Meus amigos tricolores, ainda estou meio bêbado de ontem. Foi muita cana e muita alegria. Vamos deixar política, crise, incompetência, falta de transparência, repetição tática e ruindade do meio de campo um pouco de lado e falar do que interessa agora: nossa vitória!
É muito bom, muito bom mesmo – quase um orgasmo transcendental – ganhar do Do Recife. Eu repito sempre que esse timeco coisado não mete medo em ninguém. São fraquinhos e só têm goga.
O melhor de tudo são os memes e as gozações que bombam nas redes sociais e no zapzap. Um amigo me mandou uma musiquinha:
“Chegando lá na Ilha do Retiro, a cobrinha vai mais uma vez enrabar… essa leoa… que gosta de pica… e vamos todos juntos celebrar”.
É greia. Greia geral. E essa greia toda só foi possível por causa da mística que envolve o clássico e a superação contínua que o Santinha sempre mostra nessas situações. Finalmente a bola chegou lindamente em Pitbull. Que lance magistral. Que categorial inesperada de André Luís. E que comemoração zoada de Pitbull. O cara só faltou cuspir naquela bosta de escudo.
O nosso time levou pressão no primeiro tempo e Jacsson fez uma defesa espetacular. Estou na dúvida quem é melhor: ele ou Júlio César.
O primeiro gol foi uma boa troca de passes. Thomás soube cruzar na medida e Léo Costa não deixou passar. Golaço!
Depois teve aquela enrolação de Diego Souza e o árbitro caiu. O bom é que, estranhamente, levamos um gol naquilo que somos melhores: bola parada.
Por fim, meus amigos, veio aquela pintura que citei antes. André Luís passa por três marcadores em diagonal – uma coisa que sempre falei aqui – e Pitbull, quando a bola chega, é Pitbull. Pega essa porra!!! E porrada na cara da leoa.
Linda a camisa de Eutrópio. Vestiu o espírito tricolor. Isso é muito importante e faz toda a diferença.
Quarta-feira que vem será semana de prova na faculdade. Isso significa que às 20h30 estarei largando. Ou seja, irei correndo direto para o Arruda. E podem vir os baianos e a porra toda. Vamos estraçaiar.
É muita alegria. Não quero nem pensar em crítica ou seja lá o que for para não estragar o momento. Agora é só comemorar e esperar ansioso o jogo da quarta.
“Chegando lá na Ilha do Retiro, a cobrinha vai mais uma vez enrabar… essa leoa… que gosta de pica… e vamos todos juntos celebrar”.
É muita onda, papai! Quem é o papai da cidade? É o Santinha, sim senhor!
Greve Geral e Futebol
A década de 70 viu o florescimento, crescimento e consolidação das teorias neoliberais de Friedrich von Hayek e Milton Friedman. A teoria se tornou prática com a ascensão de forças conservadoras e liberais ao poder: Ronald Reagan, Helmut Kohl e, especialmente, Margaret Thatcher. A ideia central era desregulação, privatização e abertura comercial.
Com a crise do capitalismo à época, a aposta neoliberal esmagou os sindicatos e retirou o poder dos trabalhadores com a flexibilização da legislação em favor do Capital. O poder de compra do trabalhador despencou. Solução: engenharia financeira. Os cartões e as linhas de crédito, bem como o endividamento do trabalhador, se multiplicaram. O mercado de capitais começou a ganhar proporções alarmantes e ditar o ritmo das economias do mundo. E os países da América Latina tiveram que ceder e obedecer a esse ditame anglo-saxônico.
São famosas as cartas de Friedman e Hayek para Thatcher. Para controlar os trabalhadores e garantir os lucros dos capitalistas, Hayek sugere que Thatcher adote as medidas recessivas e agressivas da América Latina. A resposta da Dama de Ferro: “Mas aqui, na Inglaterra, o povo é mais consciente”. O que dizer, então, das manifestações dos franceses contra a perda de direitos hoje em dia e que a GloboNews e a Veja nem sequer mostram?
Esse mesmo neoliberalismo bateu a porta de nosso país. Interessante que até mesmo o próprio FMI – Greenspan e companhia – afirmou recentemente que essa nova onda de neoliberalismo causará ainda mais desigualdades sociais. Mariana Mazzucato – no livro Rethinking Capitalism – chega à mesma conclusão. Mas ao bater em nossas portas, as estratégias foram ainda mais agressivas. Os antigos Atos institucionais se transformaram em PECs. Sem discussão com a sociedade, fizeram votações esdrúxulas numa rapidez alarmante.
