádio, bebíamos na lendária Churrascaria Colosso.

A Sanfona sempre ficava na arquibancada. Quando alguém perguntava onde podiam nos encontrar, o ponto de referência era o banco do time adversário e um isopor de cerveja no chão.

Enfim, cada um com seus caminhos, seus rituais e seus locais preferidos.

No meu caso, meus lugares preferidos estão diretamente relacionados à minha companhia. Vou pras cadeiras, arquibancada ou sociais. Vou para qualquer lugar. Mas detesto estar junto dos amargurados, azedos e dos idiotas da objetividade.

 

Pois eu acredito até o último apito

Segunda-feira, 6h47. Abro o Blog do Santinha para a tradicional postagem semanal e vejo a quantidade de comentários:256.
Não me dei ao trabalho de ler todos, porque acabaria meio-dia e com úlcera.
Para uma grande parte dos que deixam mensagem aqui, o Santa parece mais um time da Muribeca, ou da Mustardinha, a diretoria é abençoada pela incompetência, todas as quizilas do mundo estão do nosso lado, nosso elenco é composto de atletas em fim de carreira, pangarés de todos os tipos.
Aqui-acolá, um torcedor coral faz ponderações, ressalta coisas positivas, aponta viradas memoráveis, jogos que pareciam perdidos, lembra que ainda temos chances reais de conseguir uma vaga para a Série A.
Do alto da minha prosopopéia futebolística-santa-cruzense, eu aviso: minha obsessão pelo acesso só termina quando o juiz apitar pela última vez e o sujeito da rádio consultar a combinação de resultados para nos informar que “não dá mais para o Santa subir”. (toc toc toc).
Mas minha obsessão quer mesmo escutar é:
“Uma classificação dramática! No último minuto! O Santa Cruz está classificado para a Série A em 2016! Festa da torcida coral em todo o estado! Os jogadores estão desmaiados em campo!”
Amanhã temos mais um jogo decisivo. E depois mais outro. E espero que seja assim até a última rodada.
O Santa pode estar perdendo de quatro a zero, faltando dez minutos. Eu nunca saio. No futebol, tudo é possível.
Algum desses mau-humorados corais, que acham o time “uma desgraça”, vai uma pergunta: eles acreditavam, com sinceridade, que o Santa Cruz tinha alguma chance de ser campeão pernambucano de 2015.
(Isso é uma pergunta. O computador que estou usando, da minha mulher, não tem o ponto de interrogação).
Pois fomos comendo belas beiradas e a taça está no Arruda.
Quando acabou o contrato de João Paulo, ouvi horrores sobre a diretoria, a incompetência etc. O contrato já foi renovado até dezembro.
A Fifa botou para quebrar em Raniel, botou o atleta para o gancho até fevereiro de 2016, o clube recorreu, o moleque já está de volta aos campos. Se não desencantou ainda, paciência.
Até a última rodada, o último apito, estarei com a esperança acesa, apoiando o Mais Querido.
Não é que eu seja otimista ou pessimista.
É que eu sou puto com esse negócio de não lutar até o fim.
Isso, por sinal, nunca combinou com o Santa.
Até amanhã, no Arruda, mesmo que chova aquelas facas da Tramontina.
**
Nossa homenagem, do Blog do Santinha, ao grande craque Henágio Figueiredo dos Santos, que sempre estará na memória da massa coral.

Prudência não faz mal a ninguém

Passei uma vista nos comentários para ver se compreendo melhor a lapada que levamos das Barbies. (Opa, Barbie, não! Alvirosas).

Pois bem, depois de ter tido prazer de conhecer Birigui e de ter passado a noite da sexta-feira ouvindo nosso eterno goleiro contar histórias e declarar amor ao Santa Cruz e a Recife, acordei cedo no sábado e fui ao Arruda. Estava confiante na vitória.

Fui até a nossa sede para comprar os ingressos e dar um abraço em Paulo Aguiar pelo lançamento do livro 100 nomes em 100 anos. Um vento positivo circulava pelas bandas do Arruda.

Encontrei um monte de gente boa. Senti em todos, a confiança num resultado positivo. Até um guarda da polícia de trânsito que me pediu para tirar o carro da rua das Moças estava confiante. “Hoje a gente ganha”.

