Agora é camisa

Na minha frente, um desses portais de noticias me diz que, em três meses, o preço do quilo do salmão passou de 26 reais para 39 reais.

Para mim, isso não tem a menor importância.

Hoje, o que importa é o jogo do Santa Cruz contra o Iracema Ceará Clube.

Pelo visto, o tempo vai melhorar. Mas isto também não importa. Torcedor que é torcedor não tem medo de chuva, muito menos de tempo ruim.

A hora é de deixar o mimimi de lado, guardar as cornetas e partir para o Arruda. Não importa se o zagueiro é lento, se o lateral não saber correr ou se o atacante é cego.

O jogo é mata-mata e não tem espaço pra resenha esportiva, nem para racionalidade.

É grito, é apoio, é jogar junto.

Do apito inicial ao término da partida só cabe uma ação: torcer!

Lembro de um torneio que disputei.  Toda sexta, a gente jogava uma pelada num society onde hoje vão construir um prédio. Quando chegava o final do ano, a turma organizava um torneio de confraternização.

Nos dividimos em quatro times e a tabela era bem simples: quatro times, dois jogos e cada vencedor fazia a final.

Vencemos a primeira partida numa cagada daquelas. Perdíamos de 2 a 1 e no último minuto, depois de um bate rebate, empatamos. Fomos para os pênaltis e ganhamos.

O nosso esquadrão era o mais franco. No gol, Seu Paulo. Baixinho e barrigudo, Seu Paulo dizia que já tinha treinado no Sete de Setembro. A verdade é que Seu Paulo levava cada gol safado arretado. Não lembro bem quem era a zaga. Sei que no time tinha eu, Rosinaldo, Dudu, Carlito, Morcego e Cara Pálida. Junior Fake também era um dos nossos.

Pegamos na final o time de Mirandinha.

Com cinco minutos do primeiro tempo, lateral para eles. A bola é lançada na nossa área e Seu Paulo inventa em sair do gol, mas perde o tempo da bola. Gol de Mirandinha. Aos trancos e barrancos, no esquema “do pescoço pra baixo é canela”, seguramos o placar. No intervalo, entre uma água e outra, a palavra mais pronunciada por mim e Rosinaldo era: pau, raça, sangue, vontade.

Rosinaldo foi curto e objetivo: “quem tiver cansado pede pra cagar e sai!”

Eu chamei Carlito do lado e orientei: ‘aquele boyzinho, o magrinho que tá no meio, pau nele que ele amarela. Eu sei que tu sabe bater!”

Na primeira oportunidade, uma bola dividida perto da nossa área, Carlito tirou o boyzinho da partida. Nosso jogador levou apenas um amarelo e ouviu o juiz pedir calma.

O jogo seguia truncado, quando numa falha monstruosa, o zagueiro deles atrasou uma bola errada e Rosinaldo, botando pra fora o resto de oxigênio que ainda tinha no pulmão, conseguiu chegar antes do goleiro. Empatamos. Faltavam uns 10 minutos para acabar. Eu cansei e pedi para sair. Rosinaldo, também. Fomos para o lado de fora e nossa função foi injetar combustível na turma. “Vai caralho, é raça, porra!”, gritávamos procurando tirar suor das veias da nossa equipe.

Foi quando Junior Fake partiu pela direita, fez um-dois com Dudu e acertou um chutaço no ângulo. 2 a 1. Viramos o jogo. Estávamos com a mão na grade de cerveja.

Dali pra frente, nos transformamos em gigantes.

Rosinaldo aos gritos de “agora é camisa”, eu aos berros de “é raça” e nosso time botando fogo pelas ventas.

Seguramos o placar até o final e tomamos duas grades de cerveja sem pagar um tostão.

Milton Mendes, bota essa turma para jogar bola!

