Toda vez que encontro com Ivonaldo, o cara da xerox,sou puxado para uma conversa. Na maioria das vezes, ele fala por nós dois.
Gente boa, ele é da turma que era frequentadora assídua do Todos com a Nota. Sempre que posso, dou um ingresso a ele.
No nosso papo é sempre música, política e futebol. Futebol não, o Santa Cruz, é claro. Tem uma frase dele que guardo comigo:
“A torcida só incentiva o time, se ele incentivar ela”.
Esbarrei com Ivonaldo no corredor do segundo andar. O cabra estava com uma raridade nas mãos: o LP “Beijoqueiro do Amor”, de Paulo Márcio.
Me mostrou o disco, perguntou se eu conhecia. E cantarolou:
“Oh, oh, sou beijoqueiro do amor/ Oh, oh, eu beijo mais que um beija-flor”
— Esse é fera – ele disse.
Eu concordei.
Começamos a falar do Santa Cruz. A decepção, a esperança, nossas chances, etc e tal.
— Sabe a Ponte Preta? O Centro de Treinamento deles só tem dois campos oficiais! – ele falou.
Confessei que não sabia.
— A Chapecoense tem CT! – afirmou Ivonaldo.
Perguntei se ele tava fazendo alguma monografia sobre centros de treinamento. Ele riu.
Pegamos o elevador. No andar de baixo, entrou uma coisa linda. Ivonaldo se calou um pouco.
Quando chegou ao térreo, o cara da xerox pegou no meu braço e mandou:
— Vou lhe dizer uma coisa. Pra fazer gol, só tem o Grafite. Ele já é nego véio. A turma achava que Negão ía tá iluminado do começo ao fim do campeonato. Inxiste isso?
E continuou a falação:
— A torcida? Tem culpa, não. E é a gente que contrata, é? Quem contrata é o diretor e o treinador.
— Trouxeram cada desgraça pior do que a outra. Aquele Roberto, o tal do Bolañus, esse Marion… são ruim que dói.
— E Lelê? E o General? E Allan Vieira? Essas pestes é tudo jogador de seribê.
— E aquele Marcinho? O cabra veio somente pra fazer regime.
— A turma pensa que Seriá é Seribê. É não. É diferente. E né por nada não, esse time aí, se tivesse na seribê tava dando raiva. Olhe, sei não…
Concordei com tudo. Me despedi e perguntei se ele já havia jogado a toalha.
— Não. Oxente, só jogo a tolha quando a matemática provar que não dá mais pra gente se livrar.
E concluiu:
— Sim, essa Sulamericana tem nada a ver com seriá. E eles tem um medo arretado da gente.