Quando saímos do calvário e subimos para série B, aquela partida inesquecível contra o Betim, quem nos salvou de um infarto foi o grito “Ah! É Caça-Rato”. Meu coração batia a mil por hora, minhas mãos suavam frio. Num último suspiro de esperança, a torcida se transformou numa única voz e pediu o Caça. E Caça-Rato nos deu uma das maiores alegrias de todos os tempos.
Quantas e quantas vezes, na hora do pega-pra-capar, quando a gente tava levando aquele sufoco, a turma gritava “Ah! É Renatinho”. Renatinho, o nosso pirralha, vinha correndo e a torcida transpirava a última gota de otimismo. As arquibancadas se animavam e empurrava o time.
Tinha também o General. O jogo tava ali para terminar, a torcida quase tendo um ataque de nervos. De repente o treinador lembrava de Bruno Moraes. Quando Catatau corria e tocava no General, a massa soltava o grito: Acabô o caô! O General chegô! O General chegô! Bruno Moraes entrava pilhado e por várias vezes nos salvou de voltar para casa de mal humor.
Todo time que ser preza, tem que ter um ídolo no banco de reservas. Aquele cara que a torcida acredita que dá sorte. Que vai entrar e vai mudar a partida. Uma espécie de talismã. Aquele atleta que o torcedor no auge da raiva, da angustia e do pessimismo, inconscientemente recorre ao nome dele.
Quem não já ouviu do amigo que está ao lado: tá na hora de botar fulano. Ou então: tem que botar beltrano, isso é jogo pra ele.
Até em time de pelada, é assim. Na minha época de adolescente, Pé de Bomba era o reserva de ouro do time do bairro em que eu morava. Forte e entroncado, era dono de um futebol medíocre e de pouca inteligência. Mas Pé tinha uma qualidade: seu chute era fortíssimo. Além disso, não levava desaforo pra casa. Nos torneios, quando a derrota estava na nossa porta, a gente começava a pedir a entrada de Pé de Bomba. Em ritmo de funk, a rapaziada cantava: “É-é-é-é-é! É Pé de Bomba”.
Até no time de futebol de mesa, todo mundo tem o botão da sorte. Que fica guardado e só entra quando precisa decidir o jogo.
Eu tinha Azulão. De acrílico, Azulão era um exímio batedor de falta. Diziam que ele batia falta melhor do que Zico. Eu sempre deixava Azula guardado dentro da flanela, para colocá-lo na ocasião certa. Por várias vezes, Azulão entrou e, fazendo gol ou não, me deu sorte e garantiu minha vitória.
Nesse time atual do Santa Cruz, quando estamos levando sufoco, a gente olha pro banco e não vê ninguém que amenize nosso sofrimento. Mas não tem nenhum nome que a torcida possa chamar. Muito pelo contrário, tem uns que só aumentam a nossa angustia e nossa irritação.