Gerrá me mandou uma matéria sobre o novo treinador do Santa, Milton Mendes.
Ele apareceu numa entrevista coletiva usando um capacete, já que sua cabeleira tinha sido cortada pelos jogadores do Atlético Paranaense, após uma vitória importante.
Gostei disso. O Santa precisa de um sujeito que dê uma sacudida. Não dava mais para ver o treinador cabisbaixo, dizendo que o time estava sem pegada. Mas eu também não queria o tal do Lisca Doido, que nunca me enganou. É um treinador bem meia boca. Por sinal, meus informantes em Fortaleza informaram que, após minhas críticas, ele foi sumariamente demitido.

Não sei nada ainda sobre o Milton Mendes, só que teve uma sólida participação no Atlético Paranaense e parece saber motivar bem o elenco. Outro informante, desta vez na Europa, me disse que ele fez todos os cursos oferecidos pela FIFa, UEFA, Barcelona etc. E o homem, pela foto, tem uma cara de brabo que nos faltava. Martelotte estava parecendo aquele diretor de escola que nem aluno novato respeita.
Se usa capacete, boné, se treina usando galochas, se é cristão, evangélico, judeu, muculmano, eu não tenho a menor idéia.
Se dá esporro em jogador até quando joga bem, se gosta de comer só feijão com farinha e torresmo, se detesta Coca Cola, não tenho a menor idéia.
Não quero muitos detalhes.
Se algum leitor deste afamado Blog tiver alguma informação complementar, pedimos que nos envie.
O importante é que este homem precisa colocar os pés no gramado do Arruda com fogo nas ventas, doido para mostrar serviço e fazer aqules escondidinhos do futebol darem as caras. Os jogadores profissionais, sub 20, 2ub 17, sub 10, sub 9, sub 5, sub-bêbê devem ficar atormentados com a chegada dele.
“É bronca, o homem chegou!”, vai gritar Raniel, já dando a terceira volta no campo, correndo como um queniano.
Já imagino a primeira preleção:
“Um passe errado, chuveiro!
Dois passes errados, uma semana em casa, para refletir sobre a vida!
Três passes errados, pode pegar o beco!”

Contra o Ceará, sinto o cheiro de levantada geral no astral do time e da torcida.
Depois, uma lapada boa na coisa, digo, no Sport, para a gente embalar e tirar essas quizilas de lado.
Esse negócio de torcedor do Santa desanimar nas dificuldades beira ao ridículo. A hora de empurrar o time é agora.
Tenho dito.

Síntese coral: “Ninguém corre, ninguém marca”

Assisti a pelada de ontem contra o Baêa num boteco da Boa Vista. Não sei o que era pior – o atendimento do bar ou o time do Santa.
Acordei hoje pensando em algo para escrever, quando vi as reportagens com o desabafo do nosso meia, João Paulo:
“Ninguém corre, ninguém marca”.
Quando um jogador vem a público dizer um negócio desse, é porque as coisas estão realmente brabas.
Mas é também o desabafo de um cara que joga bola, que está puto e que não se conforma.
Aliás, ele é um dos únicos que está dando o sangue em campo.
A indignação dele é a mesma minha, a nossa.
Deve ser também da diretoria, que só faltou pedir empréstimo ao Banco Mundial, para manter a base do time que chegou voando na fase final da Série B do ano passado.
Era tanta frescura para renovar o contrato, tanta exigência, que só faltou pedirem helicóptero para se reapresentar.
O que temos agora é um amontoado de jogadores ciscando em campo. Um time sem alma, sem garra, sem tesão de jogar bola.
Sinceramente, se classificar para a segunda fase da Copa do Nordeste na base da sorte, é demais, para um time que daqui a pouco joga a Série A.
O jogo de ontem, pra mim, foi a gota dágua.
Perder para o time misto do Bahêa, já classificado?
Eu não sei o que fazer, mas espero que a diretoria já esteja se mexendo.
O treinador Martelotte fala uma coisa alarmante:
“Estamos com essa falta de confiança quase generalizada”.
Então, meu filho, se você é o comandante da tropa e ela está com medinho das batalhas, pega teu boné e vai pra outro time.
Hoje estou meio invocado, desculpem aí.
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Minha única atitude cívica coral, além de escrever, será me encontrar com o amigo Esequias, no Pátio da Santa Cruz, sábado, para tomar umas e seguir para a tal Ilha, para ver Améria X Santa.
Com esse futebol que estamos jogando, já dá até um nervosismo.
Sem jogador correndo ou marcando, com essa tal “falta de confiança”, qualquer pelada ganha ares de clássico, de épico. Espero pelo menos que a cerva esteja liberada.

