Tijolaço pode?

Ainda não completou um mês a morte do rubro-negro atingido por uma privada jogada do alto do estádio do Arruda. Pois bem, 22 dias depois do assassinato do rapaz na rua das Moças, um paralelepípedo tamanho GG voou das arquibancadas de outro estádio pernambucano, estilhaçou o vidro traseiro do carro do quarto árbitro de uma partida da série A, amassou o capô e foi parar no banco de trás.

Se o árbitro da partida e os bandeirinhas estivessem lá – pois nesse carro que eles foram do hotel para o estádio – alguém tinha passado dessa para melhor.

A coincidência das ações e do contexto – objetos pesados jogados do alto de estádios, minutos depois de partidas de futebol realizadas na mesma cidade – seria o bastante para que o fato merecesse bastante destaque e repercussão.

Nada disso. Quem usou os microfones para berrar que o Santa Cruz tinha de ser punido, calado ficou. As autoridades de segurança que apontaram o clube como culpado na primeira entrevista coletiva, não apareceram, não procuraram responsabilizar ninguém. Nenhum chargista se meteu a engraçadinho. Nenhum fotógrafo ou cinegrafista procurou outro ângulo para fotografar o carro (esperamos 48 horas por um foto melhor do que essa porcaria que ilustra a postagem), não apareceu um investigador para tentar adivinhar de onde foi jogado o pedregulho.

Na rádio, um comentarista – ou vários deles – disse com razão que não dá para comparar uma morte com um vidro quebrado. Não, não dá. Isso qualquer um pode compreender. O que é absolutamente incompreensível é que ninguém relacione um fato com outro. Não se trata de relacionar alhos com bugalhos.

Sinceramente, não acreditamos aqui no blog que a mídia, o ministério público e a polícia estejam de proteção com o Sport. Não é isso. Não é simples assim, apesar do clube se beneficiar com o silêncio.

É provável que o governo estadual não queira barulho com isso a tão poucos dias da Copa do Mundo. Compreensível, mas não é a coisa mais sensata a fazer: novamente “estão esperando morrer alguém” para usar o velho clichê. Quando a “merda virar boné” (agora este precário escriba recorre a um dito popular), como já virou há 22 dias, talvez já não baste botar a culpa no clube e ponto final, como fizeram na manhã do sábado pós-privada.

Já o silêncio dos profissionais da mídia, este eu não entendo. Será que consideram normal um tijolo voar da arquibancada, do mesmo jeito que não estavam nem aí quando tudo quanto é coisa era jogada das gerais do Arruda antes de 2 de maio? Marcaria um xis nesse resposta, caso fosse uma questão de múltipla escolha.

Ou será que precisam ser mobilizados por uma tragédia óbvia para deixar o estado de acomodação e a preguiça? Xis também.

É provável que raciocinem desse jeito: privada é notícia, tijolo acontece todo dias, tijolo pode”. E tome xis.

Não conseguem entender nada vezes nada da equação violência+futebol? Todas as respostas são verdadeiras.

Não sou hipócrita: torço para que o Sport seja punido, que se lasque, perca mandos de campos, jogue para ninguém. Mas sei que isso não vai resolver nada.

É o clube que paga as fortunas exigidas pelos jogadores, entrega as placas do seu estádio para a TV comercializar, paga as taxas que a CBF exige a cada partida, expõe sua marca e sua imagem, quase sempre é roubado pelos seus próprios cartolas. O clube está na ponta da corda que rompe quando os Três Poderes da República, a emissora da TV, os patrocinadores do campeonato, FPF e a CBF  – nenhum deles dependem dos tostões que entram pelas bilheterias – fingem não ter nada a ver com isso.

Jejum, pedras e biritas

Até agora, neste ano de 2014, Sérgio Guedes disputou quinze partidas. Ganhou dois jogos, empatou oito vezes e levou cinco lapadas. Em seis jogos ele estava à frente do comando do time do Oeste. No Santa Cruz são nove embates, uma vitória e oito empates.

Muitos ainda acham cedo para apedrejar o treinador. Eu tenho minhas dúvidas a respeito disto. Mas se formos olhar para o “currículo” dele, fica difícil acreditar que com este técnico, nosso time consiga deslanchar na competição.