Voltei para casa pra almoçar e juntar a família. As meninas estavam eufóricas. A menor perguntou se eu tinha encontrado com Grafite e ficou triste quando eu disse que nosso atacante não iria jogar.

Por volta das 15h, saímos para o jogo.

Num sinal da Avenida Norte, o Tri-Tricolor/Tri-Tri-Tri-Tri-Tricolor toma conta do cruzamento. Motos e carros. Todo mundo é Santa Cruz.

Estaciono na Praça Luis Ignácio Pessoa de Melo. No trajeto que fizemos a pé, tudo é preto-branco-encarnado.

Na subida da rampa, encontro Chiló e o pequeno Rafa.

Assistimos ao jogo na mesma fileira. Nós e a gurizada. E vimos o Santa Cruz, até os 38 minutos da primeira etapa, jogar bola, esbanjar raça, dominar o adversário e vencer a partida.

Depois disto, quando sofremos o empate, o time foi desaparecendo de campo. Desceu para o vestiário já meio murcho e voltou pior.

Daí pra frente, não preciso descrever.

Quem foi viu, quem não foi ficou sabendo.

Perdemos um jogo que estava fácil. Faltou sabedoria.

Num jogo de futebol, é preciso saber dosar o pé no acelerador. Às vezes, é necessário jogar defensivamente. Tem certos momentos de uma partida, que é inteligente se ter uma postura de marcação. Daquela que você fica esperando o adversário lhe atacar, para você dar o bote na hora certa.

Mas o Santa Cruz parece que sofre de uma ansiedade descontrolada para jogar no ataque.

A impressão que dá é que Marcelotti tem certeza que está treinando uma equipe de estrelas e os jogadores também acreditam nisso.

Eu fosse treinador deste time, seguiria o modelo givanildiano de fazer futibó. Na dúvida, não ultrapassaria o sinal fechado.

Com a limitação que temos, não dá para querer que o time jogue ofensivamente sempre.

Mas estamos na luta.

Cabe a nós, apoiar e fazer a corrente positiva. Se Marcelotti controlar seu transtorno-obssessivo-compulsivo, temos chances reais de subir.

Um sonho guardado por quase 20 anos

Comecei a frequentar o Arruda, ainda quando não existia o parte de cima. A arquibancada superior.
De lá pra cá, tenho cravado na minha memória estão alguns fatos. Não sei o real motivo, mas tem coisas que estão tão vivas na minha caixola, que quando lembro é como se tivesse acontecido recentemente. No último final de semana, ontem…

Ecreveria linhas e linhas recordando com detalhes, as alegrias e o orgulho de ser do Santa Cruz.

O golaço de Marlon contra o Internacional. Fora da área, ele matou no peito e mandou no angulo. Um dos gols mais bonitos que já vi na minha vida.

O gol antológico de Luzinho. Um toró de inundar ruas e avenidas. O gramado encharcado. Luizinho pega a bola fora da área, carrega, ver o goleiro do Flamengo adiantado, e mete caprichosamente por cima. Foi uma das cenas mais excepcionais que já presenciei num estádio de futebol. Do momento do chute até a bola estufar as redes, o Arruda ficou calado. A coragem do jogador em chutar aquela bola e a beleza plástica do caminho que ela fez no ar, deixou até os refletores em silêncio, vendo tudo aquilo acontecer, esperando o ato final.

O drible e o gol de Jarbas. Ele entra na área pela direita, o zagueiro da barbie vem feito um doido. Jarbas ameaça chutar e dar um corte seco para dentro. O beque do alvirosa passa lotado. Jarbas manda de esquerda pros fundos da rede. O drible foi tão grande que torceu o tornozelo do zagueiro adversário.

O time de 1983. Ricardo Rocha, Zé do Carmo, Henágio, Marco Antônio, Angelo e outros. No gol, Luiz Neto e Birigui. Os dois eram tão bons que o treinador fazia um revezamento entre eles. Numa partida jogava um, no próximo jogo entrava o outro. Naquele ano fomos campeões. Aliás, fomos tri-super campeões. No jogo final, num Arruda lotado de gente, ganhamos nos penaltis, com Luiz Neto defendendo a derradeira penalidade que a Barbie cobrou e nosso zagueirão Gomes decretando nossa vitória.

