Lero-lero guedesiano: teoria e prática do Mesmismo

Depois do empate com Avaí, Gerrá da Zabumba passou o final de semana passado, a lendo e escutando entrevistas. Ele me contou que queria entender a razão do ataque do Santa Cruz ser uma coisa tão sem tesão, tão sem vontade.

Realmente, quando vejo nossos meias, laterais e atacantes chegando perto da área adversária, fico achando que fazer gols é uma coisa enfadonha, uma obrigação chata. Algo como entrar  na fila do cartório para reconhecer firma de terceira via ou telefonar para o call center do plano de saúde. Não sei se é assim, sempre fui zagueiro e ruim de bola. Se fiz meia dúzia de gols na vida, foi muito.

O problema é que Gerrá viu e leu tanto o que Sérgio Guedes que, na segunda-feira mesmo, acabou escrevendo que vai do nada ao lugar nenhum. Um lero-lero igualzinho ao do nosso treinador.

A equipe Blog do Santinha resolveu então organizar uma coletânea do raciocínio vivo de Sérgio Guedes e desconfiamos que ele está criando sua própria escola filosófica, o Mesmismo, que seria segundo Samarone, que entende dessas coisas, a base conceitual da mesmice.

Devem ser lindas as preleções nos vestiários. Decididamente, não é fácil ser jogador de futebol.

Abaixo o melhor do Mesmismo:

“A gente fez dois trabalhos táticos para dar uma característica boa para um jogador que não tenha como principal característica fazer aquilo. O adversário joga com muita virada e agressividade e temos que neutralizar isso. Só tivemos um posicionamento defensivo bem específico e queremos dar liberdade ofensiva. Muita liberdade ofensiva”.

 . Temos que tirar proveito das condições do jogo e aproveitar as oportunidades. O Santa Cruz não vai em busca de um resultado igual. Vamos em busca da vitória. Dependendo das condições um empate pode ser bom.

 “Eu sempre falo a eles que, por mais que tenham treinador, alguém que comande, é importante que haja o entendimento daquilo que se pede”.

 “Soubemos defender quando foi preciso e aproveitar o espaço quando eles apareceram.” 

 “Quando não vencemos, é preciso administrar e vir aqui justificar. Mas quando as vitórias acontecem, é preciso dizer que houve entendimento, que os atletas realizaram aquilo que se pediu. É um momento de reflexão, porque a vitória nos dá confiança e moral, mas as razões que nos levaram aos três pontos não foram essas e sim a intensidade e a disposição dentro de campo”.

 “As razões pelas quais não atingimos o esperado é porque estamos administrando muitas coisas. Não é fácil fazer isso. Inicialmente a equipe se mostrou desconfortável, esperando o adversário e depois teve iniciativa de sair no contra-ataque. Quando começamos a desarmar e atacar, tivemos mais ocasiões, só que não ocorreram os gols”

 “Poderia ter sido melhor, mas os jogadores estão ganhando ‘lastro’ e estão em processo de evolução”

 “Nós começamos desconfortáveis e esperando a iniciativa, mas depois nos estabelecemos e poderíamos ter tomado melhores escolhas nos contra-ataques. No segundo tempo se repetiu. Quando começamos a roubar a bola, criamos os contra-ataques, mas passamos novamente a conviver com a possibilidade de uma melhor escolha para fazer o gol”.

 “As dificuldades são enormes, mas o Santa Cruz está na briga. Em São Luís, por exemplo, jogamos contra o adversário que tem dimensões de campo ultrapassadas e acabamos o jogo bem condicionados”.

