2018 com os pés no chão.

Meus amigos tricolores corais, final de ano, em relação ao nosso futebol, é aquela morgação. O cara se resume a acompanhar as notícias dos preparativos para o ano que vem.
Depois de um ano desastroso, o discurso da nova/velha presidência é de encarar 2018 com os pés no chão. Júnior Rocha chegou com esse discurso: não prometeu nada, apenas muito trabalho e a ciência de que nossa folha será enxuta.
Ouvi no rádio o pedido de ajuda de um funcionário do Santinha a um amigo pelo whatsapp. Uma coisa triste. Salários atrasados de 2016 e 2017. Não sei se o lance é fake – temos que ter cuidado com tudo nesse mundo digital – mas sei que essa questão é muito real no Santa Cruz.
Fred Gomes, o novo nome no executivo do clube, também falou em contratar com os pés no chão. Pelo que estão dizendo, nosso elenco não custará mais do que 200 mil reais. Realmente, não tem como ser de outra maneira.
Mas tem uma coisa que faz medo: Tininho se arretar e desandar a contratar loucamente como fez esse ano. Aí, meus amigos, não tem transparência, responsabilidade e gestão eficiente que dê jeito.
Escutei diversos tricolores corais dizendo que deixarão de ser sócios, que não irão mais ao estádio, que odeiam deus e o mundo. De minha parte, minha paixão é pelo Santa Cruz que é muito mais velho do que eu e que ficará por aqui muito tempo depois de todos nós termos partidos. Jamais abandonarei meu clube do coração. Sou Santa Cruz desde a infância e assim será até os fins dos tempos.
Inegável que está todo mundo puto com a queda na séribê. Mas, querendo ou não, estaremos nos campos torcendo, xingando, conversando e brigando com os amigos e tudo regado por muita cerveja, espetinhos e cachorro quente
É esperar por 2018 para que uns possam destilar sua paixão, outros o veneno e, outros, mais comedidos, suas análises. Seja como for, estarei lá com o clube que aprendi a amar desde sempre.
Final de ano chegando, confra que não acaba mais, o velho fígado bem treinado trabalhando feito um louco e a velha e boa esperança de sempre voltando a surgir. Sem esperança, meus amigos, e como diria o filósofo e escritor Albert Camus, não dá.
Um Feliz Natal e um Feliz e Próspero 2018 para toda essa massa coral eternamente apaixonado pelo clube Mais Querido. Evoé, Santa Cruz.

Escravos de Jó.

Escravos de Jó jogavam caxangá.
Escravos de Jó jogavam caxangá.
Tira, bota, deixa o Zambelê ficar…
Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá,
Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá.

A situação política e eleitoral do Santa Cruz é mais surreal e psicodélica do que a própria situação do Brasil. Aqui, no país da corrupção, do jeitinho, dos escândalos, da Lava Jato e da puta que pariu, ao menos o povo, quando fica puto, vota na oposição.
Assim foi com a crise de FHC e a galera votando em Lula. Assim foi com a crise de Dilma e a galera quase colocando Aécio na presidência. Pode ser inconsciente, mas é revolta, seja em que sentido for.
Depois de um descenso meteórico da série A para a C, com uma falta de transparência constante e alarmante, com processos trabalhistas infindáveis, com um estatuto canastrão, salários atrasados para os trabalhadores do clube ( e isso inclui, claro, os jogadores), bloqueios infindáveis e histórias dignas de um Dom Quixote, a torcida – seja lá o que isso hoje signifique – decidiu pela permanência da situação na Presidência do Santinha.
Oh, meu clube querido, como te lapidam, como és usurpado sem fazermos nada, como deixas de ser o Mais Querido, como deixas de ser o terror do Nordeste. Como é possível explicar esse masoquismo que busca, incessantemente, ser pequeno?
Essa eleição foi uma brincadeira de escravo de Jó. Mudamos apenas as peças no tabuleiro. Nem mudamos o tabuleiro e nem mudamos as peças.
O sujeito tem que ter muita fé no mundo e nas pessoas para acreditar que as coisas vão mudar. Tem que ter muita fé para acreditar que algo miraculoso será feito pelas mesmas peças – só mudou o nome da função, se é que isso significa, também, alguma coisa.
Parabéns aos vencedores. O espólio é desastroso? Será mesmo? Vão mudar esse estatuto anacrônico? Vão elaborar um processo de transparência? Profissionalizarão as áreas desastrosas como a parte financeira, de futebol e jurídica? Conseguirão alguma fonte de renda que não seja suplicar ao sofrido torcedor para dar seu sangue pelo clube? Conseguirão tornar liso e claro esse processo eleitoral no futuro? Haverá, de fato, mudanças consubstanciais? Esse CT sai? Montaremos um time enxuto? Muitas questões.
Quem quiser, pode acreditar. Eu, não.
Fui na praça, peguei umas pedrinhas e fui brincar com as crianças de escravo de Jó.

