Adiar o jogo vai ser bom para a torcida, para o time e para Inácio França.

Amigos corais, são 14h em ponto e teremos um jogo do Santa às 19h30.

Por conta da greve dos motoristas de ônibus e dos rodoviários, fazer qualquer coisa na cidade do Recife está inviável. Outras categorias paralisaram suas atividades para protestar contra o projeto de Terceirização, que está sendo encaminhado pelo Congresso. Até os camelôs, que são a última ponta da terceirização, já foram pra casa.

Pois bem: soube que até o senhor Inácio França parou tudo, em adesão ao movimento, e está deitado na sua rede, lendo o segundo volume dos “Irmãos Karamazov”.

Gerrá já me ligou. Daqui a pouco sai do trabalho para uma fisioterapia no braço. Não entendo isso. O sujeito joga pelada toda quarta-feira e o problema é no braço. Freud explica.

Então, me parece que o mais lógico, o mais decente, o mais sensato, é adiar o jogo de hoje à noite (que não vai dar ninguém) e remarcá-lo para amanhã (um dia muito mais propício à prática futebolística e torcidística, por sinal).

Como a CBF foi pega com a mão na massa pelo FBI, e o atual presidente saiu correndo da Suiça (com medo de também ser algemado), talvez eles não tenham tempo (nem paciência) de decidir isso. Contemos, então, com a força jurídica do presidente Alírio.

Se adiar, Inácio vai chegar ao final do segundo volume da obra de Dostoiévsky antes da novela das 21h.

Pelos meus cálculos, vai ficar faltando apenas um livro para ele bater no peito e dizer que já leu “toda a obra de Dostoiévsky”.

Com um argumento desse, não tem quem discuta com Inácio. Já começou perdendo por séculos de história da Rússia.

É bem possável que ele fique chato pacas. Mas de que adianta, se ele não sabe nem o que é um “Lá e lô” no dominó?

Aguardemos as decisões superiores, que geralmente não levam em questão duas palavras que, quando andam juntas, ajudam bastante nossas vidas: bom + senso.

Ps. Acabamos de saber, pelo nosso incansável Arnildo Ananias, que vei mesmo ser realizado o jogo. Ele acrescenta algo importante:

“Vai haver jogo. Vai existir esquema especial de onibus. Haverá promoção de de taxis através do 99taxis a partir das 17h código: torcida99pe”.

Faltou dizer o que é esta promoção. O cara pega o táxi e ganha o ingresso de brinde? É isso?

 

A “outra” era do Santa Cruz

Seu Ismael era um mecânico de primeira. Durante muito tempo foi nosso vizinho e tinha uma oficina em Afogados. Limpeza de carburador era o seu forte, mas também cuidava de elétrica e mecânica.

Se orgulhava do ofício e de ser sócio do Santa Cruz desde antigamente. Na capanga ele carregava sua carteirinha do clube querido.

Eu lembro perfeitamente de Seu Ismael.

Tinha um rosto meio quadrado. Era branco, não usava barba, nem bigode e nem óculos. Era pai de dois filhos. Um que tinha um defeito no pé e uma menina que era meio retardada.  A turma dizia que a esposa de Seu Ismael era prima dele, daí os filhos tinham nascido com problemas.

O coroa era desses que fala manso. A gente só ouvia sua voz alterar o volume quando o Santa ganhava. No estádio ele se transformava. Gritava, esculhambava o treinador, chamava diretor de ladrão, jogador de cachaceiro e juiz de filho da puta.

Comecei a ir pro Arruda com meu pai, nos jogos do domingo.  Era comum, logo depois do almoço, a gente pegar carona na Variant branca de Seu Ismael.

Fui crescendo e, além dos jogos aos domingos, passei a ir a jogos no meio da semana. A gente ía de casa e encontrava com Seu Ismael que sempre estava acompanhado de uma morena do bundão. Cabelo curto, meio feiosa de rosto, mas proprietária de um par de peitos e uma bunda que me cabiam dentro.

O traje da morena era sempre o mesmo. Camisa do Santa Cruz e calça jeans apertada que realçava ainda mais sua poupança.

Eu achava aquilo tudo muito esquisito e ficava pensando:

Por que Seu Ismael não traz a esposa dele?

Como é que essa mulher gosta tanto de futebol e de cerveja?

Ela também chamava uns palavrões. Não tanto quanto Seu Ismael. Lembro dela acompanhando o coro da torcida, “freeeesco, freeeeesco”.

