Derrota amarga

Por Zeca*

A derrota tem um sabor amargo. Ainda mais quando seu time joga bem, perde uma porrada de chances de fazer um gol e sai perdendo. Pior: amarga a segunda-feira na zona de rebaixamento. Creio que esse jogo contra o Corinthians se pareceu e muito com o jogo contra o Flamengo. Isso é sintomático e preocupante.

Samarone me ligou no sábado à tarde:

“E aí, Zeca. Vais assistir ao jogo onde?”.

“Aqui em casa, respondi, vem pra cá”.

Para surpresa geral, eram quase 7 da noite e ainda estávamos sóbrios. Preparei o tira-gosto e deixei umas cervejas gelando. Sama chegou com mais umas para ajudar a assistir a partida.

Zapeando os canais, descobrimos que o Premiere FC estava cobrando 90 reais para transmitir o jogo do Santinha. Sama ficou desesperado:

“E agora? Como vamos fazer?”.

Eis a grande vantagem do mundo digital: conectei o notebook à TV e descobrimos um site que estava transmitindo o jogo ao vivo. Maravilha!

O time do Santa jogou de igual para igual contra o Corinthians. Mais uma vez Grafite mostrou porque é artilheiro. Mas uma andorinha só não faz verão e parece que a frase mais dita atualmente está se voltando contra o mais querido: O inverno está chegando. Nossa zaga precisa de uma reforma urgentíssima. E o meio-campo e o ataque precisam de reforços. De outro modo, estaremos fadados a amargar o rebaixamento.

Tomamos umas serotoninas (cana) para espantar o amargo de mais uma derrota. Essa estranha sensação de impotência é algo que está começando a se tornar grave. Se esses resultados começarem a se repetir, é bem possível que meu fígado velho comece a reclamar de tanta pressão.

Seguimos a noite bebendo e discutindo os destinos futebolísticos de nosso Santinha. Será que aquela tristeza que pairava no Arruda mesmo antes do jogo começar  contra o Flamengo será a tônica daqui para a frente? Esperamos que não. Mas é preciso administrar a situação de forma inteligente e estratégica.

Assim, já bêbados e putos da vida, xingamos quem foi possível e pensamos nas pedreiras que estão por vir. A questão me parece simples: é preciso reunir todo mundo e começar a traçar metas claras. Caso contrário, o fim dessa jornada vai ser muito mais amargo do que uma simples derrota.

*Filósofo da Boa Vista e Metaleiro.

Bora Santa Cruz!

Sejamos justos. Alírio Moraes já tem seu nome escrito na lista dos maiores presidentes do Santa Cruz.

A gestão de Alírio é uma grata surpresa e já nos proporcionou alegrias que nunca serão esquecidas. Ver o Santa Cruz levantar a taça em Campina Grande, na decisão do Nordestão, para sempre ficará na nossa memória.

Poucos, talvez quase ninguém, acreditava que seríamos vice-campeões da Série B, que ganharíamos o estadual  e que levantaríamos a taça de campeão do Nordeste, carimbando assim, uma vaga na Copa Sulamericana.

Sejamos realistas. Com esse elenco que está aí, dificilmente vamos nos segurar na Primeirona. Se levarmos em consideração a seguinte equipe: Thiago Cardoso, Vitor, Néris, Danis Moraes e Thiago Costa; Uilian Correa, João Paulo e Lelê; Artur, Grafite e Keno, veremos que é o time que disputou o campeonato pernambucano e a copa do NE.

Não nos reforçamos. Apenas contratamos jogadores que chegaram para complementar o elenco. É notório a limitação do Santa Cruz. Basta algum dos melhores sair ou não jogar bem, que fica claro a falta de substitutos a altura. Mudar taticamente é quase uma missão impossível para Milton Mendes.

Não faço a mínima ideia do poder de fogo que temos para contratar. Não sei nem quanto custa para se trazer bons jogadores. Mas, vendo o Santa jogar, fica a impressão que atingimos o nosso limite e não sairemos disto que estamos vendo.

Ficaremos sempre na dependência do nosso artilheiro. Se ele não fizer, se estiver em um dia infeliz, não há mais ninguém quem faça gol.

Não temos um bom meia-armador, por mais vontade que tenha, o esforçado Lelê não tem o futebol que precisamos.

Esperar que Leandrinho, Walyson e outros sejam a solução dos nossos problemas, é somente alimentar a esperança que sempre está tatuada no coração do torcedor.