Parabéns, Portão 10! Valeu, Movimento Popular Coral!

Quando a torcida do Corinthians levantou faixas contra a Rede Globo, a CBF e a Federação Paulista de Futebol, confesso que me entusiasmei.

Mesmo sabendo que por trás daquela atitude da torcida paulista, poderia haver outras finalidades além da critica, me animei e comentei com alguns amigos, que independente das intenções corintianas, o bom era que aquela atitude ecoasse nas outras torcidas.

Ontem, para minha surpresa, a turma da Portão 10 e do Movimento Popular Coral mostraram atitude e foram à luta.

Por alguns minutos, conseguiram estender três faixas na arquibancada inferior.

“Globo vigarista”.

“E o torcedor é o bandido?”

“CBF + FPF = Crime Organizado”.

Pode ser que alguém até ache exagerado o que está escrito. Quem pensa assim, precisa saber mais sobre sentido figurado. E mais, do ponto de vista simbólico as faixa tem um valor imensurável.

Há tempos sabemos que estas entidades são as principais responsáveis por todo esse abismo que existe no futebol brasileiro, onde alguns clubes nadam no dinheiro e outros fazem verdadeiros milagres para conseguir sobreviver.

A Rede Globo insiste em reduzir nosso a futebol a poucos protagonistas. Por sua vez, CBF e as Federações não se mexem contra isso. Até parece que comunga da mesma ideia.

Não canso de parabenizar a rapaziada pela atitude de ontem. Até já avisei a alguns deles que se precisar de ajuda para confeccionar outras faixas, panfletos, etc, pode contar comigo.

Mas duas coisas me chamaram a atenção com relação a essa história. A primeira foi a pouca repercussão que a mídia deu. Dei uma navegada nos principais portais locais e não vi nada. Não sei se os programas esportivos da rádio deram alguma ênfase. Acredito que não.

Outro fato interessante foi ver alguns torcedores perto de onde eu estava, acharem que o protesto tinha a ver com esse momento que o país está passando. Santa ignorância.

Mas enfim, o bom mesmo foi ouvir a torcida ecoar pelo estádio: “oh Rede Globo, vá se fuder, o Santa Cruz não precisa de você!”.

Foi lindo!

Parabéns Portão 10. Parabéns Movimento Popular Coral. Ontem, nós que fazemos o Blog do Santinha nos sentimos representados por vocês.

Sobre o jogo, faço minhas as palavras do meu pai. “O Santa Cruz melhorou um pouco, mas ainda precisa melhorar muito”.

ps: a foto é do nosso amigo Rodrigo Baltar.

O que fazer?

Por um momento, no inicio desta noite de domingo, achei que Alírio tinha me nomeado para o cargo de ouvidor do Santa Cruz.

Foi o juiz acabar a partida e começou a chover mensagens no meu zap-zap. De tudo um pouco: diretoria incompetente. Treinador limitado. Jogador fraco. Essas coisas.

Depois, assim que cheguei em casa, o meu celular toca. Era Jathyles. Cabra de primeira qualidade. Quando ele não está pelo mundo iluminando algum palco, Jathyles está sempre nos jogos do Santa.

Desabafou, fez comentários, botou pra fora a angústia, falou que teria feito o mesmo que a diretoria fez, ou seja, teria renovado com a maioria e com o treinador. Fez umas sugestões e ao final me perguntou o que eu acho que deveríamos(assim mesmo, na terceira pessoa do plural) fazer.