 “Eles precisam entender que não é discurso vago. Eu também joguei uma divisão menor e fui crescendo. A competição exige a cada partida uma entrega a mais. A dificuldade é maior no próximo jogo. Você vai ter que ser um pouquinho mais entregue em campo. E eles interpretarem bem o jogo, o Santa Cruz vai estar no caminho certo”

 “O nosso sistema  defensivo estava bem postado e novamente por algumas ocasiões não conseguimos marcar.  Fica o sentimento que poderia ter sido melhor, pois tivemos espaços. Não saio frustrado, pois estamos numa transposição de competição. Eles são capacitados e basta acreditar”

 “As dificuldades são enormes na Série B. A invencibilidade de quatro jogos é louvável, mas não era a pontuação desejada. Avaliando os resultados, nós temos recursos para chegarmos longe. Temos caráter, valor e perspectiva. O Santa Cruz é muito forte coletivamente e queremos uma torcida jogando junto. Alguma considerações precisam ser feitas para o produto final acontecer. Somos capazes de fazer mais e queremos o respaldo de todos. Iremos atuar em casa e a torcida já está escalada para ajudar nós”

 “Temos equilíbrio, mas falta eficácia. Quando você tem a vantagem numérica acaba surgindo espaços. A equipe teve capacidade de saber a hora de contra-atacar. O entendimento precisa ser durante todo o jogo, pois a Série B requer isso. Os jogadores precisam funcionar mais para que a gente transforme em vantagem durante a partida. Por um detalhe ou outro não fomos eficazes. Trabalho requer ajustes e precisamos ficar atentos”.

As indecisões definitivas do treinador, e a torcida que continua crescendo

Estou de saco cheio desse converseiro maluco do treinador, Sérgio Guedes. Nem no ensino fundamental eu escutava tanta besteira. Tudo bem que eu não entendia muita coisa que o professor de Moral e Cívica falava, mas ele não era um treinador de futebol e eu não era jogador profissional. Alguém precisa dizer para ele: Deixa de falar merda e bota esse time para ganhar!

Nem pensador francês fala tanta coisa que não leva a lugar nenhum. Deleuze, Guatari, Foucault, todos são mais compreensíveis do que ele.

Resumindo tudo, temos um homem indeciso à frente dos atletas. A obsessão do time ideal acaba deformando o time possível. É o típico sujeito que tem dúvida até no par ou ímpar. Porra, mas logo no Arruda?

Mudando de assunto.

Vejo nos principais jornais a pesquisa realizada pelo Lance/Ibope sobre as maiores torcidas do Brasil. O Santa, apesar das quedas e coices para as séries C e D (toc toc toc), em nenhum momento perdeu torcida. Muito pelo contrário. O Santa aumentou o tamanho da sua massa e está na décima sétima posição nacional.  Não sei quantos times tem hoje no Brasil, mas estamos entre as maiores.

Isso não é novidade. A novidade é que os jogadores parecem não ter o coração na ponta das chuteiras. Como mandante da Série B, a equipe coral só venceu três dos oito jogos. Se dependêssemos apenas dos jogos em casa, estaríamos na zona de rebaixamento.

Dos 20 clubes da Série B, a nossa é a quarta pior campanha.

Ahm , sim, tivemos dois jogos nos Aflitos (um sem público) e um na Arena Pernambuco (argh), mas mesmo assim, os números permanecem: cinquenta e quatro por cento dos pontos em disputa.

Os jogadores têm medo de torcida?

Voltando ao nosso cientista maluco.

O treinador do Náutico, Dado Cavalcanti (prata da casa coral) chegou, mexeu em algumas peças, resgatou os escanteados, deve ter dado umas broncas, mandou todo mundo correr atrás da bola como se fosse um prato de arroz com feijão. Resultado: o time embalou, ganhou três seguidas e já está na nona posição. Sem firulas, sem frescuras, sem dramas existenciais. Não dá para ficar lendo Hamlet à beira do gramado.

Sérgio Guedes gosta de inventar uma roda. Já testou três esquemas táticos nas últimas partidas. Mudou o time em todos os jogos. No treino de ontem, fez quatro mudanças. Não sei se tem filho. se tiver, é aquele pai que muda os meninos de colégio todo ano, porque suspeita que os professores não são bons.

Cito trecho do Diário de Pernambuco de hoje:

Guedes tirou Natan e colocou Pingo. Em um outro momento retirou Wescley, Keno e Sandro Manoel para colocar Julinho, Bileu e o retorno de Natan. Indecisões que só são definidas momentos antes da partida. 