Hoje tenho a opinião que, com esse elenco aí, não tem treinador que consiga algo melhor do que Milton Mendes.

Mas ainda há tempo. Faltam, se não me engano, vinte e oito rodadas. Já vi time fazer uma pífia campanha o primeiro turno e no returno e chegar nas cabeças.

Torço, rezo e faço macumba para que Alírio e cia. tenham bala na agulha e contratem alguns reforços. Mas que sejam realmente bons jogadores, porque de apostas e contratações o time já está bem lotado.

Como bem disse um torcedor, hoje de manhã na feira de Casa Amarela, “a cobra está murcha, mas ainda dá tempo para ela crescer”.

 

Contando com a velha garra tricolor

Texto enviado por Zeca, o filósofo da Boa Vista

O futebol é um esporte competitivo. Mas no capitalismo selvagem globalizado contemporâneo, tornou-se uma questão de investimento, administração, fluxo de capital, parcerias e visão de futuro.

No último jogo do Santinha contra o Palmeiras, vislumbramos uma disparidade não apenas dentro de campo, mas fora: enquanto a folha do mais querido gira em torno de 950 mil, a do Palmeira gravita em torno de 11,5 milhões. Esse abismo financeiro se soma a questões como escolha correta do elenco e do técnico, diretoria afinada com a equipe técnica, entrosamento do time, apoio da torcida e motivação.

Não que o retorno de Grafite, Keno e Néris não tenham sido bem vindos. Mas essa distância no montante salarial também reflete quando a questão é montar um elenco competitivo e que possa fazer substituições em situações emergenciais.

O gol de Grafite contra o Verdão demonstrou que temos o homem certo no ataque, mas nossa defesa deixou muito a desejar – inclusive acredito que o primeiro gol foi não só falha da zaga, mas de nosso paredão. Com a derrota, ficamos na 13ª posição, a 3 pontos do Z4. E o futuro?

Com as ausências de Néris e Uilian contra o Flamengo no Arruda, não é de se estranhar que Milton Mendes peça urgência para  novas contratações. Esta corda bamba em que o elenco do Santinha vive irá se repetir por toda a Série A – muitos torcedores já escreveram aqui que não é uma competição fácil. E não é mesmo: é dificílima, na verdade.

Diante de uma realidade financeira que nos impõe limites, cabe ao torcedor confiar na administração do clube, na inteligência estratégica de nosso comandante, no compromisso dos jogadores e, acima de tudo, na velha e boa raça tricolor. Foi essa velha raça, essa antiga e histórica garra tricolor que nos colocou aqui. E creio que é uma das armas essenciais pra nos manter nesta tão sonhada Série A.

Na próxima quarta irei chamar meu amigo Samarone para irmos ao Arruda e tomarmos uma antes, durante e depois do jogo. Mais uma pedreira pela frente: a folha do Flamengo é de 2 milhões. Temos que descontar essa diferença na raça. Haja coração.

 

Santa Cruz ganha mais um título

Texto enviado por Alexandre Amorim, o nosso embaixador em Vitória da Conquista

Daniel, André, Ítalo, Kiko, Galeguinho, Amaral, Anderson, Lucas e Hernanes, Beto é o treinador. Esta é a escalação do “Mais Querido”, do “Terror do Nordeste”, do campeão de tudo o que disputou este ano.

Lucas é craque do time. O goleador, o matador, aquele que deixa qualquer zagueiro com dor na coluna. É o cara que resolve.

Na decisão, o Santa perdia de 2×0 para o Conveima, Lucas foi lá e fez os dois gol que levaram o jogo aos pênaltis e, consequentemente,  ao título do Campeonato do Boa Vista 2016.

Como se não bastasse ainda tem Kiko, zagueirão estilo Amarildo.

Este o Santa Cruz de Conquista. Time que surgiu há mais de 20 anos no humilde bairro que leva o mesmo nome nesta cidade baiana. Assim como aquele grupo de amigos o fizeram nos arredores da Igreja no bairro da Boa Vista em Recife, há mais de 100 anos atrás.

Por um bom tempo, era apenas conhecido como o time do bairro de Santa Cruz. Mas em 2009, naquele nosso pior momento, resolveram homenagear o Santa Cruz de Recife. Com lágrimas nos olhos, Yuri, um dos diretores do time, me explicou que eles se identificam muito com a humildade e a garra do Tricolor pernambucano.

