Eu queria estar com todos vocês

Eu queria sair caminhando pelas ruas. Subir as ladeiras, sentar nas praças, visitar os morros e as mansões. Apertar a mão, abraçar e beijar os pretos, os brancos e os encarnados. Os feios, os bonitos. O gordo, o magro. Todos sem distinção.

Queria me perder por becos e avenidas. Tomar cerveja, beber aguardente, saborear um vinho, uisque, vodca, rum com coca, seja lá o que for.

Eu queria poder estar junto dos homens, das muheres, dos moços e dos velhos. Dos ricos, dos pobres, dos bebados, das putas e dos frangos. Sorrir e gargalhar de alegria.

Eu queria estar com todos os tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda.

No Bar Real, me senti feliz

Deixei o Arruda, cansado. Me arrastando. Confesso que estou exausto com essa maratona de jogos e decisões. Ontem, faltando uns quinze minutos para acabar a partida, eu já não tinha mais preparo físico para gritar até o final. Fiquei dosando o esforço até o apito avisar o encerramento da peleja.

Na saída, a preocupação de todos: o cansaço do time e a contusão de João Paulo.

Voltei de carona com Marconi.

No carro, o rádio está na resenha. O repórter faz a chamada e diz que o presidente do time das moreninhas vem pra coletiva.

— Nunca vi um presidente ir para coletiva após o jogo. – comentei com Alessandra.

Nessa hora minha barriga roncou e eu pensei: “fome arretada”.

Com a voz de quem está completamente desequilibrado, o cartola começou a falar umas besteiras e meteu o pau na arbitragem, na FPF, no escambau.

— O campeonato nem acabou e os caras já estão chorando. – um de nós resenhou.

“Esse cidadão reclama da arbitragem, mas fica caladinho em relação à quantidade de ingresso”, eu pensei.

Seguimos para casa, falando sobre os erros e as lambanças que o árbitro cometeu e nos prejudicou. Alguém recordou uma jogada que ele marcou falta em Keno, depois pegou a bola e entregou para o jogador adversário e este saiu jogando naturalmente. Vez por outra minha barriga roncava pedindo comida. Lamentamos os contra-ataques perdidos, a bola que Lelê chutou pra cima e o individualismo de Keno.

Marconi nos deixou no mesmo lugar de sempre: na frente do Bar Real.

Quando desci, a turma de garçom já juntava as cadeiras. Corri com Alessandra e da calçada perguntei se ainda saía alguma comida. O gerente fez um sinal de legal. Aquilo me deu uma tranqüilizada danada.

Sentamos rápido e quando me levantei para ir ao banheiro, percebi que na mesa ao lado tinha dois torcedores da coisa, um gordinho e um barbudo. Voltei. Pedimos algo e ficamos proseando. Foi quando um dos vizinhos começou a falar alto para seu companheiro. Era o gordinho. Vestido com uma camisa do seu time que, de tão apertada, mais parecia uma blusa baby look, dessas que deixa as mulheres com os seios bem levantados. Os peitos do gordinho mereciam um sutiã. Se eu fosse amigo dele, chamaria ele de Fafá.

Com uma voz “a la” Cauby Peixoto, ele disse:

— Impedimento claro. Juiz ladrão. E aquele lance que empurraram Keno, não foi lance de expulsão. Gabriel Xavier só deu um empurrãozinho de nada.

“Ah, VTNC, gordo do peitão”, eu pensei enquanto comia um filezinho com vinagrete.

Ainda bem que os caras já tinham pedido a conta e foram logo embora.

Ficamos por ali. Resenhando e mastigando umas coisas. Alessandra pediu uma empada de queijo do reino. Um dos garçons veio perguntar como tinha sido o jogo. Se Grafite tinha jogado bem, se o time estava inteiro, se tinha muita gente no estádio, essas coisas.

O outro chega com as empadas.

Para dar uma trégua ao fígado, peço uma jarra de suco.

