Nóis sofre, mas nóis goza

Estudei com Bruno Cara de Vassoura. Gente da melhor qualidade. Tricolor coral Santacruzense das bandas do Arruda.

Em se tratando de futebol, para ele todo diretor é ladrão, todo jogador é cachaceiro e todo técnico é burro. Mulher de rubro-negro só fode com tricolor e o náutico é um time de moças.

Bom de bola, era titular absoluto no time do colégio. Jogava no ataque. Exímio cabeceador e chutava bem pra caramba com a canhota.

Numa partida pelos jogos estudantis, lá no campo da UFRPE, fez dois golaços. Foi contra o Salesiano, Marista, sei lá! Enfim, um desses colégios de padre. A gente perdia de um a zero e ele virou o placar. O primeiro gol, uma cabeçada certeira no ângulo. O segundo, uma cipoada de fora da área, daquelas que o goleiro não ver nem o azul da bola. Neste gol, Cara de Vassoura foi expulso porque comemorou mostrando o pau pra torcida adversária. Mas conseguimos segurar o jogo e vencemos.

O bicho era meio doido, impaciente e esparrento. E presepeiro, também.

Certa vez, num amigo secreto da turma do segundo ano, ele deu de presente a uma colega nossa, uma calcinha bem escrota com o escudo do Santa Cruz.

— Isto aqui é pra você usar quando a gente for campeão! – ele disse querendo ser carinhoso.

A garota jogou a calça no chão e foi uma confusão dos infernos. A menina não gostou da brincadeira. Nem lembro o nome dela e não sei se ela torcia pelo Santa.

Mas Bruno era estudioso. Até passou no vestibular. Foi cursar Engenharia Cartográfica, depois mudou para Administração de Empresas. Eu fui para o curso de Ciências Econômicas. Quase sempre a gente matava as aulas da sexta-feira e tomava uma no Abacaxi.

Fazia tempo que eu não via Bruno Cara de Vassoura. A última vez, se não me falha a memória, foi na saída do jogo contra o Betim, no ano passado. Falei rápido com ele.

E não é que ontem, eu encontrei aquele sujeito!

Era perto das quatro da tarde. Fui resolver uma bronca em um cartório na Siqueira Campos e por obra do destino, dou de cara com Cara de Vassoura. A mesma barba, o mesmo bigode, meio careca e mais gordo.

O mesmo esparro de sempre.

— EI TRICOLOR! Tás perdido? – ele falou chamando a atenção de todo o cartório.

Me deu um abraço.

— Diz aí, Cara! Tás bem? Novidade boa. Tens feito o que da vida? – eu perguntei.

Cara de Vassoura se separou, tem mais ou menos três meses. Depois de quase dez anos de casado. Enquanto organiza as coisas, está morando na casa da mãe.

— Tou na casa de mamãe. O perigo sou eu me acomodar e ficar por lá. – ele sorriu.

E fomos por ali, pelos arredores do Diário de Pernambuco. A Praça do Diário, a Igreja de Santo Antônio, a Dantas Barreto, a 1º de Março, a Duque de Caxias, as putas, os crentes. Caminhamos até o Pátio de São Pedro, sentamos numa mesa e pedimos uma cerveja. Era perto das seis horas da noite.

— Meu velho, e o nosso Santa Cruz? Eu não imaginava nunca que o time iria decepcionar desse jeito. – eu disse.

— Fale não. Mas tu não sabe, fui bater em Caruaru, na decisão da Copa do Nordeste  -tomou um gole e continuou – tou com uma figura por lá. Vinte e sete anos, separada também. Implorou para eu ir ver o jogo por lá. Meu amigo, a tal da boceta é um negócio que vicia. Eu nem sabia que ela gostava de futebol e muito menos que era rubro-negra. Só sei que passamos a noite fazendo amor. Mas depois da final do estadual eu dispensei. O negócio tava ficando complicado. A figura tava querendo exclusividade.

Lembramos de uma vez que ele, numa calourada da Universidade, só pra se agarrar com uma boyzinha do curso de Odontologia, jurou que torcia pela barbie.

Bruno Cara de Vassoura é um sujeito sacana.

Conversamos outras amenidades. Pedimos a saideira.

Ele tomou o rumo da estação do metrô. Eu me mandei para o lado da Avenida Guararapes.

Nunca mais eu havia andado pelo centro da cidade.

