Ontem, quando vi Milton Mendes tirar o meia Fernando Gabriel do castigo e colocá-lo no lugar do desastrado zagueiro Alemão, me lembrei do jogo da volta contra o Rio Branco, pela Copa do Brasil. Era a primeira vez que Milton Mendes comandava o Santa Cruz no Arruda.
Naquela partida, perto dos quarenta minutos do primeiro tempo, o professor sacou Everton Senna que estava quebrando um galho na lateral direita e não jogava bem, e promoveu a estreia do garoto Ítalo. O rapaz que é atacante foi jogar na lateral direita.
Ninguém que entendeu direito a mudança. Até porque, o óbvio mandava ele botar Lelê e deslocar Léo Moura, que estava em atuando no meio, para o lugar de Senna.
Na ocasião, o estádio inteiro perguntou:
— O que danado esse treinador tá fazendo?!
Alguns até tentaram contemporizar e responderam:
— Calma, ele ainda não conhece bem o elenco.
Outros disseram:
— O cara já fez estágio com José Mourinho em Portugal!
A substituição não surtiu efeito. Pelo contrário, Ítalo ficou perdido em campo e logo no inicio do segundo tempo foi substituído. Saiu triste e cabisbaixo. Foi de um jeito que a turma das sociais tentou dar um conforto, e aplaudiu o jogador.
Milton Mendes tem dessas coisas. Tira atacante e bota lateral. Saca zagueiro para colocar meio-campista. Substitui lateral por atacante. E por aí vai!
Dizem que ele tem um monte de curso na Europa. Pode ser que no futebol daquele continente, seja comum essa história de trocar zagueiro por atacante, goleiro por volante, jogar com dois laterais esquerdos.
Outro dia, contra o Fluminense lá no Rio, terminamos o jogo com cinco atacantes em campo.
Quando a bola entra ou quando o resultado é bom, esse jeito heterodoxo de fazer futebol enche os olhos dos modernos e deixa os tradicionalistas confusos.
Eu acho bem legal essa história de “quebrar paradigmas”, de novas invenções, do moderno, da vanguarda. Admiro os que fogem da mesmice.
Mas ontem, quando nosso treinador tirou Alemão, botou Fernando Gabriel e recuou Uillian Correia para zaga, fiquei pensando na possibilidade de Milton Mendes, no intuito de ganhar um jogo, inventar de tirar um jogador de linha, botar o goleiro reserva e mandar Thiago Cardoso ir jogar no ataque ao lado de Grafite.
Será que a regra permite isto?