É quando um sujeito magro, com cara de pagodeiro, acompanhado de uma moça com cara de carranca, vem até a nossa mesa, invade nossa privacidade e diz com cara de choro:

— Tricolor, ganhar no roubo?! Precisa disso não. O time de vocês é bom. Bora ganhar na bola que é mais bonito.

Em outras épocas, eu teria mandado o pagodeiro e a cara de carranca para aquele lugar. Mas fui diplomático.

— Impedimento? Foi não, meu velho. Mas domingo eu vou dá-lhe outra lapada. E quero que seja gol um gol em impedimento. Porque o bom é ver vocês com esse chororô.

O rapaz ficou com um sorriso amarelo e foi fumar.

Entra uma família do Santa Cruz. O pai vem me cumprimentar.

— Parabéns pela crônica que você botou no blog.

Apertei a mão dele e me senti feliz.

— Putz, Alessandra! É massa receber um elogio desses. E eu aqui, perdendo tempo com a choradeira desse bando de pomba-lesa.

Fizemos um brinde, pedimos a conta e fomos embora.

Eu queria que o tempo parasse

Até agora, estou tentando segurar a ficha para que ela não caia. Amarrando o tempo.  Tentando fazer o relógio girar ao contrário.

A vontade é de viver eternamente esse nosso estado de êxtase e ficar recordando os últimos dias que passaram.

Queria voltar aos 47 minutos do segundo tempo e ver o General fazer o Arruda tremer numa explosão coletiva de alegria.

Naquela hora, pulei feito criança. Ali, naquele gol, consolidei minha esperança e, sem alarde, tatuei no peito: “Santa Cruz, campeão da Copa do Nordeste”.

Assim que o apito encerrou a partida, resolvemos ir a Campina Grande. Em questões de minutos, éramos dez. Em pouco tempo, já éramos doze. Todos com a mesma certeza e com a mesma vontade. “Seremos campeões. Não podemos ficar de fora desse jogo”.

E fomos.

Quase não conseguimos dormir do sábado para o domingo. Não era insônia, eram sonhos pintados de preto-branco-encarnado.

Feito meninos que vão para o piquenique da escola, entramos na Van sorrindo e brincando. Numa alegria sem fim, rumamos para Campina Grande. Carros, ônibus, motos, fomos de todo jeito.

A cada parada, os encontros. A cada bandeira, o orgulho de ser Santa Cruz.

A massa coral pintou todos os caminhos que levam à Campina Grande. Pintamos os bares, bebemos a cerveja, comemos o tira-gosto, entoamos nossos gritos de guerra.

Vou chegando ao estádio e vejo Breno. Como fiquei feliz m saber que ele não ficaria de fora. Breno, que se mandou para o Arruda com o ingresso, a cara e a coragem. Chegou lá, conseguiu descolar uma carona e estava no Amigão.

Ah, se eu segurasse o tempo…. Quantas lembranças boas.

E o jogo?

A bola que não entrou. O grito de gol entalado na garganta. Aquele título só podia ser nosso. Foi conquistado degrau a degrau, pedaço por pedaço.

Quando levamos o gol, igual ao mais puro dos fiéis, pedimos a papai do céu que não deixasse o futebol ser injusto com a gente. Mãos para os céus. Rezas. Promessas e pedidos.

No meio da multidão aflita, escuto a voz de Alessandra profetizar: dá tempo de empatar, ainda. Tu não sabe que pro Santa Cruz tem que ser com emoção!

Trago à lembrança as lágrimas que derramamos ao ver Artur estufar a rede adversária.

Volto e revejo um pai que estava na minha frente, abraçar seu filho e chorar feito menino. Ali, lembrei de quando meu velho me levava para o Arruda. O rolete de cana, a charanga das sociais e a minha bandeira.

Ah como eu queria que o tempo parasse…

E ficássemos todos sentados por aí, contando os causos desse momento histórico, dessa época que nunca será esquecida.

Por mim, esses últimos seis dias durariam para sempre. Mas o mundo gira e ninguém fica parado. Nesta quarta-feira tem mais decisão e o Arruda nos espera.