Logo em seguida, Samarone telefona para o convencional. Diretamente de Fortaleza, o poeta me pergunta o que aconteceu. Faço um rápido relato da partida. Ele faz uns comentários e repete a pergunta que o outro amigo havia feito. “Tu acha que a gente devia fazer o que?”

Meus nobres, só sei que começamos o ano com a diretoria fazendo o que qualquer cidadão tricolor santacruzense das bandas do Arruda, com raríssimas exceções, teria feito. Renovar com a maioria do time que terminou o ano passado como vice-campeão brasileiro da série B e manter o técnico.

Alguns podem até discordar e argumentar que o certo era logo trazer jogadores para Série A. Mas sem ainda ter a certeza de quanto teria para gastar em 2016 e com alguns débitos de 2015, seria uma tremenda irresponsabilidade terem metido os pés pelas mãos e saírem contratando sem saber se poderiam pagar.

Por falar em pagar, estamos pagando em dia. Ou seja, tudo o que qualquer cronista esportivo ou qualquer torcedor de futebol defende foi feito. Base e treinador mantidos e os salários em dia.

O fato é que o time mais parece um “pega na rua”. Parece um time de pelada que nunca jogou junto. E nem falo somente do jogo de hoje. Pois, fomos um time de pelada contra o Juazeirense, contra o Central, contra a Barbie, etc. Só para ressaltar, no estadual estamos brigando pela quarta vaga no quadrangular final e na Copa do Nordeste, estamos lutando para ser um dos 03 melhores segundo lugar, para só assim, podermos passar para próxima fase.

Quem imaginaria que nosso inicio de temporada seria assim?

Pois bem, deixei Samarone e Jathyles sem resposta. Confesso que não sei o que deve ser feito.

Amanhã, quando eu encontrar algum amigo que torce pelo Santa Cruz, vou repassar a pergunta e ver se dão uma luz. Só espero que não me venham repetir a mesma ladainha de sempre: que contrataram errado, que não deviam ter renovado com fulano, que não deveriam ter feito isso ou aquilo.

Não me interessa. Minha pergunta é: o que devemos fazer?

