Respeitem nossa torcida.

Fui ao Arruda nesse sábado convicto de que iria acompanhar o jogo nas arquibancadas na frente do escudo. Estava com saudades da alegria contagiante de nossa torcida, da festa e da greia. Mas assim que cheguei perto do estádio fiquei surpreso com a confusão que era para entrar no portão 7.

Uma multidão se espremia para entrar e a fila chegava até a ponte do canal na Av. Beberibe. A incompetência para gerir uma simples entrada em campo demonstra o absoluto desrespeito com a torcida coral. Desisti e comprei ingresso para as sociais. Tem hora que irrita ser sócio do Santa Cruz.

No encontro pós-jogo em Abílio, ouvi muita gente dizendo que só conseguiu entrar nas arquibancadas após o intervalo do jogo. É foda isso. Respeitem nossa torcida, caralho.

E foi exatamente essa torcida que chegou junto, mesmo se fudendo, para empurrar o time para cima dos alagoanos. A festa foi linda. Dá orgulho fazer parte disso. E foi a única coisa boa que vimos. O jogo, em si, foi um desastre.

Logo de cara levamos um gol bobo de escanteio. E contra. A zaga, para variar, bateu mais cabeça do que metaleiro em show do Iron Maiden. Dudu Mandai é ruim que dói. Os xingamentos cruzaram o universo. Entretanto, essa torcida é apaixonada demais e não deixou a peteca cair. Era dia de festa, de celebrar e começar a arrancada para sairmos dessa famigerada Série D.

Mas o time do Santinha é fraco demais e não ajuda sua torcida. Foi sufoco empatar contra o fraco Lagarto e esse jogo contra o ASA só acentuou nossas deficiências: defesa mal posicionada e sem pegada, meio de campo erra muito passe e o ataque não acerta a barra nem com a porra. É para deixar o cara muito puto da vida.

Em um lance para lá de confuso, conseguimos um pênalti. Rafael Furtado foi lá e converteu. A galera foi ao delírio. Pense em uma coisa linda de se ver é a felicidade dessa torcida. Emocionante demais. Todo mundo se abraça, é cerveja voando, cada berro da porra e muita alegria.

O jogo continuou em um nível para lá de sofrível. Isso demonstra como a Série D é nivelada por baixo. O mínimo de organização dá apara sair desse lamaçal. Mesmo assim, a torcida – sempre a torcida coral – empolgava, tornava o dia mais belo, elevava poesia dos destroços, agarrava-se à esperança e comemorava seu amor pelo Santa Cruz Futebol Clube.

Então, em um lance que começou da defesa do ASA, desenhou-se um dos gols mais ridículos da competição. A transição da defesa para o ataque – e isso com 3 jogadores do ASA contra 5 do Santinha – foi tão fácil que parecia que nossa zaga tinha tomado rivotril, gardenal e artane de uma vez. Roger Gaúcho finalizou com facilidade. Kléver, realmente, não estava em seus melhores dias. Teve até torcedor invadindo o campo para dar aula de como ser goleiro. É greia demais.

A frustração da torcida foi dupla: sair do Arruda com uma derrota e ser desrespeitada pelo próprio clube. A torcida fez sua parte. Respeitem o maior patrimônio que esse clube possui, porra!

E Salve meu Santinha!

O sabbath das bruxas.

A palavra sábado, no idioma português, advém do latim sabbatum que é uma derivação do hebraico Shabat. É o dia de descanso dos judeus e dos adventistas. Mas para a torcida coral das bandas do Arruda é dia de ir ao Mundão e celebrar, mais uma vez, nossa paixão pelo Santa Cruz.

Os povos pagãos dedicavam o sábado ao deus Saturno, daí a palavra Saturday em inglês. O famoso sabbath das bruxas é derivado do hebraico Shabat, indicando a forte onda antijudaíca da época.

Seja lá como for, esse sábado é dia de muita mandinga para que o Santinha possa vencer o ASA. É preciso evocar Goya e Osman Spare para que os rituais de vitória da torcida coral possam dar certo.

