Do jeito que tá, tem que ser com a gente

Ainda era por volta do quinze minutos do segundo tempo, quando eu comecei a balançar as pernas e implorar para que os ponteiros do relógio corressem ligeiro e o juiz acabasse o jogo.

Meus amigos, se não fosse a sorte e a ruindade de alguns jogadores do adversário, tínhamos levado uma boa lapada ontem no Sertão e a vaca poderia ter ido pro brejo.

Fazendo um resumo do que vi, eu diria:

— Um time lerdo, que só jogou alguma bola nos primeiros vinte minutos.

— Uma lateral direita que mais parecia a Avenida Agamenon Magalhães de madrugada.

— Um meio-campo sem o mínimo de criatividade.

—Um ataque que consegue ser pior do que aquela época de Fábio Saci e Creedence.

— E dois jogadores que nem deveriam voltar com a delegação: Emerson Santos e Bileu.

Eu até daria mais uma chance a Nininho e até ao destrambelhado do Betinho, desses dois eu tenho pena. Mas as duas murrinhas que citei, Emerson Santos e Bileu, deviam ser mandados embora quando o ônibus estivesse passando por Arcoverde.

Era dar uma parada na frente do Arcoverde Palace e educadamente pedir para os dois descerem.

Quem sabe eles não arranjavam um emprego por lá e se davam bem na vida.

Se Tininho e Alírio quisessem, eu poderia dar uma força. Falaria com Seu Damião ou com Assis Calixto e consiguiria uma vaguinha para Emerson Santos participar do Samba de Coco Raízes de Arcoverde. Uma boa função pra ele seria dançar o trupé.

Eu poderia indicar Bileu para ser o roadie. Mas acho que não iria dar certo. Ele é meio atabacado e rodie que se preze tem que está ligado na função. Como gosto muito daquela turma do Raízes de Arcoverde e tenho o maior respeito pelo que eles fazem, não pedirei por Bileu. Ele que se dane e vá procurar emprego.

Nobres Tricolores Corais Santacruzenses das bandas do Arruda, a verdade seja dita, nosso time é muito ruim.

Depois do que vi ontem, só nos resta entrar em campo. Somente a torcida poderá ganhar esse título de 2015.

Vai ter que ser no grito e na pressão.

Vai ter que ser como foi de tantas outras vezes. Domingo que vem, todas as ladeiras, ruas e avenidas nos levarão para o Arruda.

Por hora, esqueçamos um pouco do que vimos ontem. Deixemos um pouco pra lá os Bileus, os Emersons e outras desgraças que insistem em nos chatear.

É colocar a racionalidade de lado, vestir a camisa que dá sorte, se enrolar na bandeira, repetir os rituais e se mandar para o jogo.

Até porque, há quem diga que estamos com a sorte de campeão.

Tomara. Oxalá. Assim seja.

Se já ganhamos campeonato com gol de Landu e Branquinho, nada impede que a gente vença domingo com um golaço de Betinho de bicicleta, depois de um cruzamento milimétrico de Nininho.

De toda forma, quer for de rezar, reze. Quem for de beber, beba!

Só acaba quando termina

Vez por outra, Stanislau ainda sente saudades daquela morena. Nem tanto da sua conversa, mas das farras, da forma como trepava e principalmente do jeito carinhoso que aquela moça tratava ele quando estavam na cama.

Era um churrasco na Ilha de Itamaracá. Um aniversário. Convidado por sua prima, Stanislau nem quis saber da sua condição de penetra e foi pra festa.

Acordou, era quase nove horas. Comeu um resto de inhame, fez um pão com ovo e bebeu um todynho.Vestiu nosso manto sagrado, daqueles antigo com o nome de Mancuso estampado nas costas, tirou o carro da garagem, passou na casa da prima e, se mandaram para Itamaracá.

O sol torrava aquele sábado. Já no primeiro posto de gasolina, abasteceram o tanque e o isopor com latas de cervejas. Stanislau entregou o comando da direção à Gisela e abriu sua primeira latinha.

— Ai, não acredito! Tu já vai beber?

— Calor da porra desse. – ele respondeu e deu uma golada.

Abreu e Lima. Igarassu. Itapissuma. Engarrafamento nas três. Chegaram em Jaguaribe, era quase uma hora da tarde.

A casa era bem perto da praia e o som tava nas alturas. Um gordinho de bermudão colorido dançava perto da churrasqueira. A música, pra quem não estava com a cuca cheia de cachaça, era um pagode de péssima qualidade.