Passei um tempo sem saber direito quem era aquela mulher. Certo dia, fomos buscar o fusca do meu pai na oficina e descobri que ela trabalhava lá. Era uma espécie de secretária. A sala dela era a mesma de Seu Ismael.

Durante muito tempo, fiquei meio sem entender tudo aquilo. Seu Ismael não levava a esposa para o Arruda. Por sua vez, levava a secretária, mas só nos jogos do meio da semana. Bebiam juntos, ele pagava tudo, ficavam coladinhos no cimento das sociais, se abraçavam quando o Santa Cruz fazia gol.

Uma vez ele deu uns gritos xingando o bandeirinha e a vi limpando o cuspe que ficou no canto da boca dele. Foi nesse dia que avistei os dois saindo do Arruda de mãos dadas e comentei:

— Pai, ele tá pegando na mão dela.

— É porque tem muita gente, menino. É pra ela não se perder.

Aquilo soou como uma boa desculpa. E era.

Depois de algum tempo, as peças do quebra-cabeça se juntaram. A vila toda já sabia que Seu Ismael tinha outra mulher. E que ela era do Santa Cruz.

Santa Cruz, versão Seleção Brasileira

Só encontrei esta foto mesmo...
Só encontrei esta foto mesmo…

Amigos corais, antes do jogo tomei umas na casa do amigo Zeca. Feijoada, umas lapadinhas, cerveja gelada, enfim.

Iria assistir ao jogo com os amigos num bar da Avenida Norte, mas acabei me instalando num boteco defronte ao Parque 13 de Maio.

Sentei, pedi uma cerva e fui ao banheiro. Quando voltei, o Santa tinha levado já o primeiro gol.

Pedi o protetorzinho da cerveja. O garçom chegou: 2 x 0.

Tomei uns goles, olhei a paisagem, tinha uns corais vendo o jogo.

Vou pedir uma lapadinha para esquentar o juízo, pensei.

Goooolllll do América: 3 x0.

Que porra é essa,? – foi o que pensei.

Um coral que bebia no balcão, com o radinho de pinha ao ouvido, não resistiu:

“Isso é o Santa Cruz ou é a Seleção Brasileira contra Alemanha?’

Ainda veio o quarto gol. Fizemos um.

Nunca tive tanto medo de um segudo tempo.

Quem deve estar feliz é Givanildo. Seria demitido ontem, se perdesse o jogo.

Não entendi nada. Se alguém puder me explicar, fique à vontade.

Quem pariu a Arena que balance

Vou dando minha espiada na internet e me deparo com a seguinte notícia:

Em entrevista à Rádio CBN, o vice-governador de Pernambuco, Raul Henry, voltou a comentar sobre o processo de viabilização econômica da Arena Pernambuco. A ideia citada pelo político é que haja uma revisão no contrato entre Arena, Náutico – clube parceiro do Consórcio – e Governo, explorando a possibilidade dos rivais Santa Cruz e Sport utilizarem mais o palco pernambucano que recebeu cinco jogos da Copa do Mundo do ano passado.

“A nossa obrigação é buscar a viabilização da Arena. Eu não posso fazer isso apenas ouvindo a opinião de um conjunto de pessoas. Estamos conversando com os clubes e com a federação (FPF) para que eles (Santa e Sport) façam mais jogos lá. Mas para isso a gente precisa criar facilidades e desobstruir os acessos à Arena. Proporcionar condições para que o torcedor chegue e saia com segurança”, disse o vice-governador.

O deputado estadual Romário Dias (PTB) foi mais incisivo. “O Sport e o Santa Cruz têm que abrir mão de jogos no José do Rego Maciel e na Ilha do Retiro para jogar na Arena e ajudar na viabilização do estádio”, cravou.

No começo da temporada, a Arena Pernambuco fechou uma parceria com o Santa e o Sport. O Tricolor mandaria seis jogos no estádio. Um deles já aconteceu, no clássico contra o Náutico, pelo Pernambucano. Os outros cinco serão pela Série B, ainda sem data ou adversários definidos. Já o Leão faria dez partidas na Arena. Duas delas já aconteceram: contra o Nacional/URU, em um amistoso internacional, e contra o Náutico, pelo Estadual.