E estaremos lá, por um simples motivo: o Santa Cruz Futebol Clube.

*Dedico esse texto a todos que de perto ou de longe, bateram no peito e gritaram: sou campeão. E de forma especial, a Seu Vital que fez aniversário no último domingo, a minha Alessandra que aniversariou ontem e ao meu comparsa Samarone que hoje completa outra primavera.

A crônica é de vocês

No posto de gasolina, já quase chegando em Pernambuco, um tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda falou com a voz rouca:

“Gerrá, a crônica do jogo vai ser tua, né?!”

“Putz, velho! Fale, não! Se eu pudesse, escrevia agora. Histórias é o que não falta!”

Teria mil histórias, mil assuntos.

O motoqueiro solitário atravessando fronteiras para ir ao jogo.  O encontro inusitado com Patu e sua turma. Meu amigo Breno que foi cedinho pro Arruda atrás de carona. Minha promessa para Leandro, o garçom do Bar da Curva. Alessandra profetizando depois do gol que levamos, “ainda dá tempo de empatar”. O abraço em Seu Clóvis depois do gol. A turma da Van. As lágrimas de Jr Black. A linda camisa de Marquito. Nossa festa com os jogadores no hotel.

Mas hoje, a crônica tem que ser escrita por vocês. Pela torcida mais apaixonada do mundo.

Campina Grande, aí vamos nós!

Foram doze dias fora. Batendo pernas, comendo, bebendo, conhecendo gente e visitando lugares.

Só eu sei a agonia de estar distante do Arruda numa fase tão boa como esta. De longe, sem conseguir ficar conectado em todos os momentos, passei por picos de ansiedade e angustia.

No dia do jogo contra o Bahia, eu e minha mulher vestimos nossos mantos sagrados e saímos para passear. O tempo foi passando e o Santa Cruz martelando nas nossas cabeças. Olho para o relógio que ainda marcava a hora daqui e vejo que o jogo havia começado. Do nada, senti a palma da mão molhada. Como quem estava cronometrando a partida, fiquei olhando de instante em instante o meu “cronometro”. Dei os devidos descontos e as seis em ponto falei para Alessandra: “o jogo acabou”!

Daí para frente, ficamos feito aqueles protagonistas da propaganda em que os caras entram numa pizzaria e um deles tenta entrar na rede wi-fi do estabelecimento e o outro fica enrolando o garçom com uma conversa sem pé, nem cabeça. Era assim a gente.

Depois de umas quatro ou cinco tentativas sem sucesso, pegamos um táxi e voltamos para o hotel. Naquele momento, passeio nenhum era mais importante do que saber do resultado do jogo. Quando vi 1 a 0, gol de Grafite, me bateu uma saudade daquelas. Lembrei de um monte de gente, mandei uns zaps e fomos comemorar. Da noite do domingo para a noite da quarta-feira, não tinha restaurante, não tinha museu, nem novidades que tirasse nosso pensamento da partida contra a barbie. Os amigos, o Arruda, a movimentação era o que nos vinha à mente. O tempo, esse insistia em não passar.

Na quarta-feira, no dia do primeiro embate da semifinal do pernambucano, pra não ficarmos feito dois doidos atrás de wi-fi, voltamos para o hotel a tempo de ver logo o resultado.

“Carajo, ganhamos de 3 a 1. Puta que los pariu!” – eu gritei.

Pulamos feito loucos no saguão do hotel. O cara da recepção sem entender nada, nos aplaudiu. Usando um portunhol, expliquei a ele que “nuestra equipo estava quasi em las finales de campeonato estaduale”.

Nessa hora, me lembrei de El Cabrón, que em outras épocas era figura assídua nos comentários do blog.