Jogo pelada toda semana. A melhor coisa do mundo é quando eu conheço como jogam os caras que estão no meu time. Já sei até em que área do campo eles gostam de jogar.

De indecisão em indecisão, Sérgio Guedes, mais um campeonato vai indo para o mato.

A torcida que cresce mesmo no meio do deserto, como sempre, é a única novidade boa nas bandas do Arruda.

 

 

Momento atual – um espiral ortopédico

Está mais do que complexo imaginar o que vai transcorrer com o Santa Cruz daqui para a finalização da seribê.

Estamos definitivamente numa encruzilhada com caminhos para todos os quatro lados.

O time apresenta defeitos que dificultam a busca por virtudes. Principalmente, se olharmos pela ótica do otimismo. O que por si só, já nos leva a crer que a realidade é dura e poderá tomar rumos de crueldade e de atropelos.

Neste sentido, para muitos já se tornou de cansativo e enfadonho destinar análises e palavras sobre tal situação. Entretanto, se faz  necessário continuarmos a levar nossa mira ao alvo da questão, pois o Santa Cruz nasceu e viverá para sempre.

Desta forma, nunca ficará tarde, nem distante, irmos ao fundo dos problemas do futebol que a nossa equipe está elaborando dentro do gramado.

Todas as questões que atrapalham nosso desempenho se resumem a duas variáveis:

– atletas com pouco potencial;

– treinador sem poder de maximização desta pouca potência.

Some-se a isto, a inércia da diretoria, que ao se deparar com conflitos, não tem agilidade para resolver os achados.

Neste patamar, o problema se mantém e é muito comum que evoluam  em progressões que pode fugir ao controle.

Ao que nos parece, ainda não chegamos neste estágio. Isto pode ser bom e também ser ruim, visto que, temos a impressão que não estamos muito longe do ponto alto da negatividade.

Por sua vez, quando isto é certificado, a sensação é que a vaca poderá ir pro brejo. E aí, se ela for, fudeu a tabaca de xola.

O clube precisa ser agressivo nas ações. O treinador precisar correr para formatar nossa equipe.

Minha gente, o tempo é um precioso metal que aflige a busca pelos objetivos.

Pelo que vejo, Sérgio Guedes parece tangenciar a curva da equação defesa-meio-ataque, não conseguindo encontrar o ponto real de equilíbrio sobre os setores.

É preciso tomar as providências cabíveis o mais rápido possível. Saber gerenciar. Ponderar as variáveis boas e as que causam degradação. Só assim, o time vai encontrar a saída exata sem precisar passar pela angústia e o desespero.

Nisto temos que encarar o psicológico, ver o físico, observar o tático, analisar os aspectos técnicos e verificar as estruturas.

Ao final, se for encontrado que as perspectivas estão comprometidas, se torna necessário regressar ao marco zero, para percorrer todo o percurso. O caminho é tortuoso e escorregadio.

Então, chego a contundente conclusão que estamos dentro de um espiral ortopédico.

Nossa sorte é a ruindade dos outros

Eu não sei o que danado ainda me faz sair, para assistir a um jogo do Santa Cruz. Só pode ser algum tipo de esperança maluca, sem juízo nenhum, que me leva a telefonar para amigos, mandar mensagens, apressar a janta das filhas e enfrentar os engarrafamentos das ruas do Recife, para ver o já esperado futebol bizarro que o nosso time joga.

Ontem o que salvou a noite foi o caldinho, a cerveja gelada, o bode assado com macaxeira e o bom papo sobre política que tive com o diretor de fantasias da Troça Minha Cobra, Esequias Pierre.

O Santa Cruz atual é formado por um amontoado de péssimos peladeiros, comandados por um atordoado entregador de camisas que escala mal, substitui pior ainda e não fala nada com nada. Um sujeito pra lá de esquisito.

