Enfim, um novo Natan

Na nossa pelada da quarta-feira, vez por outra fazemos um torneio dos casados contra os solteiros. Nós, os casados, nunca perdemos um jogo.

Quando acaba o torneiro, nosso amigo Chico do PT vai pra cima dos solteiros e sai tripudiando:

— vocês precisam entender que o mundo se resume a duas coisas: uma pomba e uma buceta. Vocês precisam fazer mais sexo.

Os punheteiros ficam invocados.

Os casados fazem a gréia.

E Chico afirma sempre que se o cara fizer sexo antes de jogar futebol, ele entra em campo com mais disposição física, com a cabeça tranquila e com a musculatura fortalecida.

– companheiro, uma boa trepada espalha energia pelo corpo todo. O sangue abre as veias, os músculos ficam fortes e o cérebro fica calmo.

Pois bem, no meio da euforia pela goleada do último jogo, um fato passou despercebido para muitos. Natan.

Fiquei surpreso. O nosso quase craque jogou a partida toda, deu passe, driblou e tudo indica que não sentiu nada.

Pelo menos até agora, ninguém falou em desconforto, estiramento, incomodo, distensão, dor nas costas ou algo parecido.

Aí, conversando com Inácio sobre o jogo, falei dessa coisa de Natan ter conseguido jogar o tempo todo. E aí, Inácio me disse que Natan havia se casado.

Pronto, lembrei das teorias de Chico e não me restou dúvidas. Pra mim Natan está sendo curado por um gostoso remédio cujo nome é Buceta.

Viviam dizendo que o rapaz não dormia direito. Que vivia rezando. Que não se alimentava bem. Que não bebia água.

Eu quero ver o cabra dar uma boa trepada e não relaxar e dormir bem. Eu “dou duvida” se o cara depois que conhece o gosto de uma priquita, vai querer trocar uma foda por uma reza.

Meus amigos, exemplo é o que não falta.

Samarone é um deles. Demorou pra casar. Tinha gente até que desconfiava que ele era frango. O bicho era grosso e só vivia se contundindo.

Conheceu sua amada, namorou um tempo e depois casou. Hoje, nosso poeta é maratonista e titular da zaga na nossa pelada.

Nino Cabeção sempre manteve a regularidade no ataque. Sua média eram três gols por noite. Trombador, não era de perder gol feito. Mulherengo, deu bobeira e deixou seu e-mail aberto. Se lascou. A mulher de Nino descobriu que ele estava de caso com uma amiga. Nino Cabeção ficou sem as duas. O atacante entrou numa má fase danada.

Já Claúdio Fanhoso é feio que dói. Mas desde moço é amigado com Marlene. O bicho joga uma bola arretada.

É isso. Acredito que agora o futebol de Natan vai deslanchar.

E vejam só, acabo de ler que Natan já fez 99 jogos pelo nosso time. Se ele entrar no próximo sábado, chegará à marca dos 100.

Tomara que ele jogue. O cabra é bom de bola.

E agora depois que ele descobriu a principal função de uma xoxota, tenho fé que Natan vai virar o craque que todos nós esperamos.

Eu fosse Canindé, solicitava a direção um quarto de casal para Natan, deixava ele levar a esposa para concentração e botava ele de frente.

Eu vou, mas se aparecer um amigo rico, vai ficar melhor

Já tinha prometido a mim mesmo que jamais voltaria à Arena, depois de uma única e desastrada ida ao citado estádio, numa van, com vários amigos do Poço da Panela.

Mas, diante do exposto, da campanha coral, de tudo o que representa a vitória de amanhã, vou dar o braço a torcer.

Irei ao citado estádio num horário maravilhoso para um jogo de futebol: 18h30.

Vou ver se saio de casa lá pelas 13h30 com minha bandeira e meu radinho.

Só mesmo o Santa Cruz para me fazer esta doidice.