Stanislau foi apresentado a dona da festa e Gisela cuidou de enturmá-lo. Ele nem percebeu o detalhe da ornamentação da mesa do bolo de aniversário. O que ele percebeu mesmo, foi aquela morena de shortinho branco, biquíni estampado e diadema combinando com o short, que requebrava esbanjando um charme de fazer inveja a qualquer mulata de Sargentelli, Gretchen, Fátima Boa Viagem ou essas malhadinhas do Faustão.

Stanislau ficou hipnotizado. Não tirou o olhos de cima da menina. Ela fez que não notou.

Foi quando uma mente de bom gosto resolveu botar um forrozinho. Rolou uma seqüência de Assisão. A morena remexia gostoso numa rodinha de amigas. Stanislau balançava o esqueleto com a prima. O ritmo desacelera e Flávio José domina o som. O  tricolor não titubeou, largou a prima, tomou um pouco de cerveja e partiu pra cima. Ela já estava esperando e querendo. E os dois passaram a xotear agarradinhos.

Já emendavam na quarta ou quinta música e conversavam numa boa. Stanislau já tinha ficado duas vezes de pau duro e ela nem ligou. Corpinho suado, cada vez mais se colava nele.

— tu é corajoso. Vem pra festa de rubro-negro, com camisa do Santa…. – ela disse.

— festa de rubro-negro?!

— visse não, as bolas vermelhas e pretas lá na mesa?

Ele desviou o rumo da conversa. Na hora dos parabéns, já estava abraçado com Milena. Sem faltar com o respeito, deram alguns beijos e curtiram a festa até o final. Cinco dias depois, se encontraram, tomaram umas, deram outros beijos de boca e foram se conquistando até que transaram enlouquecidamente. Milena era do tipo que chupava com ética e não tinha dificuldades para gozar.

Já se passavam uns dois meses de muito amor, sexo, farras e bebedeiras. No dia da nossa estreia no estadual desse ano, pela primeira vez Stanislau vai pegar Milena na casa dela. Haviam combinado de irem juntos para praia e depois para o Arruda. Ela inventou uma desculpa e não foi para o jogo. Deixou Stanislau na mão.

Exatamente às 19h12, Milena tem a sínica ideia de mandar uma mensagem para ele. “Nem começou direito e vcs já levam essa enfiada”. E botou aquelas carinhas idiotas sorrindo.

Stanislau, sem nenhuma cerimônia, enviou um sonoro VTNC. E tratou de abandonar aquela buceta.

Essa semana, ele não se segurou e mandou um áudio com a música Carcará. Ao final, botou uma carinha bem idiota sorrindo.

ps.: E hoje, lá em Salgueiro, o jogo só acaba quando termina. Bora Santa Cruz!! TRIIIII!!

Tô aqui, mózôvo!

Querem saber onde estou?

Antes de responder, juro que não consigo entender tanta curiosidade por um macho véio como eu. Viadagem das grossas.

Sim, é verdade que estou começando o segundo volume dos Irmãos Karamazov. Devagarzinho porque o Santa Cruz consome muito a gente.

Sim, é verdade que estou desovando a escrita de um livro durante muito tempo represado em meu juízo. O ritmo já foi melhor, desacelerou por causa do Santa Cruz. Mesmo assim continuo indo escrever pelo menos duas vezes por semana num escritório secreto no centro da cidade, sem internet e com sinal de celular fraquinho que é para ninguém encher meu saco.

Também é verdade que dar conta de três filhos toma muito meu tempo, mas até isso está indo aos trancos e barrancos por causa do Santa Cruz.

A essa altura do texto, vocês devem estar se perguntando como torcer por um time pode dar tanto trabalho. Torcer é duro mesmo. Pior é ajudar a montar uma estrutura e uma cultura de comunicação no Santa Cruz, desde sempre um clube sem nada disso (ou quase nada, pois felizmente pôde contar com o esforço solitário do assessor de imprensa Jamil Gomes).

Entenderam? Há pouco mais de um mês, estou dando uma contribuição profissional ao meu clube de coração. Vou receber por isso. Pouco, mas vai entrar uns trocados pelo trabalho de consultoria. Não faria nada voluntariamente por não acreditar na qualidade desse tipo de trabalho e, principalmente, porque o voluntarismo no futebol é uma prática que enfraqueceu institucionalmente o Santa Cruz.

Sou sincero: eu praticamente me convidei para esse serviço. Mesmo cheio de coisa para fazer (livro, programa de rádio, projeto de uma nova plataforma de jornalismo em andamento…) achei que tinha de contribuir com essa gestão que se propõe a ser nova, mas que corria o risco de ser mais do mesmo se não se abrisse a novas práticas.