Pra quem quiser checar é só entrar no Blog de Primeira da Folha de PE.  http://www.folhape.com.br/blogdeprimeira/?p=125854

O vice-governador fala em criar facilidades e desobstruir os acessos à Arena. Não meu caro, a questão não é apenas esta. No Arruda, além de acesso mais fácil, tem o carinho que temos pela nossa casa. Tem os caminhos floridos de bandeiras, buzinas, espetinhos, cervejas e calor humano. E mais, lá no Arrudão, a gente coloca 50 mil fácil. Basta ter uma decisão de seja lá o que for.

O deputado, o senhor Romário Dias, vem com essa que temos que ajudar na viabilização do estádio.

Ora, quem pariu Mateus que balance.

Eu queria saber o que é que o Santa Cruz tem a ver com essa história da Arena de Eduardo estar dando prejuízo. Antes de nós, tem os responsáveis por este acordo com a Odebrecht, tem os parlamentares que ficaram calados e outras tantas instituições que não fizeram nada.

O fato é que o tempo passa, e toda vez que o poder público faz suas lambanças, a conta no vermelho e o prejuízo são sempre enviados para quem não tem nada a ver com a história.

Pelo visto, meus amigos, o Governo do Estado vai jogar pesado.

Só espero que nosso atual presidente, o Alírio Moraes, não tome decisões sem consultar a massa e sem deixar claro o que está fazendo.  E que, se por acaso for negociar algo, não pense exclusivamente em dinheiro. É bom Alírio lembrar que o estádio José do Rego Maciel, o Arruda, é nosso templo sagrado, nosso terreiro, é a nossa casa.

Minha nova obsessão: o camisa 10

Foto: Antônio Melcop
O craque-guerreiro sangrando

Amigos corais, ser cronista do Santa Cruz implica em algumas obrigações, que faço com rara felicidade.

Ir a todos os jogos em casa (não tenho um superprograma de milhagens para viajar Brasil afora) e ver tudo o que acontece dentro e fora das quatro linhas;

Ter reuniões semanais de pauta com os demais cronistas Inácio França e Gerrá Lima;

Levar alguns esporros monumentais de Inácio, porque posto crônica sem foto;

Acompanhar as notícias sobre o Santa;

Ver as novidades da TV Coral, que agora é de uma velocidade incrível;

Desenvolver e tratar alguma obsessão semanal envolvendo nosso clube.

Pois bem. Minha obsessão atual é nosso craque da camisa 10.

Minha é forma de dizer. É a obsessão da massa coral, o craque João Paulo.

**

Ouso dizer que nosso título começou a nascer na Ilha do Retiro, quando ele fez o gol de cabeça nos acréscimos, botando a cabeça sem medo e rasgando o rosto com uma botinada do zagueiro adversário. Saiu batendo no peito e sangrando. Quando vi a imagem, pensei:

“Começamos a pensar no título”.

Ele não sentia dor nem nada. Só pensava no empate, que calou a torcida adversária. Depois vi as imagens da TV Coral, no vestiário. Os jogadores eram uma alegria só.

Assisti a partida contra o Paraná acompanhado de uma sucessão de gemidos, lamentos. A cada matada de bola do nosso 10, a cada passe rasteiro, no pé de algum atacante coral, aquele tipo de bola que só falta o sujeito dizer “toma, faz o teu”, eu escutava um sofrido comentário.

“Meu Deus, vão levar ele!”

João Paulo dava um drible, alguém sussurrava ao meu lado:

“Sei que o miséria do Sport está já está de olho!”

Um passe, uma dividida, e um senhor com ar grave, dois lances de arquibancada acima do escudo soltava:

“Tem que proibir passar jogos do Santa na TV. Se ele aparecer jogando, vão levar na hora”.

A cada gol do Santa, a comemoração durava trinta segundos. Logo se instalava uma mesa redonda do pessimismo.

As especulações são as mais malucas. De que o contrato dele está prestes a acabar. Que podem leva-lo por qualquer trocado. Que o Santa precisa fazer um contrato mais longo, fora as perguntas biográficas as mais diversas. De onde ele veio. Como Tininho foi encontrar o rapaz, que estava meio abandonado no Goiás. Quanto custa para levá-lo.

Macumbas as mais diversas estão sendo feitas para o Sport tirar o olho grande, até porque dificilmente eles acertam, quando vêm com ingresias para o nosso lado. Vejam o caso de Anderson Pedra. Levaram e deu errado. Há vários outros casos históricos.

Por trás disso tudo, de especulações e sofrimentos antecipados, devemos reconhecer o trabalho nos bastidores dessa selva futebolística para garimpar –  no meio de milhares de jogadores, procuradores, blefadores, pilantras – um craque da camisa 10.