Escravos de Jó jogavam caxangá.
Escravos de Jó jogavam caxangá.
Tira, bota, deixa o Zambelê ficar…
Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá,
Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá.

O dia em que fizemos história

Quando o resultado foi sacramentado, o zum-zum-zum tomou conta das redes sociais. Recebi a notícia pelo zap. Mesmo sem saber a veracidade da mensagem, confesso que fiquei feliz. Eu sempre tive um pé na oposição, talvez isto tenha sido a química principal da minha alegria.

Em poucos minutos, vídeos, fotos, mensagens, memes chegavam de todos os lados. As redes de comunicação corais estavam lotadas.

Fomos para Sede. Todos queria ver a novidade de perto e festejar. Um pequeno congestionamento se formou na Avenida Beberibe. Apareceram os vendedores de cerveja e água mineral. O cheiro do cachorro quente e a fumaça do espetinho foram tomando conta do ar.

Quando dobrei a esquina, um rapaz me ofereceu uma camisa com a seguinte frase: “Agora a gente chega”. A camisa era branca, a frase impressa em preto e abaixo dela dois traços vermelhos. “Tenho boné, também”, ele disse. Fiquei impressionado com a rapidez que esse povo tem para fabricar as coisas.

Entre cervejas, fofocas e encontros, surgiram centenas de especulações sobre o novo mandatário.

Entre um gole e outro, lembrei que no estatuto do clube está escrito que o Conselho Deliberativo é quem elege o presidente e o vice. Coloque isto numa roda de conversa e me veio uma ideia. Comentei com alguns que estavam por perto.

Uns acharam graça, outros me chamaram de doido. Poucos sacaram a parada.

Bebi mais algumas e me mandei. Cheguei em casa quase uma hora da manhã. Ainda deu tempo de compartilhar minha ideia com alguns amigos.

O fato é que tudo se tornou realidade. O clube das multidões viveu um momento que entrou para história.

No Estatuto, o Artigo 44 diz que o Conselho Deliberativo vai ser reunir ordinariamente, até o quinto dia útil após a sua eleição, para eleger e dar posse ao Presidente e Vice-Presidente do Executivo, por maioria simples dos votos presentes.

Então, naquele dia os Conselheiros eleitos fizeram algo que ninguém havia atinado antes. Eles se ligaram que podiam eleger qualquer um dos candidatos. O Senhor Beltrão pediu a palavra, invocou o tal Art. 44, disse umas coisas e argumentou:

– Ora, se nós defendemos que este Conselho seja um órgão de discussão, debates, fiscalização e dialético, nada mais justo do que elegermos o candidato da outra chapa. Com isso, acabamos com essa história do Presidente do Executivo ter a maioria no Conselho.

Aquelas palavras entraram na cabeça dos demais. Alguns as expeliram. Outros a sugaram rapidamente. Em poucos segundos, imagens psicodélicas de um novo clube surgiram naquelas mentes.

De pronto, as redes sociais foram invadidas pela inusitada ideia e pelas imagens de Senhor Beltrão defendendo seu argumento.

Outras falas vieram. O debate seguiu. Surgiram contra-argumentos. Um benemérito ficou nervoso. Houveram insultos e ameaças.

A imprensa começou a tuitar sobre a inusitada proposta. Fizeram transmissões ao vivo.

“Caralho, dessa vez a gente muda”, Cara de Prego pensou. “Vou pra Sede”, ele disse.

Vários torcedores, movimentos, coletivos, grupos foram chegando ao clube. Em pouco tempo, do lado de fora, umas duzentas pessoas esperavam o desfecho de tudo aquilo.

Lá dentro, a velha guarda tentava desfazer aquela onda que tomava conta do Conselho. Quiseram cancelar a reunião, mas não conseguiram. Ao final, por apenas dois votos de diferença, a ideia se tornou realidade. Pela primeira vez na história, o Conselho Deliberativo elegeu para presidência um candidato da outra chapa.