Se algum leitor bem de vida tiver um carrão com ar-condicionado e umas cervejas a bordo e quiser companhia para o estádio, aceito carona.

Em troca, dou um livro da “Troilogia das Cores” autografado. Se quiser levar Gerrá e Inácio, o livro vai com autógrafo dos três.

E antecipo: os caras são bons de papo.

Moro na rua da Auroro.

Dá-lhe Santa!

Dilma é coral. E o Blog é Dilma

O Blog do Santinha nunca tirou o pé nas divididas. Aqui, sempre tomamos posição, mesmo quando a posição é não ter posição nenhuma. Mas esse não é o caso num segundo turno de eleições presidenciais. Aqui, os três editores não hesitariam se fossem consultados por algum hipotética entrevistadora do Ibope:

– Em qual desses candidatos o senhor votaria para presi…

– Lula.

– Não tem Lula entre as opções do questionário…

– Então é Dilma. E priu.

– E em qual desses candidatos o senhor não votaria de jeito nenhum?

– Em todos os outros. Tudinho: Serra, FHC, Alckmin, Marina, Afif, Tancredo, Covas, o da cova, Aécio… em nenhum deles, pode botar aí minha filha.

É bem verdade quem se o entrevistado fosse Gerrá, ele iria contar uma piada pornográfica na esperança da pesquisadora ficar excitada e querer dar em praça pública. Samarone tentaria vender um livro de poemas com 25 páginas por R$ 40,00. E eu daria uma ou duas respostas a meio caminho entre a grosseria e o sarcasmo. Sou horrível para isso. Às vezes, fico com vergonha de mim mesmo.

O que interessa é que esse blog vota fechado em Dilma. Fechados e desde sempre.

Primeiro porque nossas leituras não se resumem a jornais, revistas semanais e manchetes de tevê. Modéstia a parte, temos um espírito crítico desgraçado, o que nos impede de levar o gato por lebre que tentam nos empurrar goela abaixo todos os dias. Leitura e espírito crítico são, na maior parte do tempo, de lascar o juízo, deixa o sujeito inquieto, melancólico, azedo, amargo, mas servem para alguma coisa, inclusive para discernir que mudança para valer é votar com o Governo Federal. Enxergamos as entrelinhas sem precisar de lupa.

Depois, somos de esquerda.

Ah, dirão os pragmáticos, isso não existe mais.

Existe sim. Nós acreditamos que é preciso lutar o tempo todo por um mundo mais igualitário, menos injusto. Isso é ser de esquerda. Você acredita que a desigualdade é natural, que Deus fez a humanidade assim? Então você é de direita. E não ache ruim o fato do Sport ter feito parte do clube dos 13 e ter se entupido de dinheiro da Rede Globo por tanto tempo.

Ser de esquerda é ter a convicção que o Estado precisa atuar para garantir que a educação e a saúde deixem de ser uma mercadoria para que a maioria da população tenha acesso a esses serviços sem precisar pagar. Você concorda, por exemplo, que as universidades tem de ser privatizadas para que o “mercado” dê conta de um ensino focado no mercado de trabalho e abandone a pesquisa e o ensino formador do pensamento crítico, humanista, das ciências sociais. Parabéns, você é de direita. E nós queremos derrotá-lo sempre, provavelmente só estaremos juntos nas arquibancadas do Arruda (isso se você não estiver em casa, vendo o jogo na TV a cabo)

Ser de esquerda é acreditar que o esporte é um direito de todos, que deveria ser praticado em espaços livres nas grandes cidades. E que o futebol faz parte da identidade cultural do povo brasileiro e que o acesso aos estádios deveria ser algo sagrado para todos. Você acha que o futebol é um negócio e que deve ser cada vez mais um produto caro, consumido por quem pode pagar? Você é de direita. E não joga no nosso time.