Temos um craque no Arruda, e o nome dele é João Paulo.

Anotem no caderninho de vocês o que digo, neste 18 de maio de 2015, já segunda-feira. Se nosso craque ficar e o moleque Raniel jogar na fase final da Série B, a gente começa 2016 na série A.

Deus queira que eu tenha conseguido colocar a foto. Caso contrário, Inácio vai descer a lenha, na hora do almoço.

 

 

Raniel e o jogo de hoje

Vi ontem que Raniel pegou quatro meses de punição. O garoto só vai voltar a jogar bola no começo de setembro.

Confesso que eu esperava que ele fosse absorvido. Mas levando em consideração que esses tribunais desportivos normalmente decidem pelo que está literalmente escrito na lei, penso que a punição ficou de bom tamanho.

Nesse tempo sem poder jogar, era bom que o Santa Cruz aproveitasse e cuidasse do rapaz. Se for preciso, até levá-lo junto com o elenco em alguns jogos.

Raniel tem tudo para se tornar um grande jogador.

Para isso precisa ser lapidado com cuidado e com carinho. Todo esse tempo que  ele vai ter que ficar sem jogar oficialmente, pode ser aproveitado de forma positiva.

Treinamentos específicos de colocação. Chutes a gol. Cruzamentos. Torná-lo um exímio batedor de faltas. Aumento de massa muscular. Enfim, o certo é não deixar o rapaz ocioso e sem perspectiva.

Nessa hora, o clube precisa dar a mão a Raniel. É mostrar para o jovem atleta as vantagens que ele pode tirar destes cento e vinte dias afastados das quatro linhas.

Quatro meses em futebol, não é nada. Passa rapidinho.

Estamos quase na metade de maio. Daqui a pouco chega a Copa Améria e o São João. Aí, já foi o mês de junho embora. Em seguida, vem julho. Férias, festival de inverno, essas coisas e o mês acaba. Entramos em agosto, tem o dia dos pais e rapidinho chega o feriadão do sete de setembro e Raniel volta aos gramados.

Mudando de assunto, hoje tem disputa.

Série B, meus amigos, não tem mistério, é ganhar todas em casa e fazer alguns pontos fora.

É preciso vencer para pontuar e animar torcida.

É contra o Paraná, às 19h30.

Para alguns o horário é dos piores. Para outros, a hora do jogo é bem convidativa. Sexta-feira, sete e meia da noite, dá para sair do trabalho, tomar uma antes de entrar no estádio e depois, quando o jogo acabar, dá para aproveitar o resto da noite. Dá até pra dar uma voada e sair pra traquinar.

Esse jogo de hoje, me lembra da época que eu era pirralho. Tinha um amigo do meu pai, um vizinho nosso, que só ia para o Arruda acompanhado da secretária. Eu não entendia como aquela mulher gostava tanto de jogo. Uma vez, num jogo à noite, vi os dois saindo do Arruda de mãos dadas e disse:

— Pai, ele tá pegando na mão dela.

— É porque tem muita gente, menino. É pra ela não se perder.

Outro dia conto essa história.

Hoje, todos ao Arruda!

 

 

Sou mais meu Santa Cruz

A conversa de ontem foi o jogo entre o Barcelona e o Bayern. Hoje pela manhã, assim que cheguei ao trabalho, a primeira coisa que o estagiário me perguntou foi seu eu havia assistido ao jogo.

– assisti, não! Vi o da noite. 2 a 0 pro timão da Chapecoense.

Ele arretou-se e ficou resmungando umas coisas.

Quem quiser que se encante com esse futebol pasteurizado, ou melhor, goumertizado,  que tentam empurrar na gente a todo instante.

Tudo cheirosinho, arrumadinho e bonitinho. Um luxo só. Mas não consigo me ver enquadrado nesse padrão.

Eu fico imaginando se o Santa Cruz fosse o Barcelona, e se aqui fosse igual ao que vemos na tela da TV. Essa tal Champions League.

Pense numa chatice, que seria!

Não teríamos a feijoada no Poço da Panela. Não ouviríamos a orquestra Venenosa mandando seus frevos na nossa concentração.

Ninguém tomaria uma no Mercado da Encruzilhada.

Dimas, Artur, Murilo e outros bons não se encontrariam para beber no Caldinho do Bonitão.

A Avenida Beberibe seria bem mais feia e tristonha.

Bacalhau não usaria sua chapa preta-branca-encarnada. Chico da Cobra vestiria apenas uma camisa oficial e o SuperSanta não teria capacete.

