Na minha frente, um desses portais de noticias me diz que, em três meses, o preço do quilo do salmão passou de 26 reais para 39 reais.
Para mim, isso não tem a menor importância.
Hoje, o que importa é o jogo do Santa Cruz contra o Iracema Ceará Clube.
Pelo visto, o tempo vai melhorar. Mas isto também não importa. Torcedor que é torcedor não tem medo de chuva, muito menos de tempo ruim.
A hora é de deixar o mimimi de lado, guardar as cornetas e partir para o Arruda. Não importa se o zagueiro é lento, se o lateral não saber correr ou se o atacante é cego.
O jogo é mata-mata e não tem espaço pra resenha esportiva, nem para racionalidade.
É grito, é apoio, é jogar junto.
Do apito inicial ao término da partida só cabe uma ação: torcer!
Lembro de um torneio que disputei. Toda sexta, a gente jogava uma pelada num society onde hoje vão construir um prédio. Quando chegava o final do ano, a turma organizava um torneio de confraternização.
Nos dividimos em quatro times e a tabela era bem simples: quatro times, dois jogos e cada vencedor fazia a final.
Vencemos a primeira partida numa cagada daquelas. Perdíamos de 2 a 1 e no último minuto, depois de um bate rebate, empatamos. Fomos para os pênaltis e ganhamos.
O nosso esquadrão era o mais franco. No gol, Seu Paulo. Baixinho e barrigudo, Seu Paulo dizia que já tinha treinado no Sete de Setembro. A verdade é que Seu Paulo levava cada gol safado arretado. Não lembro bem quem era a zaga. Sei que no time tinha eu, Rosinaldo, Dudu, Carlito, Morcego e Cara Pálida. Junior Fake também era um dos nossos.
Pegamos na final o time de Mirandinha.
Com cinco minutos do primeiro tempo, lateral para eles. A bola é lançada na nossa área e Seu Paulo inventa em sair do gol, mas perde o tempo da bola. Gol de Mirandinha. Aos trancos e barrancos, no esquema “do pescoço pra baixo é canela”, seguramos o placar. No intervalo, entre uma água e outra, a palavra mais pronunciada por mim e Rosinaldo era: pau, raça, sangue, vontade.
Rosinaldo foi curto e objetivo: “quem tiver cansado pede pra cagar e sai!”
Eu chamei Carlito do lado e orientei: ‘aquele boyzinho, o magrinho que tá no meio, pau nele que ele amarela. Eu sei que tu sabe bater!”
Na primeira oportunidade, uma bola dividida perto da nossa área, Carlito tirou o boyzinho da partida. Nosso jogador levou apenas um amarelo e ouviu o juiz pedir calma.
O jogo seguia truncado, quando numa falha monstruosa, o zagueiro deles atrasou uma bola errada e Rosinaldo, botando pra fora o resto de oxigênio que ainda tinha no pulmão, conseguiu chegar antes do goleiro. Empatamos. Faltavam uns 10 minutos para acabar. Eu cansei e pedi para sair. Rosinaldo, também. Fomos para o lado de fora e nossa função foi injetar combustível na turma. “Vai caralho, é raça, porra!”, gritávamos procurando tirar suor das veias da nossa equipe.
Foi quando Junior Fake partiu pela direita, fez um-dois com Dudu e acertou um chutaço no ângulo. 2 a 1. Viramos o jogo. Estávamos com a mão na grade de cerveja.
Dali pra frente, nos transformamos em gigantes.
Rosinaldo aos gritos de “agora é camisa”, eu aos berros de “é raça” e nosso time botando fogo pelas ventas.
Seguramos o placar até o final e tomamos duas grades de cerveja sem pagar um tostão.