Campina Grande, aí vamos nós!

Foram doze dias fora. Batendo pernas, comendo, bebendo, conhecendo gente e visitando lugares.

Só eu sei a agonia de estar distante do Arruda numa fase tão boa como esta. De longe, sem conseguir ficar conectado em todos os momentos, passei por picos de ansiedade e angustia.

No dia do jogo contra o Bahia, eu e minha mulher vestimos nossos mantos sagrados e saímos para passear. O tempo foi passando e o Santa Cruz martelando nas nossas cabeças. Olho para o relógio que ainda marcava a hora daqui e vejo que o jogo havia começado. Do nada, senti a palma da mão molhada. Como quem estava cronometrando a partida, fiquei olhando de instante em instante o meu “cronometro”. Dei os devidos descontos e as seis em ponto falei para Alessandra: “o jogo acabou”!

Daí para frente, ficamos feito aqueles protagonistas da propaganda em que os caras entram numa pizzaria e um deles tenta entrar na rede wi-fi do estabelecimento e o outro fica enrolando o garçom com uma conversa sem pé, nem cabeça. Era assim a gente.

Depois de umas quatro ou cinco tentativas sem sucesso, pegamos um táxi e voltamos para o hotel. Naquele momento, passeio nenhum era mais importante do que saber do resultado do jogo. Quando vi 1 a 0, gol de Grafite, me bateu uma saudade daquelas. Lembrei de um monte de gente, mandei uns zaps e fomos comemorar. Da noite do domingo para a noite da quarta-feira, não tinha restaurante, não tinha museu, nem novidades que tirasse nosso pensamento da partida contra a barbie. Os amigos, o Arruda, a movimentação era o que nos vinha à mente. O tempo, esse insistia em não passar.

Na quarta-feira, no dia do primeiro embate da semifinal do pernambucano, pra não ficarmos feito dois doidos atrás de wi-fi, voltamos para o hotel a tempo de ver logo o resultado.

“Carajo, ganhamos de 3 a 1. Puta que los pariu!” – eu gritei.

Pulamos feito loucos no saguão do hotel. O cara da recepção sem entender nada, nos aplaudiu. Usando um portunhol, expliquei a ele que “nuestra equipo estava quasi em las finales de campeonato estaduale”.

Nessa hora, me lembrei de El Cabrón, que em outras épocas era figura assídua nos comentários do blog.

No último domingo, apesar de estarmos mais tranquilos, o roteiro foi praticamente o mesmo. Saímos para as últimas turistadas e no roteiro estava voltar para o hotel no máximo até às 19h de Brasília. Para nossa sorte, onde a gente tava havia internet grátis e praticamente acompanhei todo o segundo tempo. Ali mesmo, pedimos uma cerveja e brindamos. Interagi com o sorridente garçom. Mostrei a ele algumas fotos no meu celular e meti um portunhol: “mira, este és el Santa Cruz. Conoces Rivaldo? Foi jugador desta equipo. Santa Cruz Futebol Clube. De Re-ci-fe. Per-nam-bu-co. Fre-vo. Forró. Lu-iz Gon-za-ga”.

“Bueno, Bueno” – ele respondeu.

A verdade é que nessas horas a saudade chega com força. Os olhos marejam, o coração acelera, a pernas bambeiam.

Quando cheguei na madrugada desta terça, quase que ía direto para o Arruda.

Cheguei de lá agora. Revi a massa coral, encontrei os amigos, senti o cheiro do preto-branco-encarnado, me emocionei com Spok e Mastro Forró e ajudei meu Santa Cruz a juntar mais uma vitória.

Campina Grande, te prepara! Aí vamos nós!

A loucura voltou

Por Amil Enoramas, novo cronista coral.