Ninguém tomaria uma cerveja gelada na beira do canal. Nem sentiria o gostoso cheiro de espetinho assado.

O nosso calor humano seria gelado.

Dentro do Arrudão, tudo bem organizado. Nada de ver jogo em pé na mureta e de ficar pulando no cimento da arquibancada.

Após a conquista, nada de invadir o campo, de batucada na sede, de mergulhar na piscina, de zoar no Tepan, de ir na segunda-feira tomar uma no mercado da Boa Vista. Comemoraríamos de maneira comedida. Sem barulho e sem gritaria.

Não, meus amigos. Prefiro que o Santa Cruz seja o nosso Santa Cruz. O time do povão. Da massa coral. O time da poeira.

Prefiro meu tricolor do Arruda. Clube querido da multidão que nasceu no Pátio de Santa Cruz e viverá para sempre.

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Nesta sexta-feira, a partir das 16h, no Pátio de Santa Cruz, o Blog do Santinha e a turma da Minha Cobra estarão comemorando a conquista do Estadual. É pra lá que eu vou e quem quiser pode chegar.

O Santa, essa eterna criança

Muito se dirá e se escreverá, ao longo dos dias, sobre este monumental título coral. Mas eu gostaria render uma modesta homenagem a duas pessoas que já entraram na história do Santa Cruz – o presidente Alírio Neto, e sua mulher, Fernanda.

Ontem, no Poço da Panela, eu estava em Seu Vital, tomando umas, antes de voltar ao local da nossa concentração, a “Sede”, comandada pelo gorducho Naná. Quando voltei, para ver como estavam as vendas da “Trologia das Cores”, alguém me avisou:

“O presidente está aí”.

De longe reconheci aquele olhar sereno de Alírio, acompanhado do sorriso generoso de Fernanda. Recebi um abraço apertado pelos meus 46 anos, comemorados no exato dia da decisão. Depois de várias fotos com a galera coral lá do Poço, fomos visitar o velho da nossa aldeia, que é Seu Vital. Ele estava invocado em uma daquelas duras jornadas do dominó, e quando viu o presidente, abriu um largo sorriso, tirou fotos, conversou.

Pouco depois, a orquestra “Venenosa” chegou ao largo do Poço, onde estava começando um casamento. Vários convidados ficaram eufóricos, porque a noiva, disseram, era tricolor das bandas do Arruda, como diz Gerrá.

Só o Santa, com essa eterna vocação para o lirismo, é capaz de desaprumar um casamento para celebrar a alegria de sua torcida.

Em pouco tempo, alguns amigos chegaram, e formamos pequeno grupo, em torno de Alírio, que queria escutar,  muito mais que falar. Eram pessoas que tinham observações, comentários, sugestões, movidos, creio, por esta febre de mudanças, de novos paradigmas que se abrem para o clube. Fernanda, ao lado, compartilhava a intensidade que o dia presenteava. Tenho para mim que o sujeito tem que ser muito bom do coração, para ser o presidente de um clube de multidões como o nosso. Além disso, precisa que sua companheira seja uma guerreira. E Fernanda, de fato, é uma  mulher valente, que vai junto com ele, na vitória ou na derrota.

Já de volta à Sede, Alírio comentou comigo que gostaria de voltar, outro dia, para conversar com essas pessoas com mais calma. Muita coisa interessante, de fato, tinha sido dita. A incansável Fernanda, por outro lado, fazia inúmeras perguntas sobre redes sociais a Esequias Pierre, que tem ajudado a turbinar as redes sociais da massa coral. Não é por acaso que somente dois clubes renderam publicamente homenagens ao grande escritor Eduardo Galeano, por ocasião da sua morte – o Clube Nacional, do Uruguay (o time dele), e o Santa Cruz.

Após um batalhão de fotos, o horário do jogo foi avançando, era preciso voltar ao Arruda. Nos despedimos e desejei sorte para a gente.

Sobre o jogo, vocês sabem bem da minha deficiência de fazer qualquer análise. Até o final da partida, estava elogiando o “golaço de Betinho”. Sou ridículo, não sei como ainda não me demitiram deste blog.

O fato é que, de vira-lata nessa matilha futebolística estadual, o Santa foi roendo seu osso e criando forças. Na final. o Carcará se assustou com o Arrudão lotado, o manto coral cresceu e levantamos mais um título.