Meus amigos, o rebuliço foi grande. Os portões foram abertos a força. A pequena multidão invadiu a sede. Um senhor de cabelos brancos, pertencente à velha guarda, passou mal e desmaiou. Cara de Prego deu uma carreira no diretor de futebol. Miraneide e suas amigas se apossaram de uma sala perto da piscina e riscaram na porta: “Departamento de Setor Feminino”. Zé, Glaycenete e Sairé chamaram o cara que estava vendendo espetinho e cerveja e saíram correndo gritando: “vamos reabrir a Colosso. Vamos reabrir”, e se mandaram para o local da antiga churrascaria. A piscina ficou quarada de gente. Uns mais exaltados tomando banho nu, transformando nosso Parque Aquático numa praia de nudismo.

Uma turma procurava Catatau. Outra queria a chave da patrimonial. Abriram a sala da presidência e um casal fez uma performance em cima do birô. No salão de festa, não sei como, surgiu uma caixa de som, dessas que pega pen drive e bluetooth e a música embalou a galera. Reggae, samba, brega e tudo mais!

A sala de troféus foi aberta. A galera pegou algumas taças para dar uma volta olímpica imaginária.

De fato, a esperança realmente estava de volta.

Quando saí, encontrei aquele rapaz que vendia camisas com a frase: “Agora a gente chega”.

Comprei uma e vesti na hora.

Eleições 2017 – Entrevista com Thomaz Pereira

Thomaz de Aquino Pereira Barbosa é o candidato a Presidente do Conselho Deliberativo na Chapa “Muda Santa Cruz”. Thomaz é pernambucano, tem 44 anos,  empresário formado em Administração de Empresas pela UNICAP. Tem cursos de gestão, Conselheiro do SCFC , ex-diretor de Base do Santa Cruz e apaixonado pelo Clube.

Blog do Santinha: Na sua opinião o conselho deve ser um órgão de arrecadação ou de deliberação e fiscalização?

Thomaz Pereira: Deve ser pela ordem: deliberação como o próprio nome diz, fiscalização e também arrecadação.
Desde sempre o conselho no Santa Cruz tem servido apenas para arrecadar e aprovar todas as ações do Presidente anterior. No nosso estatuto rege que o maior e mais importante poder dentro do clube é o Deliberativo.Na prática, infelizmente não acontece isso. O executivo atropela os outros dois. Temos no nosso projeto a atualização e modernização do estatuto.

Blog do Santinha:  No Santa Cruz há uma prática do Presidente do Executivo acabar seu mandato e  ser candidato a Presidência do Conselho Deliberativo no mandado seguinte. O senhor acha isso correto, uma vez que as contas do clube só são julgadas no exercício seguinte? Para ficar mais claro a questão: o senhor acha correto o ex-presidente do clube julgar suas próprias contas?

Thomaz Pereira: Obviamente que não. Acaba chancelando o erro e coibindo a fiscalização. Temos que introduzir o conceito de Governança e melhores práticas administrativas.

Blog do Santinha: Grande parte da torcida coral aponta o estatuto do clube como uma das fontes de tantos erros de gestão, pois afirmam que o mesmo é anacrônico e não é capaz de permitir a modernização do Santa Cruz. Como o  senhor vê o estatuto atual? É possível, politicamente, existir um acordo para torná-lo mais adequado às demandas de nosso tempo?

Thomaz Pereira: Verdade. O nosso atual estatuto está desatualizado e com alguns vícios de autoritarismo. Na prática tem pouco foco em questões muito importantes do clube e por vezes não é claro. Acredito que sua reforma teria que existir em um ambiente de mudança. Novos nomes, conceitos e objetivos.Não acredito que a situação faça isso, tiveram várias oportunidades e não obtiveram sucesso. Como conselheiro cobrei por demais estas melhoras.

Blog do Santinha: É comum ouvirmos criticas ao modelo político do Santa Cruz. No clube, o Conselho Deliberativo é todo composto por pessoas indicadas pelo Presidente do Executivo. O senhor acha salutar este tipo de modelo político?

Thomaz Pereira: Não. Inclusive o conselho é misógino e excludente sob ponto de vista financeiro. Explico:como apenas podem participar sócios de categorias mais caras, acaba elitizando o que não deveria. Cria um apêndice do executivo apenas como órgão arrecadador. Defendo a maior participação de mulheres e de pessoas de oposição, abrindo a opção inclusive de um percentual para pessoas inscritas em chapas de oposição.