Temos que ser sinceros: aquele jogo contra o Lagarto foi uma negação. Muito ruim. Kléver nos salvou mais uma vez. E isso para quem conseguiu acompanhar. Série D é surreal. A galera se alvoroçou quando disseram que aquele jogo seria transmitido pela InStat TV. Todo mundo saiu correndo feito doido para se inscrever no streaming. E o que descobrimos? Era, na verdade, a InStante TV.

A transmissão parecia ser feita por um maluco filmando da lua e só durou uns poucos instantes. Espero que a direção do clube resolva isso nos próximos jogos.

Mas sábado – ah, sábado, meus amigos e minhas amigas – é dia de Arruda. Ir tomar uma no posto, migrar para Abílio e depois entrar em campo, comer o melhor cachorro-quente do planeta e vibrar, fazer a diferença e empurrar o time para cima dos alagoanos.

E vai ser preciso muita garra. O ASA surpreendeu dando uma lapada no favorito Atlético. É para ficar ligado, pois não vai ser nada fácil essa parada. E isso em meio a uma reformulação geral no elenco, salários atrasados dos funcionários e um marketing que puta que pariu…

A boa notícia é a possibilidade do Santinha embolsar 260 mil como resgate referente à transferência de Gilberto para o Toronto. Bora torcer e pagar a galera, meu filho. Assim não dá.

O lado bom da história é que sábado estaremos lá no Mundão. Por isso, cara torcedora, caro torcedor, vamos ajudar o Mais Querido. Sabemos como a presença da torcida é um diferencial enorme. Ela tem o dom de elevar a moral do time, abastecer os atletas com garra e determinação – e isso por mais perronha que o caba seja.

Que o sabbath das bruxas – com a trilha sonora do Black Sabbath – nos dê mais uma vitória.

Avante, meu Santinha!

Haja coração.

Sua visita ao cardiologista está em dia? O coração velho de guerra está preparado para o que der e vier? Se tem marca passo ou estente, fez a revisão? Pois é, minhas amigas e meus amigos, a partir desse domingo começa a Via Crucis da torcida coral das bandas do Arruda. Haja coração para essa empreitada.

E esse início se dá exatamente na Semana Santa que simboliza paixão. E é inegável que ser torcedor do Santa Cruz já é indício de ser meio perturbado quando o quesito é ser louco de paixão. A Série D é um misto de diversas coisas: loucura, desespero, esperança, agonia, teste para cardíaco e o caralho de asa.

Nossa estreia na famigerada D será contra o desconhecido Lagarto. Do grupo do Santinha, a equipe sergipana é, de longe, a mais fraca. Sofreu diversas mudanças e está sem parâmetro de jogo. Por isso é muito importante entrarmos com foco total, pois não sabemos o que vamos enfrentar, seja para o bem ou para o mal.

Do nosso lado, os problemas começaram cedo. Mateus Anderson e Jefferson foram vetados por lesão e tudo indica que Ratinho entra como titular. Ratinho, mô véi, é sério mesmo? Chama qualquer menino de várzea que joga melhor que ele. De boa.

O time que merece atenção especial é, sem dúvida alguma, o Atlético. Os cabas são campeões baianos, o que não é pouca coisa não. A boa notícia é que nosso jogo contra eles será no Arruda, partida marcada para o dia 8 de maio. A torcida tem que lotar o estádio. Isso é um fato ontologicamente comprovado: com torcida, o Santinha muda, a garra se eleva e o time vai para cima com sangue nos olhos.

Também é inegável que o expurgo progressivo da desgraça do ProSanta e do IPC está dando seus frutos. Estão pagando os salários dos jogadores. Sempre escrevi aqui sobre a bronca que é ter salário atrasado. Um time com Grafite, Keno e João Paulo cair é um crime de lesa pátria. Esse erro não pode ser cometido. É grave. Ainda mais em uma Série D infernal que tem, além do Lagarto e Atlético, o Sergipe, Juazeirense, Jacuipense, CSE e ASA. Salários em dias significa disposição em campo.