Dilma é de esquerda, por mais que tenha que governar com uma coalizão de forças heterogêneas (muitas delas, aliás, se bandearam pro lado de lá pensando que a onça não vinha beber água). Tem mais um ponto favorável a Dilma: ela tem jeito de beque de usina, daqueles que espanam a bola pro mato que o jogo é de campeonato, que não tira o pé na hora do vamo-vê. Do jeito que a torcida coral gosta.

E além disso, Aécio nunca foi visto com uma bandeira do Santa Cruz e jamais fez o T. Desconfiamos aliás, que esse sujeito gosta mesmo é de jogar tarimba. Com o cu da gente, óbvio.

Achou ruim? Vá ler a Veja, escute Miriam Leitão com atenção e faça de conta que é um menino sabido.

Dilma T

 

Na Arena do Defunto, no meio da torcida adversária

Adalberto relutou. Não comprou ingresso para o jogo contra o Vasco. Quem conhece Adalberto, sabe que o sujeito tem opinião e que ele é invocado com a tal da Arena. Adalberto prefere a beira do canal do Arruda, o espetinho de carne e o latão da Skol.

Na sexta-feira, ele saiu da faculdade e foi tomar uma. Beberam todas. Terminou a noite no apartamento de uma paquera das antigas, bebendo vinho, ouvindo música e matando. Acordou no sábado de manhã com uma ressaca braba, mas feliz da vida. O “adorei” da menina, não saía da lembrança.

Levantou da cama, era quase 11 horas. As gargalhadas e a voz alta do seu tio se misturavam com o latido fino de Paquito e tomavam conta da casa.

— Adalba, meu jovem! Tudo na santa paz?! –  disse o tio Araújo.

— Tudo tio. Tudo beleza!

— Pela cara, a farra foi boa. – e largou uma gargalhada.

Conversaram umas coisas. Adalba bebeu um copo de vitamina de banana e recebeu a missão de levar o tio Araújo para o jogo.

— Adalberto, teu tio veio almoçar e quer ir para o jogo. Já falei pra ele que você vai levá-lo.

Não tinha como negar. Araújo é daqueles tios gente boa. Contador de piadas, bebedor de cerveja, raparigueiro e pau pra toda obra. Quando Seu Carlos, o pai de Adalberto, morreu, quem segurou as pontas até tudo se organizar foi tio Araújo. Naquela época, o garoto Adalba tinha somente 12 anos e o Santa Cruz havia sido campeão pernambucano com o histórico gol de Célio. Adalberto estava lá, junto com seu pai. Uns 3 meses depois, o velho bateu as botas.

“Não fosse seu tio Araújo, não sei o que tinha sido de nós”, em tom de gratidão, sua mãe sempre confidenciava isto.

— Adalba, tu sabe que eu nunca fui na Arena? – disse o tio.

— Tá perdendo muita coisa, não. Aquilo é um fim de mundo.

— Tem problema não, a gente vai cedo. – falou tio Araújo.

Beberam umas cervejas, tomaram o caldinho do feijão e partiram. Era perto das 13 horas.

Seguiram pela 232. Já no viaduto que cruza a 101, o engarrafamento deu sinais de vida. Naquele ponto, o trânsito começou a ficar lento. De longe já se avistava um enorme fila de carros. Um pouco mais a frente, na altura do hospital, o trânsito travou. Praticamente não se andava.

O tempo foi passando. Já era mais de 15h30. Faltava chegar, estacionar e entrar no estádio.

Adalberto era só reclamação. Tio Araújo, tranquilo e calmo, repetia a cada resmungo do sobrinho: “a gente chega lá, Adalba”.

Depois de muito sufoco, enfrentando empurra-empurra, os dois conseguiram entrar. O placar apontava 0 a 0. Já havia mais de 25 minutos de bola rolando e muita gente ainda estava do lado de fora.

Tio e sobrinho se acomodaram e só aí, observaram que estavam no local reservado para torcida adversária. Pois é, Adalberto e tio Araújo foram parar no meio dos vascaínos nordestinos.