Me tornei torcedor, amigo e colaborador do Santa Cruz de Conquista. Como vivo desfilando com o Manto Sagrado Coral pelas ruas da cidade, e onde passo todos sabem da paixão que tenho pelo Santinha, fui procurado ano passado por Tiago (atleta e também coordenador do grupo) para ajudar na confecção dos novos uniformes, que segue fielmente os usados pelo original pernambucano. Estampei a marca da funerária nas costas das camisas cinza, igual a do nosso paredão e também nas que foram confeccionadas para a torcida.

Aqui onde moro os campeonatos e torneios locais são muito disputados. Alguns times são bancados por microempresários e muitos dos jogadores são pagos. Com isso, o que vemos é um verdadeiro vai e vem no mercado de atletas. Quem joga hoje em um time, amanhã poderá jogar em outro. Caso que não acontece com o Santa Cruz de Conquista, pois eles fazem questão de permanecerem juntos, com todas as dificuldades e limitações, mas valorizam cada atleta (a maioria do próprio bairro) e nenhum deles é remunerado.

Como eles dizem: nós somos a “Família Santa Cruz”. Até fanpage eles tem. Basta procurar no facebook por Família Santa Cruz, que vai encontrar rapidinho.

Um fato que me emociona é que não se trata apenas de uma homenagem ao Santa Cruz de Recife, pela coincidência do nome do bairro. Eles conhecem o nosso amado Clube da cidade do frevo, acompanham os resultados dos jogos, vibraram com o renascimento Coral e fazem questão de usar a camisa do Tricolor do Arruda. No jogo que fizemos aqui contra o Conquista, alguns deles estavam lá.

Este Santa Cruz que nós, os pernambucanos, exilados ou não, aprendemos a amar, nos proporciona coisas que até Deus duvida.

Quantos SantaCruzes existem espalhados por aí? Quantos humildes garotos que nem mesmo conhecem de perto o Arruda, levam o nome do “Mais Querido” aos mais remotos corações?

Viva o Santa Cruz de Conquista! Campeão 2011 do inter-bairros. Campeão do Cidade Maravilhosa 2013. Campeão do Boa Vista 2016.

Parabéns Campeão!

Amor Tricolor

Texto enviado por Zeca*, o Filósofo da Boa Vista

O amor é uma coisa complicada. Um amigo me contou a estória de um compadre que saiu para tomar umas com os amigos numa sexta à noite. Deixou a esposa e as duas filhas em casa. Sábado seria o dia dos namorados e ele não poderia vacilar. Mas a noite foi se prolongando e ele terminou bebendo todas. Pior:  arranjou uma namorada avulsa e a levou para seu carro.

No sábado – já dia dos namorados – ele acordou com sua esposa enfurecida batendo no vidro do seu carro que estava estacionado no prédio. Para sorte dele, sua namorada tinha ido embora, mas ele estava de cueca e com uma ressaca dos infernos. “O que você está fazendo de cueca no carro?”, berrou sua esposa.

Ele se lembrou da noite insana e na hora veio a solução: “Quem é você? O que estou fazendo aqui?”. Fingir uma crise de amnésia exige a maior cara de pau de todas. E sangue frio. O cara mentiu tão bem que foram ao médico. Ele conversou em particular com o doutor que, sendo solidário com o paciente, diagnosticou uma perda temporária de memória. Sua esposa, de irada e pronta a matá-lo, se transformou na pessoa mais carinhosa do mundo.

O amor é complicado e exige exclusividade.

Não sei vocês, meus amigos, mas neste dia dos namorados que se aproxima, creio que terei que inventar alguma saída diante do fato inegável: o amor ao Santa Cruz. Minha esposa vai exigir jantar e uma noite romântica – mesmo sendo dia dos namorados – e meu desejo será estar no Arruda.

Vou convocar todos os santos, filósofos, sábios,  malandros e experts na arte de argumentar.  O Santa Cruz também exige exclusividade e seu amor é anterior a quase tudo. Não poder ir ao Arruda é um sacrilégio, mesmo sabendo que algum gênio da CBF colocou o jogo às 19:00 horas – esse cara deve ter a mãe na zona, só pode.

Santa e Santos. Não vi o jogo – tinha apenas 2 anos na época – mas não tem como não fazer referência aos 3×2 que o Santinha meteu no time de Pelé. Gols de Ramon e Luciano. Os tempos são outros agora. O Santinha precisa vencer para que o time e a torcida mais apaixonada do Brasil possa voltar a sorrir.