No último domingo, apesar de estarmos mais tranquilos, o roteiro foi praticamente o mesmo. Saímos para as últimas turistadas e no roteiro estava voltar para o hotel no máximo até às 19h de Brasília. Para nossa sorte, onde a gente tava havia internet grátis e praticamente acompanhei todo o segundo tempo. Ali mesmo, pedimos uma cerveja e brindamos. Interagi com o sorridente garçom. Mostrei a ele algumas fotos no meu celular e meti um portunhol: “mira, este és el Santa Cruz. Conoces Rivaldo? Foi jugador desta equipo. Santa Cruz Futebol Clube. De Re-ci-fe. Per-nam-bu-co. Fre-vo. Forró. Lu-iz Gon-za-ga”.

“Bueno, Bueno” – ele respondeu.

A verdade é que nessas horas a saudade chega com força. Os olhos marejam, o coração acelera, a pernas bambeiam.

Quando cheguei na madrugada desta terça, quase que ía direto para o Arruda.

Cheguei de lá agora. Revi a massa coral, encontrei os amigos, senti o cheiro do preto-branco-encarnado, me emocionei com Spok e Mastro Forró e ajudei meu Santa Cruz a juntar mais uma vitória.

Campina Grande, te prepara! Aí vamos nós!

O Santa Cruz voltou!

Eu não lembro se já havia visto aquele rapaz em algum jogo. Acho que não, pois nunca fico naquele lugar.

Vestido com o manto sagrado, ele estava bem na minha frente, em pé, encostado na mureta.

Mal bateram o centro, o nobre tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda, balançou a cabeça de forma negativa e se virou pra trás com cara abusada, olhando para um rapaz que estava sentado praticamente na minha frente.

O jogo seguiu.

Na primeira bola que Grafite perdeu, Cara Abusada se virou de novo, olhou para o amigo, abriu os braços e falou:

— Num tou dizendo!

Essa frase foi a senha que fez com que eu percebesse que Cara Abusada faz parte da turma que elegeu nosso atacante para crucificar.

Allan Vieira fazendo suas lambanças, mas Cara não dizia nada. Artur jogando um futebol insosso, mas Cara não reclamava.

A função de Cara Abusada era de vigiar Grafite. O objetivo era de meter o pau no negão.

Teve um lance que foi cômico. Bola no meio campo, algum dos nossos mete um tijolo para Grafite, ele não consegue dominar e Cara Abusada dá uma dedada em direção ao nosso campo de ataque.

Ao meu lado, um gordinho gente boa, que se tornou meu amigo, comenta:

— Grafite hoje faz gol!

Eu respondo:

— E Keno, também!

Não sei por que, mas desde aquele jogo contra o Ceará, o primeiro embate aqui no Arruda, eu virei torcedor de Keno. Talvez seja a influência de Milton Jr. Milton sempre fala bem do futebol de Keno. Com a sua voz mansa, não cansa de repetir, “rapaz.., eu gosto do futebol de Keno”.

Pois bem, o jogo seguia.

Levamos um gol. Cara Abusada ficou mais mal humorado ainda. Pelo visto, a culpa do gol que levamos foi de Grafite.

Lembro de dois lances do nosso camisa 23. Na entrada da área, ele deu um drible no zagueiro e foi derrubado. Falta e o adversário levou amarelo. Cara não esboçou nenhuma reação. Parado estava na mureta, parado ficou.

Grafite mete uma bola de calcanhar para Keno. Um lance lindo, merecedor de aplausos. O abusado torcedor ficou estático.

Mas Grafite perdeu uma bola. Cara xingou. Grafite estava impedido. Cara reclamou.. Grafite cabeceou errado. Cara Abusada repetiu seu gesto: se virou, olhou para o amigo, balançou a cabeça negativamente, abriu os braços e repetiu:

— Num tou dizendo.

Foi quando Keno escreveu seu nome. Saiu driblando tudo que via pela frente e fez um golaço. Fomos ao delírio. Meu cunhado Flávio, sem óculos e sofrendo por causa da miopia, gritava:

— que gol do caralho!

O meu amigo gordinho, quase derruba um senhor. Um doidão de barba ruiva dava murro no peito e gritava pro estádio ouvir:

— é Santa Cruz, porra! Aqui é Santa Cruz!