Primeiro fiquei enchendo o saco do presidente Alírio depois daquela conversa com a turma do Blog do Santinha, em dezembro, sobre os erros que ele não podia repetir no clube. Devo ter deixado o sujeito em pânico. O próximo passo foi abrir minha rede de contatos (a famosa network), afinal eu não sei fazer nada que preste, mas conheço todo mundo que sabe trabalhar bem. Quando Alírio topou escutar as pessoas que eu indiquei, pudemos avançar um pouquinho.

Apresentei o presidente a Nivaldo Brayner, professor de marketing na UPE que tentou fazer um trabalho mais profissional de marketing no início da gestão de Fernando Bezerra Coelho. É dele a adoção da frase A torcida mais apaixonada do Brasil.  Brayner, por sua vez, trouxe para o grupo Jorge Arranja, professor de Gestão de Marketing, que acabou assumindo a diretoria de Marketing e Comunicação do clube. O detalhe é que Arranja não torce pelo Santinha. Ele é “aficionado” do FC Porto, de Portugal. Problema dele.

Depois, chegou a hora de incorporar Laércio Portela à equipe. Portela é um nome um tanto desconhecido entre vocês, leigos nessa arte, mas vem a ser um dos melhores especialistas em redes sociais do Brasil, quiçá da América Latina. Está de volta a Pernambuco e torce tresloucadamente pelo Santa. Só não vou mencionar o currículo dele porque o sujeito é tímido e todo esquisito. Ele é o tal “Cético” de quem Samarone tanto fala. Eu sou o “Cínico”. E Samarone é um frango, por falar nisso.

Começamos a botar para moer há algumas semanas com as redes sociais, as promoções e coisa e ta. Alguns já devem ter notado. Mais coisas virão, incluindo um site tamporoso e a construção de uma relação da presidência do clube com a imprensa em novos parâmetros institucionais.

Enquanto isso, dificilmente terei tempo de escrever para o blog, a não ser para dar pau nos escrotos da Tropa de Choque da PM (vocês nem imaginam o quanto aqueles puliças se esforçam para prejudicar o Santinha!). Mas voltarei. A ideia é deixar a coisa funcionando para voltar a ser torcedor.

Ah, a imagem lá de foi cima postada por Marcelo Mello no facebook e não tem nada a ver com esse texto, mas é uma das melhores coisas que circulam na internet desde que os bicolores da Madalena começaram a enfrentar a situação adversa na qual se encontram.

Sanfona Coral rumo a Salgueiro!

Srs e Sras, a Sanfona voltou.  Pois é, ontem foi aniversário de Chiló, e hoje, nesse domingo dia 26 de abril de 2015, a gente comemorou.

– Gerrá, rola um forrozinho! Sanfona Coral, chopp, jogo, caldinho e uns amigos bons!

– Chió, meu velho! Tu sabe que eu não abro nem pra um trem, né?! Vamo simbora!

Aí, a festa começou a rolar. Chiló e Taia organizaram a parada. Datashow, cabo hdmi, caixinha de som, essas coisas. Chopp, caldinho, feijoada, aguardente e u forrozinho de primeira.

Uma tricolozada de primeira qualidadade. Sebba, Geó, Pedoca e família, Taia e seu pequeno Rafa, Renato Coloral, etc e tal.

Aí, a gente soube que a porra da TV Globo não iria transmitir o jogo.

– Relaxa, Chiló. Eu quero que a Globo, tome no cu. – eu disse, já cheio de Mata Verde na cabeça.

Ao final, a gente cantou:

“Ô Salgueiro, Ô Salgueiro, me arresponda por favor, tu tirasse a leoa, mas quem manda é o TRICOLOR!”

Simbora pra Salgueiro! Quem vai?!

 

Alguém tem notícias do cronista coral Inácio França?

Qualquer informação será importante para este blog.
Qualquer informação será importante para este blog

Amigos leitores, estamos realmente preocupados com a ausência longa do senhor Inácio França, fundador e escriba do Blog do Santinha. Escrevemos um texto levantando suposições e dúvidas sobre o paradeiro do nosso amigo. Aguardemos algum retorno.

Especulações de Gerrá Lima

Andam me perguntando por Inácio França. A última vez que o encontrei foi nas ladeiras de Olinda, no dia da saída da Minha Cobra.

De lá pra cá, nunca mais vi aquele bicho.

Nem através de textos nesse Blog, tenho visto Inácio. Não lembro qual foi a última crônica que ele postou aqui.

O cabra não responde e-mails, mensagens e não retorna ligação.

Por zap-zap é impossível encontrá-lo, pois o celular dele é do tempo que existia a Telemar. O aparelho que ele usa não tira nem fotos.