A tabela, o melhor antidepressivo

Aos que ainda estão choramingando a eliminação da Copa do Nordeste e da final do Pernambucano, aos que acham que estamos no pior dos mundos, que as coisas estão péssimas, que tudo está ruim, que estão com aquela conversa fiada de que só vão voltar ao Arruda por algum motivo muito especial, eu dou uma sugestão prática – pegue a tabela da Série B, puxe a sua agenda para o lado e vá anotando, semana após semana, os jogos do Santa Cruz, no Arruda e fora.
Vai durar meia hora e a depressão vai passar na hora.
Foi isso o que fiz sexta-feira, antes mesmo do jogo contra os portugueses de desportos. Anotei com caneta todos os jogos e horários. Senti um alívio tremendo.
Pela primeira vez, desde o longínguo ano de 2008, quando fizemos a estreia na Série C, estamos de volta a um campeonato nacional com 38 rodadas. Foram sete anos na base de poucos jogos e mata-mata, pouco dinheiro, fora da TV, com uma sortezinha de transmitirem a Série C pela TV Brasil.
Trinta e oito rodadas, porra!
Nós comemos o pão que o diabo amassou, jogamos contra times que nem lembro o nome, viajamos feito uns doidos em carreatas de desepsperados, passamos por humilhações as mais terríveis, vimos o fundo do poço e o pós-fundo-do-poço e agora fica esse faniquito?
Olhe sua agenda de 2008.
Lembra que nós fomos eliminados na segunda fase da Série C?
E que beijamos a lona na Série D? Tem coisa pior que isso?
Pois pegue a tabela da Série B e veja o que nos espera, ao longo do ano. Dois jogos por semana, às terças e sábados.
Vamos ao caso de maio, o singelo maio, mês das mães.
Na véspera do meu aniversário (2/05), sexta-feira que vem, pegamos o Paraná, no Arruda (21h).
Dia 10 de maio (sábado), pegamos a Luverdense, às 16h20.
Dia 17 de maio (sábado seguinte) vamos ao estádio Mauro Sampaio, pegar o escrete do Icasa.
Dia 20 de maio (terça), vamos ao estádio Dos Amaros, enfrentar o Oeste.
Dia 23 de maio (sexta), 19h30, pegamos o America-MG no Arrudão.
Dia 27 de maio (terça), vamos ao estádio Dilzon Melo, encarar o Boa Esporte.
Dia 30 de maio (sexta), encaramos a Ponte Preta, no Arrudão.
Ou seja: Em um mês, é bem provável que tenhamos mais jogos pela Série B do que em toda a Série C de 2008.
Eu poderia copiar a tabela inteira, para os deprimidinhos corais verem o tamanho do buraco que saímos (e o tamanho do desafio que nos espera), mas não sou corno para gastar uma hora e meia anotando nome de estádio, de clubes adversários e horários.
Sim, perdemos duas semifinais para o principal adversário, que tem dinheiro para contratar e descontratar, que tem uma infraestrutura fuderosa, que só o departamento de marketing deve gerar mais receita que nossos ingressos, mas eles, até outro dia, estavam aí engasgados, doentes, alarmados e infelizes com o tri-vicecampeonato (dois deles em casa) para um clube à beira da falência que foi o Santa Cruz. Toda entrevista ou reportagem vinha com os dois bordões: “desde 2010 não ganhamos nada”;”estamos engasgados com o Santa Cruz”; “desde 2010 não ganhamos nada”; “estamos engasgados com o Santa Cruz.
*
Durante o ano de 2014, você, torcedor coral, vai ter jogo no São João, no aniversário do filho, no batizado do sobrinho, no dia do noivado, no Dia das Crianças, nos 50 anos de casamento do sogro, na formatura do sobrinho, na véspera de Finados, vai ter hora que sua mullher vai dizer:
“Esse campeonato não acaba nunca?”
Nessa hora, você vai dar um sorrisinho e lembrar do pesadelo que viveu.
O último jogo do Santa pela Série B será dia 29 de novembro, no Serra Dourada, contra o Atlético/GO.
O que temos a fazer é sair dessa letargia, achando que estamos no pior dos mundos, cobrar contratações, pressionar a diretoria dentro dos moldes legais, ir a campo, levar nossa turma, pegar o manto coral, a bandeira e dar a volta por cima.
Outro dia éramos tricampeões, tiramos onda, curtimos, tomamos todas com os amigos, mas o futebol é assim mesmo, ele dá voltas e rasteiras.
Poderíamos ser tetracampeões, mas não fomos. Paciência. Os caras fizeram (e bem) o dever de casa.
Pegue sua tabela. É melhor que antidepressivo. Em alguns casos, melhor que Viagra.