Não sei se por burrice, mas não consigo compreender praticamente nada do que essa figura de cabelo estilo dupla sertaneja dos anos oitenta tenta falar.

Leio, releio, leio de novo, olho outra vez,  e não entendo bulhufas do que é dito por ele. É provável que nem mesmo ele saiba o que está falando.

Pode ser que seja intencional. Ou então, é pura maluquice. Vai ver que ele só da entrevista doidão.

Enfim, seja lá o que for, tenho pra mim que este treinador é o maior gerador de lero-lero que já passou pelas Repúblicas Independentes do Arruda.

Se alguém lembrar de outro, favor compartilhar nos comentários.

Puxando aqui nos meus arquivos, encontro uma entrevista dele depois de mais uma vergonhosa eliminação na Copa do Brasil. Sobre o nosso time, Sérgio Lero disse assim:

“Nossa equipe é capaz e precisamos de uma transposição de categoria. Vamos nos reorganizar e reconstruir o time. Espero que eles assimilem bem e que a gente continue persistindo, pois o caminho é esse. A nossa função é de respaldo para os jogadores e queremos proteção”.

Transposição!(?). Em toda entrevista, ele fala nessa tal de transposição.

Não sei vocês, mas eu gostaria mesmo era de ver, esse enrolão sendo transportado daqui para outro lugar. De preferência para algum adversário nosso.

Fosse mais perto, a gente levava ele e jogava dentro do Rio São Francisco.

Ontem, após a horrível apresentação, Sérgio Enrolão Gudes saiu com essa:

“Colocamos o futebol para fazer a transição e a equipe deles se ajustou. Colocamos o time de uma maneira ofensiva demais e começamos a jogar de costas. Tivemos que mudar para alterar o panorama.”

Se alguém entendeu isto aí, por favor me ajude. Pois, não fica claro pra mim o que é que Ségio Guedes quer dizer. Anotei em um papel e aproveitei a hora do almoço para mostrar a alguns amigos. Não chegamos a conclusão nenhuma sobre essa fala. Aproveitamos para fazer piadas e gargalhar.

É, meus senhores, só tirando onda mesmo, pra aguentar esse treinador e sua equipe.

Nossa sorte é que os concorrentes são tão ruins quanto nós.

Ontem, por exemplo, se tínhamos Pingo no banco, eles tinham Pimentinha.

Se no comando deles estava Lisca, no nosso havia Sérgio Guedes.

Inventário de mazelas

Sabe o que é mais difícil na hora de escrever sobre mais uma humilhação como essa que a torcida do Santa passou na Copa do Brasil? É que a vontade é de descer a lenha em tudo, em todos, dar o maior pau em qualquer um que tenha que a gente acha que tenha um pouquinho só de culpa.

O risco é de fazer uma lista, um texto sem pé nem cabeça, um inventário de mazelas cheio de choramingos, incapaz de proporcionar um mínimo de prazer a quem o lê. Um texto caga-raiva, na linguagem chula. O problema é que somos mesmo bastante chulos, reconhecidamente chulos, vulgares até a válvula mitral, que fica entocada no coração. Por isso, daqui em diante vai ser só lapada.

A começar pelo pseudozagueiro que encontraram jogado na lata de lixo nos fundos da sede do Flamengo. Jogador profissional que tira a bola da área dando um passezinho cafofo pro meio só pode estar de sacanagem. Fiquei com uma vontade danada de fazer uma postagem dedicada exclusivamente para ele. Mas, convenhamos, seria perder tempo demais com um sujeito destinado ao esquecimento. E, além do mais, seria injusto.

Afinal de contas, como não falar mal do entregador de camisas? O cabeludinho anacrônico passou a semana toda pensando nas piores opções e em como não surpreender o adversário, em como não constranger o visitante. Infelizmente, ele alcançou seus objetivos quando abriu mão da regularidade de Danilo Pires e se agarrou com a inconstância de Pingo, um atacante cujas boas jogadas não passam de surtos, episódios raros, ilhas num oceano de ruindade.