Na última segunda, encontrei com Samarone e conversamos sobre o assunto.

“Sama, que fim levou Inácio?”

“Rapaz, faz tempo que não vejo. Tá difícil falar com França! Parece que ele tá escrevendo um livro. E aí fica trancado num escritório na Boa Vista, sem contato com o mundo. Tu num sabe que aquele frangolino é meio doido!”

Pelo que conheço, Inácio deve estar cheio de nó pelas costas.

Também pudera, o sujeito tem três filhos para administrar, precisa garantir a bolacha dos meninos e ainda vive arrumando coisas para fazer. Sempre tem uma reunião para tratar de algum futuro quase projeto.

E tem mais, se o Santa Cruz estiver a perigo, ele fica azedo, ácido e impaciente. É de um mau humor, triste! Por qualquer besteira, é capaz de mandar um “vá se fuder” sem medir distância.

Mas sábado passado, depois da goleada que demos no time de Caruaru, avistei Inácio de longe. Vestia o manto coral e uma calça jeans. Parecia bem animado.

Fiquei até na expectativa que ele fosse publicar um daqueles textos irados sobre nossa vitória.

Liguei pra ele na segunda-feira e, de novo, o telefone só dava fora da área.

Então, meus senhores, se algum de vocês esbarrar com Inácio França, um cara magro, sem barba e bigode, que tem um bucho grande e usa óculos, por favor avisem que o Blog do Santinha tá procurando ele.

**

Especulações de Samarone Lima

Não tenho informações precisas, porque está difícil de encontrar com o velho amigo França.

Temos um programa toda sexta-feira, na Rádio JC, a partir das 21h30 (“Para gostar de ler”), nos encontramos meia hora antes, para discutir a pauta, ver os convidados, mas ele só fala de literatura. Suspeito que ele esteja com um projeto paralelo, envolvendo mídias sociais, sites, mas é um mistério danado. Puxo assunto, mas ele começa a falar de Dostoievski (está lendo o segundo volume de “Os irmãos Karamazov”, imaginem) e pensa em agarrar “Guerra e Paz”, de Tolstoi (outros dois volumes).

Tem hora que toca o celular dele (que é do tamanho de um Atari), mas ele se afasta e começa a conversar com um ar grave com um sujeito que ele apelidou de “Cetico”. Nunca diz o nome do cara. Temo ser algum laranja. Puta merda, o França na Lava-Jato?

E tem um papo sério com um tal de “Archteg”. De vez em quando cita esse nome nas conversas com esse sujeito misterioso. e o “Archteg” está bem, se tem aparecido bem etc. Em meus delírios de grandeza, pode ser que ele esteja na comissão técnica coral, monitorando revelações do Campeonato Alemão. Mas isso precisava de tanto mistério?

Sei que ele lugou uma sala aqui pelo centro, e que está escrevendo um romance e sua autobiografia (em sete volumes), mas não revela o endereço nem a pau. Parece mais aqueles guerrilheiros da década de 1960/1970, que tinham “aparelhos” para escapar da repressão.

Textos no Blog do Santinha, nem para remédio.

Agora estranhei algo. No jogo passado, que iniciaria às 18h30, ele já estava no Arruda as 16h.

Depois, vi o amigo dele, o tal “Cético”, no gramado, em pleno intervalo. À saída, ele estava apreensivo com algo. Declinou da cerveja que ofereci. Isso depois de uma goleada por 4 x 0.

O senhor Inácio França está escondendo alguma coisa. Quem souber de algo, favor informar nos comentários deste valoroso blog.

Por precaução, vamos manter nossa equipe de advogados de plantão.

 

 

 

 

 

Uma Polícia contra uma torcida – o caso da PM de Pernambuco

Amigos corais, cada vez que saio de casa me pergunto – como será que estará o humor da Polícia Militar de Pernambuco de hoje? Como será a organização dos camaradas da Tropa de Choque no entorno do estádio? Teremos cavalos em cima de homens, mulheres e crianças? Teremos spray de Pimenta?

Bem, agora temos uma novidade (se é que não perceberam ainda) – PMs armados com rifles que disparam balas de borracha. Tem gente que fica cego com isso. No jogo contra o Sport, na Ilha do Retiro, atiraram em pessoas a dois metros de distância.

Além de torcedor do Santa Cruz Futebol Clube, sou, essencialmente, um jornalista. Vou a qualquer lugar da minha vida com um bloco de anotações no bolso esquerdo e duas canetas no bolso direito (para o caso de uma falhar). São minhas armas. Eu anoto tudo. Do camburão que levou um garoto de uma organizada ao número do ônibus que queimou a parada porque tinha “apenas” um velhinho.