Blog do Santinha: O Conselho Deliberativo do Santa Cruz pode ter até 500 conselheiros. A mensalidade custa 150 reais. Há um destino especifico para esta arrecadação? Na sua opinião qual seria a melhor forma de se prestar contas da arrecadação do Deliberativo?

Thomaz Pereira: Existe uma divisão deste recebimento. Não fica muito claro . Existe um destino informado pelo clube sim. Não acho o mais correto e viável.Outro ponto seria o pagamento deste valor apenas pra quem se dispor para tal. Estas prestações deveriam  ser mensais e colocadas em uma rede intranet onde apenas o conselheiro teria acesso.

Blog do Santinha: Ainda sobre os membros do Conselho, de acordo com o estatuto temos os conselheiros efetivos e os suplentes. Qual o critério para um suplente assumir a titularidade? Por exemplo, se um titular morrer, qual o suplente que o substitui?

Thomaz Pereira: O suplentes foram criados mais para acomodar pessoas ligadas aos mandatários . Não existe um critério predefinido. Não fica claro no estatuto. Devemos criar critérios como: tempo de conselho, idade, assiduidade, propostas analisadas e ou aceitas pelo conselho. Ou seja: efetividade.

Blog do Santinha: Na esfera da política interna do clube, como o senhor pensa uma gestão eficaz que seja capaz de sanar os problemas históricos do santa Cruz como dívidas trabalhistas, salários sempre atrasados, falta de grande investidores, etc?

Thomaz Pereira: Primeiro passo: uma Auditoria. O clube precisa conhecer efetivamente seus números.
Segundo: Departamentalizar o clube.
Terceiro: viabilidade econômico /financeira de áreas e ou departamentos.
Quarto: terceirização de alguns serviços tais como; segurança, limpeza e administrativo (ter estagiários).
Quinto: Fazer uma reengenharia administrativa / financeira separando ativos bons (blindagem) de débitos e obrigações a pagar.
Sexta: criação de duas SPE’S (Sociedade de Propósito Específico). Santa Cruz Participações e Santa Cruz Novos Negócios.
Sétima: securitização de débitos e posterior planejamento de efetivo pagamento. Tentar mudar o perfil de endividamento do clube.
Oitava: criar grupos de trabalho exclusivo por áreas para focar em um levantamento preliminar com resultado em 90 dias. Teríamos uma radiografia do clube neste prazo emergencial. Reavaliando e suspendendo todos os contratos e pagamentos. 

Blog do Santinha: No que se refere ao Conselho Deliberativo, caso o senhor seja eleito, como pretende atuar e quais os seus compromissos como Presidente do Conselho Deliberativo nos próximos 3 anos?

Thomaz Pereira: Se os sócios assim entenderem e me derem esta missão que muito me orgulharia, pretendo atuar em algumas áreas especificas do clube de forma transparente e com um bom e qualificado grupo de pessoas, independente de corrente política clubista. Reformar o estatuto como condição emergencial para que possam ser feitas as mudanças estruturais que o clube posterga tanto. Ou mudamos o modo de fazer as coisas ou mudamos as pessoas que fazem errado. Assumo desde já que será um conselho ativo, participativo e especialmente democrático. Inclusive com a participação das minorias e de nomes de outras chapas. Conselho meritocrático.

Eleições 2017 – Entrevista com Alírio Moraes

Alírio Moraes é candidato a Presidente do Conselho Deliberativo pela Chapa “Construindo com a Força da União”. Alírio tem 53 anos, é advogado, atual Presidente do Santa Cruz, compositor e músico.

Blog do Santinha: Na sua opinião o conselho deve ser um órgão de arrecadação ou de deliberação e fiscalização?

Alírio Moraes: A função ou a natureza independente do meu entendimento. Pelo estatuto do clube, o Conselho é um órgão de deliberação, ou seja, um órgão de decisão. Tem poderes, por exemplo, de suspender ou cancelar contratos lesivos, pode afastar definitivamente integrantes dos outros poderes. O problema central é que, pela cultura interna do clube e pela falta de exercício real desta autonomia, o Conselho passou a ser visto como um apêndice de menor importância. O Conselho precisa ser realmente uma instância de deliberação e de fiscalização. O Conselho não é, necessariamente, um órgão arrecadador, essa não é uma imposição aos conselheiros eleitos. Mesmo inadimplentes, os conselheiros não perdem a autonomia conferida pela Assembleia Geral de Sócios, que é a eleição, e podem votar em todas as sessões plenárias, bem como participar das discussões.