Para variar, os trabalhadores vão sair perdendo. E muito. Reformas que poderão acentuar, ainda mais, o crescente processo de favelização de nosso amado país. Basta ler Paul Mason (Pós-Capitalismo) e Domenico Losurdo, (Liberalismo) para entender que isso não é brincadeira. Por isso, o Blog do Santinha – os que escrevem e os que escreveram aqui – apóia plenamente essa Greve Geral de hoje. Ou vamos para rua, ou iremos perder direitos importantíssimos. Se duvida, busque no YouTube: Entrevista com Benjamin Steinbruch de 2014. Esse senhor foi o antigo presidente da Fiesp e defendia a perda quase que geral dos direitos trabalhistas. Profecia que está se realizando em 2017. Não é de se estranhar que o senhor Rodrigo Maia queira acabar com a Justiça do Trabalho. Atrapalha demais os capitalistas desse país quase medieval.
Foi essa mesma engenharia financeira que modificou, a partir das décadas de 70 e 80, a feição do futebol mundial. O Capital estava na Europa e de lá saíram as grandes potências atuais com modelos de gestão agressiva. A periferia, como sempre, saiu perdendo. No Brasil, vimos a migração em massa de nossos craques para o universo do grande capital. Era preciso unificar o capital aqui e o soneto foi o famigerado Grupo dos Treze. Sempre a velha e odienta exclusão. No nosso Estado, as crises começaram a minar os clubes – por incompetência própria e por impossibilidade de participar das grandes fatias do bolo.
Hoje estarei nas ruas. Cada um é livre para defender o que quiser. Sim, nós aqui somos de esquerda e respeitamos as opiniões alheias. E, com a consciência de classe de um trabalhador da educação, irei brigar por meus direitos para não morrer sem direito algum.
Amanhã, outro dia como cantaria Chico Buarque, estarei torcendo pelo meu Santinha para que ele apague a desgraça da desclassificação contra o Salgueiro e meta uma pomba na leoa. Mas sempre ciente de que é impossível deixar de ser um ser político. Aristóteles é incontornável. Mesmo no estádio, mesmo torcendo, sempre um ser político.
A festa é nossa
Esse negócio de zap é uma invenção fantástica. A gente não precisa mais marcar reunião, nem encontros, pra discutir as coisas. Pra falar da vida dos outros, é só ir lá whatsapp escrever ou mandar um aúdio gravado.
Estou eu aqui, fazendo umas coisas banais e eis que um amigo me manda um áudio. Abaixo dele uma mãozinha apontando pra cima e uma mensagem: “escuta aí. Tu vai gostar.”
Esse colega meu tem crédito. Não é daqueles que vive mandando leseira e piada sem graça.
Pois bem, abri o áudio. Era um cabra todo nervoso, que acha Samarone feio. O cara fala umas coisas, me chama de Guerrá, diz que conviveu comigo, num sei o que, num sei que lá, que é tudo socialista e gosta de tomar uisque, que Samarone é roqueiro, e por aí vai.
Em seguida, recebo outro zap. Outro áudio. Nesse, o sujeito além de nervoso, tava brabo. Detonou esse calejado Blog, esculhambou o coitado do Anízio, não poupou o velho Sama e de novo, chamou tudo de socialista que gosta de uísque.
Minha gente, o que uma derrota não faz. Se ao final do jogo contra o Salgueiro, aquela falta de Anderson Sales fosse gol e nós ganhássemos nos penaltis, as pessoas estariam mais calmas e a loucura estaria controlada. Mas é como diz o velho ditado, “pau na cabeça, endoida”! E deixa o cidadão vendo miragens.
Vejam só. Eu da minha parte, gosto de tomar cerveja. Samarone é outro que adora cerveja, vez por outra ele toma um vinho. Anízio, esse nem preciso dizer. Basta olhar para o bucho dele que até o mais maluco da tamarineira vai saber que a onda de Anízio é cerveja. Então amigos, parem de nos acusar que adoramos uisque. Em um dos áudios, o cara falou até em um uisque chamado Bucanos. Nunca ouvi falar nessa marca.