Até Cara Abusada, deixou o abuso de lado, e comemorou junto com seu amigo.

Fomos para o intervalo. Eu, Flávio e o Gordinho tínhamos a mesma opinião: “dá para ganhar”.

Cara Abusada, que a esta altura bebia sua cerveja, estava sentado exatamente na minha frente, conversando com o amigo dele. Ouvi quando ele disse:

— Tou dizendo a tu, Grafite só joga com o nome!

Ficamos por ali. Cara Abusada também.

O time voltou para o segundo tempo. Cara continuou sentando bem na minha frente. A bola rolou e ele já balançou a cabeça. Por ele, era para Milton Mendes ter botado o General no lugar de Grafite.

— Puta que pariu! – eu pensei.

Mas nosso esquadrão encurralou o Bahia Axé Clube. Pressão total. Keno infernizava a defesa deles. O jogo era nosso. Bastaram 12 minutos para virarmos. Artur passa para João Paulo, que passa para Grafite, que gira e deixa o goleiro inimigo na saudade e, com categoria, quase sem ângulo, faz um belo gol.

Uma espécie de êxtase tomou conta de nós. Ficamos loucos. O orgulho, a paixão e o amor pelo Santa Cruz transbordavam pelos nossos poros.

Aproveitei a loucura daquele momento e gritei cuspindo no ouvido de Cara Abusada:

— É Grafite, poooorrra! É Gra-fi-te!

O jogo acabou. Não ganhamos. Mas saí do estádio com a sensação que o time de guerreiros voltou. E que temos plenas condições de vencer domingo.

Pena que não poderei ir para Salvador!

Camisa nova

Tem um dito popular que diz assim: cobra que não anda, não come sapo.

É com base nessa filosofia e pensando no próximo carnaval, que a turma da Minha Cobra já começou a botar a Troça na rua.

Com a necessidade de angariar fundos para reformar a Cobra que domina o carnaval de Olinda, os responsáveis pela Troça começaram a procurar alternativas para conseguir o dinheiro.

De acordo com o diretor de alegorias, Claudemir Pereira, não é uma simples reforma na Cobra. “Vamos fazer uma nova cabeça, mudar a estrutura que sustenta o corpo e se der, trocar o tecido coral. Na verdade não é uma reforma. Estamos querendo fazer uma nova Cobra”.

Dentre as várias ideias que surgiram, a mais viável foi a confecção de uma camisa. E, pelo fato de muita gente ainda procurar a camisa do carnaval deste ano, que fez uma homenagem a Chico Sciense, o lendário mangueboy  foi o tema escolhido para ilustrar a estampa.

“Faremos uma pequena quantidade. Será uma edição limitada. O projeto é fazer apenas 100 camisas. Camisas brancas e camisas pretas. Masculinas e baby look. As camisas serão em malha de algodão e com a impressão em silk-screen”, informou o diretor de figurinos, Robson Senna.

As camisas serão vendidas ao preço de R$ 40,00. Como será uma quantidade limitada, a turma da Troça Carnavalesca Mista Ofídica Erótica Etílica está fazendo uma pré-venda. O procedimento é o seguinte: o interessado diz o tamanho e a cor, paga 50% do valor e garante a mercadoria.

“É simples. É só entrar em contato conosco, através de e-mail(gerralima@gmail.com) ou por mensagem no facebook da Minha Cobra(www.facebook.com/tcmminhacobra), que passamos os dados para depósito ou combinamos outra forma de pegar a metade do valor. Essa é a única forma que temos de garantir o tamanho e a cor”, disse Esequias Pierre, diretor de comunicação e cerimonial.

Então, meus nobres, está dado o recado. Com um tiro só você mata dois leões. Adquire a camisa e ajuda a turma da Troça a fazer a nova Cobra.

E domingo, todos ao Arruda!