Além da preocupação de não contarmos com Milton Mendes que está em Portugal – ele vai ficar? – e com a triste e preocupante possibilidade de Grafite e Keno não jogarem (apesar da ausência de Ricardo Oliveira, Gabriel e Lucas Lima no lado do Peixe), ainda terei que resolver a pendência neste dia dos namorados.

Alguma sugestão?

 

Vem surgindo uma nova Torcida

Dia desses, Allan Robert, diretor de coreografia da troça Minha Cobra, postou no facebook algo que venho comentando com alguns amigos.

É sobre essa bobagem que a CBF inventou. Essa história dos dois times entrarem juntos, com uma música irritante servindo de fundo musical e pra completar, a execução de um pedaço do Hino Nacional. É o tal padrão FIFA que querem nos empurrar goela abaixo.

Tenho saudades dos tempos das charangas, do papel picado, da fumaça e dos bandeirões nas arquibancadas. Uma verdadeira festa, cheia de espontaneidade.

Santamante, Cobrões, Força Jovem e tantas outras, davam o tom e transformavam o Arruda numa beleza rara de se ver.

Entre as  várias organizadas havia uma que me chamava a atenção, a Santanás.

Não faço a menor ideia se aquilo era uma espécie de adoração ao capeta ou algo parecido. Também não conheci ninguém daquela torcida.

Eu olhava a bandeira deles e viajava. Imaginava músicas. Fantasias e personagens. Quando eu via a Santanás, ficava lembrando das aulas de catecismo e na obrigação de ter que rezar logo cedo na escola. “Ah, eu com uma camisa dessa torcida naquele colégio…”.

Pra minha surpresa, na semana passada tomei conhecimento sobre a possível volta da Santanás.

Fiquei feliz quando li a nota oficial que recebemos. A nota vem assinada pelo Departamento de Comunicação da futura Santanás.

Divertida e cheia de bom humor, em um dos trechos dela a turma diz assim:

“… o verdadeiro intuito do grêmio recerativo é exorcisar todo o mal que existe no sofá da sua casa, os bixos de pé que tem no centro da sala, o morfo do controle e o xiado da sua televisão”.

Em outro trecho, de forma irônica, os caras da Santanás deixam claro que são contra o  “Todos com a Nota” e mostram sua visão critica a respeito daquele programa que dava ingressos grátis para torcida.

“Decidimos exorcisar o “Todos com a Nota”, também. A quantidade de mau que este programa fez para você tem que ser tratado como uma doença religiosa”.

A turma já tem até logomarca para nova torcida. Sobre camisas, a ideia é não padronizar, mas fazer algo artístico e estimular o uso de fantasias.

Santa Cruz, o time de Deus e do Diabo. Santa Nas alturas! São frases que eles querem usar nas faixas e bandeiras.

Até paródia os caras já criaram. “Aqui no Arruda/ É a Santanás/ É Santanás/ É Santanás. Por cima/ Por baixo/ Na frente/ E atrás/ É Santanás/ É Santanás”.

Pelo que eu soube, só falta autorização para usarem o nome da antiga torcida. A dificuldade está sendo, encontrar algum dos responsáveis pela extinta Santanás.

Espero que dê certo e que venha agigantar ainda mais a força da nossa torcida.

Nesses tempos de fundamentalismo, futebol padrão FIFA e estádio vazio, nada melhor do que algo criativo e fora do normal.

Boa sorte aos idealizadores!

Meu dia de Mancuso

*Texto do nosso colaborador Zeca

Fazia tempo que não recebia tanto zoação de meus amigos burro-negros. Felicidade efêmera, é fato, mas que revelou nossas fragilidades, as lacunas que devem ser sanadas o quanto antes.

E este Clássico das Multidões – onde o tema do cabaço foi a tônica – me fez lembrar outro clássico onde o cabaço da leoa voou pelos ares. Foi aquele jogo em que o Santinha tirou o cabaço da leoa no Arruda em 1999.

Lembro-me de Almandoz e Mancuso em campo, as defesas monstruosas de Marcelo e o gol de Luis Carlos que acabou com o tabu e o cabaço da leoa.

Fui para o estádio sozinho.

