Perdi quase todo o primeiro tempo de ontem. Assim que entrei no carro para ir pra casa, liguei o rádio e ouvi o locutor anunciar que o Santa Cruz perdia por um a zero. Desanimei na hora.
Pra morgar mais ainda, o comentarista avisa que com aquele resultado a gente ficava na lanterna. Pensei até em mudar de estação e ouvir música.
Mas aí, o rádio grita goooool do Santa e a esperança faz um retorno e vola. Aumento o volume do rádio, piso no acelerador e consigo chegar em casa a tempo de ver os melhores momentos.
Começa o segundo tempo. O Raniel joga muito, falta apenas uns pequenos ajustes. Moisés é de uma ruindade inexplicável. Vejo que nosso time tem chances claras de vencer o jogo.
E fiquei ali, sentando na cama, com os olhos grudados na TV e torcendo feito um condenado.
Quando Betinho fez o gol da virada, por pouco não acordei o condomínio com meu grito. Minha mulher cochilava do lado. Tomou um susto arretado, mas logo em seguida abriu o sorriso e disse:
— domingo a gente vai, né?
— tem calma. o jogo não acabou, ainda.
Partida encerrada e a doidice toma conta da massa coral. Meu zap-zap não para apitar.
“Ô, Ô,Ô, Betinho é matador”.
“Essa catita é minha freguesa. Desde 2013 é só lapada”.
“Triiii”.
“Domingo, eu vou”.
“Eu também”.
“Quem mais vai, sou eu”.
Samarone, cheio de cerva na cabeça, telefona. O bicho ainda estava na casa de Pedoca, onde assistiu ao clássico. Sama faz uns comentários sem pé nem cabeça sobre o jogo.
Comento com ele que em 2013 nossa arrancada começou justamente com uma lapada no Clube Barbie Capibaribe. Aviso que já estamos no G4
Nosso poeta sentencia.
“Gerrá, agora é com a torcida. Sempre foi assim. Domingo pode ser aonde for, mas a gente tem que ir”.
Ele está certíssimo.
Tenho pra mim que até Inácio vai.
Hoje cedo, Naná já ligou pra saber se vamos alugar uma Van.
Não sei se de Van, metrô ou táxi, só sei que eu vou.
A hora é de deixarmos um pouco de lado as convicções e a coerência, de dar folga a chatice e nos mandar para o jogo de domingo. O Santa está nos chamando.