Blog do Santinha: No Santa Cruz há uma prática do Presidente do Executivo acabar seu mandato e  ser candidato a Presidência do Conselho Deliberativo no mandado seguinte. O senhor acha isso correto, uma vez que as contas do clube só são julgadas no exercício seguinte? Para ficar mais claro a questão: o senhor acha correto o ex-presidente do clube julgar suas próprias contas?

Alírio Moraes: Vamos compreender o processo. O papel do Conselho Deliberativo é, até o dia 31 de março do exercício seguinte, aprova o relatório administrativo, contábil e financeiro do ano anterior. Como prevê a legislação em vigor que regulamenta o futebol, o Profut, esse relatório deve ser aprovado pelo Conselho Fiscal do clube. Uma vez aprovadas “as contas” pelo Conselho Fiscal,  o relatório é enviado ao Deliberativo. O estatuto prevê que, se o presidente Executivo estiver, naquele momento, ocupando o cargo de presidente do Deliberativo, ele não poderá presidir aquela sessão específica de análise de suas contas, função a ser desempenhada pelos secretários, e sequer terá direito a voto. Há, portanto, ressalvas que asseguram um mínimo de liberdade para o Deliberativo realizar a discussão à vontade. Além disso, temos também a presença dos Conselheiros Beneméritos, pessoas com amplos serviços prestados ao clube, sem ligação com o presidente da hora, e que tem como função manter a independência da discussão considerando os interesses do clube.

Dito isso, gostaria de ressaltar que, ao aceitar o convite para presidir o Deliberativo, não me pautei pela necessidade de aprovar minhas contas. Seria mesquinho da minha parte e também de quem imagina ter sido essa a minha motivação. Aceitar participar da chapa à frente do Conselho para reafirmar meu compromisso com o Santa Cruz Futebol Clube. Boa parte dos problemas de muitos clubes brasileiros, incluindo o nosso clube, existem porque presidentes pressionado pelas demandas mais urgentes tomaram decisões considerando apenas o breve tempo do seu mandato, sabendo que, logo depois, não estariam mais ali, adiando a solução dos problemas, gerando bolas de neve sem fim. Aceitar esse desafio significa assumir o compromisso de continuar a buscar soluções para resolver os imensos problemas do clube, inclusive aqueles com que me deparei em minha gestão e não tive forças para superar.

Blog do Santinha: Grande parte da torcida coral aponta o estatuto do clube como uma das fontes de tantos erros de gestão, pois afirmam que o mesmo é anacrônico e não é capaz de permitir a modernização do Santa Cruz. Como o  senhor vê o estatuto atual? É possível, politicamente, existir um acordo para torná-lo mais adequado às demandas de nosso tempo?

Alírio Moraes: Infelizmente, isto é verdadeiro. O Estatuto precisa ser modernizado, tanto para adaptar o clube às exigências da legislação do Profut quanto para atender às necessidades de maior participação dos torcedores e do mundo de negócios do futebol contemporâneo. Modificar o estatuto é meu compromisso. Pretendo, logo na primeira sessão do novo Conselho, instalar uma comissão de conselheiros que se debruce sobre o estatuto atual e apresente, com agilidade, uma proposta de um novo marco legal para o Santa Cruz. 

Blog do Santinha: É comum ouvirmos criticas ao modelo político do Santa Cruz. No clube, o Conselho Deliberativo é todo composto por pessoas indicadas pelo Presidente do Executivo. O senhor acha salutar este tipo de modelo político?

Alírio Moraes: Na verdade, o Conselho reflete a composição de forças que dão sustentação ao poder Executivo. Em geral, os conselhos são bem mais heterogêneos. Tomemos meu exemplo e o de minha gestão: creio ter indicado, se muito, apenas 10% dos atuais conselheiros. O mesmo raciocínio é válido para o Conselho que me proponho a presidir: este terá aproximadamente o mesmo percentual de conselheiros indicados por mim.  Sem contar a massa de 120 beneméritos, independentes de qualquer mandatário de momento. No entanto, estou convicto que a cultura política do clube só irá se transformar a partir do momento em que tivermos um Conselho ativo, que exerça seus poderes, que participe e interfira diretamente na vida do clube.

Blog do Santinha: O Conselho Deliberativo do Santa Cruz pode ter até 500 conselheiros. A mensalidade custa 150 reais. Há um destino especifico para esta arrecadação? Na sua opinião qual seria a melhor forma de se prestar contas da arrecadação do Deliberativo?