Amigos corais, como assumi recentemente a coordenação de conteúdo do Mais Querido, estou impedido, eticamente, de ficar escrevendo no Blog do Santinha, que sempre foi independente.
Então tive uma idéia muito interessante: criei um pseudônimo (Emil Enoramas).
Ninguém da diretoria vai associar este pseudônimo ao meu nome.
De formas que posso escrever sobre nossa loucura coral.
Ela voltou!
Sempre rezei com mil velas acesas, para que parassem aquela doidice de ingressos a R$ 40,00 e R$ 20, separando a arquibancada inferior da superior. Quem paga R$ 40,00 para ver um jogo do Santa às 21h45 está, no mínimo, empregado e tem como voltar pra casa. Quem paga R$ 20,00 no andar de cima, está corroendo seus R$ 880,00 do salário mínimo e vai voltar pra casa nos poucos ônibus lotados ou, não se enganem, a pé mesmo.
Colocar o andar de cima (que, no Brasil, é o andar de baixo) a R$ 5,00 foi coisa de gênio. Não vou citar coisas dos bastidores, porque posso ser demitido antes de ser aprovado nos três meses probatórios.
Mas o Santa Cruz F.C. acaba de assinar um tratado de sociologia, de história do Brasil, de leitura da realidade. É isso! Temos um estádio gigante, uma torcida gigante, sedenta por futebol, e ficávamos dando bobeira.
Resultado: Mais de 40 mil apaixonados cantando e gritando.
Uma coisa linda, contagiante, que estava fazendo falta. A torcida da barbie, digo, Nautico, ensaiou uns miados, uns gritinhos, mas foi engolida pela massa coral, enlouquecida.
Vi pela primeira vez, em dezenas, centenas e milhares de anos no Arruda, o treinador fazer o “T” para a massa coral.
O “T” que fazemos instintivamente, em qualquer lugar do mundo, unindo o punho da mão direita no osso do braço esquerdo, para nos identificarmos.
Milton Mendes fez isso.
Melhor. Ao final do jogo, a massa coral gritou “Ah, é Milton Mendes!”
Eu sei que o cara é durão, mas até os durões amolecem, numa hora dessa. O cara deve ter pensado: Como é que não vim pra cá antes?
Como estou substuindo o senhor Samarone Lima, me dou ao direito de escrever sem rumo.
Vocês viram o que eu vi?
Que zagueiro é aquele, o Néris?
Por que só agora o homem pode mostrar sua técnica, seu posicionamento sempre na medida?
E as triangulações de João Paulo com aquele galego que agora esqueci o nome, que já nasceu com a bola nos pés?
O time é outro. Tem foco, raça, toca a bola, está cheio de confiança e jogando muito. Nem parece aqueles desalmados da era Martelote, no início do ano.
Sei que vocês devem estar com aquela dorzinha na pá, pensando “porra, era para a gente ter dado uma enfiada historica”.
Mas os deuses do futebol gostam de dar lições.
Precisamos pensar no próximo domingo como mais uma decisão. Não tem nada ganho.
Eu, que tenho ódio mortal da palavra “olé”, fiquei espumando quando a torcida puxou o coro maldito.
Resultado: levamos um gol besta no final.
No meu tratado de sociologia universal do futebol, só se grita “olé” se o time estiver ganhando de 3 x 0 no último minuto dos acréscimos.
O saldo do jogo de ontem, com a massa enchendo o Arrudão, é simples:
A loucura voltou.
E a minha loucura, até domingo, é só uma: chegar à final.
Depois é que vou pensar na outra final.
Nada de botar os bois no lugar das vacas. O bicampeonato está na minha lista de prioridades para 2016.
E a Copa do Nordeste também.
Vou ali, comemorar com meus amigos do Poço da Panela.