Mas deixemos esse assunto pra depois da copa. Vou aqui regando a minha esperança e acreditando que a parada por causa do mundial de futebol vai fazer com que o treinador conserte nosso time.

Por falar em apedrejar, no domingo passado, no jogo na Ilha do Retiro, voaram pedras e metralhas. Uma delas acertou em cheio o carro do quarto árbitro, Sebastião Rufino Filho. Tivesse acertado a cabeça de alguém, teria feito um estrago grande no crânio e muito provavelmente o filho de Sebastião Rufino teria morrido.

Fiquei sabendo que o fato foi parar na súmula da partida. Mas o interessante é a pouca repercussão que isto teve na mídia. Uma nota aqui, uma postagem acolá e mais nada. Os holofotes não se interessaram em transformar o ocorrido em manchetes sensacionalistas.

Tivesse sido outro vaso sanitário ou uma pia ou uma grade de cerveja, teria virado notícia mundial.

Falando em cerveja, acabo de ver a tabela de preços que vai vigorar nas lanchonetes das Arenas durante os jogos da copa aqui no Brasil.

É uma lista bem grandinha de comes e bebes, com preços bem salgadinhos.

Tem Rippled Potato Crisps e Cheese Tortilla Chips. Cada pacote de 100g custará R$ 8,00.

Tem também alguns sandubas: Double cheeseburger, turkey and cheese  e o famoso cachorro quente que custará somente R$ 10,00.

Ali em São Lourenço da Mata, vão vender tapioca ao preço de R$ 8,00 e Guava cake a R$ 5,00. Lá em Salvador vai ter acarajé sendo vendido ao preço de R$ 8,00 e a Coconut sweet será 5,00.

Fui baixando a vista e cheguei ao que mais me interessa, o cardápio dos drinks. A coca-cola será vendida a R$ 8,00, uma Crystal Water de 500 ml vai custar apenas R$ 6,00 e um Matte herb iced infusion sairá ao preço de R$ 8,00.

Aí, pra minha surpresa, a FIFA repete o que fez na Copa das Confederações e arrota na cara da CBF e de quem mais vier com essa conversa mole de proibir venda de bebidas nos estádios. Está escrito no cardápio Budweiser e Brahma Beer.  Isto mesmo meus amigos, vão vender cerveja nos jogos. Cerveja com álcool. Né lasca?

Eu só espero que alguém tome a iniciativa e provoque a discussão sobre essa história de não se poder vender bebidas durante os jogos.

Espero também que Sérgio Guedes consiga acabar com seu jejum e traga os três pontos.

Sobre as pedras e pedaços de concreto arremessados pela turma da torcida jovem, lanço a bola para Inácio França, pra ele finalizar a jogada.

Tédius futebolísticus

Tédio é uma coisa que dificilmente tenho na vida. Acho que conto nos dedos as vezes que senti tédio. O sujeito entediado, na minha opinião, é pouquíssimo criativo. Tenho minhas pilhas de livros, os amigos, minha companheira, os gatos, tenho os bares prediletos, a turma da pelada, duzentas mil coisas para fazer. Falta-me tempo, espaço e motivação para sentir tédio. Às vezes, fico sem fazer nada, só olhando para o tempo, e nem assim eu sinto tédio.

Sim Zé Ruela, como diz o velho zagueiro Stênio, e o que o combustível tem a ver com o posto de saúde?

É que nunca imaginei que o Santa Cruz, este de 2014, fosse me provocar tanto tédio como estou sentindo agora.

Empates e mais empates, jogos absolutamente previsíveis, uma zaga que é uma verdadeira mãe. Eu ligo a TV (ou o rádio) e já sei. Se o Santa fizer um gol, não vai dar nem tempo de comemorar, que vem o empate.

Leio os três jornais diariamente, por força do  hábito (e do trabalho). As matérias sobre o Santa exalam tédio. “Esses empates estão incomodando”, dizem atletas, comissão técnica, dirigentes, quase dormindo. Os jornalistas ficam caçando algo interessante para falar sobre o Mais Querido, uma novidade, mas isso fica uma tarefa mais para Dirceu Borboleta. Uma casa de repouso para a velhice, em Aldeia, deve estar mais animada que as dependências do Arruda.