Quando pior melhor?

Sem rodeios, vou direto ao ponto: o único resultado do “protesto” de ontem foi destruir o imenso patrimônio imaterial construído com o esforço de milhares de apaixonados que lotaram o Arruda “n” vezes em 2013. A valiosa mística da torcida apaixonada sofreu um imenso revés. De uma hora para outra, a torcida coral lançou-se à vala comum dos trogloditas de tantos clubes pelo mundo afora.

O estrago foi muito maior do que a porta do vestiário ou algum eventual arranhão no carro do presidente. Prejuízos são grandes demais para serem enxergados a olho nu.

O mais incompreensível é que o tal “protesto” foi completamente desproporcional aos fatos que o geraram.

Encurralar diretores, berrar gritos de guerra, ameaçar jornalistas, arrombar portas, invadir vestiários porque o time de futebol foi eliminado de duas competições, de forma justa diga-se de passagem? Porque dois ou três jogadores demonstraram incapacidade de suportar pressão, o que é comum quando se fala de seres humanos? Porque os rubro-negros estão greiando da nossa cara? Vamos convir, quem não quiser ouvir graça por causa de futebol, é melhor dedicar-se apenas à seleção brasileira. Ou ao tricô.

Tudo o que aconteceu com o Santa Cruz faz parte do futebol.

O time andava de salto alto no início do semestre? É verdade, mas a torcida também estava tão intragável quanto rubro-negros. Pelo jeito, a queda do salto desnorteou a todos.

A diretoria confiou e concedeu poderes em demasia ao ex-treinador? Pode ser, dizem que sim. Mas a torcida também o idolatrou, jurando de pés juntos que um nó tático estava prestes a ser dado em todos os adversários da terra e do céu.

A comissão técnica e os diretores de futebol erraram em contratar pouco e mal? Com certeza, mas em janeiro nós torcedores éramos capazes de morrer jurando que Caça-Rato e Renatinho resolveriam todos os nossos problemas.

Eu fiquei arretado com as derrotas. Todos ficamos. Qualquer torcedor fica. Mas no mundo do futebol, isso se resolve com estádio vazio, vaias de arrombar, faixas raivosas, críticas descabeladas, exigências ululantes. E pronto.

O novo treinador não é o dos meus sonhos. Não, não é. Eu preferia Pep Guardiola – também não vou com a cara de Mourinho. Mas só vou largar pau no teclado para criticá-lo depois que ele botar o time em campo. Aqui no meu canto, fico lembrando de Cuca e Paulo Autuori e espero pelo que virá.

O que Cuca tem a ver com isso? Quando ele foi para o Atlético Mineiro diziam que ele não ganhava nada, era um chorão e que Ronaldinho Gaúcho iria comê-lo com farinha. Ganhou a Libertadores. Paulo Autuori, ao chegar no mesmo Atlético, era um gênio, sempre foi um gênio, um lord, uma mistura de Einstein com Yves Saint-Laurent. Foi demitido essa semana.

Sérgio Guedes não deu certo em canto nenhum? E eu com isso? Só quero que ele dê certo no Santa e que se lasque em tudo que é clube que vier a treinar depois.

O “protesto” de ontem, principalmente da forma como aconteceu, foi completamente fora de tempo, fora de lugar. Reparem que escrevi protesto três vezes entre aspas. Sou de um tempo em que protesto tinha objetivos claros, era estratégia definida e reivindicações a serem apresentadas.

Os pirralhos que puxam esse tipo de coisa pelas redes sociais devem ter uma auto-imagem semelhante a de um Che Guevara, um Emiliano Zapata, um Ho Chi Minh, talvez um Mandela, só para ficar nos melhores. Ninguém se enxerga como um tonto raivoso e inconsequente. Dói se enxergar assim.

Ontem, eles conseguiram colocar a raiva para fora, enfrentaram um presidente de clube – fosse presidente um daqueles outros, teriam levado porrada em cima de porrada e só iriam ver jogo nas gerais com medo de apanhar mais durante as partidas – mas não perceberam que não tinham o controle de nada.

Oportunistas pegaram carona e fizeram discursos. Uma gangue apareceu para dar porrada e apostar no quanto pior melhor. E agora, devem estar por aí arrotando que fizeram alguma coisa e não ficaram calados. É verdade, mas o resultado foi só um e, como no facebook ninguém faz autocrítica ou avalia os próprios atos, forneço de bandeja no primeiro parágrafo desse texto, o resultado alcançado.