Ontem, resolvi fazer o seguinte – vou ver como a PM vai receber a torcida do Santa.

18h: Chego à “Beira Canal”, o famoso portão 9, onde entra a maior parte dos  torcedores que pagaram, no último jogo, R$ 40,00 (arquibancadas). Há uma fila enorme, inacreditável, num jogo contra um time do interior, praticamente sem torcida adversária.

Resolvo pegar uma cerveja e sentar junto à entrada, para ver o trabalho da PM. Ver e anotar o que acontece rigorosamente em todo jogo: desorganização, falta de planejamento, de estratégia, truculência.

Antes,  ao passar pela entrada do anel superior, o caos habitual. Milhares de pessoas se aglomeram, esperando a chance de entrar no estádio. Uma confusão enorme. Ligo o radinho e tem um torcedor indignado com o trabalho da PM de Pernambuco.

Decido que vou esperar e ser o último da fila, para ver quanto tempo de jogo perderei, mais uma vez.

18h15: Beira canal: Em meio à enorme fila, carrões chegam, para entrar no estacionamento do Arruda. Atravessam a caótica fila. É óbvio que em qualquer estudo de acesso, impediria carros entrando naquela rua. PM estudar estratégias de acesso a um estádio, em Pernambuco, é pedir inteligência em quem trabalha com multidão.

18h25: PMs circulam com armas que parecem rifles. Já sei – são as tais armas que disparam tiros de borracha. Mas que cegam. A fila segue enorme caótica.

8h30: A rua Beira Canal tem uns 500 metros, até o portão 9. Só a 20 metros tem uma estrutura de ferro, para organizar a fila. O restante da fila é um caos. Vários amigos de classe média estão ali. Quantos teriam a coragem de levar suas mulheres e filhos para esse caos? Como só bem perto da entrada eles usam estruturas para organizar a fila, dezenas de pessoas passam na frente. Um ou outro (não sei o critério) é pego e mandado de volta.

Escuto os fogos. O Santa Cruz está em campo. Milhares de torcedores, como eu, saíram de casa e não conseguiram entrar no estádio do seu time após trinta minutos de fila.

18h38: “Parô!” “Parô!”, grita um PM, segurando a multidão. O Santa já está em campo há 8 minutos. O policial está num nível de estresse absoluto. Ninguém ali está preparado para conviver com multidão. Está preparado para bater em multidão.

18h42: Passa por mim um PM com um chicote grosso, de bater em cavalo. Passa ameaçando um torcedor. Eis uma metáfora de nossos tempos. Somos tratados como cavalos.

18h 52: Fico aguardando. Os torcedores são maltratados, humilhados. Há gritos, ameaças. Quem falar, ali, pode ser preso ou apanhar. Eu já fui preso porque perguntei a um PM quem era o “chefe da guarnição”.

18h56: Aos 26 minutos de jogo, a fila vai acabando, e resolvo entrar no Arruda.

Resolvo dar uma de “estrangeiro”. Um torcedor que veio de outro estado, e não sabe das regras. Vou chegando perto do pelotão que fica antes das roletas. Um PM não diz nada. Vou chegando e ele grita:

“A camisa!”

Pergunto o que é “a camisa”.

“Levanta a camisa!”

Levanto. Ele olha me deixa passar. Se eu tivesse uma arma, bebidas, drogas, entrava na boa. A seleção é pela cor da pele.

Uma moça vai passando, abraçada ao seu namorado. Estão felizes, rindo, vão ver seu time lutar para chegar às finais. São gente do povo. Perto já das arquibancadas, três policiais chegam, abordam a mulher e descobrem algo incrível – ela tem um cabelo aloirado, que cai pelo ombro esquerdo. Debaixo dos cabelos, na camisa, tem um minúsculo escudo da Inferno Coral.

Ela tem que sair do estádio. Fim da alegria, da noite que prometia ser de uma grande festa. Os dois saem, cabisbaixos.

É isso que vai reduzir a violência nos estádios de Pernambuco?

19h: Chego à arquibancada. Perdi meia hora de jogo. Um aperto do caralho. Olho para a torcida do visitante, do lado direito das arquibancadas. Há um espaço enorme reservado para os poucos torcedores do Central. Ficamos num aperto absurdo, como se o Arruda estivesse lotado.

19h10: Os PMs que estavam cerrando fileiras à entrada do portão 9 entram nas arquibancadas, empurrando todo mundo. Não existe o “com licença, senhor” de um servidor público no meio de uma multidão. Quem tiver juízo, que saia da frente. Eles sobrem um monte de degraus e descobrem que um sujeito tem um pequeno escudo da Inferno Coral, em sua camisa. É retirado como se fosse um criminoso.