Mudanças no Blog do Santinha

Amigos corais,

Desde que fundamos este glorioso Blog do Santinha (eu e meu amigo Inácio França), em 2005, escrevemos sobre tudo e todos. Criticamos, reclamamos, louvamos, celebramos, descobrimos figuras inesquecíveis. A crônica, a conversa de boteco, os casos mais inacreditáveis, fazem parte desta jornada. Para melhorar, pescamos da Categoria de Base Coral (CBC) o senhor Gerrá Lima, que nasceu um cronista de primeira, com sua coleção de personagens dos subúrbios.
Agora vivemos um momento especial.
Depois das agruras no subsolo do futebol brasileiro, ressurgimos das cinzas e voltamos à Série A. Avançamos na Copa do Brasil. Estamos nas semifinais do Estadual (rumo ao bicampeonato) e nas finais da Copa do Nordeste.
Como diz o povão: Dá pra tu?
É justo neste contexto, que preciso me licenciar do Blog do Santinha, a exemplo do senhor Inácio França, há alguns meses.
O motivo é profissional.
Hoje assumo a “coordenação de conteúdo” do Santa Cruz Futebol Clube. Significa que deixarei de ser apenas o reles torcedor coral, que escreve crônicas, desabafa suas dores e delícias, que reclama do acesso ao estádio, dos cambistaas, e passa a acompanhar tudo o que é produzido para o site coral e as redes sociais.
Vai ser um trabalho no minimo instigante, porque de rede entendia mesmo era a da sala de casa, aquela que faz nheeec nheeec no armador.
Hoje mesmo, terei que providenciar o afamado zap zap, para me comunicar melhor com a equipe de profissionais que trabalham na comunicação do Santa.
Conversei com o também blogueiro do Santinha, senhor Gerrá Lima e avaliamos que é melhor que eu me afaste do cargo de colunista coral. Ele poderia perder algo que é fundamental – e que o mantém vivo até hoje – sua independência.
Não posso, também, servir a dois senhores.
Enquanto estiver neste novo trabalho, voltarei aqui como visitante.
Gerrá Lima, que está fazendo uma viagem à Colômbia, já começou a sondar possíveis novos cronistas.
Quanto ao meu novo trabalho, estarei novamente em dupla com o grande amigo Inácio França, que há alguns meses vem contribuindo com sua nteligência privilegiada na busca de soluções criativas para os entraves e encaminhamentos do clube.
A minha esperança é que esta dobradinha com o senhor Inácio França proporcione, ao Santa Cruz, as alegrias e descobertas que o Blog do Santinha proporcionou aos seus leitores e torcedores.
Um abraço e obrigado por tudo.

O Santa Cruz voltou!

Eu não lembro se já havia visto aquele rapaz em algum jogo. Acho que não, pois nunca fico naquele lugar.

Vestido com o manto sagrado, ele estava bem na minha frente, em pé, encostado na mureta.

Mal bateram o centro, o nobre tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda, balançou a cabeça de forma negativa e se virou pra trás com cara abusada, olhando para um rapaz que estava sentado praticamente na minha frente.

O jogo seguiu.

Na primeira bola que Grafite perdeu, Cara Abusada se virou de novo, olhou para o amigo, abriu os braços e falou:

— Num tou dizendo!

Essa frase foi a senha que fez com que eu percebesse que Cara Abusada faz parte da turma que elegeu nosso atacante para crucificar.

Allan Vieira fazendo suas lambanças, mas Cara não dizia nada. Artur jogando um futebol insosso, mas Cara não reclamava.

A função de Cara Abusada era de vigiar Grafite. O objetivo era de meter o pau no negão.

Teve um lance que foi cômico. Bola no meio campo, algum dos nossos mete um tijolo para Grafite, ele não consegue dominar e Cara Abusada dá uma dedada em direção ao nosso campo de ataque.

Ao meu lado, um gordinho gente boa, que se tornou meu amigo, comenta:

— Grafite hoje faz gol!

Eu respondo:

— E Keno, também!

Não sei por que, mas desde aquele jogo contra o Ceará, o primeiro embate aqui no Arruda, eu virei torcedor de Keno. Talvez seja a influência de Milton Jr. Milton sempre fala bem do futebol de Keno. Com a sua voz mansa, não cansa de repetir, “rapaz.., eu gosto do futebol de Keno”.

Pois bem, o jogo seguia.

Levamos um gol. Cara Abusada ficou mais mal humorado ainda. Pelo visto, a culpa do gol que levamos foi de Grafite.

Lembro de dois lances do nosso camisa 23. Na entrada da área, ele deu um drible no zagueiro e foi derrubado. Falta e o adversário levou amarelo. Cara não esboçou nenhuma reação. Parado estava na mureta, parado ficou.

Grafite mete uma bola de calcanhar para Keno. Um lance lindo, merecedor de aplausos. O abusado torcedor ficou estático.

Mas Grafite perdeu uma bola. Cara xingou. Grafite estava impedido. Cara reclamou.. Grafite cabeceou errado. Cara Abusada repetiu seu gesto: se virou, olhou para o amigo, balançou a cabeça negativamente, abriu os braços e repetiu:

— Num tou dizendo.

Foi quando Keno escreveu seu nome. Saiu driblando tudo que via pela frente e fez um golaço. Fomos ao delírio. Meu cunhado Flávio, sem óculos e sofrendo por causa da miopia, gritava:

— que gol do caralho!

O meu amigo gordinho, quase derruba um senhor. Um doidão de barba ruiva dava murro no peito e gritava pro estádio ouvir:

— é Santa Cruz, porra! Aqui é Santa Cruz!