As entrevistas dos jogadores, do treinador, são tédio puro. Sobram explicações lógicas. Não tem um que fale uma loucura, que diga uma asneira, nem que seja para alegrar o ambiente, a torcida. Nem a reles, simplória provocação. É quase um time politicamente correto. Até Caça-Rato, que tinha umas ondinhas, está bem comportado. Se o jogo de amanhã for de portões fechados mesmo, não vamos escutar sequer um grito de um jogador pedindo para apertar a marcação. Um reles “toca essa boca, caralho!” vamos escutar. O jogador que chamar o outro de “filho da puta”, porque perdeu um gol feito, é capaz de ser multado.

Na pelada que jogo toda quarta-feira, os caras parecem um bando de doidos. Levar um gol de bobeira é capaz de levar a uma guerra civil. Há discussões que duram dois dias. O sujeito que leva um gol no finalzinho, sai do campo como se tivesse morrido alguém da família. Ontem, Jorge Coxinha gritou tanto com Danilo, porque ele não cruzou a bola de primeira, que saiu do campo com cãibra nas cordas vocais.

Temos um time com vocação para escoteiros. E futebol não é coisa para bons moços. O pior é que já passou a idade para isso e a massa coral adora loucuras. Eu mesmo, tenho uma simpatia atávica por doidos de pedra.

O Santa, por sinal, tem uma tradição de ter doido no time. Lembremos de Gabriel, de Django. Mais recentemente, tivemos Brasão. Lembro que Brasão fez um gol e veio comemorar no escudo. De repente, ele tirou a imagem de um santo do meião e passou a beijar.

Não precisa ser nem craque. Basta um grão de loucura, para incendiar a torcida. Nosso Santa está mais parecendo aqueles caras que estão de saco cheio do trabalho, do casamento, e vão empurrando com  barriga.

Tédios futebolísticus, é o que estou vivendo.

Dizem que dia de sábado tem pelada na Tamarineira. Vou lá, dar uma olhada, para ver se pesco algum doido bom de bola, que queira jogar no Santa. A pior coisa do mundo é um clube que não nos dá sequer assunto para comentar com os amigos.

Nem tanto, nem tão pouco

Nos comentários da Internet, prevalece mesmo é o mau-humor. Tenho um blog de crônicas, de vez em quando chega uma mensagem falando do Brasil. Parece que vivemos no pior país do mundo. Somos uma África piorada, um Congo falido. Como não tenho Facebook, twitter, whatsup, nem imagino como deve andar o azedume pelas famosas “redes sociais”.

Bem, mas vamos ao ponto principal, que é o Santa Cruz.

Vamos com cinco empates em cinco jogos. Já vi colunista dizendo que Sérgio Guedes, se não ganhar logo, corre o risco de cair.

Me dei ao trabalho de assistir Icasa X Santa no sábado passado, na casa do adversário, com um bom público, torcida apoiando etc. O primeiro tempo foi equilibrado, mas o técnico Sérgio Guedes mexeu bem no intervalo, o time ficou visivelmente melhor, mandou no jogo. Fizemos 1 x 0 num golaço do Carlos Alberto, sofremos o empate num erro bizarro do zagueiro Renan, o time poderia ter um “apagão”, mas mostrou personalidade e foi pra cima.

Perdemos quatro chances claras de gol. No mínimo, o Santa poderia ter ganho por 3 x 1. Repito um detalhe – o time teve atitude, personalidade, não se acovardou com a bunda na parede, como estava virando receita de bolo. Um gol e o campo só chegava até o círculo central, na base dos chutões.

Uma vitória nos deixaria na sétima posição, já na rodada passada.

Eu não estou achando o Santa Cruz nem tão bom, a ponto de inspirar arroubos ou grandes esperanças, e nem tão ruim, a ponto de me tirar o humor, o sono, ou fazer prognósticos catastróficos, como uma possível queda.

