Amigos corais, a crônica esportiva, os rádios, as TVs, os sites, blogs dirão que o Santa Cruz jogou bem ontem, derrotou o escrete do Brasiliense por 2 x 0 e se classificou para a fase do mata-mata da Série C. É a informação básica, o que dizem as regras do jornalismo. Dirão também que o Arruda tinha 38.780 torcedores, e que a renda foi de R$ 531.241,00.
Mas não foi isso o que aconteceu.
O que tivemos ontem, de verdade, foi um daqueles jogos épicos do Santa Cruz. Vivemos uma noite de pura raça, lirismo, paixão. O amor transbordava nas arquibancadas, sociais, nas gerais, dentro e fora do campo. O amor às três cores nunca esteve tão vivo. Nossos jogadores literalmente comeram a grama. A cada chute, cada rebatida, o estádio respondia com urros, aplausos, gritos, canções.
No segundo gol,lembro que abracei vários camaradas, a minha “Turma do Escudo” e ficamos comemorando vários minutos. Nada mais importava ali, estávamos classificados.
Súbito, todos os fantasmas foram tangidos. Já estamos na próxima fase com uma rodada de antecipação. Os jogadores se voltaram para todos os lados do estádio, para agradecer o que fizemos. Nós atravessamos juntos teimosias, erros, fracassos e demos a volta por cima.
Mas há um momento inesquecível, nesta jornada épica. Foi à saída do Arruda.
A massa coral começou a sair, e no caminho até o último portão do estádio, vi uma multidão que ria. Era uma massa compacta, sorridente, abraçada, cantando e rindo.
Vi casais abraçados, rindo, fazendo brincadeiras, filhos dando cutucões nos pais, adolescentes se pendurando nos tios, velhos querendo dar cambalhotas. Vi senhoras que um dia foram sérias gritando de euforia, psicanalistas histéricos de felicidade, todos numa só pulsação. Todos juntaram mais essa vitória. Pouco depois, passou Capiba ao meu lado, em silêncio, com o rosto banhado de lágrimas e os óculos embaçados.
Escutei seu pianinho e pude vê-lo tocando, repetindo as três primeira notas: San-ta-Cruz/San-ta-Cruz…
Eram milhares de sorrisos, numa interminável alegria, numa algazarra, numa febre, numa procissão inversa.
Nós saíamos de nosso templo coral deixando para trás as dores da vida, os perdões nunca concedidos, os erros e naufrágios, as injustiças e maldades.
O Santa Cruz tem este mistério – renasce e nos faz renascer sempre. Parece que estamos condenados à eternidade.
É tudo que tenho a dizer. Desculpem, mas amanheci comovido, como esses meninos que têm asma e sofrem em silêncio, e choram nas grandes felicidades.