Ódio interestadual e outras anotações sem rumo

Estava assistindo dois jogos ao mesmo tempo, na quarta-feira passada: o do Ceará, contra outro time que não lembro o nome, e o do Fortaleza, contra a coisa, digo, o Sport. O bar estava dividido. Daqui a pouco, gol do Ceará, comemorações. Daqui a pouco, gol do Fortaleza, comemoração da galera e minha também. Lá pelas tantas, mais gol, do Fortaleza, e o bar ficou uma animação só.
Até que a TV começou a mostrar aquelas imagens lamentáveis, de torcedores na base dos murros, chutes, uma brutalidade total. Mas não era a torcida do Fortaleza brigando com a torcida do rubronegro do Recife. Era a própria torcida do Fortaleza dando pau nela mesmo.
Ou seja: o sujeito sai de casa com a camisa do seu time e leva cacetadas da própria torcida.
Foram oito minutos de UFC.
Vi hoje nos jornais. O estopim teria sido porque uma facção da organizada do Fortaleza é alida da torcida do rubronegro, e a outra é ligada à torcida do Santa.
É o ódio interestadual. O sujeito quer matar o outro porque simpatiza por um outro clube, a 800 quilômetros de sua cidade.
Quando a PM chegou, já tinha meio mundo de gente batendo três vezes no chão, para encerrar o combate, mas levou foi mais cacetada.
Estou há uma semana aqui em Fortaleza, trouxe meus mantos corais, desfilei com a camisa das três cores corais, e até agora não me acertaram nenhuma paulada.
Ou seja: sou um homem de sorte.
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Domingo tem de novo Ceará X Fortaleza, jogo que fui muitas vezes, com meu pai e meu irmão, Antônio José (morei em Fortaleza de 1977 a 1987).
Eu estava pensando em ir, mas a maior parte dos meus amigos me sugeriu desistir.
“É mais fácil tu apanhar do que ver jogo”.
“Tu é doido, macho? Tu vai voltar pra Recife é num caixão”.
Depois de alguns delicados conselhos, desisti.
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Para ter idéia do tamanho da bronca, só de PMs no clássico de domingo, serão 660.
Muito em breve, o número de policiais em estádios vai ser quase igual ao número de torcedores. Ou algo do tipo: 20 mil torcedores e 10 mil policiais no entorno.
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Chamou a atenção a disparidade financeira entre o vencedor (Fortaleza) e o vencido (Sport). O salário do treinador do vencido, Falcão, é R$ 500 mil. Dá para pagar TODA a folha do Fortaleza e ainda sobra R$ 100 mil para contratar mais gente.
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Esses “gênios” que inventaram de transformar estádios antigos em “Arenas” só fizeram gastar fortunas e desconhecer certas realidades locais.
No último jogo Ceará X Fortaleza, na final do Estadual de 2015, foram quebradas 1.580 cadeiras, dando um prejuízo de r$ 500 mil, perda de mando para os dois clubes (e apenas três pessoas indiciadas criminalmente).
O Fortaleza já teve prejuízos de R$ 1 milhão, por conta das confusões envolvendo sua torcida. E está na Série C. Eita calvário…
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Mas, como aqui é o Blog do Santinha, precisamos falar do nosso amado clube.
Gerrá me ligou:
“Tás sabendo que Naná morreu?”
Putz, como é que o sujeito me dá uma notícia dessas assim, sem nem fazer uma introdução?
Botei pra chorar, lembrando do velho amigo e irmão Naná. Sabia que ele estava com a chikungunya, andava meio baqueado, mas… morrer assim, justo agora que tinha conseguido botar a Kombi nova para rodar?
“Porra Gerrá, perdi um irmão”, comentei, já soluçando, pensando em antecipar logo a volta, para beber o morto.
“Ôx, e tu era amigo de Naná Vasconcelos?”
Foi uma linha cruzada.
Quem morreu, na verdade, foi grande percusionista pernambucano, que levou a nossa música para várias partes do mundo, grande torcedor do Mais Querido..
Vai aqui minha singela homenagem a Naná VASCONCELOS.
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E dia 20 tem jogo contra a barbie, digo, contra o Náutico.
Estou invocado com as derrotas para esse time bicolor. É urgente uma goleada, para acabar com essa frescurite!
Tá na hora, por sinal, de a torcida coral criar vergonha e pegar de novo o endereço do Arruda.
Ficar só reclamando, pedindo contratação, vaiando, não leva a gente pra canto nenhum. Temos é que voltar a encher o nosso estádio!
A única galera que continua firme e forte, mesmo que chova ácido sulfúrico no Arruda, é a turma invocada do Portão 10.
Até breve.

O perigo de ver jogos na TV…

Diretamente de Fortaleza, no Ceará.

