Muito se dirá e se escreverá, ao longo dos dias, sobre este monumental título coral. Mas eu gostaria render uma modesta homenagem a duas pessoas que já entraram na história do Santa Cruz – o presidente Alírio Neto, e sua mulher, Fernanda.
Ontem, no Poço da Panela, eu estava em Seu Vital, tomando umas, antes de voltar ao local da nossa concentração, a “Sede”, comandada pelo gorducho Naná. Quando voltei, para ver como estavam as vendas da “Trologia das Cores”, alguém me avisou:
“O presidente está aí”.
De longe reconheci aquele olhar sereno de Alírio, acompanhado do sorriso generoso de Fernanda. Recebi um abraço apertado pelos meus 46 anos, comemorados no exato dia da decisão. Depois de várias fotos com a galera coral lá do Poço, fomos visitar o velho da nossa aldeia, que é Seu Vital. Ele estava invocado em uma daquelas duras jornadas do dominó, e quando viu o presidente, abriu um largo sorriso, tirou fotos, conversou.
Pouco depois, a orquestra “Venenosa” chegou ao largo do Poço, onde estava começando um casamento. Vários convidados ficaram eufóricos, porque a noiva, disseram, era tricolor das bandas do Arruda, como diz Gerrá.
Só o Santa, com essa eterna vocação para o lirismo, é capaz de desaprumar um casamento para celebrar a alegria de sua torcida.
Em pouco tempo, alguns amigos chegaram, e formamos pequeno grupo, em torno de Alírio, que queria escutar, muito mais que falar. Eram pessoas que tinham observações, comentários, sugestões, movidos, creio, por esta febre de mudanças, de novos paradigmas que se abrem para o clube. Fernanda, ao lado, compartilhava a intensidade que o dia presenteava. Tenho para mim que o sujeito tem que ser muito bom do coração, para ser o presidente de um clube de multidões como o nosso. Além disso, precisa que sua companheira seja uma guerreira. E Fernanda, de fato, é uma mulher valente, que vai junto com ele, na vitória ou na derrota.
Já de volta à Sede, Alírio comentou comigo que gostaria de voltar, outro dia, para conversar com essas pessoas com mais calma. Muita coisa interessante, de fato, tinha sido dita. A incansável Fernanda, por outro lado, fazia inúmeras perguntas sobre redes sociais a Esequias Pierre, que tem ajudado a turbinar as redes sociais da massa coral. Não é por acaso que somente dois clubes renderam publicamente homenagens ao grande escritor Eduardo Galeano, por ocasião da sua morte – o Clube Nacional, do Uruguay (o time dele), e o Santa Cruz.
Após um batalhão de fotos, o horário do jogo foi avançando, era preciso voltar ao Arruda. Nos despedimos e desejei sorte para a gente.
Sobre o jogo, vocês sabem bem da minha deficiência de fazer qualquer análise. Até o final da partida, estava elogiando o “golaço de Betinho”. Sou ridículo, não sei como ainda não me demitiram deste blog.
O fato é que, de vira-lata nessa matilha futebolística estadual, o Santa foi roendo seu osso e criando forças. Na final. o Carcará se assustou com o Arrudão lotado, o manto coral cresceu e levantamos mais um título.
Hoje de manhã, com a faixa ao lado da cama, acordei rindo. Quando desci para verificar onde tinham se escondido os rubro-negros (impressionante como eles têm a capacidade de se tornarem invisíveis, nas conquistas corais), li a entrevista de Alírio, publicada no JC:
“Acabou essa história de time pobrezinho e coitadinho. O Santa Cruz é grande e não vai pedir esmola para mais ninguém”, disse o mandatário, ainda no gramado da conquista, até como tom de desabafo pelas críticas que recebeu no início do seu mandato, quando houve problemas financeiros.
No meu aniversário, ganhei um título já inesquecível, porque sei que ele trará repercussões evidentes dentro e fora das quatro linhas. É o fortalecimento de um projeto de gestão de um grande clube de futebol, que não pode viver de mão estendida e bolso vazio.
Não sei se vocês perceberam, mas durante a cerimônia de entrega da taça, uma chuvinha fina começou deslizar do céu, abençoando jogadores, diretoria e a torcida, abençoando nossa conquista.
A minha impressão é que o Santa Cruz, com essa vocação popular, lírica, poética, com sua incansável história de lutas, é uma eterna criança que nunca esquece de sorrir.
Obrigado, Alírio, obrigado Fernanda, por cuidarem dessa criança.