Precisamos contratar jogadores, melhorar o meio de campo e consertar essa zaga, que agora vive batendo cabeça. Vi que acabaram de contratar o Araújo, com 36 anos. Porra, não tem gente mais jovem para dar um gás nesse time não? Tanto moleque bom de bola por aí, doido para jogar num clube grande como o Santa…

Na chegada do treinador, fiquei ressabiado. Ainda estava na memória aquele choramingo todo, quando ele saiu do Sport, derrotado. Ele me parecia mais um roqueiro que brigou com a banda e foi morar num sítio em Cotia. Mas, por estranho que pareça, o Santa estava precisando de alguém como ele. Um sujeito mais equilibrado, que conversasse com os jogadores, que fosse tirando o clima pesado da derrota (e como foi a derrota) para o arquirrival, na semifinal do Estadual. Esse trabalho mais psicológico, miúdo, era necessário. Ele foi resgatando a confiança de alguns jogadores. E sem confiança, o sujeito tem medo até de um sogro gago.

Não sei o que pensam os demais cronistas e comentaristas deste Blog do Santinha, mas não vejo horizontes sombrios para nosso Santa, ao longo dessa jornada. Podemos sim, olhar cada vez mais para a parte de cima da tabela.

Vamos ficar atentos, com os pés no chão, mas esse azedume nacional é contagioso. O Brasil não é o pior dos países do mundo e o Santa, nem de longe, é o pior time da Série B.

A greve acaba e o Coronel dá as caras

Texto escrito pelo Coronel Peçonha. Torcedor do Santa Cruz, sócio em dia, frequentador assíduo do Arruda, Advogado e militar nas horas vagas.

Confesso que já esperava um ano de centenário difícil; parece praga e não é o primeiro caso no Brasil.

Mas não tanto.

Primeiro, perdemos três mandos de campos porque uma tal organização (não é torcida, apesar de ser organizada) brigou lá em Maceió e o Santinha amargou um prejuízo de mais de um milhão de reais.

Depois, o caso da privada e a morte de um ser humano na saída do estádio. E de logo saliento meu total respeito, minha solidariedade e minhas condolências aos parentes do falecido, porque talvez escreva algo que não se gosta de dizer em momentos tão difíceis para quem perde um ente próximo e querido.

Na minha opinião, a mesma ideia “moralizadora” que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nos estádios é a que pune agora o Santa Cruz com a perda de cinco mandos de campo com portões fechados e mais multa de R$60.000,00 agora.

Puramente hipócrita.

Os três envolvidos no homicídio de um torcedor de outro time após o término da partida foram identificados e presos, servindo tal fato apenas como “atenuante” e não excludente da responsabilidade do clube, segundo o julgamento ocorrido hoje no STJD.

Se o clube vai responder por conta da atitude de três pessoas que agem sorrateiramente quando já acabada a partida e liberadas as torcidas, arrancam uma bacia sanitária (não era um pedaço de algo que estava solto) e atiram de um local já considerado esvaziado até pela Polícia Militar, perdoem-me a piada de mau humor, mas então o Santa Cruz é o primeiro clube de Pernambuco a incentivar atletas para as Olimpíadas de 2014 no Rio de Janeiro, permitindo o arremesso de peso em suas dependências.

Não tem graça por conta de se tratar de um homicídio (inaceitável em qualquer situação), mas não tem graça também o Santa Cruz virar bode expiatório de uma situação nacional.

Defendo até a infeliz tese de que se a morte fosse ocasionada pelo arremesso de uma pedra ou advinda de um tiro de arma de fogo, o caso se juntaria a tantos outros similares e o clube perderia um mando de campo, no máximo, quando muito.

Lembro também que a vítima estava no Arruda descumprindo expressa e conhecida determinação do Juiz da 5ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Recife/PE, que estabelecera que as principais torcidas organizadas se abstivessem de comparecer aos estádios dos três grandes do Recife (http://s.conjur.com.br/dl/juiz-impede-torcidas-organizadas.pdf). Sim, porque ninguém está falando, mas a vítima, ao comparecer ao Arruda não na condição de torcedor ou mero espectador e sim como representante de uma torcida organizada – dando suporte e apoio à torcida organizada do Paraná – infringia a proibição judicial.

Destaco isso porque no julgamento de hoje, um dos auditores chegou a aventar a possibilidade de a multa pecuniária ser destinada aos familiares da vítima.

NÃO! Não por isso, porque a condição da presença dele não era correta… representava uma facção idêntica à dos integrantes daquela que tanto prejuízo nos gerou e que o matou.