Post scriptum longo: Li nos jornais e portais que os jornalistas já identificaram os vilões encapuzados. Para eles, são os de sempre: as torcidas organizadas. Pra que pensar ou investigar, se há vilões fáceis sempre a mão, sempre odiados pelas pessoas de bem. Eu, um ex-repórter de polícia cada vez mais chato e enjoado de ler besteira, me dou direito a um questionamento: porque a torcida organizada iria entrar no clube encapuzada, mascarada e com capacete de motoqueiro, se eles sempre enfrentam a Tropa de Choque de cara descoberta? Porque cobrir a cara, se aparecer no jornal rende pontos para eles entre seus iguais?

Notícias para Samarone

Samarone, cabra bom! Voltei!

Não sei se Inácio já retornou. Sexta-feira ele telefonou pra mim, todo animado. Estava na 232, indo para um hotel fazenda na região do Agreste.

Eu saí do Recife já na quinta-feira.

Juntei a família, entupi a mala do carro de comidas, bebidas, roupas, ventilador e brinquedos, pendurei duas bicicletas na traseira do veículo e me mandei para praia.

Peguei leve na noite da quinta, apenas um vinhozinho e uns petiscos com a patroa!

Mas na sexta, enfiei o pé. Incentivado pelo marido de uma prima minha, entrei na aguardente. O sujeito é lá de Santa Cruz do Capibaribe e é daqueles que tem a cachaça como bebida preferida, depois vem o uísque e por último a cerveja.

Passavam das 10 horas, quando chegamos à praia. Mal sentei e ele foi pedindo uma cerveja e um quartinho de cana. Eu ainda tava sentindo o gosto da vitamina de banana que havia bebido no café da manhã.

No começo, peguei leve. Só que o miserável saboreava a Pitú e vez por outra, lavava a goela com um copo de cerveja. Fui entrar na onda do fela-da-puta e quase me lasco. Minha sorte foram os mergulhos e uns caldos que levei das ondas do mar. Puxei o freio de mão e fiquei só na cerveja pelo resto do dia.

Voltamos pra casa e aí, puxei do frei de mão. Fiquei só na cerveja pelo resto do dia. Tacamos um pen-drive cheio de bregas e forró, e ficamos bebendo e comendo.

E sabe quem tava?

Parral.

Meu amigo, pense que o bicho bebeu e comeu! Eu tenho pra mim que o estoque de tomates acabou naquela tarde.

E tu não sabe da maior, não é que no sábado resolvi ir pro jogo no Arruda.

Liguei pra Claudemir oferecendo carona e ele topou ir junto. Arrastei meu pai e o marido da minha prima, também. Fazia mais dez anos que eles não iam ao nosso estádio.

Pois é, meu amigo! Fui ver o último jogo da era Vica.

Vou lhe dizer, não fosse o futebol um esporte tão dinâmico e cheio de surpresas, eu apostaria que o Santa Cruz e o ABC iriam brigar pra ver quem chegava em último lugar nessa seribê.

E lhe digo mais, pelo que vi, se a gente não descer, eu já me dou por satisfeito.

Pra não dizer que foi de tudo ruim, o garoto Raniel mostrou serviço. O bicho só precisa pegar mais uma musculaturazinha e um pouco mais de experiência. Mas o menino tem futuro.

Voltando para praia, depois que deixei Claudemir, pelas ondas do rádio eu ouvi Vica entregando o cargo. Na hora que ouvimos, meu pai foi prático e objetivo: “rapaz, com esse time, não tem treinador que dê jeito. Precisam trazer uns seis jogadores que saibam jogar bola”.

Bom, hoje eu fiquei sabendo que contrataram Sérgio Guedes e trouxeram Sandro Barbosa de volta.

Tomara que dê certo.

Mais tarde vou para decisão do terceiro lugar.

Quanto ao que vem pela frente, eu só digo uma coisa: quem for de beber, beba! Quem for de rezar, reze!