Quando vejo Sérgio Guedes reclamando que o time está sonolento, eu, não sei porquê, só lembro da decisão do campeonato pernambucano de 2013. Lembram que ele era o técnico do Sport? Lembram como o time dele, que precisava ganhar de todo jeito, começou o segundo jogo na maior lerdeza e só acordou para Jesus quando Caça-Rato deixou o goleiro com a bunda no chão?

Pois é. Talvez Sérgio Guedes dê sono.

Já que o assunto é o técnico, gostaria de entender um negócio. Para que insistir em Renatinho improvisado se importaram dois laterais-esquerdos, o tal Julinho e Zeca, que só ontem foram me contar que permanece no clube? Se os caras não prestam, mandem embora e pronto, ora essa. Renatinho não entende nada de marcação, nem tem ideia do que se trata. Se fosse no dominó, era capaz de marcar o parceiro.

Renatinho, pobre coitado, é só parte do problema. A defesa toda é que é tá de lascar há um tempão e ninguém ajeita. Por sinal, esse seria outro assunto que rendia um texto enorme. Sinceramente, talvez o problema não seja ruindade só dos jogadores, mas de quem comanda os treinamentos dessa turma.

Teve uma hora que eu tava puto com Sandro Manoel, um volante que está perto de se tornar o maior especialista brasileiro em recuar a bola e dar passes para trás tão milimétricos quanto inúteis.

Comentei com um velho conhecido das sociais e de Olinda, o senhor Cássio, que talvez fosse melhor ele jogar de costas, aí quando pensasse estar recuando, estaria dando um passe para os meias ou atacantes. Cássio me corrigiu, disse que Sandro Manoel estava mesmo mal posicionado, mas que ele deveria jogar mais à frente, com Everton jogando meio de terceiro zagueiro. Não sei se é verdade, mas como meu amigo é engenheiro, entende de cálculo mais do que eu, achei melhor deixar pra lá o texto sobre Sandro Manoel.

De quem mais poderia falar mal? Do rebolador Carlos Alberto? Das pipocadas de Natan?

O que eu queria saber mesmo era quem vai pagar a conta do prejuízo. Espero que, amanhã ou depois, não me apareça um dirigente pedindo para a torcida comparecer, convidando para jantar de adesão a 200 contos, que o clube não vai conseguir fechar as contas, que a folha salarial está alta etc etc etc.

Depois de ontem, acho que o Santa Cruz está nadando em dinheiro. Jogaram foram, mais ou menos dois milhões de contos de réis, incluindo arrecadação de um mata-mata contra um time do sul, prêmio, cota de patrocínio. Talvez seja hora de fazer outro tipo de cálculo: em vez de não gastar um tostão e economizar no zagueiro ou no treinador, quem sabe não fosse melhor gastar esse tostão para ganhar três ou quatro mais adiante.

Pronto, acho que detonei tudo o que tinha para detonar numa tacada só. Sem poesia, sem lirismo, sem grandes arroubos literários, mas com muita tristeza.

Ah, ia esquecendo de alguém: o que é Adilson? Quem foi o empresário que botou no Santa Cruz um atacante que, em 2013, fez quatro gols jogando pelo XV de Pracicaba? Eu falei quatro (4, four, um-dois-três-quatro). Para poupar os tricolores, a edição do Globo Esporte não levou ao ar uma tentativa de voleio dele, aos 46 do segundo tempo, quando ele estava sozinho na grande do Cais de Santa Rita. Quase que acerta a própria cara com uma joelhada. Foi engraçado. Mas deu vontade de chorar.

Texto revisado e ampliado às 16h47min de sábado, 16 de agosto.

Longe de casa

Eu nunca fui muito chegado a esse negócio de dias dos pais. Aliás, sou arretado também com tudo que é dia. Das mães, das crianças, do natal, do amigo, da avó, de não sei que lá. Como diz meu pai, isso tudo foi inventado pro comércio vender, pra estourar o cartão de crédito do povo e pra todo mundo ficar estressado. Sim, essa quase obrigação que nos impõe de ter que presentear e ter que estar junto é o que me invoca.