Não estou abrandando o homicídio, por favor, apenas alertando para esse fato, até porque a vítima poderia ter sido até um Policial Militar, que estava apenas cumprindo o seu trabalho naquela noite fria e com muita chuva, isto é, o crime horrendo não é diminuído pela condição da vítima.

E o que fazer?

Começo elogiando o trabalho do Jurídico do clube, que, estou certo, tanto reduzirá/extinguirá a punição imposta, quanto entrará com pedido suspensivo da aplicação da pena, ou seja, o Santa Cruz entra com recurso e pede para que só cumpra as partidas com perda de mando de campo com portões fechados após o julgamento final no STJD (hoje foi uma Comissão Disciplinar, cabe recurso ao Pleno).

Assim, o clube jogaria as partidas que faltam até a Copa dentro de seu campo e esperaria por um julgamento final do STJD menos hipócrita após o Mundial. O efeito suspensivo não é invenção, está previsto até no Código Brasileiro de Justiça Desportiva, arts. 147-A e 147-B.

Pela repercussão, é possível que o Santinha só consiga efeito suspensivo parcial, cumpriria apenas duas partidas de portões fechados (somente uma então, porque uma já o foi), o que já é muito bom diante do quadro geral atual.

Como disse, a hipocrisia diminuirá no STJD. Nosso clube – Presidência e Deliberativo – também poderá provar que não tem ligação alguma com a torcida organizada que só este ano está nos privando de quase ou mais de dois milhões de reais, além de um abalo na imagem que a torcida do “Santinha” tem pelo mundo afora.

Ora, vamos entrar com a ação judicial de indenização por danos morais e materiais contra a torcida organizada cujos integrantes realizaram o hediondo crime, bem como contra a torcida organizada que enviou integrantes ao Arruda, porque estes também não podiam estar nessa condição. Será uma prova a mais de que o clube nada teve a ver com a atitude dos assassinos!

Existem danos morais contra pessoas jurídicas e o Santa Cruz está sendo atingindo em sua honra e bom nome por conta do incidente. Os danos materiais decorrem das privações financeiras decorrentes das perdas do mando de campo. E as duas torcidas organizadas são responsáveis por seus membros quando eles atuam como representes delas.

Que acham?

“O Santa Cruz é minha pátria”

Recife, 15 de maio de 2014.

Coronel Peçonha

 

CR7 + R9 + AD99 + NJR11 = viadagem muita!

Estava prestes a generalizar: não gosto de marqueteiros de futebol. Era o que eu iria dizer, mas parei. Vou ser mais específico, é um esforço para me aproximar da minha verdade verdadeira: não gosto dos marqueteiros de futebol que conheço, incluindo nessa lista duas subcategorias, a dos “candidatos a” e os que pensam ser.

Nunca ouvi nada que preste sair da boca dessa turma que prolifera como coelhos, só para comparar com um bicho bonitinho que não ofende ninguém.

O papo que escuto é sempre o mesmo: “o mercado”, “as arenas”, “a força da marca”, “agregar valor com a marca tal”. Lorota. Tudo lorota. Discurso macaqueado, imitação dos manuais que aprendem na escola de MBA ou nos sites esportivos.

Quando o Santa Cruz está na berlinda, nunca escutei unzinho sequer falar de uma ideia ou proposta que considerasse o que o clube, a cidade e o estado têm de singular, de original. Que nada, é tudo ideia copiada.

Só não generalizei lá no início porque sempre aparecem na televisão ações de marketing que parecem ter saído por encomenda para esse ou aquele clube. O pessoal do Corinthians, por exemplo, é quentura.

É por isso, senhores, que eu sou arretado com certas viadagens de marqueteiros. Aliás, eu não. Nós. Falo por mim, por Gerrá e por Samarone.

E a viadagem da moda é essa de se referir a um jogador pelas suas iniciais e o número da camisa que ele veste. Pior ainda é que foi Ronaldo Fenômeno que começou esse história. Era R9 isso, R9 aquilo. O publicitário criou a marca e os jornalistas ficam repetindo, fazendo um favor para ambos, jogador e marqueteiro, ficarem ricos.

Pelo menos o agente de Ronaldo foi criativo. O de CR7, NJR11 e R10 são meros operadores de marca xerox. Se é que eles existem, pois às vezes eu acho que é tudo invenção dos redatores que fazem de tudo para parecerem moderninhos.