— Puta que pariu, eu acho que pisei em rastro de corno. – disse Adalba.

— A gente vai ganhar, anota aí. – profetizou tio Araújo.

A cada lance de perigo, os dois se continham. Do lado, um bando de nordestinos vibravam com o produto importado do Sudeste.

O jogo seguiu. Caminhava para o empate. Mas aí, os deuses do futebol olharam para Adalberto e iluminaram Renatinho. O baixinho fez um lançamento primoroso para Cassiano, que também foi iluminado. Driblou o marcador e mandou um cruzado a meia altura.

— É gol, porra! Gooolllll! É gol, bando de torcedor xing-ling! – gritou Adalberto, abraçado com tio Araújo.

Começou a doidice

Naná telefonou para dizer que vai ter Van saindo do Poço da Panela. Samarone mandou mensagem avisando que “Naná está organizando uma Van”.

Pelo zap-zap, o amigo Alexandre pergunta: “Tu vai?”

Numa troca de e-mails sobre a chapa de oposição nas eleições do Santa Cruz, Edgar é simples e objetivo:Sábado, todos na Arena do Defunto!

Aqui no trabalho, o estagiário me diz que vai. Ele não gosta daquela Arena, mas vai para o embate contra o Vasco. “Eu nem gosto daquele estádio. Prefiro o Arruda. Mas eu vou. Vou de metrô. Se ganhar a gente embala”.

Já soube que Anizio vai. Quem me disse foi Claudemir.

Flávio vai com a família toda.

Pois é, bastou o time dar sinais de melhora, que a doidice voltou.

Daqui até sábado, serão várias ligações, emails, zap-zaps, mensagens diversas.

Parece que, aos poucos, vamos retomando a confiança. E aí, a esperança vai aparecendo e a torcida do nosso Santa Cruz está correndo para abraçá-la.

Pra mim, o grande responsável pela mudança de atitude do time é um sujeito baixinho, de sotaque nordestino, com raça de matuto e fome por vitórias.

A diferença de atitude entre Oliveira Canindé e o cara de tabaca do Sérgio Guedes é gigantesca.

Tenho dito a alguns mais próximos, se tivessem trazido Canindé mais cedo, a gente estaria brigando com a turma que está nas primeiras colocações.

Sim…, mas como eu ia falando, o povão começa a se animar de novo.

Eu até já tinha prometido pra mim que não iria mais para aquele fim de mundo. Só que o coração tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda é quem domina e nessas horas, sou um cabra sem opinião. Só sei que sobra vontade de ir ver o meu Santa jogar, seja lá onde for.

Daí, que estou no maior impasse: ir ao jogo ou disputar um torneio de society, que marcaram para o mesmo horário da peleja lá em São Lourenço da Mata.

Faz uns quatro meses que inscrevemos nosso time. E pra azar meu, marcaram o torneio justamente no mesmo dia e horário da partida Santa Cruz x Vasco da Gama.

Já tentei convencer para mudarem a hora do torneio. Não me atenderam. Pedi para que transferissem para o domingo. Negaram.

Danado é que no meu time, dos oito inscritos, dois estão machucados. Se eu faltar, sem um motivo justo, a turma vai ficar invocada.

Pensei até em simular uma contusão. Distensão na virilha, dor na região lombar, contratura na parte posterior da coxa, algo desse tipo e me mandar para, como diz Edgar, Arena do Defunto.

Simbora.

Vamos pra São Lourenço tomar conta daquele campo e manter nossa escrita naquele gramado.

Não sei se a gente chega ao G-4. Nem sei direito se quero que o Santa Cruz suba para Série A. Mas não tenho dúvida, quero que o Santa vença o jogo de sábado e todos os outros que virão.

P.S.: Sobre o episódio de ontem, o da “greve”, segundo vi nas notícias, o clube deve 2 meses de salários. Não sei como isto está sendo tratado pela diretoria junto ao elenco, então prefiro não opinar.

Bora!