Por falar em ASA, meu ingresso já está garantido. Transferiram o jogo para o sábado. Vai ser interessante ver o Arruda com 20 mil torcedores e o jogo do domingo da B com metade disso. Muita gente apareceu indignada nas redes sociais com a mudança do dia do jogo. Uma pena mesmo, mas é importante evitar confrontos que sempre acabam em violência gratuita e estúpida. Triste realidade.

O ASA levou a torcida em peso para a final do alagoano contra o CRB. Perdeu, mas demonstrou que tem uma torcida apaixonada. Essa tônica da presença do torcedor vai ser um diferencial e tanto nessa competição.

Por isso, meus amigos e minhas amigas, veja o jogo do domingo em casa, no bar, no celular, seja lá onde for. Tome todas, celebre com as pessoas queridas, vista o manto do Santinha e vamos para cima do Lagarto. Como um otimista inveterado – e isso apesar da nossa estranhíssima escalação prevista para o jogo – sairemos com uma vitória.

Mas sábado – ah, sábado – é dia de tirar a bunda do sofá e ir ao Arruda festejar. Dessa vez irei para as arquibancadas sentir a vibração dessa torcida maravilhosa. Comer o melhor cachorro-quente do mundo, beber umas cervas em Abílio, encontrar os amigos e celebrar. Santa Cruz é isso: celebração. Vamos nessa. O papel da torcida é fundamental para juntarmos mais vitórias e sair desse lamaçal. O pontapé inicial já foi dado.

Salve meu Santinha e haja coração!

Usina F. C.

Este final de semana estou em Santos, SP, a terra do “sol paulista”. Ontem, no dia do Clássico das Emoções, estava tomando umas cervas com meu amigo Fred no Guarujá. Estava vestindo a camisa da Volt do Santa Cruz. Quando fomos pegar o carro dele no estacionamento, o cara que toma conta do lugar arregalou os olhos assim que me viu e lançou essa:

“Eita. É a camisa do Santinha, é?”.

Só quem diz “eita” é pernambucano. Respondi:

“Sim, a camisa do Mais Querido”.

Ele mudou de expressão na hora. Abriu um sorriso largo, os olhos marejaram e parecia empertigado com alguma força sobrenatural.

“Joguei nos juniores em Pernambuco, ele disse. Joguei no Arruda, nos Aflitos e na Ilha. Jogávamos as partidas preliminares antes dos jogos principais”.

“Caralho, eu exclamei, me lembro demais dessas partidas pré-jogo. Arretado demais”.

Ele desandou a contar a vida dele no Recife, o orgulho de ser pernambucano e o amor que seu pai tinha pelo Santa Cruz. Quando estávamos saindo, ele gritou: “Até a vitória!”. Pensei que era o presságio que faltava para garantir nossa vaga na final diante do Capibaribe.

Quando cheguei no ap da Airbnb, abri uma cerva, sintonizei o jogo no notebook e fui torcer.

 E o que vimos nos 90 minutos de jogo? A pelada mais horrível desse campeonato. Inacreditável o nível de ruindade. Meu amigo Vini, do Recife, me mandou essa mensagem no zap no intervalo: “Pqp, que jogo feio da porra”. Acrescentei: “Ruim x Ruim”.

Foi, de longe, o pior jogo do ano. Jogo truncado pela falta de qualidade, muitas faltas, um cai-cai da porra, uma tonelada de passes errados. Mas até que o Santinha se mostrou “superior” e dominava a partida. Jean Carlos parecia fatigado, exausto e não acertava uma. Bom pra gente, confabulei.

Entretanto, a peleja continuou no nível entre horripilante e tétrico. A melhor tradução para esse jogo: Usina Futebol Clube. Muito chutão, finalizações risíveis e nenhum comprometimento com a bola.

O Santinha quase chegou ao gol em um lance de bola parada e em um tropeção de Rafael Furtado. O que era feio ficou horrível e o que era horrível ficou inominável. Segue a pelota e vamos para os pênaltis. E pênaltis, meus amigos e minhas amigas, é loteria (inclusive um jogador de Santos ganhou na Megasena. Deveria ter jogado nessa porra, ao menos).