Outra coisa, a gente gosta de assistir aos jogos lá na arquibancada. Camarote é coisa de coxinha. Mas, somos todos de carne e osso e, claro, não deixamos de fazer uma farrinha com o presidente.
Nossos encontros festivos são sempre regados a uma boa música, cervejas puro malte e bons petiscos. Vilanova, por exemplo, quase sempre leva seu cavaquinho e toca uns sambas. A cerveja é doação do nosso querido cervejeiro Odilon, dono do Empório Colombo. Tem de vários sabores. Os tira-gosto são obras de Inácio. Pra quem não sabe o bicho se garante na culinária. Ele faz uma picanha na cerveja da famíla “lambic”, estilo kriec, que é um negócio fantástico. Não sei porque Inácio ainda perde tempo com o Santa Cruz e querendo ser escritor. Devia mesmo era se chef de cozinha. Outro que é bom na cozinha é Zeca. Mas a especialidade dele são os pratos regionais. O cara faz uma dobradinha boa danada. A parte estrutural, som, gelo, etc, Robson Sena é o cara. Samarone, aquele cabeludo feioso, só faz beber, comer e repetir histórias.
Então, cidadãos tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda, parem de ficar fofocando sem saber das coisas. Não gostamos de uisque, nem de ir pra camarote. No nosso grupo tem gente que joga na esquerda, na zaga e no ataque. Na nossa turma, ninguém tá preocupado com samba, rock, piolho, pulmão, cu e rola de ninguém. A gente gosta mesmo é do Santa Cruz e de se divertir.
Mas vejam, nossas farras, não são no camarote da presidência, muito menos no Arruda, porque a gente não é besta. E na nossa festa, tabacudo não entra!
Série C à vista.
O pior segundo tempo da década. Esta frase define bem o show de horrores que nos deparamos ontem. Gerrá me mandou a seguinte mensagem após o jogo:
“Time fraco, treinador limitado e salários atrasados’.
Uma pena que essa seja, infelizmente, nossa triste e dura realidade. O pior fator, creio, é esse eterno dilema que temos em pagar os salários em dia. Já estou cansado de falar em transparência no Santa Cruz.
Também estou cansado de falar sobre a limitação e falta de criatividade de nosso meio de campo. Se já era fraco, com salário atrasado se torna uma desgraça.
E será que tem algum tricolor coral que não esteja puto com a falta de empenho de Eutrópio em mudar algo no time durante a partida no Sertão? Fiquei com a nítida impressão de que faltou vontade – vontade geral, por parte de todos. E Eutrópio parece que capitaneou essa apatia.
Evidente que não tem como não reconhecer a garra do Salgueiro e o empenho do time. O que nos faltou em vontade, sobrou ao Carcará.
É preocupante ver essa realidade e pensar em nosso futuro. Se algo não for feito imediatamente, estaremos fadados a amargar um retorno inglório à famigerada Série C.
Assisti ao jogo com amigos num bar na Boa Vista. Como o bairro é também reduto de estudantes do Sertão, metade do bar estava torcendo pelo Salgueiro. A outra metade estava atônita com a incompetência exagerada de nosso elenco e de nosso treinador.
O segundo tempo foi a concretização de uma desgraça anunciada. O Santinha batia mais cabeça do que metaleiro no show do Sepultura. É preciso inventar um colírio para calo na vista.
No final do jogo, a palhaçada de Barbio foi a gota d’água. Uma palhaçada só comparável à sua péssima atuação em todos os jogos pelo Santa Cruz. Um torcedor disse ao meu lado:
“Demite esse filho da puta, porra!”
Se a direção não tomar uma atitude rápida – e digo isso em termos simples, ou seja, rever esse elenco e apelar para a base ou algo que o valha dentro dos limites apertadíssimos de nossos recursos financeiros – estaremos fadados a ter um 2017 amargo. Muito amargo.
Até que eu estava com esperanças. Sou um otimista nato. Mas a realidade – nua e crua – fala mais alto do que qualquer esperança. Também sou um realista nato.
Vou sair agora para tomar umas e esquecer essa porra de jogo. E inventar novos palavrões para xingar esse elenco, nosso treinador, a diretoria e a presidência. Hoje, realmente, estou puto da vida.