Amigos corais, a valorosa equipe do Blog do Santinha está espalhada pelo mundo.

Inácio França na terceira ou quarta lua de mel com sua amada Geórgia, em Buenos Aires, depois Montevidéu. Dizem que ele agendou a viagem após consultar as tabelas dos campeonatos nacionais. Vai assistir 12 jogos em 17 dias.

Gerrá está cheio de trabalho e justamente hoje, sua amada mãe faz aniversário. Toda a família vai se reunir no afamado bairro do Ipsep, para os festejos, que devem terminar somente domingo. Este que vos fala não foi, novamente, convidado.

Só restou este velho cronista coral, que vai representando o Blog do Santinha, no setor das arquibancadas.

O miserável do jogo é às 19h30, mas não tem jeito. Só nos resta dar um jeito de sair de casa já com o kit-jogo: camisa coral, bermuda e o velho tênis.

O time melhorou muito com o novo treindor, o Oliveira de Canindé.

É hora de nós, torcedores, sairmos dessa morgação e botarmo moral no Arruda.

Como diz Gerrá: “Bora!”

**

Nota de pesar

Só um lunático mesmo é capaz de colocar a arquibancada inferior a R$ 60,00 (a superior é R$ 20,00). O que custava botar tudo a R$ 20,00 e lotar o anel inferior?

Eita, Santa Cruz véio e enfadado…

Às 21h30, Breno ligou avisando que já havia chegado e que já tinha colocado umas latinhas no freezer.

No mesmo instante, Robson Senna, diretor de fotografia da Minha Cobra, manda um zap-zap: “Pierre e eu vamos assistir aqui no Bier Grill, próximo do DNOCS”.

Preferi ficar por perto de casa e fui assistir ao jogo de ontem na residência do meu vizinho Breno. Gente da melhor qualidade. Quem chega a casa dele dá logo de cara com uma linda bandeira do Santa Cruz pregada na parede como se fosse um quadro.

Cerveja no copo, uns brebotes na mesa e um primeiro tempo de dar calo na vista. Nosso meio-campo não criava, os laterais não conseguiam nem apoiar e nem marcar e toda bola cruzada na nossa área era meio gol.

Por pouco não descemos para o intervalo com uma derrota nas costas.

E aí, o treinador tentou ajeitar o time.

Fez o óbvio. Botou Natan e mexeu nos laterais. O time deu uma melhorada, encurralou o adversário. Aos sete minutos abrimos o placar.

E o melhor, pra felicidade geral do povão, Natan voltou a jogar um bom futebol, reacendendo a esperança daqueles que torcem pelo garoto.

De repente, Natan é chamado pelo árbitro da partida. O meio-campista, sem entender o que se passava, olha para o juiz e pergunta: “eu?”

“É você, rapaz. Vamos, sai. Vai trocar a camisa, porra.”  –  acho que o juiz falou.

Pois é, Natan estava usando uma camisa com a numeração diferente do que constava nas anotações dos auxiliares da arbitragem.

Isto mesmo, meus senhores. O jogador do time profissional do Santa Cruz Futebol Clube, uma instituição centenária, que participa da Série B do campeonato brasileiro, entrou em campo ontem com a camisa errada. Por causa desta pixotada, o rapaz foi punido com cartão amarelo e não vai poder ser relacionado para o jogo contra a Ponte Preta.

Hoje somos notícia. Viramos piada.

“Bizarro! Atleta entra em campo com camisa errada em partida da serie-b”, é a manchete que acabo de ler em um portal na internet.

Continuo lendo e me deparo com a seguinte pérola do diretor Sandro Barbosa:

“O Natan entrou com camisa errada. Vai fazer falta, mas não vou apontar o culpado. Que sirva de exemplo para todos conferirem, supervisor, diretor, presidente. A repercussão ficou maior porque foi o terceiro cartão amarelo”.

Prefiro não comentar o que foi dito pelo diretor. Me falta paciência.