Logo de cara Jean Carlos perdeu a penalidade. Realmente, não era o dia dele e creio que qualquer torcedor coral das bandas do Arruda tenha acreditado que iríamos direto para a final. Mas aí, em uma brincadeira dos deuses do futebol, o modo Usina F. C. foi ativado e Alex Alves botou a bola para a puta que pariu e perdeu o pênalti. Assim é foda, meu filho. É perna de pau que se chama, é?

Tudo empatado e fomos para a última cobrança. Júnior Tavares colocou no canto e quase que Kléver faz uma defesa fuderosa. Aliás, o único que se salvou nesse show de horrores. E aí colocaram Ratinho para finalizar. E o que ele fez? Jogou a bola na trave. Na verdade, quando anunciaram que ele iria cobrar, eu pensei: “Fudeu”! Dito e feito. Nosso tricolor coral de Santos deve estar decepcionado com o que viu.

Agora é juntar os cacos e se focar na Série D. Bem, a D é nível hard de Usina F. C. Essa semifinal valeu para entrarmos no clima. Ao menos isso.

E salve meu Santinha!

Barrados no baile.

Fomos barrados no baile e, mais uma vez, iremos acompanhar o jogo do Pernambucano do sofá. A indignação da torcida coral não é pouca coisa não. A revolta se dirige ao Governo do Estado, SDS, FPF, PM, ALN e o escambau de asa.

No Tuit do Santinha, a mensagem é clara: “Torcida única, uma das medidas mais IMBECIS e sem resultado já adotadas. Pois a violência, que quase SEMPRE é fora dos estádios, não diminui por causa disso. Quem vai ao jogo para torcer e vibrar por seu time é prejudicado. Paciência”.

Esequias Pierre manteve esse tom: “Acho que é preciso fazer o que for necessário para garantir o rompimento dessa aberração que é jogo de torcida única e especialmente o que vem ocorrendo a anos em Pernanbuco”.

Concordo plenamente com essas duas proposições. Na verdade, parece mais que o Estado quer se eximir de sua função e deixar para lá o que pode ocorrer. A violência entre torcidas se dá quase sempre fora dos estádios, é combinada com antecedência, tem hora e local marcados, são as mesmas caras, a mesma libido e a mesma incompetência crônica de se fazer algo para coibir essa aberração.

Quem sai prejudicado é quem só quer torcer em paz. Sempre fui a favor das torcidas organizadas como local de articulação política das massas. Entretanto, não dá para compactuar com a violência que se alimenta de uma alucinação social grave. Mas é evidente que uma dose cavalar de consciência de classe e educação política iria direcionar essa energia toda para algo realmente produtivo.

Por isso que não tem quem me convença que esse papo de SAF é bom. Não haverá respeito pela torcida em nenhum momento. O único a ser respeitado nessa relação será o lucro. A torcida – organizada ou não – não poderá opinar em nada, uma vez que não se mete o bedelho em empresa privada.

Mas, saindo dessa tergiversada, é inegável que proibir a torcida de presenciar seu time em campo ou interditar o uso de camisas do clube é uma declaração clara de que falta inteligência, vontade política e investimento para que a violência entre as torcidas seja evitada na fonte.

Essa galera combina suas tretas nas redes sociais. Qualquer aparato de inteligência investigativa conseguiria monitorar essas articulações e miná-las na base. Além disso, há os casos em que a violência nem mesmo ocorre no estádio ou nas suas redondezas.

Quem estava no Pátio da Santa Cruz no aniversário do Santinha e foi surpreendido com a truculência e estupidez gratuita de nosso arquirrival, sabe do que estou falando. E qual foi a causa? Surgiu a história de que nossa torcida – se é possível falar assim – invadiu a sede alheia e foi pau. Muito triste esse mau direcionamento de ação. 

Seja lá como for, o jeito é ficar no sofá tomando umas cervas geladas e acompanhar nossa vitória sobre o Capibaribe. O hiato entre jogos foi benéfico para nosso elenco. Para mim, o maior ganho foi a recuperação de Rafael Furtado.

Como um otimista nato, estou confiante que vamos meter 2 x 0 e ir para a decisão com o Retrôcesso. Dá-lhe, meu Santinha. Que nossa garra ancestral se faça presente e que possamos acompanhar a final em campo. 

Que assim seja!