TCMOEE Minha Cobra

www.facebook.com/tcmminhacobra

gerralima@gmail.com

Nossa palavra abalizada

Depois de três meses entregue ao DM, tratando de uma tendinite, voltei aos gramados, ganhei três seguidas, bateu o cansaço e desisti de ir ao Arruda. Tentei assistir na TV. Pra não perder o sono, na metade do segundo tempo acionei a função soneca da televisão e fui adormecendo.

Só que Samarone havia me passado a função de escrever algo sobre o jogo. Do que vi na partida, se fosse para escolher um personagem, teclaria umas linhas sobre o paletó de Milton Mendes.

Um calor dos infernos e o cara vestido com uma roupa daquela? Aquele terno deve ter algum sistema de refrigeração ou é feita de algum tecido especial para quem mora no deserto do Saara ou no Vale da Morte na Califórnia. Só pode ser.

Bom, como não fui ao Arruda e nem assisti ao jogo todo, recorri ao zap-zap para ver os comentários dos amigos.

Seguem abaixo, algumas boas opiniões sobre ontem. Para evitar problemas judiciais, pois não pedi autorização para fazer a publicação, não colocarei o nome dos autores.

Torcedor 1: “Esse técnico é doido. Esse General não passa de um recruta. O time tá uma bosta”.

Torcedor 2: “Néris já fez três merdas em campo”.

Torcedor 3: “Ítalo Borges parece que é sócio. Ganhou uma promoção do programa de sócios e tem o direito de jogar 10 minutos. Pedro Botelho vai entrar. Outro sócio sorteado.Vocês tem que participar da próxima promoção, mas tem que devolver o uniforme depois”.

Torcedor 4: “O melhor do jogo é o paletó do treinador”.

Torcedor 5; “Esse técnico só pode tá usando esse jogo pra fazer experiências no time. Que porra é essa?!”

Torcedor 6: “Minha esperança é que MM além de treinador, seja mágico. Vai ver que esse paletó é da época que ele trabalhava no circo”.

Torcedor 7: “Leandrinho ainda fez algo hoje. Chegou até a aparecer para receber bola. Raniel tá perdido. Pedro Botelho entrou com disposição. Bruno Moraes não recebeu bola decente. Tem de melhorar muito. Léo Moura no meio… nulo”.

Torcedor 8: “Rapaz, esse técnico estudou muito e ficou meio doido mesmo. Um calor do carai e o cara de paletó e gravata. No jogo passado, botou dois laterais esquerdos. Hoje entrou com um time e com meia hora de jogo trocou o lateral direito improvisado por um atacante que nunca tinha jogado e que também entrou improvisado na direita.

Mas… vamos apoiar. TRIIIIII”.

Torcedor 9: “Acho que só vamos precisar trazer: 1 lateral direito, 2 zagueiros, 1 lateral esquerdo, 2 volantes, 2 meias, 2 atacantes. Cinco de verdade. Cinco do nível de Uillan Correia. Daí, esses podem brigar para serem titulares ao lado de Cardoso, JP e talvez Grafite. Pode mandar embora: Lucas Ramon, Leonardo, Thiago Costa, Dedé, Pedrinho, Leandrinho, Léo Moura, Ítalo e esse General Cocô. Falta quase nada. Pouca coisa.”

Torcedor 10: “Jogo ruim do caralho”.

Torcedor 11: “Classificamos”.

Apesar de algumas divergências, essa turma dos comentários converge numa coisa: domingo, todos estarão no Arruda para apoiar o Santa Cruz.

E eu, também!

Um papo com o “Professor”

Hoje, por uma dessas coincidências da vida, encontrei MM no shopping. De pronto, o reconheci.

A patroa foi logo instigando.

— E aí, vamos falar com ele?

— Relaxa, deixa o cara comer.

MM tava almoçando. Discreto, estava sozinho na mesa, batendo um prato de camarão. Bebia algo parecido com suco de limão. Talvez até fosse uma limonada.

Fiquei por ali, tentando vencer a timidez e esperando a hora certa de dar o bote.

Se fosse pela primeira-dama, era para eu ter ido ao primeiro impulso.