Espero que esse ano acabe o mais rápido possível. Se não formos rebaixados para sericê, já me dou por satisfeito.

E com diria um amigo meu: “eita, Santa Cruz velho e enfadado”.

O Santa, na “Bodega do Abel”

Eis a placa...
Eis a placa…

fachada

Na sexta-feira passada, minhas obrigações clubísticas diziam que eu deveria estar na Arena, para ver Santa x Boa Esporte, às 19h40.

Mas no meio do caminho tinha: engarrafamento, horário de pico, a Abdias de Carvalho e outros milhares de carros. Como não tenho carro, não queria levar minha impaciência aos limites. Resolvi assistir na Bodega do Abel, aconchegante reduto coral, na rua das Creoulas, defronte àquela farmácia da rua das Pernambucanas.

Desde a primeira vez que entrei lá, meio ao acaso, me tornei assíduo. Até paguei um “Clube do Whisky” para meu cunhado coral, o senhor Pedoca, que mora ao lado, mas ele anda mal do juízo: Não foi bebericar seu presente.

O resultado foi que, a cada visita, eu beliscava umas doses. Na sexta, eu avisei que iria acabar o presente. Ele ficou preocupado.

Marquei com Gerrá e Inácio, mas, como sempre, a fuleiragem foi grande. Gerrá enrolou tanto que perdeu o primeiro tempo em casa.

O Abel, dono da bodega, é um português invocado, Santa Cruz desde que os portugueses cá chegaram e decretaram:

“Pois, pois, esta é a Terra do Santa Cruz”.

O Caminha errou e digitou “Terra de Santa Cruz”. Mudaram para “Brasil” por pirraça.

A clientela é majoritariamente coral. Até perguntaram pelos livros da “Trilogia das Cores”. Breve, abriremos uma filial do Blog do Santinha lá, para vender os livros.

Bem, mas o fato é que bastou o jogo começar, o uísque a deslizar manso, que o Santa desarnou e começou a jogar outro futebol.

Alguns rubronegros secavam ardorosamente, mas Abel deu logo seu recado-esporro:

“Eu adoro quando esses rubronegros fiquem secando, porque essa energia passa para os jogadores, e ele jogam é mais bola”.

Pedoca chegou quando eu bebia a última dose. Quase chora. O jeito foi dar outro presente, desta vez um “Cavalo Branco”. Esse Santa Cruz me deixa um cara bem mais legal, todo mundo diz isso, até minha mulher.

Ao lado, vários corais com os olhos brilhando. Três a zero no primeiro tempo, com o time totalmente mudado, mordendo a bola, marcando, tocando, fazendo a festa da massa.

O lirismo logo começou a se espalhar.

“Ah, o Santa Cruz, quando ganha e joga bem, deixa a humanidade feliz. A humanidade inteira fica muito mais feliz quando o Santa ganha”, repetia um senhor, na mesa ao lado. Todos concordavam.

Pedimos espetinho de picanha, com cebola e vinagrete. Na medida. Outra dose. Hummm… Que falta de saudade eu sentia da Arena…

O segundo tempo foi só para manter o resultado, não forçar a barra. Eu e Pedoca botamos todos os papos em dia, bebemos nossas doses, rimos, confirmamos que é um ótimo lugar para ver jogos do Mais Querido.

Vou pedir ao Abel para reservar a mesa sete só para a galera do Blog. Em dia de jogo a gente leva uns livros da trilogia e vende com algum desconto.

O bom é que se eu empurrar o pé na jaca, meu cunhado mora a 200 metros. Dá para me levar no lombo.

O diabo é quem vai

Sexta-feira, início de noite. Não há dúvidas de que esse é o horário ideal para jogos de futebol. Não entendo como torcedores, dirigentes, radialistas, autoridades constituídas, colunistas, técnicos de nosso Brasil varonil desperdiçaram todo o século XX e alguns anos do XXI sem perceber que, esse sim, era o horário mais propício para dois times profissionais que disputam o Futebol association entrarem em campo com garbo e afinco.