Um deles diz: “Missão cumprida”.

Finalzinho do primeiro tempo: Gooooooooooooooooool do Santa. Pelo menos uma alegria, nesse mar de arrogância.

Intervalo do jogo: Olho de novo para o espaço do Arruda. Um grande vazio existe, entre as arquibancada do Arruda e as sociais. No mínimo, 20 PMs estão ali, fazendo absolutamente nada, já que a torcida visitante é mínima.

O segundo tempo é mais tranquilo. O time coral embala e faz a festa da torcida: 4 x 0.

Fim do jogo. Um portão enorme, que é o da saída das arquibancadas, claro, está fechado. Deve dar um trabalho imenso, abrir um portão para facilitar a saída de milhares de pessoas, em um evento esportivo. Qualquer confusão, ali, resultaria numa tragédia.

Saímos à Beira Canal.

Faltava a cereja do bolo: Três ônibus da PM de Pernambuco estão saindo na rua, exatamente na hora em que uma multidão esta saindo do estádio. Vamos nos espremendo, em meio aos veículos, que, claro, têm prioridade;

Ou seja: uma multidão tem que se espremer entre veículos da corporação – que não deveriam estar ali.

Dez minutos antes do fim da partida ou meia hora depois, seria uma grande contribuição para nós, torcedores.

Se fala muito em “violência nos estádios”.

Não há violência maior do que ser maltratado pela inoperância de uma polícia incapaz de facilitar o acesso a 24,814 torcedores.

Temos, aqui em Pernambuco, uma Polícia que age contra um time de multidões.

Mas vocês acham que o comandante da Tropa de Choque vai ler as minhas inúteis anotações?

Hora de “esquentar” a relação

Amigos corais, todo mundo sabe que qualquer casamento tem altos e baixos, cismas, brigas, grandes momentos de euforia completa, acusações, desentendimentos. Em muitos casos, há separações irreversíveis, choro e ranger de dentes.

Mas o casamento clubístico é para sempre. É uma das poucas coisas eternas da vida.

Tenho amigos que casaram e separaram uma par de vezes, mas algo é sagrado – na hora da mudança, o manto coral vai junto, em busca do próximo guarda-roupa, mesmo que comprado à prestação, mesmo que seja naquela dolorosa volta para a casa da mãe “só por uns meses”.

Creio que é o momento da massa coral “esquentar” a relação com o amado Santa Cruz, nosso casamento irreversível.

Vivemos uma pré-temporada de torcida que parece não ter fim. O time está nas semifinais do Estadual, está evoluindo, temos reais condições de chegar às finais do campeonato estadual (o que sobrou para 2015), mas falta algo, uma chispa, um calor, uma centelha. Parecemos aqueles torcedores burocráticos, tediosos, sem ânimo, que vão ao Arruda como quem vai ao supermercado, com a lista de compras.

No Arruda, há silêncios clamorosos, poucas canções, a agitação da multidão empurrando os jogadores anda em banho-maria. Os jogadores estão a ponto de pedir aos parentes que cheguem junto, para escutar um grito de apoio.

Estamos, do ponto de vista de torcida, em total impedimento.

Vamos tratar de marcar encontros pré-jogo, como se fosse reencontrar a namorada, a amada, a amante.

Tomar uma cerva gelada com um galeto, mentalizar gols, jogadas de efeito, passes milimétricos. Vamos sequestrar os três integrantes da “Sanfona Coral” e só libertá-los caso aceitem tocar nos dois próximos jogos, sob risco de não devolvermos mais a sanfona do senhor Chiló, que está virando não o rei do baião, mas o “Rei do Pantim”.

É hora de sacar as bandeiras, vestir o manto coral, comprar o ingresso extra, para quem está liso (a situação do país está braba), chamar os velhos camaradas de ofício para a missão inicial de 2015 – vencer as duas batalhas contra o Central.

Precisamos esquentar essa relação.

Não podemos fazer como o Congresso Nacional, que pretende terceirizar tudo.

A paixão coral não se terceiriza. O ano, de verdade, está apenas começando.

Feliz da vida

Cumprimentei as meninas da recepção com um bom dia. Nem sei o time que elas torcem. Peguei minha ficha e, pra esquentar, fui fazer dez minutinhos de exercício aeróbico na bicicleta ergométrica.

Um pouco à frente, uma gordona se esforçava nuns abdominais. Na esteira, um baixinho pingava de suor. Na bicicleta ao lado, um senhor de barba branca também pedalava e conversa umas besteiras sobre viagem com sua personal.