Mas sempre Santa Cruz. Sempre.
Que nossos sonhos se realizem
Quando eu soube que nosso presidente iria para coletiva, mudei a estação do rádio. Sintonizei na resenha e fiquei esperando a fala de Alírio. Fazia tempo que ele não aparecia. Mas os caras do rádio ficaram falando um monte de besteira sobre assuntos banais e o tempo ficou curto. Só deu para Alírio dizer que até o dia 30, nós teremos uma grata surpresa. “Será a realização de um antigo sonho da torcida”, ele disse mais ou menos assim.
Aproveitei o engarrafamento da Avenida Norte e fiquei matutando sobre isso! Qual surpresa será essa? Qual o sonho da torcida vai ser realizado?
A primeira coisa que me veio à cabeça foi o placar eletrônico. Um sonho antigo de muitos que conheço. Nem lembro a última vez que vi um placar eletrônico no Arruda. Fiquei pensando nisto. Nesta história da realização do um sonho antigo nosso. E aí, perguntei a uns amigos e conhecidos. Choveram sonhos e devaneios.
Conversei com Ivonaldo, o cara da xerox. O sonho de Ivonaldo é ver Dênis Marques voltando a vestir da camisa do Santa.. “Na verdade Dotô, eu queria mesmo era ver Marcelo Ramos, mas tenho pra mim que ele parou de jogar.Queria DM9 no nosso ataque”, ele disse.
Já Danilo, me disse pelo zap que sonhava ainda com Rivaldo jogando pelo Santa Cruz. Nem que fosse apenas para encerrar da carreira.
Não perguntei a Zeca. Mas pelo que a gente conversa o maior desejo do filósofo coral é transparência nas contas do nosso clube. Se por acaso a novidade do dia 30 for um portal de transparência no site oficial do Santa, tenho certeza que Zeca vai tomar uma para comemorar.
Já Diego disse que com certeza é a nova marca de camisas. Que o clube agora vai ter marca própria. Como Diego é lá de Santa Cruz do Capibaribe, acho que o sonho dele é que as camisas sejam confeccionadas na capital da sulanca. A família dele ter vários fabricos espalhados por aquela cidade.
Eu, o Coronel Peçonha e outros que conheço, sonhamos em ver Caça-Rato de volta. Em forma física, o Caça é melhor do que vários que estão aí. Confesso que se no dia 30, o presidente Alírio anunciasse a volta de Caça-Rato, eu iria para o aeroporto.
Tem outro amigo meu, que não quis ter o nome divulgado, que sonha em ver o Santa Cruz vendido a um sheik árabe.
Perguntei a Seu Agenor. O velho me disse que outro dia havia sonhado com as tricoletes. Aí é demais, né Seu Agenor?
Bom, não sei o sonho de vocês. Mas espero que no dia 30, um sonho da gente seja realizado.
Se deixarem, a gente entra.
Meus amigos tricolores, estou preparando um texto, a pedido do amigo André Tricolor, sobre a relação do capitalismo globalizado com o futebol – tema de extrema relevância e que nos afeta diretamente. Por enquanto, vamos comentar a rodada desse final de semana.
A nossa vitória contra o Salgueiro revelou alguns pontos fundamentais: Primeiramente, nosso goleiro está se firmando como um verdadeiro paredão – os gritos da torcida no início do jogo corroboraram essa impressão. Percebi como Júlio César é inteligente na saída de bola. Muitas vezes, quando ia lançar a bola para um lateral e via a chegada da marcação, lançava a bola para o outro lado. E quando é exigido na defesa, não tem nem o que falar, perfeito.
A zaga está se mostrando uma grata surpresa. Bem posicionada e segura. Poucas as vezes que fomos atacados com perigo. E a mudança de posição de Thomás foi excelente. Ele precisa melhorar o fôlego para render os 90 minutos.
Mas nem tudo é um mar de rosas. A transição do meio de campo para o ataque continua sendo um problema sério. Parece que quando a bola chega no meio de campo, um branco total se abate sobre os jogadores. Ficam perdidos. O posicionamento é equivocado, a falta de talento para tocar a bola é alarmante e falta o mínimo de criatividade. É preciso resolver isso o mais rápido possível. A tal da séribê está chegando.