Sinceramente, quando o sujeito deixa de ser Cristiano Ronaldo para ser CR7, deixa de ser gente, passa a ser objeto à venda. Exceção faço para Caça-Rato, quando ele passa a ser CR7, é por greia, tiração de onda e chacota com o original. Mais humano e pernambucano impossível.

Os leitores, torcedores e radialistas sem imaginação adoram copiar e ficar repetindo as fórmulas que vêem na TV. Porque diabos chamar de André Dias de AD99, quando nem ele mesmo se submete a esse ridículo? André Dias é um sujeito simpático, educado, falante e atencioso com todos. AD99 não é nada vezes nada. Só dois dígitos e duas letras. É falso e artificial.

Ainda bem que antigamente não tinha essa frescura toda. Alguém imagina a genialidade de Pelé representada pela sigla P10?

E Garrincha como um reles e insignificante G7? O “bloco dos sete países mais ricos” morreriam de inveja, era capaz até de usarem o rosto de Mané como marca d’água nos banners dos encontros em Davos.

E a elegância de Platini por P10? Ops, nesse caso teríamos um problema judicial a ser resolvido. Mas, sinceramente, essa batalha na Justiça não daria nem para a saída. Duvido que um juiz desse ganho de causa a Platini, que teria de se virar com MP10.

E aquela leveza de Zico, que parecia levitar em campo, como um pesadíssimo Z10? Imagino até o quiproquó com Zidane, que usaria o Z10 também, mas o staff de Zico se arretaria, os assessores de Zidane fariam uma proposta ainda mais esquisita 10Z2 , numa alusão ao duplo Z de Zinedine Zidane. A ideia de usar ZZ10 seria descartada de cara, pois ficaria muito parecido com a expressão do sono e do ronco nos quadrinhos.

Diego Maradona seria o DM10, o que, admitamos, viria bem a calhar para DM9.

E o que dizer do bravo Constantin Ulansky, zagueiro eslovaco que protege a área do brioso Slovan Bratislava, mas já brilhou no futebol romeno? Ele seria o CU4? Não o conheço, mas duvido que mereça uma coisa dessas.

A escalação do Santa virá assim: TC1, OZ2 (ou N2, Sérgio Guedes na dúvida), ES3, RF4, R6 (na falta do bom TC6); SM5, M11, LS8 (pode ser também LJ8), CA10; CR7 e LG9. Coisa para endoidar estudante de Física no primeiro ano da faculdade.

Antes de publicar esse texto, Gerrá da Zabumba levantou o dedo e pediu: “Bota lá que eu seria o GL24”? Geraldo Lima 24, o número da camisa dos sonhos do nosso zabumbeiro. “Sei, é Gays e Lésbicas 24”, emendou Samarone, o S44, em homenagem a uma camisa com esse número que ele usa na pelada do campo dos clube dos oficiais da PM.

Vou combinar com meu marqueteiro para ser o IF69. Porque eu gosto mesmo é de sacanagem.

Bonintinho, mas ordinário

Me animei todo pra ir assistir ao jogo contra o tal Luverdense e tempo ajudou fazendo um sol daqueles de verão.

Organizamos Van, chamamos os amigos, juntamos a família. A hora era de dar apoio ao Santa Cruz e de quebra, conhecer a polêmica Arena Pernambuco.

Já na sexta-feira à tarde me mandei pro Arruda pra comprar meus ingressos e os de Samarone, Stênio e da família de Julio Vila Nova.

Até então, meu telefone não parava de tocar.

“Gerrá, fulano disse que o filho dele não vai mais”, avisava Naná.

“Ei tricolor, ainda tem vaga na Van? Eu e meu pirralho”, perguntava Odilon por mensagem.

No sábado pela manhã, a pisada foi a mesma. Fui ao Arruda comprar mais ingressos. Desta vez pro meu pai e meu irmão. E de novo, o celular ficava a perguntar se tinha vagas na Van, de que horas ia ser a concentração, avisava que sicrano havia desistido, essas coisas!