A música tava até boa. Rolava “Samba Makossa” de Chico Science e Nação Zumbi. Samba Maioral / Onde é que você se meteu / Antes de chegar na roda meu irmão / .

Fiquei por ali. Calado. Pedalando sem sair do lugar e pensando em coisas miúdas.

Foi quando um dos treinadores se dirigiu a mim e disse: “tá feliz, né?!”

O rapaz nem mesmo deu bom dia, nem mesmo perguntou se estava tudo bem. Foi logo perguntando de forma afirmativa se eu estava feliz.

Não deu tempo de responder absolutamente nada.

— foi pior pra vocês. Foi pior. – ele disse tentando sorrir.

Eu quis dizer algo, fazer um comentário, iniciar uma conversa, mas ele não deu espaço. Ainda consegui falar rapidamente, “só assisti ao primeiro tempo”.

— como eu tava dizendo, foi muito pior pra vocês. Agora o foco é o pernambucano. – ele emendou.

Puxei um pouco de ar, mas antes que eu soltasse alguma palavra, não deu tempo.

— E vamos chegar descansados. Veja o que eu estou lhe dizendo.

Uma garota veio pedir informações sobre sua série de exercícios. Aproveitei a deixa e me saí.

A gordona tentava uns alongamentos da parte anterior da coxa. Barba branca, acompanhado se sua personal, estava na voadora.

O baixinho agora mandava ver nos exercícios para os braços. No esforço para levantar sua maromba, o bicho fazia uma careta feia arretada. “O baixinho tá se fodendo”, eu pensei.

Peguei os pesos, amarrei nas canelas e comecei as flexões do joelho.

Segundo o ortopedista, se eu quiser continuar jogando minha peladinha semanal, tenho que fortalecer a musculatura dos joelhos e do tendão de Aquiles do calcanhar esquerdo.

Lá vem ele. O rapaz parece que estava mesmo disposto a conversar comigo e atrapalhar meu tempo.

— sim…, como eu tava dizendo mesmo. Agora nosso foco é o estadual e teremos tempo para treinar. Pior mesmo foi pra vocês. – ele sentenciou.

E saiu dizendo umas coisas que entraram no meu ouvido e rapidamente saíram pelo outro.

Organizei a ideia e preparei o bote. Mas ele foi mais ligeiro. Olhou para um dos treinadores e mandou em alto e bom som.

— Óa, tá é feliz, óa. – ele disse apontando pra mim.

— E tu bastante preocupado, né?!

Emendei um tchau e saí de perto. Fui beber água.

Correndo na esteira, a gordona finalizava sua série. Não vi nem o baixinho, nem o senhor grisalho.

Bebi minha água e saí feliz da vida.

Deixem o menino jogar

Menino pobre, criado nas vias marginais da cidade, nasceu com o dom de saber jogar bola e o destino quis que ele fosse treinar futebol.

Para nossa sorte, veio para o Santa Cruz.

Por um descuido, vítima da imaturidade e de todo um contexto social, o jovem atleta, empolgado por ter sido promovido para os profissionais, festejou e exagerou na dose. Era uma sexta-feira que antecedia a rodada do final de semana. Escalado pra jogar no domingo, foi pego no antidoping e a casa caiu para Raniel.

Sobre Raniel, transcrevo aqui, parte um comentário postado por Eduardo Ramos, no texto anterior.

Raniel não é um algoz. Raniel é vítima do meio onde vive, ou vivia, onde as drogas são vendidas e consumidas sem que haja ações efetivas e eficazes dos poderes públicos para coibir o tráfico e, por conseguinte, o consumo.

Daqui a pouco, lá no Rio de Janeiro, Raniel vai ser julgado de forma definitiva.

Pelo que vi, depois do que for decidido, não caberá mais nenhum tipo de recurso por parte do Santa Cruz.

Espero (e torço) que não punam o garoto com o afastamento dele dos gramados. Isto seria fechar todas as possibilidades de recuperação social. Seria mandá-lo de volta para o mundo da marginalidade.

Aguardemos que o STJD julgue o caso usando também o recurso da sensibilidade e responsabilidade social. Que aja sem hipocrisia e permitam que Raniel faça o que sabe e gosta: jogar bola.

O eterno despreparo da polícia

Eu tinha uns seis anos, quando meu pai me levou pela primeira vez ao Arruda. Depois daquele dia, era um dos programas de lazer que mais fazíamos juntos. Normalmente, ficávamos nas sociais e, vez por outra, minha mãe nos acompanhava.

Hoje, o coroa prefere ouvir pelo rádio ou assistir pela televisão e eu continuo indo ao estádio.