Até Cara Abusada, deixou o abuso de lado, e comemorou junto com seu amigo.

Fomos para o intervalo. Eu, Flávio e o Gordinho tínhamos a mesma opinião: “dá para ganhar”.

Cara Abusada, que a esta altura bebia sua cerveja, estava sentado exatamente na minha frente, conversando com o amigo dele. Ouvi quando ele disse:

— Tou dizendo a tu, Grafite só joga com o nome!

Ficamos por ali. Cara Abusada também.

O time voltou para o segundo tempo. Cara continuou sentando bem na minha frente. A bola rolou e ele já balançou a cabeça. Por ele, era para Milton Mendes ter botado o General no lugar de Grafite.

— Puta que pariu! – eu pensei.

Mas nosso esquadrão encurralou o Bahia Axé Clube. Pressão total. Keno infernizava a defesa deles. O jogo era nosso. Bastaram 12 minutos para virarmos. Artur passa para João Paulo, que passa para Grafite, que gira e deixa o goleiro inimigo na saudade e, com categoria, quase sem ângulo, faz um belo gol.

Uma espécie de êxtase tomou conta de nós. Ficamos loucos. O orgulho, a paixão e o amor pelo Santa Cruz transbordavam pelos nossos poros.

Aproveitei a loucura daquele momento e gritei cuspindo no ouvido de Cara Abusada:

— É Grafite, poooorrra! É Gra-fi-te!

O jogo acabou. Não ganhamos. Mas saí do estádio com a sensação que o time de guerreiros voltou. E que temos plenas condições de vencer domingo.

Pena que não poderei ir para Salvador!

Palpites felizes

Sou invocado com o Allan, sujeito que tem uma lan house + empresa de xérox, aqui no centro. Sou um sujeito que ainda usa lan house e tira xerox.
Dia de jogo importante, ele vem com um papo de “sei não, professor, acho que amanhã vai ser apertado…”
É um tal de 1 x 1, 1 x 0, que dói nos ouvidos.
Fora as previsões:
“Tás sabendo que João Paulo vai para a Inglaterra”?
Notícia ruim ele sabe antes do presidente.
Sobre isso, nem quero comentar. João Paulo é o craque do time, disparado. E tem raça. Não para um minuto em campo.
Cheguei hoje par tirar a xérox de um documento, ele foi fazendo a previsão para o jogo contra o Bahia:
“Professor, hoje contra o Bahia é 3 x 0, pode anotar o que eu digo”.
Tomei foi um susto.
Puxei minha cadernetinha e anotei.
Gol de quem?
Ele fez um silêncio compenetrado e me ditou a súmula:
“Keno, Grafite e Dênis Morais”.
Todo mundo na lan house ficou sem acreditar. O pessimista animado assim?
“É que Denis Moraes gosta de fazer gol no Bahia”.
**
Liguei para Gerrá, nosso cronista do povão coral.
“E aí, Gerrá, tens texto pra hoje?”
“Tou sem tempo nenhum. Tinha até um mote: o otimismo do supervisor de segurança aqui do Trabalho, Gilvan. Pra Gilvan não tem tempo ruim. O Santa Cruz sempre ganhará”.
“E pra hoje, o que foi que ele arriscou?”
“Ôxe. Logo cedo ele gritou – E hoje?”
“Ele emendou a resposta – é 3 a 0 – três gol de Grafite”
Eu disse: “Dois dele e um de Keno”.
Gilvan fez um legal pra mim.
Então, meus amigos, é separar a camisa, a bermuda, cueca, radinho de pilha, fone de ouvido, fazer as mandingas de sempre e seguir para o Arrudão.
Pelos palpites felizes coletados por este afamado Blog, vai ser 3 x 0 para o Santa. E Grafite vai se dar bem.

Camisa nova

Tem um dito popular que diz assim: cobra que não anda, não come sapo.

É com base nessa filosofia e pensando no próximo carnaval, que a turma da Minha Cobra já começou a botar a Troça na rua.

Com a necessidade de angariar fundos para reformar a Cobra que domina o carnaval de Olinda, os responsáveis pela Troça começaram a procurar alternativas para conseguir o dinheiro.

De acordo com o diretor de alegorias, Claudemir Pereira, não é uma simples reforma na Cobra. “Vamos fazer uma nova cabeça, mudar a estrutura que sustenta o corpo e se der, trocar o tecido coral. Na verdade não é uma reforma. Estamos querendo fazer uma nova Cobra”.