E essa nossa incompetência crônica afeta o desempenho do ataque. Não tem Pitbull, Hottweiler ou Doberman que dê jeito. Se a bola não chega, é isolamento na certa. O ponto positivo – e posso até dizer que assombroso – é nossa bola parada.
Na primeira falta, a bola estava bem longe da meta adversária. Meu amigo Fábio Martins, que estava comigo no Arruda, não acreditou:
“Tá muito longe”, ele comentou.
“Vai ser gol”, eu disse.
O velho Anderson Salles foi lá e quase faz uma pintura. A bola foi caindo, mudando de rota – por um triz não tivemos um golaço. Mérito do arqueiro adversário. Mas que foi uma cobrança linda, foi. O mesmo se deu na segunda falta. E no pênalti, não tem nem o que dizer.O Arruda gritava num misto de loucura, alívio e felicidade.
Não sei se os amigos tricolores perceberam, mas tanto na Rádio Jornal quanto na CBN, durante a narração do jogo, toda vez que o Santinha ataca entra uma porra de uma propaganda. Isso é para deixar o sujeito puto da vida. Fiquei sem entender essa.
No outro lado, o Capibaribe segue sua sina. Mas mostrou que o Do Recife não mete medo em ninguém. Fraquinho.
Por fim, como disse um professor amigo meu sobre o Mais Querido:
“Meu velho, o time não é lá essas coisas, mas se forem deixando, a gente vai colocando a cabecinha e seremos campeões”.
Isso mesmo.
Temos que ir aonde o povo está!
Quando meu pai chegou ao Recife, foi morar numa pensão na Rua do Imperador. Com 16 anos de idade, ele veio direto de um sítio em Brejo da Madre de Deus para a capital pernambucana.
Tudo foi novidade. O mar de Boa Viagem, o movimento da cidade, as festas, a bebida, as putas, o futebol!
Certa vez perguntei ao meu pai, como foi que o Santa Cruz foi injetado no sangue e na alma dele.
Na pensão da Rua do Imperador, tinha gente que torcia pelo América, pelo Sport e pelo Santa Cruz. Meu velho se identificou com as cores, com o nome e, principalmente, com a torcida. Sempre que conversamos sobre esse assunto, Seu Geraldo na titubeia: “O Santa sempre foi o time do povão. Eu pobre, matuto, só podia ser do Santa Cruz!”
Hoje, quando me deparei com várias mensagens divulgando a ação das vendas de ingressos na periferia, a primeira coisa que lembrei foi do meu pai e de como me tornei tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda. Foi ouvindo jogo pelo radinho de pilha. Foi vendo a greia e as discussões no balcão da venda do meu velho. Foi sentindo o calor do cimento e o gosto do rolete de cana da arquibancada.
Foi morando na periferia do Recife que me fiz torcedor do Santa.
Assim foi meu sogro em Afogados. Assim foi meu amigo Jerônimo que nasceu e se criou em Peixinhos. Ailton no Alto José do Pinho. Ivonaldo da Xerox em Rio Doce. Assim foram tantos outros por aí afora!
Não se trata de orgulho exacerbado em ser torcedor do clube do povão. Existem ricos e abastados na torcida do Santa Cruz? Claro que existe. Todos somos Santa Cruz. Independente de classe social, preferência sexual, cor e altura, temos a mesma paixão. Mas nunca deixamos ou deixaremos de ser o time da massa.
O povão continua sendo Santa Cruz e o Santa Cruz continua sendo o clube do povo. É a massa coral que enche becos, ruas e avenidas.
Como bem já disseram por aí, nós não somos um clube de futebol, somos um movimento popular.
Quem quiser que tenha vergonha de negar suas raízes populares e seus primos pobres. Nós, os tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda, nunca tivemos e nunca teremos.
A todos que pergunto e com quem compartilho a novidade das vendas dos ingressos, vibram como se fosse um gol de Anderson Sales no ângulo. Dona Sueli, tia de Felipe Gomes, mora em Peixinhos. Quando soube da ideia das vendas do ingresso em um carro, foi categórica: “que ideia de gênio. A periferia tá gostando”.
Essa ação de vendas, o carro de som circulando por aí vendendo ingressos, é algo espetacular. É como dizia aquela canção: todo artista tem de ir aonde o povo está.