Não há condição melhor: o sujeito sai do trabalho direto para o estádio, deixa para comer depois e ainda dá tempo de fazer uma frente com a família no restinho da noite. Dá, por exemplo, para ir na esquina comer uns espetinhos com a esposa amada, enquanto os pirralhos ficam em casa jogando videogame. Se os pirralhos forem pirralhos demais, o torcedor pode comprar uns pastéis de vento no caminho e levar para casa para comê-los com guaraná enquanto assiste o finalzinho de Globo Repórter em companhia de sua senhora no recesso do lar.

Graças aos executivos da programação da Sportv (abençoada sejam as Organizações Globo), agora há jogos nesse horário tão conveniente para a torcida brasileira.

Agora, perfeito mesmo é se a partida da sexta, às 19h30min, estiver marcada para a casa de caralho. Para quem não conhece, trata-se do endereço físico da Arena Pernambuco.

Nesse caso, o torcedor poderá, antes de vibrar pelo seu time, experimentar o frenético trânsito da Abdias de Carvalho, onde atualmente está o melhor engarrafamento de Pernambuco, com direito a uma sensacional vista panorâmica da interminável fila de carros e caminhões na BR-101. Imperdível. E tudo isso pelo preço de apenas um ingresso de arquibancada!!!

Quem preferir fazer outro caminho, também terá acesso a mais entretenimento, afinal quem botou o “estádio da Copa” na encruzilhada entre o fim dos tempos e o fim do mundo pensou em tudo, afinal o que podíamos esperar de quem tem ideias assim tão brilhantes.

A turma que optar pelo metrô, por exemplo, terá a oportunidade de viver a experiência de pegar o trem na hora do rush mesmo sem ter necessidade para tal. É uma forma de compartilhar a visão de mundo – ou, pelo menos, de transporte público – das massas trabalhadoras. Quem sabe quantos mestres em sociologia, PhDs em urbanismo e doutores em antropologia serão gerados dessa aventura sobre trilhos?

Algumas das promoções concebidas conjuntamente pelo consórcio Arena Pernambuco+Organizações Globo/SporTV+CBF  são obviamente inspiradas pelo movimento slow food e similares, aqueles que pregam menos pressa, menos agitação e menos ansiedade para se obter mais qualidade de vida.

Sei de dois amigos rubro-negros que, numa dessas partidas do time deles na Arena, entraram no ônibus cedido pela diretoria do clube para os sócios em dia poderem ir à longínqua arena. O ônibus partiu  às 17h30min. O jogo era às 19h30min e a saída foi da Ilha do Retiro. Quando o time entrou em campo, eles estavam no veículo, socializando junto a mais 50 torcedores. Chegaram no intervalo da partida, já sem pressa nenhuma. Perderam 45 minutos de jogo, é verdade, mas aprenderam algo fundamental sobre a vida, o tempo e a importância relativa das coisas. Se não aprenderam é porque não souberam aproveitar a oportunidade.

Estou citando esse fato vivido pelo meus amigos do time rival para que aqueles tricolores que estão alugando kombis e vans para fazer essa excursão aos arredores de São Lourenço da Mata (Saint-Laurent de la Forest, como diziam durante a Copa), possam viver a plenitude dessa vivência.

Eu, pessoalmente, pretendo abrir mão disso tudo em prol de terceiros. O melhor é que não precisa ter receio de estar prejudicando o clube, afinal o pacote dos cincos jogos na Arena garante ao Santinha, no mínimo, R$ 250 mil livres, sem contar a reforma no gramado do Arruda que será feita pela Arena. Se a renda for de R$ 100 mil, a Odebrecht que se vire para pagar os 250 contos pro Santa. Acima de meio milhão, vai ter rá-rá. Por isso, ficarei em Recife tranquilo, sem peso na consciência.

Vão e depois me contem.