Recolhendo os escombros

Amigos Inácio França e Gerrá Lima;

Não sei por onde vocês andam, nesta segunda-feira, feriado de Tiradentes. Creio que em alguma praia com a mulher e os filhos ou tomando umas com os amigos. Pela quantidade de comentários a serem liberados no Blog do Santinha e pela última crônica, postada dia 15 de abril, vocês realmente perderam a paciência.
Pois bem, amigos, tenho uma nova. O treinador Vica agora é ex.
No sábado passado, após o empate melancólico com o ABC (o gol deles foi de Dênis Marques, vejam que ironia), finalmente ele passou na sala da diretoria e disse o óbvio – “não dá mais”.
O que mais lamento, meus amigos, é que o homem chegou com o time muito mal na Série C, deu um tranco, um freio de arrumação, o famoso “só joga quem treina bem”, e embalamos.
E fomos campeões da Série C.
Depois disso, amigos, mergulhamos num desastre.
Porque um time de futebol pode perder tudo, menos a alma. O Santa, nos últimos jogos, não era nem a sombra daquele time de guerreiros que tantas alegrias nos deu, durante três anos. Perdeu a alma. Depois de muito tempo, vivemos um pesadelo trágico – um Santa Cruz com medo de ir ao ataque, de ganhar jogo, sem arrojo. Sem a alma, não há como ter coragem. Sem coragem, o sujeito é humilhado até na liga de dominó.
Nosso time ficou burocrático como uma repartição pública, funcionando a base de máquina de datilografia e carimbo. Faltou pouco para os jogadores escreverem um ditado antes de cada jogo, com a frase “proibido se arriscar” ou “nada de assustar o adversário”.
Nossa maior desilusão era olhar para Catatau, sonhando com mudanças no time que todos sabiam quais eram, e nada.
Nunca Roberto Carlos foi tão citado.
“Perdemos nos detalhes”.
“Eles venceram num detalhe”.
“Clássico se perde no detalhe”.
Pois é, caros França e Gerrá. Estamos ainda recolhendo os escombros. Eliminação da Copa do Nordeste e do Estadual. Tudo bastante dolorido, sofrido. Onde estão Natan, Renatinho, Everton Sena? Onde estão os jogadores? O outro, que bateu o pênalti errado, ficou deprimido. Mas ele vai buscar o salário integral ou não?
Não fui ao jogo do sábado. Ausência absoluta de vontade. Não li resenhas, não escutei rádios, nada vi na TV.
Demoras, no futebol, são fatais.
Nisso, nosso principal rival é muito eficiente. Se tivessem perdido três partidas seguidas para nosso time, o técnico teria sido demitido depois do jogo. Era o que deveria ter sido feito. Mas vocês sabem como as coisas funcionam no Arruda…
Aguardo o retorno de vocês para ver se animamos o espírito da massa coral. A sorte é que essa massa tem o dom de dar a volta por cima por qualquer alegria mínima.
No momento, não tenho a menor idéia de qual seria esta alegria mínima.

Faltou dignidade e sobrou covardia

A frase que mais se encaixa para vergonha de domingo, é uma que foi dita por Vanderley Luxemburgo: o medo de perder, tira a vontade de ganhar!

Senhores, eu não lembro a vez que vi o Santa Cruz se apequenar tanto num jogo de futebol. Nem no auge das retrancas de Givanildo Oliveira, muito menos nos esquemas defensivos de Zé Teodoro.

Vica conseguiu superar estes dois treinadores.

Para mim existe uma diferença grande em jogar recuado e jogar com medo. Domingo, fizeram a opção por jogar com o rabo entre as pernas, como cachorro vira-lata da mais baixa categoria.

A história foi tão exagerada, o medo de jogar foi tão grande, que o zagueiro Renan Fonseca, perto dos 35 minutos da primeira etapa, levou amarelo por estar catimbando.

As substituições feitas pelo treinador indicam o seu temor. Inácio no outro texto, com categoria pontuou as mudanças.

Ficou evidente até para os deficientes mentais que ele, o medroso e limitado Vica entrou exclusivamente para empatar.

Como bem disse Esequias Pierre num e-mail enviado pra mim, o time e o treinador foram convardes.

Domingo passado nosso esquadrão foi formado por uma porção de frouxos, anêmicos de medo, que colocaram os cus na parede e ficaram se borrando no gramado. Tudo devidamente orientado e ensaiado pelo comandante, o treinador.

Ouvir o treinador dizer ao final do jogo de ontem que perdemos por um detalhe e que tudo estava perfeito até levarmos o gol é ter a assinatura de Vica, com firma reconhecida, para a mediocridade que vimos na tarde deste domingo.

Antes o time titular tivesse ido jogar no meio da semana, no interior de Sergipe, pela Copa do Brasil. Só assim não teria tido tempo suficiente de treinar e assimilar esse esquema fundamentado no medo.

Não meus amigos, não somos acostumados e não compactuamos com a covardia.

O Santa Cruz sempre foi conhecido pela superação. Nossas vitórias e conquistas têm alma. Nossa história é calcada na raça.

A covardia não faz parte da nossa cultura. A covardia nos envergonha. Nos deixa com raiva.