Alírio Moraes: Os destinos da arrecadação do Conselho são estabelecidos pelo estatuto: 75% do valor arrecadado deve ser transferido imediatamente para o Execuitvo. Os outros 25% devem ser utilizados para custear as atividades do próprio Conselho, devendo o restante ser destinado às categorias de Base. Para o próximo ano, entendo que a parcela destinada à Base deve ser usada para financiar elaboração de um projeto técnico de modernização e sustentabilidade do processo de formação de novos atletas. É isso que vou propor aos conselheiros, pois acredito que não adianta simplesmente usar o dinheiro para o custeio diário. Os problemas são tão profundos que esse valor não será o suficiente para resolvê-los. Mas isso é o coletivo de conselheiros que irá definir.

Blog do Santinha: Ainda sobre os membros do Conselho, de acordo com o estatuto temos os conselheiros efetivos e os suplentes. Qual o critério para um suplente assumir a titularidade? Por exemplo, se um titular morrer, qual o suplente que o substitui?

Alírio Moraes: Os suplentes não assumem automaticamente em caso de morte ou renúncia dos conselheiros efetivos. Como suplentes, ele se habilitam para serem efetivos a partir da próxima eleição. No entanto, em caso de falta de conselheiros nas sessões plenárias, os suplentes que estiverem presentes podem votar no lugar dos faltosos. Exemplo: se faltaram 70 conselheiros efetivos e estiverem presentes 30 dos suplentes, todos poderão votar e serem eleitos para as comissões temáticas, das quais falarei mais adiante. 

Blog do Santinha: Na esfera da política interna do clube, como o senhor pensa uma gestão eficaz que seja capaz de sanar os problemas históricos do santa Cruz como dívidas trabalhistas, salários sempre atrasados, falta de grande investidores, etc?

Alírio Moraes: Não tenho dúvidas que os maiores problemas do clube são causados pelo passivo trabalhista. Para isso, se faz necessária a responsabilidade fiscal, montando times dentro de nossa realidade financeira, deixando de fazer times se pautando pela emoção e pelas exigências da torcida. 

Em relação às dívidas trabalhistas, vou mencionar algo que não dei a devida visibilidade: assinei, junto com vários outros clubes das séries A e B, uma proposta elaborada pela CBF e que teve o apoio integral do Santa Cruz. Essa proposta prevê a criação de uma central de dados de execução das dividas trabalhistas dos clubes de futebol. Do que se trata? Uma central operacional que irá centralizar todos os procedimentos de execução das decisões da Justiça do Trabalho. Essa central seria coordenada por um magistrado para evitar a sobreposição de bloqueios e penhoras, determinando o fluxo de pagamentos usando como base a receita de cada clube.

Se isso tornar-se realidade, vai evitar o que aconteceu com o Santa Cruz nos últimos anos. Mesmo em dia com a 12ª Vara da Justiça do Trabalho, honrando o acordo retirando de R$ 120 a R$ 200 mil de nossa receita para quitar as dívidas, fomos surpreendidos inúmeras vezes por novos bloqueios e penhoras originários de Varas da Justiça do Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rondônia…  Então, tínhamos que montar acordos paralelos para remover o bloqueio. Esses acordos inviabilizaram os pagamentos à 12º Vara, que centralizava os processos aqui em Pernambuco. 

A proposta da Central Única foi apresentada pela CBF, mas terá de ser transformada em projeto de lei a ser aprovado pelo Congresso Nacional para, em seguida, ser adotada uma resolução do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e, finalmente, virar regra. Ainda falta muito, mas creio que a pressão das torcidas poderá acelerar o processo.

Blog do Santinha: No que se refere ao Conselho Deliberativo, caso o senhor seja eleito, como pretende atuar e quais os seus compromissos como Presidente do Conselho Deliberativo nos próximos 3 anos? 

Alírio Moraes: A prioridade será revisar o estatuto. Outro compromisso será transformar o Conselho num organismo vivo, capaz de formar novas lideranças que venham assumir o clube em breve. E como possibilitar isso? Depois de escutar alguns torcedores e conselheiros, penso em criar comissões temáticas para acompanhar algumas atividades do Executivo, trazer soluções para áreas nevrálgicas do clube e, até mesmo, suprir a necessidade de profissionais qualificados que possam prestar consultoria para a tomada de decisões do Poder Executivo. Inicialmente, me foram propostos temas como Acompanhamento do Passivo, Memória e Categorias de Base.