Hoje de manhã, com a faixa ao lado da cama, acordei rindo. Quando desci para verificar onde tinham se escondido os rubro-negros (impressionante como eles têm a capacidade de se tornarem invisíveis, nas conquistas corais), li a entrevista de Alírio, publicada no JC:

“Acabou essa história de time pobrezinho e coitadinho. O Santa Cruz é grande e não vai pedir esmola para mais ninguém”, disse o mandatário, ainda no gramado da conquista, até como tom de desabafo pelas críticas que recebeu no início do seu mandato, quando houve problemas financeiros.

No meu aniversário, ganhei um título já inesquecível, porque sei que ele trará repercussões evidentes dentro e fora das quatro linhas. É o fortalecimento de um projeto de gestão de um grande clube de futebol, que não pode viver de mão estendida e bolso vazio.

Não sei se vocês perceberam, mas durante a cerimônia de entrega da taça, uma chuvinha fina começou deslizar do céu, abençoando jogadores, diretoria e a torcida, abençoando nossa conquista.

A minha impressão é que o Santa Cruz, com essa vocação popular, lírica, poética, com sua incansável história de lutas, é uma eterna criança que nunca esquece de sorrir.

Obrigado, Alírio, obrigado Fernanda, por cuidarem dessa criança.

Decisão, aniversário, feijoada, livros, orquestra de Frevo. Com o Santa Cruz é assim, meu bem

Previsão: engarrafamento de gente domingo
Previsão: engarrafamento de gente domingo

Amigos corais, desde ontem olho para o relógio. Os ponteiros estão pesando 15 quilos, cada. Hoje é sexta, feriado, dia do Trabalhador. Já se passaram 15 dias, e agora são 10h48. O domingo vai demorar décadas a chegar. Mas ele haverá de chegar, junto com nossa luta heróica pelo título.

Pois bem. Por essas obras do destino e do desatino, no dia 3 de maio de 2015 completo 46 anos.

Já vi um monte de comentários mau-humorados aqui neste blog, mas agora não é momento de vacilos. Nosso time era o mais desacreditado do campeonato, as previsões eram terríveis e estamos a 90 minutos do título. A hora é de vibrar com o time.

Não sou muito adepto de organizar festa de aniversário e sou notório farrapeiro em eventos do tipo, mas como o Santa Cruz está em questão, vamos aos fatos e ao convite.

Todo jogo decisivo do Santa, Naná e uma galera do Poço da Panela organizam uma festa pré-jogo, para esquentar o cabeção e sair de lá já cuspindo fogo. Fazem contato com a Pitú, que fornece seu produto básico (adivinhem qual), acompanhado de uma suculenta feijoada e, de quebra, uma orquestra de frevo, a “Venenosa”.

O evento começa às 10h, e a entrada é franca, bastando, para isso, estar vestido com o manto coral.

Lá pelas tantas, quando a “Venenosa” está em ponto de bala, os músicos dão uma volta pelo Poço, e tudo que é de tricolor do mundo vai aparecendo. Ô torcida que não para de crescer, meu Deus…

Vou aproveitar para festejar com os amigos e convido os leitores deste afamado blog. O local é conhecido como “A Sede”, que pode ser entendido como um local, a sede de algo, ou como a “sede” de ter muita sede de beber, coisa bem comum no Poço da Panela. É uma casa. Fica localizada a poucos metros da igreja do Poço. De longe dá para ver as bandeiras e o som da orquestra.

Conversei com os senhores Inácio França e Gerrá Lima, e botaremos exemplares da “Trilogia das Cores”, de nossa autoria, para serem vendidos no local, com direito a dedicatória e um copinho de caldo de feijoada grátis.

Há especulações sobre uma possível presença da Sanfona Coral, mas o sanfoneiro Chiló, como se sabe, agora só sai de casa após olhar a previsão do tempo e passar protetor solar.

Quem quiser beber cerveja, leve algumas, porque grátis, só mesmo a velha e boa Pitú mesmo. Como a Sede fica a poucos metros da venda de Seu Vital, é só ir lá e pegar. Seu Vital, por sinal, faz aniversário hoje e é notório torcedor do Mais Querido.

Depois, é se mandar para o Arrudão e lutar com todas as forças pelo título, com o Arrudão lotado até o último degrau. Vamos fazer uma recepção igual à dessa foto.

Se nossos atletas comerem a grama e jogarem com o espírito dos grandes guerreiros corais, espero acordar na segunda com a faixa de campeão ao lado da cama e a lembrança de um aniversário para sempre inesquecível, fruto de um time para sempre eterno.