Dentre as várias ideias que surgiram, a mais viável foi a confecção de uma camisa. E, pelo fato de muita gente ainda procurar a camisa do carnaval deste ano, que fez uma homenagem a Chico Sciense, o lendário mangueboy  foi o tema escolhido para ilustrar a estampa.

“Faremos uma pequena quantidade. Será uma edição limitada. O projeto é fazer apenas 100 camisas. Camisas brancas e camisas pretas. Masculinas e baby look. As camisas serão em malha de algodão e com a impressão em silk-screen”, informou o diretor de figurinos, Robson Senna.

As camisas serão vendidas ao preço de R$ 40,00. Como será uma quantidade limitada, a turma da Troça Carnavalesca Mista Ofídica Erótica Etílica está fazendo uma pré-venda. O procedimento é o seguinte: o interessado diz o tamanho e a cor, paga 50% do valor e garante a mercadoria.

“É simples. É só entrar em contato conosco, através de e-mail(gerralima@gmail.com) ou por mensagem no facebook da Minha Cobra(www.facebook.com/tcmminhacobra), que passamos os dados para depósito ou combinamos outra forma de pegar a metade do valor. Essa é a única forma que temos de garantir o tamanho e a cor”, disse Esequias Pierre, diretor de comunicação e cerimonial.

Então, meus nobres, está dado o recado. Com um tiro só você mata dois leões. Adquire a camisa e ajuda a turma da Troça a fazer a nova Cobra.

E domingo, todos ao Arruda!

TCMOEE Minha Cobra

www.facebook.com/tcmminhacobra

gerralima@gmail.com

Nossa palavra abalizada

Depois de três meses entregue ao DM, tratando de uma tendinite, voltei aos gramados, ganhei três seguidas, bateu o cansaço e desisti de ir ao Arruda. Tentei assistir na TV. Pra não perder o sono, na metade do segundo tempo acionei a função soneca da televisão e fui adormecendo.

Só que Samarone havia me passado a função de escrever algo sobre o jogo. Do que vi na partida, se fosse para escolher um personagem, teclaria umas linhas sobre o paletó de Milton Mendes.

Um calor dos infernos e o cara vestido com uma roupa daquela? Aquele terno deve ter algum sistema de refrigeração ou é feita de algum tecido especial para quem mora no deserto do Saara ou no Vale da Morte na Califórnia. Só pode ser.

Bom, como não fui ao Arruda e nem assisti ao jogo todo, recorri ao zap-zap para ver os comentários dos amigos.

Seguem abaixo, algumas boas opiniões sobre ontem. Para evitar problemas judiciais, pois não pedi autorização para fazer a publicação, não colocarei o nome dos autores.

Torcedor 1: “Esse técnico é doido. Esse General não passa de um recruta. O time tá uma bosta”.

Torcedor 2: “Néris já fez três merdas em campo”.

Torcedor 3: “Ítalo Borges parece que é sócio. Ganhou uma promoção do programa de sócios e tem o direito de jogar 10 minutos. Pedro Botelho vai entrar. Outro sócio sorteado.Vocês tem que participar da próxima promoção, mas tem que devolver o uniforme depois”.

Torcedor 4: “O melhor do jogo é o paletó do treinador”.

Torcedor 5; “Esse técnico só pode tá usando esse jogo pra fazer experiências no time. Que porra é essa?!”

Torcedor 6: “Minha esperança é que MM além de treinador, seja mágico. Vai ver que esse paletó é da época que ele trabalhava no circo”.

Torcedor 7: “Leandrinho ainda fez algo hoje. Chegou até a aparecer para receber bola. Raniel tá perdido. Pedro Botelho entrou com disposição. Bruno Moraes não recebeu bola decente. Tem de melhorar muito. Léo Moura no meio… nulo”.

Torcedor 8: “Rapaz, esse técnico estudou muito e ficou meio doido mesmo. Um calor do carai e o cara de paletó e gravata. No jogo passado, botou dois laterais esquerdos. Hoje entrou com um time e com meia hora de jogo trocou o lateral direito improvisado por um atacante que nunca tinha jogado e que também entrou improvisado na direita.

Mas… vamos apoiar. TRIIIIII”.