Faço minhas as palavras escritas por Dimas no Blog Torcedor Coral, nós torcedores do Santa Cruz não temos vergonha de derrotas. Nós ficamos indignados é com postura covarde.

O medo de ganhar banha nosso coração de ira.

Foi por isso que meu pai, um senhor pacato, no auge de seus quase oitenta anos, ainda nos primeiros minutos do segundo tempo, chamou raivosamente os jogadores de safados e o treinador de frouxo. E previu o que o mais incompetente dos profetas teria a capacidade de prever: se continuar assim, vai levar um gol.

Thiagão, presidente de honra da Troça Minha Cobra, por motivos banais, inconscientemente descarregou seu ódio na namorada. Quase foram as tapas. Quase acabam o namoro.

Gilvan, gente da melhor qualidade, amigo meu, um sujeito da paz, me confidenciou que nunca havia tido vontade de matar alguém. Ontem, sentiu vontade de atirar em Vica e de enforcar alguns atletas.

Artur, nosso estagiário de contabilidade definiu Vica de fuleiro. Paulo, zelador do condomínio, chamou Vica e jogadores de sebosos.

Toda esta revolta tem explicação: a forma medrosa e covarde que o nosso time jogou ontem.

Só espero que Antônio Luiz Neto, Tininho e Jomar sejam tão torcedores quanto nós e que tenham tido a capacidade de enxergar o que todos os espectadores viram ontem: que Vica e alguns jogadores não tem dignidade para vestir nossa camisa.

 

Vica, o energúmeno

Sobre o Santa Cruz, sempre escrevo aquilo que me vem à cabeça e ao coração, em geral de um rompante, sem pensar muito, com o sangue fervendo, as lágrimas correndo ou a alegria transbordando. As exceções são uma ou outra fofoca que me contam, porque quem conta já espera vê-las publicadas no dia seguinte. E como não sou de frustrar fofoqueiros, mando ver no teclado.

Desta vez não. Desliguei o achômetro e, antes de escrever, escutei ou procurei a opinião de muitos e bons corais. Gerrá, coronel Peçonha, meu filho Pedro, meu sogro Aurílio, Guila Calheiros, Carlinhos, o porteiro Zé Carlos, Allan Robert, Claudemir Mameluco, um sujeito da academia de musculação que eu não sei o nome…

Entre todos, uma unanimidade: fomos eliminados porque Vica é covarde. Ou frouxo. Ou bundão, o que, no final das contas, dá na mesma.

Digo mais: além de medroso, é estúpido até dar uma dor.

É líquido e certo que torcedor que é torcedor sempre procura um culpado mais fácil para crucificá-lo e sangrá-lo em praça pública. Técnicos são sempre os culpados mais a mão. E quando o sujeito põe o time para jogar do jeito que ele pôs, ah, meu amigo, joguemos pedra na Geni porque ela é feita para apanhar.

Vica saiu do campo dizendo para os microfones “não estamos tendo saída de bola”. Iludidos, imaginamos que o time voltaria pronto par dar o bote ao menor erro adversário, afinal jogávamos por uma única e solitária bola, umazinha jogada que mataria o adversário como matou três vezes seguidas em três anos seguidos. E olhe que, desta vez, o adversário cometeu erros repetidamente, entregando bolas bobas na entrada da nossa área.

Então, eis que o treinador tenta uma mágica: recuou ainda mais o time para resolver a saída de bola. Algo como chegar a Porto Alegre pegando um ônibus para Manaus. Como isso seria possível? Sei lá, pergunte a ele.

A crônica do segundo tempo poderia ser resumida assim: Sport-no-ataque-erra-o-passe-defesa-do-Santa-dá-chutão-pra-frente-volta-a-bola-pro-Sport. Assim, 255 vezes. Teve uma hora que goleiro deles saiu do gol, foi até o alambrado pedir um cremosinho de leite condensado e voltou pro campo andando devagar, ainda puxou conversa com o gandula. Ninguém deu pela falta dele.

Imaginei que Vica estava arretado da vida com a postura superhiperultrarecuada do time. Nada disso, na entrevista depois do jogo, ele elogiou a postura defensiva, disse que estava tudo indo bem até os 40 minutos e blá-blá-blá. Ou seja, ele estava satisfeitíssimo, achando tudo normal, uma beleza. Juro que eu entenderia se valesse o saldo de gols. Como não era, só posso achar que esse sujeito tem uma inclinaçãozinha para suicida.