Na época, tocava numa banda de Death Metal e tinha o cabelo comprido, assim como o argentino Mancuso. Estava com a camisa do Santinha e o baterista da banda me deixou nos arredores do Arruda. Desci no Arruda sem saber em que lado do estádio estava. Quando cheguei à parte externa do estádio, dei de cara com a Torcida Jovem. Eles me olharam com ódio e berraram; “Olha o filho da puta do Mancuso ali. Vamos matar esse porra!”.

Meus amigos, como sou um pacifista por natureza e avesso à violência, fiz a única coisa sensata: sai correndo feito um louco.

Aqueles insanos correram atrás de mim, gritando e bufando.

Corri tanto que, antes que me pegassem, bati na Inferno Coral que ainda não tinha entrado em campo.

“Olha Mancuso, galera’, disseram, ‘nosso herói. Bora, Mancuso”.

Que felicidade.

Me abraçaram, gritaram “É tricolor” e saíram na porrada com a torcida adversária.

Eu saí correndo e entrei no campo.

Cerveja, cachorro-quente e a alegria da vitória.

Lembro-me que quando o jogo acabou – eu estava na geral junto da bateria da torcida – alguns torcedores pularam em campo. Outros aproveitaram para roubar relógios e carteiras.

Pois é, isso é Brasil, meu amigo. Só para os fortes. Mas não tem como esquecer essa tarde louca, iluminada e com um cabaço voando pelos ares.

Infelizmente, a lembrança desta última quarta vai ser amarga. Mas um time grande se faz assim mesmo: aprendendo com os seus erros e visando sempre subir, subir sempre. Vamos nos vingar na casa dos festejos.

Por enquanto, neste sábado tem o bar Sukito e mais Rivotril e cerva diante do Atlético-PR.

Bora, Santinha! Junta mais essa vitória!

*Zeca é filosófo, professor, músico, metaleiro e Santa Cruz de corpo e alma.

… é Milton Mendes!

Ontem, quando vi Milton Mendes tirar o meia Fernando Gabriel do castigo e colocá-lo no lugar do desastrado zagueiro Alemão, me lembrei do jogo da volta contra o Rio Branco, pela Copa do Brasil. Era a primeira vez que Milton Mendes comandava o Santa Cruz no Arruda.

Naquela partida, perto dos quarenta minutos do primeiro tempo, o professor sacou Everton Senna que estava quebrando um galho na lateral direita e não jogava bem, e promoveu a estreia do garoto Ítalo. O rapaz que é atacante foi jogar na lateral direita.

Ninguém que entendeu direito a mudança. Até porque, o óbvio mandava ele botar Lelê e deslocar Léo Moura, que estava em atuando no meio, para o lugar de Senna.

Na ocasião, o estádio inteiro perguntou:

— O que danado esse treinador tá fazendo?!

Alguns até tentaram contemporizar e responderam:

— Calma, ele ainda não conhece bem o elenco.

Outros disseram:

— O cara já fez estágio com José Mourinho em Portugal!

A substituição não surtiu efeito. Pelo contrário, Ítalo ficou perdido em campo e logo no inicio do segundo tempo foi substituído. Saiu triste e cabisbaixo. Foi de um jeito que a turma das sociais tentou dar um conforto, e aplaudiu o jogador.

Milton Mendes tem dessas coisas. Tira atacante e bota lateral. Saca zagueiro para colocar meio-campista. Substitui lateral por atacante. E por aí vai!

Dizem que ele tem um monte de curso na Europa. Pode ser que no futebol daquele continente, seja comum essa história de trocar zagueiro por atacante, goleiro por volante, jogar com dois laterais esquerdos.

Outro dia, contra o Fluminense lá no Rio, terminamos o jogo com cinco atacantes em campo.

Quando a bola entra ou quando o resultado é bom, esse jeito heterodoxo de fazer futebol enche os olhos dos modernos e deixa os tradicionalistas confusos.

Eu acho bem legal essa história de “quebrar paradigmas”, de novas invenções, do moderno, da vanguarda. Admiro os que fogem da mesmice.

Mas ontem, quando nosso treinador tirou Alemão, botou Fernando Gabriel e recuou Uillian Correia para zaga, fiquei pensando na possibilidade de Milton Mendes, no intuito de ganhar um jogo, inventar de tirar um jogador de linha, botar o goleiro reserva e mandar Thiago Cardoso ir jogar no ataque ao lado de Grafite.

Será que a regra permite isto?