Salvem nosso Estadual
Domingo, 09 de abril. Céu azul. O sol ilumina o Recife e toda região metropolitana. Por aí afora, o futebol é o principal assunto do dia. Por aqui, um campeonato estadual que não empolga. Rodadas duplas bizarras. Clássico adiado para uma segunda-feira à noite. Campos interditados. Uma bagunça.
Hoje, neste nove de abril, em outras épocas, estaríamos todos na pilha para ir ao jogo. Os bares ficariam ornamentados com as cores dos nossos times. Na praia, a cerveja seria acompanhada de resenhas, comentários e as mais diversas opiniões. Nos mercados estaríamos discutindo sobre a escalação do time e a burrice do treinador. No almoço da família, a criançada já estaria vestida com a roupa do time preferido.
Mas neste domingo de abril, aqui em Pernambuco, a não ser para lamentarmos o que fizeram com o futebol daqui, pouco falaremos sobre futebol.
Hoje, apenas o Arruda será aberto para receber um jogo que não pode ser realizado em Caruaru. O pobre Central terá que vir mais uma vez ao Recife, pois seu campo não tem condições de jogo. Na última quarta-feira, o time de Caruaru precisou vir para São Lourenço Mata jogar contra o Capibaribe. Os atletas não jantaram e jogaram com fome. Não tinham nem água para beber. Espero que hoje tenham pelo menos um PF pra dar aos atletas da patativa.
Nesta semana que passou, vimos a maior bagunça já feita no futebol pernambucano. Uma verdadeira esculhambação. Um mesmo time jogou no domingo e na segunda-feira. Na quarta, promoveram uma rodada dupla em São Lourenço da Mata, na desgraçada Arena Pernambuco. Pouco mais de 1.000 torcedores tiveram coragem de ir aos dois jogos lá na Arena.
Enfim, a impressão que fica é que há algo intencional por parte Federação para enfraquecer cada vez mais o nosso estadual. É difícil acreditar que se trata apenas de incompetência.
Por outro lado, fica a indagação de porque os clubes e a imprensa não tomam uma posição mais dura em relação a este descaso.
É necessário aos que fazem o futebol daqui, terem a sensatez de já começarem a trocar ideias sobre o próximo campeonato. Assim que acabar o deste ano, é preciso começar a discutir o estadual de 2018. A Federação precisa salvar o futebol local. É obrigação convocar todos, os Clubes, a imprensa e incluir a torcida nessa empreitada.
Para quem gosta de futebol, para quem foi criado se alimentando da rivalidade local, é triste ver o que fizeram com nosso Campeonato Pernambucano.
Surrealismo pernambucano.
Meus amigos tricolores, era 22 horas quando sai da faculdade nessa quarta. Liguei o rádio e só escutava uma coisa: “Não tem ninguém na Arena”. O elemento ilógico desse campeonato traduz a estupidez de uma Confederação que precisa, urgentemente, mudar essa fórmula.
Em casa, liguei a TV para acompanhar esse estranho jogo entre o Santinha e o Belo Jardim. A cena era tão surreal que, a cada gol do Mais Querido, as câmeras mostravam os poucos torcedores rindo, alezados, parecendo que tinham fumado uma maconha pra lá de estragada.
Vencemos de 4 a zero. Vitória relativamente fácil, uma vez que esse Belo Jardim não faz gol em ninguém. O resultado, inegavelmente, foi muito melhor do que o primeiro encontro. E, ao menos, fizemos dois gols que não foram de bola parada. Na verdade, nem precisa comentar muito o jogo. Todo mundo já sabe do que precisamos. O cara da TV repetia irritantemente: “O Santa Cruz não possui intensidade e criação”. É nada?!
Para além das críticas, creio que é preciso discutir possibilidades. Principalmente no que se refere à nossa saída de bola e a criatividade e transição entre defesa, meio de campo e ataque. Venho conversando com alguns amigos tricolores da cobra coral e as ideias que vão surgindo variam de acordo com a loucura, criatividade e conhecimento de cada um.
Se Tiago Costa e Vítor, que possuem bom posicionamento e bom domínio e toque de bola, não se limitassem, na saída de bola, a uma distribuição em linha reta, mas corressem em diagonal para abastecer o meio de campo de nosso lado? Se Parra jogasse mais ao meio, centrado, do meio de campo para o ataque, distribuindo bola para Pitbull que se alternaria entre esquerda e direita?