Teve uma hora, já de noite, que Catatau avisou: “professor tem banco de reservas, viu? A gente também pode trocar jogador, não é só eles que podem, não”. Santo Catatau. Não fosse isso, Sorriso teria morrido no gramado. Pelo menos seria trágico. E o treinador teria uma desculpa interessante.

Quando Everton entrou, soou como uma sugestão de Vica aos nossos adversários “podem atacar sem medo, não precisam se preocupar com contra-ataques, nem sei que porra é isso”.

Os defensores deles não tinham o que fazer, mesmo com o time todo arreganhado.

Quando entraram os velocistas, meia horas do timing correto, o resto do time já pedia pelamordedeus para o jogo acabar.

No final de tudo, a cereja sobre o bolo: Carlos Alberto para bater pênalti. Foi o repórter dizer o nome dele para o coronel Peçonha interromper os exercícios de guerra do seu batalhão e me ligar berrando “esse menino não gosta de fazer gol, ele não gosta de fazer gol”.

Na verdade, não sei se é uma questão de gosto ou de ignorância, mas o fato é que diante do gol aberto, o meia fica apavorado, assustado e não sabe o que fazer com a bola. Podem procurar no youtube os gols de cego já perdidos pelo dito cujo.

Portanto, a culpa é de Vica, o energúmeno. Se não sabem o que é isso, tome aqui a definição do Michaelis: e.ner.gú.me.no; sm (gr energoúmenos) 1 Possesso do demônio. 2 Indivíduo desnorteado. 3Pessoa que, dominada por uma paixão, pratica desatinos. 4 pop Imbecil.

Pra quem vai ou não vai pro jogo, a farra é no Poço

Desde 2011, a pisada é essa: decisão dia de domingo, o Santa Cruz jogando, a farra é no Poço da Panela.

Frevo, forró, cerveja, Pitú, mesa de frutas e uma suculenta feijoada. Certa vez, até churrasco de Capivara teve.

Domingo que vem, pra quem vai pro jogo, é só aparecer e engrossar a corrente de tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda.  A partir das 12h37, a turma bate o centro e começa a preliminar.

Aos que não forem para ilha da fantasia, o que não falta no Poço da Panela é televisão para assistir a peleja. Noventa e três por cento da população daquele lugar torce pelo nosso Santa Cruz Futebol Clube.

Dizem até que vão colocar um telão na sede.

Depois do jogo, é correr para o abraço e comemorar mais uma vitória.

Naná avisa que bebidas alcoólicas, bandeiras do Santa Cruz e petiscos são sempre benvindos. Sim, é obrigatório estar trajado com nossas cores.

É lógico!