Amigos corais, a sorte é que não tenho TV a cabo em casa. Graças a isso, escapo de muitos sofrimentos.
Mas aqui estou, na casa da minha tia Beta, em Fortaleza. Para minha profunda angústia futebolística, a TV a cabo transmite e retransmite inúmeros jogos do futebol brasileiro..
Isso tem me dado enormes insônias.
Ontem mesmo, com o ventilador no três ao lado, vi o tape completo jogo Grêmio x Inter, pela Liga Sul-Minas, creio, num Olímpico lotado.
Primeiro, a inveja do estádio lotado, a torcida cantando a plenos pulmões. Nossa massa coral está com Chikungunya.
Depois, o jogo.
Que partidaça, meu Deus! Quanta rapidez no toque de bola. Quantos lançamentos. Quantas jogadas a mil por hora, dribles, cruzamentos na área, chutes sensacionais, defesas incríveis.
Com 20 minutos de jogo, estava difícil escolher o melhor lance.
Cada menino novo com personalidade, tocando a bola, marcando.
Lateral era disputado a tapa. Não fosse o juiz, teríamos fraturas expostas, jogadores sangrando a cada três minutos.
E lá pelas tantas, a pergunta fatal: Inter e Grêmio estão na Série A?
Glub. Sim.
Desde nosso lamentável jogo contra a Coisa, digo, contra o Sport, na Ilha, fiquei com a pulga dentro da orelha. Sei que o Campeonato Brasileiro ainda não começou, mas ainda não temos um time competitivo. O que temos agora nem cheira aquele time compacto e intenso da reta final da Série B do ano passado.
A cada jogo que assisto, de times da Série A, só me ocorre algo – precisamos trabalhar 48 horas por dia, contratar, contratar e contratar.
Por precaução, quando começar a passar esses jogos, vou mudar o canal para ver filmes.
Pode ser até de guerra, mas o sofrimento é menor.

Um Extraterrestre no Arruda

A nave pousou bem pertinho da sede dos Irresponsáveis. Ninguém percebeu, pois ela tem um recurso que a torna invisível para nós humanos.

O ET saiu caminhando tranquilamente. Uma vez que poucos conseguem vê-lo, devido a um mecanismo que ele usa para deixá-lo transparente, ET não foi importunado por ninguém. Somente um coroa de bermuda jeans e vestido com nosso manto sagrado, conseguiu enxergá-lo. Passou por ele e disse: “bora, doido”.

O ser de cor verde, balançou seu cabeção e levantou um dos seus três dedos fazendo um legal para o coroa. Depois, seguiu andando em direção ao Arruda.

O jogo começou e ET ficou num cantinho observando tudo e todos.

O primeiro tempo nem havia acabado e ele fez sua primeira anotação: “Essa torcida é muito agoniada e não está apoiando o time”. Codificou a mensagem e enviou para a CPCTSC (Central de Pesquisa sobre o Comportamento dos Torcedores do Santa Cruz).

Sobre o time, por volta dos 40 minutos da primeira etapa, ET anotou, codificou e mandou a seguinte mensagem: “é um time em formação. Os atletas, que devem ser recém contratados, ainda estão se entrosando e se adaptando ao esquema tático. Alguns tropeçam na bola, perdem jogadas infantis, dão passes errados. Com certeza estão totalmente fora de ritmo e de forma”.

Quando o juiz encerrou os primeiros 45 minutos, o ET não entendeu a irritação e as vaias da torcida mais apaixonada do Brasil. Não compreendeu a impaciência vinda do cimento, das cadeiras, dos camarotes e dos assentos das sociais. Perto dele, um jovem de óculos, cabelos pixaim, babava de raiva e cuspia os mais diversos palavrões. Um garotinho vaiava incansavelmente. Uma baixinha da bundona e de voz fina esculhambava o treinador. O Extraterrestre pensou em pedir calma, mas deixou para lá. Aproveitou o intervalo e foi ao banheiro mijar um líquido azulado e com cheiro de naftalina.

Começa o segundo tempo. “A torcida está um pouco mais tranquila. A equipe veio para o segundo tempo com uma alteração. Um jogador de camisa 18, mais baixo do que eu, entrou no lugar de um magro que estava muito mal”. Ele enviou para o CPCTSC.

A etapa final é pior do que a primeira. O ET boceja e fica admirado com o horrível futebol que o Santa Cruz joga. Quando o juiz encerra o jogo, a irritação, a raiva, a frustração, a ira tomam conta até do mais otimista dos torcedores tricolores corais das bandas do Arruda.

ET observa tudo e envia: “torcida exigente. Sem paciência. Vaiando todo o time. Torcida negando apoio”.

Foi quando o coroa que estava vestido com o manto sagrado e bermuda jeans avista o ET.

“Ei doido, tás por aí? Visse que time ruim do caralho?”

