Apenas um jogo

Eu até tento controlar os nervos. Tento fazer de conta que sou forte, que o futebol é apenas uma diversão.

No jogo passado, quis ficar imune e segurar a emoção. Mas foi chegando o dia e, uma mistura de ansiedade, angustia, sei lá o que, vai tomando conta da gente.

Domingo, quando vi o movimento nas ruas, as pessoas, bicicletas, as vans, as kombis e ônibus lotados dos mais diversos torcedores do Santa Cruz, do Santa Cruz das bandas do Arruda, o coração foi se desmascarando e mostrando sua face. O rosto do coração preto-branco-vermelho. O coração que vibra, que torce, que entra em campo, que defende, que ataca, que faz o gol!

Já dentro do estádio, me peguei com a mão gelada e as pernas bambas.  Enchi os olhos de lágrimas no golaço de Vitor.

Estou assim, agora: nervoso! ansioso! querendo que esse domingo chegue antes do que está marcado no calendário. Sem conseguir pensar em outra coisa que não seja a partida decisiva.

Confiante? Sim. O time incorporou a raça coral e está jogando como se fosse nós em campo. Os caras sentiram de perto a força da nossa torcida e o tamanho da nossa paixão. Como se diz no linguajar do boleiro, o time está focado.

Mas futebol é futebol. E mata-mata é pra acabar com  qualquer racionalidade esportiva. E aí, lá vem aquela angustia, aquele sofrimento. Nem escrever, a gente consegue.

É, meus amigos, quem for de beber, beba! Quem for de rezar, reze! Falta apenas um jogo.

Apenas dois jogos.

A rodada desse sábado não foi boa para os pernambucanos: Do Recife levou outra lapada e está descendo ladeira abaixo em direção à séribê e o Capibaribe segue mantendo a velha tradição de nadar e morrer na praia. Se lascaram bonitinho.
Do nosso lado, vi uns sites que não botavam muita fé na classificação do Santinha para a séribê. As estatísticas eram baseadas não sei em que método. Parecia mais papo de bebo em boteco. De minha parte, estou bastante confiante. Mas isso não significa que o jogo de hoje será fácil. Não, meus amigos e amigas, não será.
O jogo de hoje é decisivo. Estamos apenas a dois jogos da B – 180 minutos e vai ser cana até umas horas. Todo tricolor coral das bandas do Arruda que converso parece esperançoso. Mesmo os mais desconfiados. Seu Manoel, o velho e bom garçom de Seu Sebastião do Pátio da Santa Cruz, sempre repete: “Ah, é Pipico”.
Hoje não quero falar dos desacertos dessa gestão. Hoje é dia de esperança e de deixar as mazelas, por enquanto, de lado. É dia de invadir o Arruda, de celebrar o retorno à séribê, sair de casa com uma vitória e tomar muita cerveja porque ninguém é de ferro. E pagaram junho para aumentar nossas esperanças!
Danny Morais, William e Arthur estão de volta ao time. Sandoval, Paraíba e Robinho devem compor o elenco também. Vou escutar a resenha para saber a escalação definitiva.
Mas o amigo Guto resumiu, na última postagem de Gerrá, o espirito desse jogo: “Agora é mão na cara e dedo no olho. Tem isso de time bom e ruim mais não. É jogar com o coração e na base da raça. Avante Santa Cruz!”. É isso mesmo. Raça, raça pura e vontade de mandar essa séricê para a puta que a pariu.
A Diretoria espera um público de 50 mil torcedores. No meio de uma crise econômica no país e sabendo que a torcida do Santa Cruz é o povão mesmo, achei um pouco salgado o preço dos ingressos para o torcedor que vai ter que espremer o bolso pra ir ao Arruda. Era para ter promoção em um jogo tão decisivo assim. Pelo que vi até agora, chegamos a quase 20 mil ingressos vendidos. Mas nunca sabemos o que é real ou não nesses esquemas.
Verdade que sempre teremos os pessimistas de plantão que dizem que tudo está perdido e que o clube vai sumir do mapa. Desde sempre que escuto isso. De salários atrasados a crises administrativas, o Santinha sempre sobreviveu. De uma coisa eu não duvido nem a pau: o que move o Santa Cruz, o que o faz sempre ser essa paixão arrebatadora é o amor incondicional de sua torcida.
Já estivemos em momentos piores. Estamos livre da famigerada D esse ano e caminhando para a B em 2019 – e olha que tem neguinho arrogante indo com a gente também. Se liguem não.
Hoje estou cheiro de esperança. Hoje é nosso dia. Dia da vitória e de muita festa. Apenas dois jogos. Santa Cruz de corpo e alma.

O Santa Cruz não sai da gente

Passei uns dias de férias. Fazia tempo que não tirava 30 dias. Desliguei o computador. Me desliguei das notícias. Por várias vezes, desliguei até o celular.

Depois da presepada com o Globo e da lapada que levamos na Paraíba, pensei em me desligar do Santa Cruz. Mas eis que viajo para Garanhuns e encontro os incansáveis Esequias, Robson e Marconi. Era cachicol do Santa Cruz, agasalho coral, boné, camisa…, até uma visita ao nosso ex-zagueiro Valença, os caras fizeram. Foram bater em Bom Conselho para encontrar aquele que parou Tévis.

Pra atanazar ainda mais o meu juízo, fiquei na casa de Lígia. Lá tem até uma geladeira nas cores corais e com um escudo enorme do Santa Cruz na porta.

A turma marcou para ver o jogo contra o Confiança. Numa feijoada perto da Buchada do Gago. Eu tentei me esquivar. Fui pro Euclides Dourado com a família. Só que não tirava o olho do relógio e o pensamento no jogo.

Uma galera dançava street dance. Um senhor tocava uma sanfona. Um mamulengo se apresentava perto da Rural de Roger.

Caía uma chuva fina e eu dava umas goladas numa aguardente boa danada, a Nordestina Gold.

O Santa Cruz estava quase entrando em campo. Foi quando chegou um zap de Marconi avisando que não iria ver o jogo na tal feijoada, mas que estava no Varanda e lá passaria na TV. Faltavam 15 minutos pra começar a partida.

As meninas brincavam no parque de diversão, a chuva começava a ficar mais forte, o frio chegou de vez e eu já havia tomado umas cinco lapadas de cachaça.

Lá vem outro zap. “Estou no Varanda. Vai começar.”

O Varanda ficava bem dizer na metade do caminho entre o Euclides Dourada e a casa onde nós estávamos hospedados. Uma pequena caminhada. Uns 800 metros de distância.

Fui pra lá.

Umas doses de aguardente, um pratinho de tripa assada, uma mesa de primeira linha: Marconi e Gisela, Hélio Mattos, Marquinhos, Vinicius, Mariá e Alessandra. Uma vitória excelente: quatro a zero.

Daí pra frente, meus amigos, voltou a doidice, a esperança, o otimismo, a vontade de estar junto do meu time. Até pro treino eu fui.

Domingo, corri para chegar logo em casa e assistir ao jogo contra o Juazeirense.

Sábado que vem, vou é pro Arruda. Só faltam três jogos para subirmos. É no grito e na raça. A hora é de apoio incondicional.

Não sei como Samarone está aguentando ficar longe do Santa Cruz, justamente agora!