Anotações sobre a Teoria da Relatividade Futebolística

Amigos corais, devo ser um dos torcedores mais bestas da multidão que é esta encantada torcida do Santa.
Em caso de derrota, enrolo minha bandeira, volto pra casa chutando as pedrinhas, tomo umas, converso com Joab, o porteiro aqui do prédio e vou dormir. No dia seguinte, não olho os jornais, não vejo TV e a vida segue.
Em caso de vitória, eu comemoro, vibro, fico exultante, vejo todos os programas de TV, leio todos os jornais, escuto resenhas, mas eu não tenho a menor paciência, vocação, energia, para ficar mandando email, mensagem, telefonando para o adversário derrotado. Talvez seja por isso que nunca se lembram de fazer o mesmo comigo. Como não tenho facebook nem uatizape, não me aporrinho com desconhecidos, também.
Mas, como se sabem, andamos comendo o pão que o diabo amassou com o time da Ilha do Retiro.
Ganharam a primeira de 3 x 0. Os torcedores do Sport só faltaram comprar uma taça. A taça “Eu estava engasgado com três vice-campeonatos, porra!”.
Antônio, lá do meu trabalho, visitou minha sala umas 40 vezes, no mesmo dia, para tirar onda.
“Ganhasse três pontos, não foi? Parabéns”, eu respondia.
Depois, ganharam de 2 x 0, na Ilha do Retiro, quando o mais justo seria a vitória pelo magro 1 x 0. Nosso Paredão, quem diria, falhou pela primeira vez.
Um amigo que mora no prédio, gente finíssima, passou por mim no dia seguinte aos berros. Não era um pacato cidadão, comprando seu pão matinal – era um homem aos berros dizendo “meu freguês me apanhou de novo!”.
“É, ganhasse mais uma, né?”, respondi, e fui compara um pedaço de queiro para o café. Fiquei até com dor de ouvido.
Depois veio aquele escândalo do senhor Meira Ricci e perdemos a vaga na final da Copa do Nordeste por 2 x 1, com direito a gol nosso com nove jogadores em campo.
“Esse teu time é uma bosta, visse. Vão me levar quatro lapadas seguidas”, retomou Antônio.
“Beleza. Mas já ganhasse o título?”, respondi.
Depois veio o 1 x 1 no Arruda, com um gol aos 36 do segundo tempo. Os torcedores do Sport comemoraram como se fosse um título. Faltou apenas botar a faixa. Esse Santa Cruz realmente é uma pedra na chuteira deles.
Como a classificação do Estadual nos colocou de novo frente a frente, meu amigo aqui do prédio avisou:
“Vão ser duas lapadas, visse? Tás preparado?”
“Tens já o placar dos dois jogos?”, perguntei.
“Vão me apanhar mais duas”, prometeu Antônio.
“E apois”, respondi.
Ontem, no final da manhã, desci para buscar o jornal. Meu amigo aqui do prédio vinha chegando com outro amigo rubronegro e duas crianças. Uma delas, pela fatalidade do destino, vestia a camisa rubronegra.
Os dois tiraram muita onda, riram da vitória. Davam gargalhadas. Tinham até pena de mim.
“Vamos dar nessa merda de novo!”, prometeu meu amigo do prédio.
Eles entraram no elevador, meu amigo queria tirar uma porra de um “selfie”, mas é muita cornura o sujeito tirar um “selfie” com dois rubronegros, logo de manhã. Acho que iriam botar na hora no uatisap.
“Tás fodido hoje, visse?” foi a coisa mais singela que escutei.
Eles tinham algo fabuloso para um clássico – a ausência completa de dúvida. Tinham certeza absoluta que o Sport iria dar uma cipoada no Santa. Mais que isso. Eles já comemoravam a classificação para as finais. Acho que seguem a cartilha do treinador, o Batista Júnior, que avisou outro dia que seria campeão da Copa do Nordeste e do Estadual. Avisou não, ele decretou. Depois que pegou mal, pediu desculpas. Disse que entenderam errado. Tá certo.
Ontem, o Santa meteu 3 x 0 jogando bonito. No segundo gol, a torcida do Sport foi embora. Isso me chateou muito, porque ainda tivemos que esperar meia hora para sair do Arruda. Além disso, eles não viram o golaço do Gamalho, que está jogando o fino da bola.
Fui caminhando para a casa do Inácio, comemorar o aniversário de Dona Rita, sogra dele.
Não vi um rubronegro ao longo da ruas e avenidas.
Hoje vai acontecer um fenômeno que deve ser estudado pela ciência. Após uma derrota para o Santa, a torcida do Sport toma um chá de transparência. Eles literalmente somem da paisagem. Perdem a voz também. E detestam falar de futebol.
Meu amigo aqui do prédio, o Felipe, é DJ. Claro que vai dormir o dia inteiro. Quando me encontrar, acho que vai falar sobre o colégio dos filhos, que subiu a mensalidade de novo. Ou vai dizer que o importante é a Copa do Nordeste, já que o Estadual só é fundamental mesmo quando eles ganham.
São as relatividades da vida.
Antônio, lá do trabalho, vai fazer o que sempre faz quando o time dele perde para o Santa. Vai esculhambra seu próprio time, antes que eu fale algo.
Eu só faço dar uma risadinha besta e digo “é a vida”.
Isso encabula muito os caras.

Concentração coral para domingo

Domingo, dia 6 de abril, é o momento de pegar ar e partir para cima do leão.
Naná, da Kombi Coral, acaba de ligar.
Já cheio das bicadas, informa que domingo vai ter a tradicional feijoada na “Sede”, defronte ao bar de Seu Vital. A orquestra “Venenosa”, que só é escalada em jogos decisivos, vai entrar rasgando. Ela está invicta.
Vai ter Pitú + feijoada.
Além disso, a “Minha Cobra” vai dar uma voltinha pelo Poço.

Inconsolável
Naná está inconsolável. Perdeu um leão de pelúcia, feio de doer, que sempre ficava dentro da boca da cobra. Ele não sabe se perdeu ou se levaram.
Quem puder levar um novo (ou usado mesmo, para que o sujeito vai comprar um leão novo?), vai ser um grande favor. A Cobra tem que abocanhar sempre o leão.
Hoje, por sinal, é o aniversário de Naná.
49 anos.
Perguntei o que ele queria de presente nesta data tão importante.
“Uma lapada na coisa”, respondeu, sem pensar duas vezes.
Vamos lá, tricolozada!