Sei que partimos para o município de São Lourenço, era por volta das duas e meia. Saímos em caravana. A Van e o carro de Cobrão. A Van não tinha ar-condicionado, mas tinha um ventilador azul, daqueles que a turma botava nos táxis na época em que o efeito estufa não era tão rigoroso.

Ainda na Cidade Universitária paramos para abastecer o tanque. Compramos diversas cervejas e alguns petiscos. E água para criançada.

Nem bem chegamos na 232, o engarrafamento já deu sinal de vida. Muito parecido com a Avenida Norte em dia de clássico no Arruda. A diferença é que sábado passado não era clássico.

A paisagem do Curado me lembrou um pouco os altos e morros que vejo quando vou ao José do Rêgo Maciel.

A Arena é até bonitinha. Mas não é a beleza de arquitetura que alguns pernambucanos dizem por aí. Se tivesse as barracas vendendo cerveja, os camelôs com suas camisas e bandeiras, o salcinhão, o espetinho e outras coisas ornamentando o caminho pra chegar ao portão de entrada, talvez ela ficasse mais bonita.

Eu sei que depois de muito andar, entramos no estádio.

Enquanto uns tiravam fotos e postavam na rede, minhas meninas não estavam nem aí pra Arena. A menor disse logo que gostava mais do Arruda. A maior fez cara de indiferença. Lá pras tantas confessou que estava achando chato, pois não tinha o moço vendendo bombom.

Odilon reclamou do som. Realmente, se aquilo for padrão FIFA, os caras que organizam a Copa não entendem nada de sonorização. Robson Sena arrumaria algo muito melhor.

Minha digníssima Primeira-dama, não parou de xingar o aperto das cadeiras e do corredor estreito entre elas.

E é verdade. Eu me levantei pra comprar água mineral e pisei no dedão de uma senhora. Ainda bem que ele me desculpou. Botou a culpa no governo e esculhambou o governador Eduardo Campos.

Pra completar, a depender do lugar que você esteja, tem que ficar levantando para ver o jogo. Foi assim que aconteceu conosco.

O gramado é um tapete, sejamos justos.

A volta pra casa é complicada.

O telão tem uma ótima resolução, não resta dúvida. Mas um placar eletrônico pra mim já basta, pois eu gosto é de ficar olhando para o campo. Passando a vista em tudo que acontece. As mugangas do treinador. O pique de Catatau. E tantos outros detalhes que não passam na tela.

Aqui pra nós, vai ser difícil eu me tornar um frequentador assíduo daquele lugar. Até porque minha filha mais nova hoje de manhã disse assim: “papai, eu não gostei daquela viagem de ontem. Aquela pra ver o Santa Cluz!”

A Copa do Mundo, pelo amor de Deus! A Copa do Mundo!

Amigos corais, tive a infelicidade de ir à Arena Pernambuco, ver nosso time em campo. Sobre a ida, instalações, acessibilidade e outras lorotas, o cronista Gerrá Lima irá escrever, em sua crônica da Segunda-Feira.

Sobre nosso time, só posso dizer que está um time ENCRUADO. No Aurélio, “encruado” tem vários significados, mas o que uso aqui é o oficial, o “tornar cru”, mas o figurado, o “não progredir”, “não crescer”. Quem nunca já disse “essa projeto está encruado”? “O menino, depois que resolveu ser padre, encruou”. Nosso time está assim. O Santa Cruz está uma murrinha dos seiscentos diabos.

Na defesa, aquele aperreio. No meio, nada acontece. No ataque, o coitado do Léo Gamalho parece mais o Róbson Cruzoé, numa ilha cercada de zagueiros. Quando a bola chega para ele, é quadrada. Ele tem que dominar, polir a bola, torná-la redonda e ver o que faz da vida. E o sujeito ainda foi artilheiro do Pernambucano!

Pois bem. Voltei daquela pelada sentindo cheiro de fantasmas. Corri à tabela. Jogamos quatro vezes e temos incríveis quatro pontos. Teremos seis jogos até dia 03/06. São 18 pontos em jogo (contra Icasa, Oeste, America-MG, Boa Esporte, Joinville e Ponte Preta). Não sei se o STJD vai dar alguma colher de chá para o Santa. Como temos apenas mais dois jogos em casa, Pode ser que não vejamos mais o time em campo até a Copa do Mundo.

Depois disso, vem algo divino. A Copa do Mundo.