Daquele tempo para cá, muita coisa ficou diferente. O Arruda aumentou de tamanho, acabaram com o torneio inicio, não vendem mais rolete de cana e a cerveja está proibida.

O que não mudou foi a polícia.

Certa vez, meu pai e os amigos dele resolveram ir para as cadeiras. Era jogo de grande público. Mais de 45.000 pagantes. Olhando da corcunda do meu velho, aquele mar de gente enchia meus olhos de beleza. Fomos para as cadeiras. Com o ingresso na mão, nos deparamos com um tumulto enorme na entrada. Não havia torcida organizada, mesmo assim a polícia meteu o cacete pra cima. Um amigo do meu pai resolveu questionar e levou uns gritos. Foi chamado de “Seu Merda” e outros adjetivos.

Teve outra ocasião, eu já adulto, em que fomos ver Santa Cruz x Ypiranga. Meus primos haviam telefonado avisando que estavam vindo da Capital da Sulanca, mas como o jogo era a noite, iriam direto pro Arruda. Fui com meu pai e ficamos na arquibancada. Era um jogo de pouca torcida, daqueles que você assiste sentado no cimento.

No intervalo, saímos caminhando tranquilamente pela arquibancada e fomos em direção ao local onde estava o grupo de torcedores do time de Santa Cruz do Capibaribe. Fomos impedidos pela polícia de atravessar para o outro lado. Tentei argumentar que apenas iria levar meu pai para cumprimentar alguns parentes. Meus primos e alguns conhecidos acenavam de lá. Não houve acordo. Meu pai perguntou a um dos fardados: “você acha mesmo que eu nessa idade vou brigar com alguém?”

“Fique calado. Eu já disse que não pode. Vai, sai daqui, sai!”, o policial retrucou e foi pegando no cassetete em tom de ameaça.

Já passei sufoco na ilha, nos aflitos e em Caruaru.

No Agreste, foi num jogo contra o Central. Alugamos uma Van e saímos daqui por volta das 18h. Tínhamos duas horas e meia para chegar lá, mas o senhor que foi dirigindo não passava de oitenta quilômetros nem a pau. Chegamos em cima da hora. Perguntamos a um policial qual era a entrada da torcida do Santa, ele educadamente apontou indicando o portão de acesso.

Corremos e entramos no Lacerdão.

Para nossa surpresa havíamos emburacado no meio da torcida adversária. Até aguardente jogaram na gente. Por pouco o pau não cantou. A polícia chegou no empurrando. Por mais que tentássemos explicar o ocorrido, era em vão. Ele pareciam que tinham sido treinados para não escutar. Depois de muita discussão, bate-boca e ameaça de prisão, nos levaram para o lado dos tricolores.

Na ilha e nos aflitos, por duas únicas vezes inventei de ir para as cadeiras e passei por situações complicadas.

No campo do Sport, na entrada das cadeiras, uma multidão tentava entrar. Já estava quase na hora do jogo começar, mas haviam fechado os portões.

Começou a confusão.

Todos mostravam seus ingressos, mas a polícia já chegou botando os cavalos por cima de todos. Vi um senhor levar uma queda e seu filho, um pirralho de uns dez anos, cair desesperadamente no choro. Depois de muito empurra-empurra, gente pisoteada, conseguimos entrar. Lá dentro estava explicado o tumulto. Haviam vendido mais ingressos do que deviam. Meu amigo, Alexandre, assistiu ao jogo sentado nos degraus.

Já nos aflitos, na primeira partida da decisão de 2002, fomos para as cadeiras e antes do término da partida, resolvemos ir embora. Chovia bastante naquele dia.

Era eu, minha esposa e Alexandre.

Sob o argumento de que quem devia sair primeiro era a torcida do Santa Cruz, a polícia nos impediu de deixar o estádio..

“Senhor, a gente torce pelo Santa Cruz”, eu disse e mostrei minha carteira de sócio. “Mas aqui é o local da torcida do Náutico”, ainda calmo, respondeu o policial.

“A gente tá vindo das cadeiras. Lá também é da torcida do Santa Cruz”, argumentou Alessandra. Ela ainda tentou contemporizar, mostrando que fazia parte do TJD.

“Não importa, senhora! Por aqui vocês só saem depois. É a ordem”, o policial respondeu e já foi botando o cassetete na altura dos nossos peitos. Éramos apensas três. Eles eram uns dez.

Nossa sorte foi um amigo jornalista que ia passando e nos levou junto com sua equipe de trabalho.

Eu poderia aqui traçar várias e várias linhas com situações parecidas como estas. Conheço infinitos casos de amigos que também já foram vítimas desse eterno despreparo da polícia.

Levante a mão, quem não já viveu esse tipo de experiência.