Enfim…! O título de 93, uma falta batida por Nunes que quebrou o dedo do goleiro da leoa, as doidices de Gabriel, as faltas de Amarildo. Etc. Etc. Etc.

No fim de semana, conversando com Chiló, entre um gole e outro de cerveja, fomos lembrando de boas histórias. Lá pras tantas, ele mandou:

— Gerrá, tenho dois ídolos daquela época dos anos 80. Marlon e Birigui.

Coincidentemente, também idolatro Birigui. Birigui não, São Birigui. Aquele que fechou a barra na decisão de 1986 e garantiu nosso título. https://www.youtube.com/watch?v=t5Y3rJN4VM4

Naquele dia, minha vontade era invadir o gramado para abraçar nosso goleiro.

Eu só, não! Toda uma geração que teve o prazer e o privilégio de vê-lo em campo. Edgar Assis, por exemplo, me confidenciou que no tempo de Birigui, ele passou três anos indo pro Arruda fantasiado do nosso goleirão. Imagino que vários garotos também iam.

Nessa sexta, Birigui chega por aqui. Vai no sábado ao Arruda, para entregar a Thiago Cardoso uma camisa comemorativa e torcer pela nossa vitória.

Por volta das 17 horas, no Aeroporto dos Guararapes, meu ídolo chega. Se tudo der certo, vou realizar um sonho que já tem quase de vinte anos de idade. Chegar bem pertinho do melhor goleiro que já vi jogando no nosso Santa Cruz e abraçá-lo.

***************************

Sábado, 17 de outubro, além do jogo, tem mais um atrativo no Arruda. Às 9h, na nossa sede, mais precisamente em frente ao Museu do Santa Cruz (Sala de Memórias), nosso amigo Paulo Aguiar (Blog Torcedor Coral) estará lançando o livro: Santa Cruz 100 Nomes em 100 Anos.

Táticas obsessivas para não perder o “Clássico do ano”

Amigos corais, mandem avisos a todos.
Seja por email, facebook, bilhete, telegrama. anúncio em jornal.
Sem meias palavras, sábado que vem, dia 17 de outubro, você que é uma pessoa cordata, que aceita aniversário de tudo que é de criança no Recife, que topa casamentos ao entardecer, que comparece a formaturas em geral, eventuais funerais, que acha fundamental as boas relações com amigos, parentes, com as pessoas essenciais em sua vida – você, definitivamente, vai dizer um sonoro não.
Não vai poder ir ao aniversário de ninguém, porque, a partir do meio dia do sábado, estará inteiramente à disposição do Santa Cruz Futebol Clube.
Não vai poder participar de nenhum evento familiar depois das 12h, porque a família tem 365 dias para cobrar sua presença, e no dia 17 o Santa começa uma arrancada para o acesso à Série A.
Avise a todos os conhecidos, chegados, chapas, camaradas, amigos do peito, que estão absolutamente proibidos de morrer, entre a madrugada de sexta-feira e as 18h30 do sábado. Só após você sair do Arruda cantando “Junta mais essa vitória”, com um latão gelado na mão, avisos fúnebres, em geral, poderão, ser enviados.
Anuncie logo, faça alarde.
Fique nervoso já de agora.
Faça pantim.
Seja inventivo, criativo.
Qualquer ameaça de evento, que não seja no Arruda, sábado à tarde, faça um escândalo. Quando alguém comentar coisas do tipo “você não está bem”, comemore em silêncio.
Como um bom zagueiro, antecipe-se. Corte qualquer pretensão de tirá-lo de junto da massa coral.
Frases como “mas tem jogo do Santa toda semana” devem ser tratadas como uma infâmia, causadora de separação por justa causa. O que tem toda semana é feira, pagamento de contas, ministro sendo demitido.
Filhos cheios de manha e pedidos, têm até sexta à noite para algum pantim, eventual choramingo. Se você for ríspido, a partir de amanhã, a explicação é simples:
“Papai está nervoso com o jogo do Santa, filho!”
A partir de amanhã, as ligações ao celular devem triplicar.
Frases-mantra que devem ser repetidas (mesmo com o aparelho sem sinal):
“A turma vai se encontrar a partir das 13h no mesmo boteco, né”;
“Já comprei meu ingresso”;
“Só se o cara estiver doente, para perder esse clássico”;
“Até o Carlão decidiu ir…”;
“Não, minha mulher nem é doida de marcar nada no sábado”;
“Nem se fosse o aniversário do Papa, eu iria”.
No meio do jantar da quinta-feira, uma cruzada solene dos talheres, e a frase teatral:
“Estou absolutamente nervoso”.
No meio de um filme romântico, pela Netflix, tomando um vinho:
“Acho que o gol da vitória vai ser de Luizinho. Ele está comendo a bola”.
Além disso, você próprio, torcedor, que está lendo esta crônica – você está absolutamente proibido de adoecer, entre sexta de madrugada e sábado à noite.
Morrer, nem pensar.
Não se trai o Santa Cruz assim, na véspera de um jogo decisivo, sonhando com um minuto de silêncio póstumo.
Deixe para morrer depois do jogo.
A vitória seguirá com você para a eternidade.