ET balançou a cabeça.

“Como é que um time que jogou junto o ano passado, subiu pra Série A, encarou Bahia e Botafogo lá dentro, foi vice-campeão, não consegue trocar um passe dentro de campo. Time nojento. Vai tomar no cu…” – coroa falou quase tendo um enfarto.

O ET imediatamente mandou uma mensagem para a sua central de pesquisas: “Favor deletar tudo. A torcida tem razão”.

Só a doidice, para espantar a morgação desse início de temporada…

Amigos corais, confesso que ainda não estou entendendo muito bem este começo de ano. Está, no mínimo, esquisito.
Esse clima de chikungunya parece que ataca não só quem foi picado pelo mosquito, mas fica uma morgação no ar.

Vamos repassar um filminho.
2015
O Santa começou 2015 aquele farrapo humano. Devendo umas folhas, sem Copa do Brasil, sem Copa do Nordeste, iria lutar para ver se o ano daria pelo menos a graça de umas vitórias importantes. O mais otimista já tinha feito 12 promessas, uma para cada santo. E de novo, nós na B.
O fato é que engatamos uma primeira e conseguimos o Estadual (com Ricardinho e tudo).
Depois, a série B foi se arrastando, até que o time pegou na veia, começou a ganhar e chegamos à última rodada já na classificado para a série A.
Dá para acreditar nisso?
Só tinha craque
O Santa virou o ano renovando com todo mundo que se destacou. Do segurança ao lavador de carro, todo mundo foi sondado, bem tratado, cafeziho, tira-gosto etc. Tininho, nosso bravo diretor de Futebol, cortou até mais o cabelo para deixar as orelhas livres. Eram 754 ligações por dia. Todo mundo que subiu com o Santa virou craque. Salário de R$ 50 mil parecia coisa de indigente. R$ 30 mil era tratado como esmola. Os empresários tratavam o Arruda como uma nova Meca, uma Serra Pelada cheia de diamantes. Martelotte parecia ter trabalhado a vida inteira com Telê Santana, de tanto enrosco que foi a renovação.
Mas o fato é que houve um trabalho imenso nos bastidores e o Santa garantiu a renovação de João Paulo, o craque do ano passado, e o time da B quase todo. Eu mesmo achei esta operação um milagres. Só se desgarrou mesmo Luizinho, e perdemos aquela jogada mortal pela linha de fundo, cruzada.
Sem liga
E então, o que está acontecendo?
Por enquanto, nada de muito interessante.
Tirando o primeiro tempo fantástico contra o Bahia, o restante dos jogos está com aquele gosto de cerveja morna (ou de sopa fria).
O time ainda não deu liga. A barbie já fez sua graça, os rubronegros também.
O treinador está visivelmente fora de forma técnica (a escalação de Renatonho contra o time da Ilha foi um exemplo).
Até a torcida está meio enfadada.
São essas coisas inexplicáveis do futebol. Se o Santa estivesse na pindaíba, à beira do abismo, o Arruda estaria entupido até a borda.
Mas estamos na Série A, na Copa do Nordeste, do Brasil, e no Estadual.
Está tudo tão maluco, que o atacante coral que comemora fazendo continência, postou no Twitter que jogou no sacrifício, porque estava com diarréia (pelo menos foi o que me disse um amigo, há pouco).
Fiqui pensando nisso – como deve ficar a cabeça do sujeito, dentro do campo, e pensando o tempo todo no troninho?

A única coisa que me anima é que esse Santa Cruz é um time e uma torcida de doidos.
Daqui a pouco, num desses jogos importantes, o time se invoca, joga bonito, encanta a torcida, pega o embalo e desarna.
Aí a torcida também fica muito doida, começa a brincar de encher o estádio, de empurrar o time, e fica todo mundo preocupado:
“Lá vêm esses malucos do Santa Cruz de novo”.

E todo mundo sabe disso – doido ninguém segura. E na torcida do Santa tem de tuia.