Meu pai mora aqui em Recife. O pai da minha mulher mora na área rural de Bezerros. Tenho uma irmã que mora em Carpina. Além da minha esposa, meu sogro tem mais uma filha e um filho, ambos moram em Recife. E pra finalizar, o sogro do meu cunhado mora em Passira.

Dá pra imaginar a dificuldade para resolver essa logística.

Este ano, ficou decidido que iríamos fazer um churrasco no sábado em Bezerros  e no domingo desceríamos a Serra para almoçar em Carpina. Desta forma, a ida ao Arruda para ver o jogo foi pro beleléu.

Minha sorte é que a família toda é tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda. Aí, apressamos os comes e bebes para dar tempo de assistir ao jogo. Precisamente às 16h23 minutos estávamos entrando no Bar Lá em Casa, em Bezerros. Um lugar pra lá de simpático que Julio Vila Nova nos apresentou outro dia. Carne na brasa, cerveja Original gelada com preço de Skol, caldinhos e o melhor, reduto de torcedores do Santa. A começar pelo proprietário do estabelecimento. Se não me engano, o nome dele é Beto.

O primeiro tempo não foi lá essas coisas. Joguinho feio. Sem maiores emoções. No intervalo surge a primeira opinião interessante. Um cidadão de bigode, na faixa de uns cinquenta anos, dispara: “esse jogo está mais feio do que a minha finada sogra. Feia era ali”.

Pedimos dois caldinhos de feijão e outra Original. Na mesa ao lado, uma coroa dava beijos e abraços em um boyzinho.

O jogo recomeça. Thiago Cardoso faz um defesaço. Meu sogro já vai em quase uma carteira de cigarro. Everton dá um passe errado. O cidadão de bigode comenta: “a pior coisa que tem é o individuo querer ser o que não é”. O amigo dele completa: “isso é uma murrinha. ele pensa que sabe jogar”.

Uma chuvinha fina começa a cair. A televisão mostra o toró lavando o Arruda.

Keno parte com a bola, dribla metade do time alvirrubro e faz um gol de craque.

O Lá em Casa quase veio abaixo.

“É gol, fí de rapariga”. “Eu já tava pra esculhambar esse tal de Keno”. “Trás uma lapada de cana que eu agora me animei”.

A coroa pediu uma dose de Teacher, uma cerveja e tacou um beijo no boyzinho dela. O rapaz era só felicidade.

O alvirosa vem pra cima. Thiago Cardoso vai segurando e garantindo a rapadura. E aí, brilha a estrela de Léo Gamalho. Primeiro dar um passe para Wescley fazer o segundo gol. No Lá em Casa, Bezerros está em festa. Gritos, brindes, apertos de mãos, abraços e beijos.

Depois, nosso atacante deixa Carlos Alberto na cara do gol. O meia chuta pra fora. “Gol feito não pode ser perdido”, sentenciou o dono do bar. “Isso é miserave”, condenou Bigode.

Por fim, Léo Gamalho lança primorosamente para Wescley que dribla dois marcadores e fecha o caixão. 3 a 0. “Esse Leo Gamalho é um febrento. é a bobônica”, alguém elogiou.

Nesta quarta, de novo, estarei longe do Arruda. Desta vez por causa de compromissos profissionais.

Se tudo der certo, vou acompanhar o jogo no Bar Raízes, em Brasília. Tomando caipirinha, saboreando arrumadinho e batendo papo com Pablo e cia.

Espero que o Santa Cruz junte mais uma vitória.

 

 

 

Do tédio ao êxtase

Amigos corais, esse estádio do Arruda é um grande mistério da civilização ocidental. Tudo pode acontecer nele, durante aquelas horas sagradas que envolvem o antes, durante e depois de uma partida do nosso Santa Cruz.

Vou citar o meu caso, que é o mais fácil de contar.