Tem que ser na base do álcool, da reza e do secador

Por sorte do destino, não fui para Maceió.

O plano de voo era sair daqui por volta das 14h, pegar a BR-101,  ir direto para o estádio, ver o jogo, depois tomar uma de leve na beira-mar da capital alagoana, dormir por lá e voltar bem cedinho do dia seguinte. Mas a razão me cutucou e lembrou que fora de casa, o Santa Cruz não é lá essa coisa toda. Bateu a desconfiança e, na hora do almoço, desisti de pegar a estrada.

Por um cabelinho de sapo, não fui assistir ao jogo no telão do Arruda.

Achei a ideia arretada. Logo que abortei definitivamente o plano de voo para Maceió, entrei em contato com Robson Sena para saber como seria a história do telão no Arruda. Ele me mandou um foto que mostrava já as mesas arrumadas por trás da barra da Rua das Moças e deu as coordenadas. “Sócio não paga, vai ter cerveja e tira-gosto. Começa a partir das 17h”.

Me animei.Comecei a trocar mensagens, avisei a alguns amigos, articulei com uns e outros, organizei o horário de ir buscar a filha no inglês. Mas quando escutei a escalação, a ficha caiu e a desconfiança mandou o recado.

— Ei, é Marlon improvisado na zaga e Renatinho vai entrar de frente.

Pensei direitinho e declinei da ideia de ir ao Arruda.  Para não ser esculhambado, tratei de não avisar a Samarone, Robson e Esequias. E caso eles ligassem, já estava com a desculpa pronta.

Por muito pouco, não fui ver o jogo num bar.

Chiló ficou enchendo meu saco, me chamando para ir com ele e Geó para o Bar Real. Pertinho de onde moro, poderia beber a vontade e não correria nenhum risco de encontrar um bafômetro pela frente. Até gostei da ideia. Só que quando cheguei em casa, a primeira dama me pergunta se vou assistir em algum lugar.

Digo que sim.

Ela indaga.

— Será que dá pra ganhar hoje? Esse time do Santa Cruz é uma gangorra danada!

Pronto, morguei de novo. Farrapei com Chiló e Geó.

Terminei indo ver o jogo na casa do meu vizinho Breno. Cheguei por lá já estávamos perdendo de 1 a 0. O time engrenou uma reação e o primeiro tempo acabou empatado. Minha confiança voltou. Comecei o segundo tempo, acreditando piamente que voltaríamos com os três ponto. Mas dos sete minutos em diante, a tal confiança foi indo embora, deu lugar a raiva e no final a desconfiança voltou.

Ainda bem que não fui para Maceió, nem pro telão do Arruda e nem para o bar.

E ainda bem que o próximo jogo é no dia 17 de outubro.

Daqui pra lá, vou aumentar o estoque de álcool, fazer reza e promessas pra Jesus, santos e orixás.

Sim, e comprar um bocado de secador.

A batalha da PM contra a festa nas arquibancadas do Arruda (Parte 1)

Amigos corais, meu lugar sagrado na arquibancada, junto ao escudo do Mais Querido estava me incomodando há algum tempo.

Não sei o que era, mas uma espécie de impaciência com a morgação.

Em muitos jogos, eu sentia falta da vibração da torcida, de músicas para empurrar o time. Via aquela multidão da Inferno Coral calada, ficava invocado, começava a puxar um coro que ninguém seguia. Como diz o Tom Zé, “Que porra!”