Torcedor 9: “Acho que só vamos precisar trazer: 1 lateral direito, 2 zagueiros, 1 lateral esquerdo, 2 volantes, 2 meias, 2 atacantes. Cinco de verdade. Cinco do nível de Uillan Correia. Daí, esses podem brigar para serem titulares ao lado de Cardoso, JP e talvez Grafite. Pode mandar embora: Lucas Ramon, Leonardo, Thiago Costa, Dedé, Pedrinho, Leandrinho, Léo Moura, Ítalo e esse General Cocô. Falta quase nada. Pouca coisa.”

Torcedor 10: “Jogo ruim do caralho”.

Torcedor 11: “Classificamos”.

Apesar de algumas divergências, essa turma dos comentários converge numa coisa: domingo, todos estarão no Arruda para apoiar o Santa Cruz.

E eu, também!

Um papo com o “Professor”

Hoje, por uma dessas coincidências da vida, encontrei MM no shopping. De pronto, o reconheci.

A patroa foi logo instigando.

— E aí, vamos falar com ele?

— Relaxa, deixa o cara comer.

MM tava almoçando. Discreto, estava sozinho na mesa, batendo um prato de camarão. Bebia algo parecido com suco de limão. Talvez até fosse uma limonada.

Fiquei por ali, tentando vencer a timidez e esperando a hora certa de dar o bote.

Se fosse pela primeira-dama, era para eu ter ido ao primeiro impulso.

— Vai! Daqui a pouco chega alguém. Vai lá, diz que é do Blog. Inventa uma história. Diz que é jornalista. Essas coisas…

— Relaxa. Peraí.

Foi quando eu vi que ele estava quase acabando o almoço, me levantei calmamente e o abordei.

— Opa. Tudo bom?!! – eu disse.

— Tudo bem! – ele respondeu.

A mulher não segurou a curiosidade, terminou rapidamente a comida e veio pra perto.

— Olha, sou do Blog do Santinha. Não sei como está teu tempo, será que a gente podia bater um papo? – eu perguntei e já fui sentando na cadeira ao lado.

— Sim! Claro! – com simpatia e de forma tranquila, MM topou na hora.

— E aí, muito trabalho? – tentei começar algo que parecesse uma entrevista.

— Oh rapaz, nem fale! Muito trabalho, viu. Aproveitando aqui a hora do almoço pra dar uma relaxada.

Eu continuei meio sem jeito. Afinal não sou jornalista.

Sem saber direito o que perguntar e sem querer importunar o cara, por um instante fiquei mudo. Mas minha esposa foi ágil e mandou essa:

— E a cidade, tá gostando?

— Cidade, como assim? – ele indagou.

— Recife!

— Ah, tá! Recife! Rapaz, Recife é um lugar fantástico. Apesar dos problemas, é um lugar super agradável. Olha, em minha opinião, Recife é uma cidade que cresceu muito dentro de um pequeno espaço físico. Mas as broncas que tem por aqui são comuns em qualquer cidade grande.

E foi falando outras coisas da nossa Veneza brasileira. Fiquei até impressionado com o conhecimento dele a respeito da capital pernambucana.

Nessa hora passou um cidadão vestido com nosso manto coral. Aproveitei o ensejo e tentei emplacar o futebol no nosso bate-papo.

— Acho essa camisa, uma das mais bonitas!

MM apenas deu uma discreta risadinha.

Quando vi, meio que de repente, o garçon trouxe a conta.

Nem percebi MM ter pedido para passar a régua.

A esposa olhou para mim de forma repreensiva. Assim, como quem tá querendo dizer, “putz, deixa de conversar merda”.

Emendei rapidamente.

— Sim. Já vai? E o time, da pra ajeitar? Vai ter que contratar? – eu perguntei numa tacada só.

— Aquele tal de Leonardo, é fraco. Aquilo é uma desgraça. – a mulher completou.

— Pois é, professor! Vai ter que dispensar um bocado de gente, né? – eu indaguei.

— Como assim? Professor… – fez ar de riso e continuou – não sou professor, sou advogado.

— Ahahaha, e eu não sou jornalista. Pensei que você era Milton Mendes, o novo treinador do Santa Cruz.

Caímos na gargalhada.

— Então estamos quites. Nem sou o treinador do Santa e você não é jornalista.

— Pois é… e hoje é 1º de abril.

Nos despedimos, apertamos as mãos e saímos feliz da vida.