O sábado começou com uma novidade. O Dia dos Pais, que é mundialmente celebrado no Domingo, foi antecipado para o sábado. Isso existe? Claro que a decisão familiar afetaria profundamente minha preparação física e psicológica. Fui lá, com minha mulher, dar o abraço no seu pai, que por sinal é tricolor. Estavam todos, a conversa animada, mas a frase necessária – “o almoço está servido” – só foi dita às 13h50.

Fui quase desagradável. Só esperei alguém fazer o primeiro prato que  avancei. Diria que furei até a fila do idoso, na minha ânsia de ir ao Arruda. Comi quase com deselegância, quase sem mastigar. Terminei, me despedi de todos e fui à luta.

Cheguei naquela rua perto do Extra, fui para a parada de ônibus, cada um que passava mais entupido de torcedores. Muitos resolveram viajar no teto dos coletivos, num projeto suicida de rara intensidade. Passaram cinco ou seis, dei a mão para sete ou oito taxistas e já me preparava para o pior – chegar ao Arruda após o início do Jogo.

Vou andando cabisbaixo, chutando pedrinhas, pensando “pôxa, bem que poderia aparecer uma carona”, quando pára um carro desses bem legais, com tração nas quatro rodas e a buzinada redentora. Um vidro baixa e a mulher diz a frase mágica da Língua Portuguesa:

“Queres carona para o Arruda?”

Quase chorei de emoção. Ao volante, a senhora Elizabeth e a filha, Amanda. Atrás, Ozineide, irmã de Elizabeth. Iríamos pegar Ceça, outra da turma. Ozitene, que completa o quinteto de mulheres entre os 20 e 60 anos (creio) que vão ao Arruda juntas, de carro, faça sol ou faça chuva, teve algum problema e não pôde ir.

Ozinete, obrigado por não ter ido, fato que proporcionou minha carona e minha crônica semanal.

No caminho, conversamos muito. Elas sabem mais sobre o Santa do que eu, Inácio e Gerrá juntos.

“Esse treinador está caçando Caça”, lembrou Ceça, que sentou ao meu lado.

Ozineide estava preocupada com o jogo ruim do time.

“Está pior do que na televisão”.

Elas contaram das viagens juntas, dos jogos, já foram até à Arena, naquele fim de mundo.

Dez minutos antes do combinado, cheguei ao apartamento de Inácio. Mais quinze de caminhada, paramos para uma cerva e depois fiz algo que não é de costume – fui ver o jogo nas sociais.

O gringo

Dei sorte. O portão para a arquibancada inferior estava aberto. Chegamos ao “Ventilão”, espaço lá em cima, onde estavam K2, Kiko, Fabiano, uma amiga e um sujeito de uns dois metros, branco, forte e sorridente. O sujeito falava inglês e parecia feliz.

Ele é irmão de um pianista famoso, que iria se apresentar no Santa Isabel domingo. Veio com o irmão para curtir o Brasil. A amiga, da produção do evento, era a cicerone. Os dois falavam um inglês perfeito, mas sem legenda. Eu só escutava e lamentava o que via em campo.

Ô jogo desgraçado.

“Eu quis mostrar um jogo de futebol, então trouxe para a torcida do Santa. A do Náutico é muito morgada”, disse minha amiga, torcedora do Náutico.

Kiko, ao meu lado, só blasfemava. Que era o pior jogo que tinha visto na vida. Que aquilo era uma desgraça. Que os caras não acertavam um passe. O mais dramático dos torcedores corais, o mais shakespereano, era o próprio Othelo. Eu esculhambava aquele preguiçoso do Keno, que ficava dando pedaladas num velocípede que não existia, até perder a bola. Fiquei implorando pelo retorno de Caça-Rato

Foi um primeiro tempo de doer na alma coral. Mas o gringo parecia feliz da vida. Falava sem parar. Ele se chama David, creio. É sobrinho do David Coperfield e primo do David Berkamp.