Antes de começar aquele jogaço contra o Bragantino, tomei uma decisão fundamental – fui para o lado esquerdo do estádio, onde estavam os bravos torcedores do “Portão 10 – Avante Santa Cruz”. Vou ver se o negócio ali é mais animado, foi o que pensei.

Era o único local da arquiba que tinha algumas bandeiras, música (um sujeito virado num trompete), bandeirolas e o principal – um bando de malucos que cantava e pulava o jogo inteiro.

Isso mesmo, camaradas. Durante 90 minutos os caras não aliviam.

Fiquei logo amigo do Lucas Souza, um camarada bem novo, sorriso largo, que ficava se mexendo pra todo lado, cantando, vibrando.

Mas o que me espantava era a espontaneidade. Ali, o maestro era a paixão coral.

Em vários momentos, a turma da “Portão 10” começava a puxar uma música e daqui a pouco a arquibancada inteira, sociais, estavam seguindo o mesmo canto. De arrepiar.

Foi graças a esse encontro, e aos papos com Pablo, que pude entender a luta desta pequena e raçuda torcida, para levar alegria e festa ao Arruda.

Breve história

Resumindo tudo, a Portão 10 é uma torcida organizada do estilo barra brava (como se vê nos principais estádios da América do Sul, onde a galera canta antes, durante e depois do jogo, seja qual for o resultado). Nasceu em 2007 com o nome de “Avante Santa”.

Passou por inúmeras dificuldades, parou de funcionar em 2012 por “vários problemas”, inclusive com a “principal organizada do clube”, que não vem ao caso destrinchar aqui, mas acabou firmando seu espaço, crescendo e ganhando a simpatia da massa coral. A história é bem bacana, inclusive pela consciência que os caras têm de que o Santa é um clube popular, e não pode se afastar nunca de suas origens.

Os caras têm pulmões de madeira. Também levam bandeirolas (coisa antiga nos estádios), além de bandeiras com frases voltadas para a cultura do clube. Recentemente, começaram a fazer paródias, como era costume da gloriosa e agora exilada Sanfona Coral.

“Seguimos na luta pelo diferente para trazer novamente nossa antiga torcida”, diz Pablo.

Perdão pelo trocadilho, Pablo, mas é uma torcida sem sofrência.

Tudo muito bom e bonito, é o que o leitor coral vai pensar.

Que nada, meus amigos. Eles enfrentam uma batalha, a cada jogo para driblar o “pode não” da PM.

PM: A tropa da morgação

A torcida do Santa não pode entrar ao estádio com papel picado, bandeira (por menor que seja), bandeirola, bobina de papel higiênico, nada de pirotecnia em geral, pano, enfim.

“Além da recorrente truculência e ignorância, sofremos com a censura em cima dos nossos trapos (bandeiras com frases que ficam na mureta) como “Sociedade Alternativa” e “Coral Antifa””, prossegue Pablo.

Ou seja, a PM “escolhe” o que deve ou não entrar, sem argumento algum, sem embasamento. Depende do humor, sem nenhum documento que defina critérios. Na linguagem jurídica, o nome disso deve ser “protocolo”.

“Além da recorrente truculência e ignorância, sofremos com a censura em cima dos nossos trapos (bandeiras com frases que ficam na mureta) como “Sociedade Alternativa” e “Coral Antifa”, tendo que aceitar as bandeiras que eles decidem deixar entrar, sem darem nenhum argumento ou embasamento para as proibições”.

“Além de termos as mãos atadas em relação aos artefatos festivos, como papel picado, bobinas e papel higiênico, pirotecnia em geral e principalmente nossas bandeiras (que por décadas foram marcantes na característica da torcida coral e pernambucana). Tudo com o argumento de que são “armas” para aqueles que eles não prendem”.

Depois da vitória, da comemoração pelos 3 x 1 contra o Bragantino, ficamos conversando um pouco na arquibancada, cheios de alegria.

Pablo então soltou uma frase que me parece a marca deste período absurdo em que vivemos:

“A batalha dos caras é contra a festa”.

Eles estão ganhando, mas a torcida do Santa tem a arte de resistir.

“Avante Santa, olê olê olê…!”