Graças à Copa, a Série B será interrompida dia 03 de junho e só retorna dia 15 de julho.
Ou seja, 42 dias para a gente aproveitar. Contratar jogador, treinar, dispensar jogador, fazer um salseiro dos mil diabos para ver se esse time desarna. Sim, meus amigos, precisamos desarnar com urgência. Com esse futebol que nem sequer arroz-com-feijão é, nós somos candidatos à famigerada Série C.

E eu não aguento mais isso. Não tenho mais saúde nem preparo psicológico para isso. A turma do “Não vai ter Copa” que me perdoe, mas acho uma estupidez gastar essas fortunas todas e depois, na hora da festa, mostrar ao mundo que não somos capazes de realizar os jogos mais aguardados pelo planeta. Tem que ter Copa sim. E urgente! Por mim, a abertura não deveria ser dia 12 de junho, contra a Croácia, no Itaquerão, mas já na semana que vem.

Aqui do meu reduto coral, abro as janelas e dou um grito: “A Copa!Pelo amor de Deus, a Copa do Mundo!” Os mais fanáticos pensarão que estou seco para ver mais um título da Canarinha. Não, meus amigos. Minha aflição é para darmos uma pausa e saramos os calos que nascem nos olhos a cada jogo. O Santa está com um time desesperadamente ruim.

Pelo bem do nosso amado Santa Cruz, a pausa para a Copa do Mundo é quase uma bênção divina. O hexa da seleção, me perdoem os mais fanáticos, é um reles, mísero detalhe, diante do que estamos vivendo.

O profeta

Amigos corais, fui a um debate ontem na Rádio Transamérica com os senhores Gerrá Lima e Inácio França. O tema era a questão da violência das organizadas, a crise na sociedade com esse tema, a falta de uma política articulada para enfrentar este enorme desafio etc.
Mas no caminho, Gerrá, com aquela tranquilidade ipsepiana dele, me comentou:
“Óia, tás sabendo que o Jurídico do Santa conseguiu liberar o jogo do sábado para a torcida?”
Eu me virei e quase tive um torcicolo.
“Como é, Gerrá?”
“É. Deu na rádio agorinha. O jogo do sábado, que seria de portões fechados, vai ser na Arena, e com portões abertos”.
Depois ele passou a me explicar sobre a ação do clube junto à CBF, detalhes de bastidores, a questão das provas, o pedido de adiamento do julgamento para a semana que vem etc. Eu cada dia desconfio mais que o jornalismo brasileiro está perdendo um grande profissional. O sujeito sabe de tudo. Cronista de primeira ele já é.
Estou achando que Gerrá está virando é profeta.
Lá pelas tantas, arrematou:
“Eu tô achando que esse Lisca não fica nem até amanhã”.
(Duas horas depois, a rádio anunciou a queda do treinador do Náutico).
**
Depois do debate, fomos tomar umas e ver o jogo. Ele comentou:
“Meu palpite é três a um para o Santa. E Caça-Rato vai fazer o gol dele, para mostrar que Felipão cometeu um erro grave, ao não convocá-lo”.
Tomamos nossos birinaites e aos 45 minutos do primeiro tempo, Flávio Caça-Rato soltou um foguete na gaveta. Gol do Santa!
“É Caça Rato da Seleção, porra!”, gritou Gerrá, assustando até os garçons.
Lá pelas tantas, ele arrematou:
“Sábado aquela Arena vai ficar pequena para a massa coral”.
Depois ele deu uns três telefonemas, falou com um empresário que aluga Van, táxi, charrete, Toyota e avisou:
“Já tem três Vans alugadas. Falta só pegar o nome da turma e o erregê”.
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Liguei há pouco para Gerrá. Ele disse que a turma da “Minha Cobra”, “Kombi Coral” e “Sanfona Coral” já confirmaram presença.
Os veículos vão sair do Poço da Panela, defronte à venda de Seu Vital. A concentração já vai começar no final da manhã.
Antes de desligar, ele soltou mais uma profecia:
“Aquela Arena vai ficar pequena para a torcida do Santa. Vai ter mais gente do que nos jogos da Copa”.
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Nota: Quem quiser ir nas Vans de Gerrá, deixe comentário aqui no blog.