Até que o veio o segundo tempo. Lá pelas tantas, o Keno pega a pelota na esquerda, sai pedindo licença, ops, por favor, dá para fastar, vai tirando toda a defesa do Náutico da frente, eu começo a gritar “vai ser o gol da década, vai ser o gol da década”, ele dribla o diretor de futebol, o roupeiro, o massagista, dribla os reservas, os conselheiros do Náutico, até que chuta rasteirinha e a pelota balança a rede.

O Arruda mergulhou numa dessas explosões que deixam o mais cético em êxtase. Um golaço para abrir os caminhos da goleada.

A massa coral se abraçava, pulava, cantava. Olhei para o gringo. Estava num estado de perplexidade completa.

Depois vieram outros dois golaços. O David passou a ser parte da torcida. Teve uma hora que foi tratado como talismã, porque deu sorte.

Não sei o que aconteceu com vocês, mas eu saí do estádio em transe, de tanta felicidade.

Foi uma dessas tardes no Arruda que parece caminhar para o tédio, a irritação, o futebol meia-boca.

Vi crianças cantando no ombro dos pais, o gringo cantando o hino do Santa desde criancinha e lembrei das minhas amigas que me deram carona na ida.

Deviam estar do mesmo jeito que eu – em êxtase.

Arrogância mata. Jumentice também

O pior não é Everton Sena ficar com cara de pomba-lesa depois de tudo quanto é gol sofrido.

O pior não é Tiago Cardoso não saber se fica ou se sai.

O pior não é o paredão –de novo ele – cometer o pênalti mais previsível do mundo.

O pior não é Pingo desperdiçar uma bola atrás da outra.

O pior não é Danilo Pires dar uns balões doidos e pensar que finalizou um lance.

O pior não é Renatinho subir e não ficar ninguém na cobertura.

O pior não é Toni só voltar para marcar quando lhe dá telha.

O pior não é Sandro Manoel armar os contra-ataques dos adversários.

O pior não é perder.

O pior mesmo, mas o pior de verdade, é a arrogância.

Porque o problema não é tão somente “sono”, como não se cansa de repetir o pobre coitado que faz comentários para a Globo. Nem é apenas “desinteresse”, como lamentou nosso desnorteado treinador no intervalo do jogo de ontem.

A sonolência e a falta de tesão são, em minha humilíssima opinião, as formas com que a prepotência do time  coral se manifestam. Pelo menos essa é a minha impressão, opinião de quem está longe e que pode estar enganado.

O Santa Cruz está repleto de jogadores que, ou se acham a bala que matou Kennedy ou confiam demais nos serviços prestados em 2011, 2012 e 2013 e na paciência da torcida. Carlos Alberto, Nininho e Toni, por exemplo, enquadram-se no primeiro caso. Everton Sena e Renatinho, no segundo.

O time joga com times desconhecidos ou mais modestos como se pudesse ganhar a qualquer momento, basta querer e pronto, estaria resolvido o problema. “Não ganhamos fora de casa no final de semana? Vamos ganhar hoje porque somos melhores do que esses matutos”. Aposto que isso seria o que um telepata captaria da mente dos nossos jogadores antes da partida de ontem.

Bastou Léo Gamalho virar o jogo para o time todo subir no salto novamente. De repente, voltaram a ser as mesmas bailarinas do primeiro tempo.

E trata-se de uma arrogância burra, estúpida mesmo. Eles já deviam ter aprendido. Entraram do mesmo jeito contra o Vila Nova. Perderam. Também foi assim contra o Lagarto, de Sergipe. Complicaram um jogo baba. Em Vitória da Conquista, a mesma coisa. Contra o Salgueiro no estadual. Perderam. Contra o CSA. Lapada.

Foi a arrogância que nos eliminou da Copa do Nordeste de 2014, indo para cima do Sport como se nosso time fosse um esquadrão imbatível, e depois nos tirou da próxima.

Lamento muito o que vou dizer agora, mas isso não me sai da cabeça: a arrogância do time do Santa Cruz chega a parecer a arrogância rubro-negra de até pouco tempo atrás.