Nininho é uma oportunidade de criação? O retorno da zaga principal vai manter ou melhorar o padrão defensivo? Elicarlos, que está em transição no DM, permitirá, enquanto volante, um maior volume de jogo na transição? Pereira, que está indo bem, pode compor o meio e alternar seu posicionamento para dar agilidade ao meio de campo? Léo Costa irá compor, em definitivo, o elenco nessa arrancada final do PE e do NE?
Pitbull, para dar mais consistência ao ataque, deve ser assistido por quem? André Luís e Thomás devem treinar mais passes e melhorar o condicionamento físico para garantir o segundo tempo? Alguém duvida que, em bola parada, Salles faz? São muitas possibilidades e, mais do que respostas, questionamentos. É isso que temos e é essa nossa realidade.
Da minha parte, acredito plenamente que sairemos campeões das duas competições. Mesmo que alguns temam os baianos, eles, para mim, não metem medo porque não possuem nossa garra. O Do Recife é que não me mete medo mesmo. A folha de pagamento deles não traduz futebol. Penaram feio diante de um time de séridê. Até nossos reservas deram pressão nesse timinho.
No Pernambucano, o jeito é esperar que as semifinais comecem logo e que esse show de horrores – surreal em si mesmo – acabe logo. No Nordestão, é jogar com garra, treinar para acertar o que tem que ser acertado, mesmo com pouco tempo, e fazer a alegria da torcida.
Sugestões?
A oitava maravilha do mundo.
Meus amigos tricolores, é uma alegria imensa estar no Arruda. Há algo de místico nesse lugar, algo de sublime. Finalmente tirei o gesso do pé e, mesmo mancando, fui ver meu Santinha em campo. E o melhor: o Arruda estava cheio de tricolor. Que coisa mais linda.
Comecei a tomar umas às 13 horas na Bodega do Abel que é um grande tricolor português. Havia um clima de confiança no ar. Todo tricolor que eu conversava dizia a mesma coisa:
– Estamos classificados, professor. Tem erro não.
Às 16 horas estava no Arruda. Fiquei tomando umas e comendo os salgados do velho Abílio enquanto escutava a resenha pelo rádio. Eu me senti como se estivesse em casa. Era uma sensação de ter voltado de uma longa viagem e, finalmente, respirar o ar de nosso lar.
Apesar de estar sozinho – não consegui encontrar Esequias, Gerrá ou Samarone – eu não me sentia só. Bastava me virar e tinha um tricolor para bater um papo sobre o jogo e nossa futura classificação. O otimismo era surpreendente. O clima era muito bom e não tinha como não seguir aquela onda de felicidade.
Entrei pelo portão 7 para as arquibancadas inferiores. Fiz meu ritual de sempre: cerveja, cachorro-quente (o melhor do mundo) e espetinho. O Arruda estava tomado por sua torcida.
O início da partida mostrou que Eutrópio entrou para ganhar. A marcação na saída de bola foi pegada – o Santnha queria jogo. O primeiro tempo finalizou com a certeza de que iríamos ganhar – só não sabíamos como.
Até que, meus amigos, a oitava maravilha do mundo surgiu no segundo tempo. Quando o juiz marcou a falta na entrada da área do Itabaiana, eu me virei para os meus novos amigos tricolores de 90 minutos e disse:
– Eita, porra. Vai ser gol de Salles, meu velho. Vai ser gol.
Todos se abraçaram antes da cobrança e riam com a alegria mais profunda que existe. E não é que Anderson Salles fez o que ele sabe de melhor: bateu a falta com uma precisão cirúrgica. Que golaço. O Arruda explodiu. Todo mundo se abraçava novamente, gritava, pulava e chorava de felicidade. Até Juninho Pernambucano se rendeu diante dessa oitava maravilha do mundo.
A transição do meio de campo para o ataque ainda está fraca? Sim. Pitbull está mais isolado do que Tom Hanks numa ilha perdida? Sim. Everton Santos, André Luís e Barbio são ruins que doem? Sim. Falta melhorar a zaga? Sim. Falta um homem de criação? Sim.
Mas não quero saber disso hoje. Quero apenas dizer ao senhor Ailton Silva que ele vai calar é a puta que o pariu. Aqui no Arruda quem manda somos nós. Aqui é Santa Cruz, porra.