— Vai! Daqui a pouco chega alguém. Vai lá, diz que é do Blog. Inventa uma história. Diz que é jornalista. Essas coisas…

— Relaxa. Peraí.

Foi quando eu vi que ele estava quase acabando o almoço, me levantei calmamente e o abordei.

— Opa. Tudo bom?!! – eu disse.

— Tudo bem! – ele respondeu.

A mulher não segurou a curiosidade, terminou rapidamente a comida e veio pra perto.

— Olha, sou do Blog do Santinha. Não sei como está teu tempo, será que a gente podia bater um papo? – eu perguntei e já fui sentando na cadeira ao lado.

— Sim! Claro! – com simpatia e de forma tranquila, MM topou na hora.

— E aí, muito trabalho? – tentei começar algo que parecesse uma entrevista.

— Oh rapaz, nem fale! Muito trabalho, viu. Aproveitando aqui a hora do almoço pra dar uma relaxada.

Eu continuei meio sem jeito. Afinal não sou jornalista.

Sem saber direito o que perguntar e sem querer importunar o cara, por um instante fiquei mudo. Mas minha esposa foi ágil e mandou essa:

— E a cidade, tá gostando?

— Cidade, como assim? – ele indagou.

— Recife!

— Ah, tá! Recife! Rapaz, Recife é um lugar fantástico. Apesar dos problemas, é um lugar super agradável. Olha, em minha opinião, Recife é uma cidade que cresceu muito dentro de um pequeno espaço físico. Mas as broncas que tem por aqui são comuns em qualquer cidade grande.

E foi falando outras coisas da nossa Veneza brasileira. Fiquei até impressionado com o conhecimento dele a respeito da capital pernambucana.

Nessa hora passou um cidadão vestido com nosso manto coral. Aproveitei o ensejo e tentei emplacar o futebol no nosso bate-papo.

— Acho essa camisa, uma das mais bonitas!

MM apenas deu uma discreta risadinha.

Quando vi, meio que de repente, o garçon trouxe a conta.

Nem percebi MM ter pedido para passar a régua.

A esposa olhou para mim de forma repreensiva. Assim, como quem tá querendo dizer, “putz, deixa de conversar merda”.

Emendei rapidamente.

— Sim. Já vai? E o time, da pra ajeitar? Vai ter que contratar? – eu perguntei numa tacada só.

— Aquele tal de Leonardo, é fraco. Aquilo é uma desgraça. – a mulher completou.

— Pois é, professor! Vai ter que dispensar um bocado de gente, né? – eu indaguei.

— Como assim? Professor… – fez ar de riso e continuou – não sou professor, sou advogado.

— Ahahaha, e eu não sou jornalista. Pensei que você era Milton Mendes, o novo treinador do Santa Cruz.

Caímos na gargalhada.

— Então estamos quites. Nem sou o treinador do Santa e você não é jornalista.

— Pois é… e hoje é 1º de abril.

Nos despedimos, apertamos as mãos e saímos feliz da vida.

Agora é camisa

Na minha frente, um desses portais de noticias me diz que, em três meses, o preço do quilo do salmão passou de 26 reais para 39 reais.

Para mim, isso não tem a menor importância.

Hoje, o que importa é o jogo do Santa Cruz contra o Iracema Ceará Clube.

Pelo visto, o tempo vai melhorar. Mas isto também não importa. Torcedor que é torcedor não tem medo de chuva, muito menos de tempo ruim.

A hora é de deixar o mimimi de lado, guardar as cornetas e partir para o Arruda. Não importa se o zagueiro é lento, se o lateral não saber correr ou se o atacante é cego.

O jogo é mata-mata e não tem espaço pra resenha esportiva, nem para racionalidade.

É grito, é apoio, é jogar junto.

Do apito inicial ao término da partida só cabe uma ação: torcer!

Lembro de um torneio que disputei.  Toda sexta, a gente jogava uma pelada num society onde hoje vão construir um prédio. Quando chegava o final do ano, a turma organizava um torneio de confraternização.

Nos dividimos em quatro times e a tabela era bem simples: quatro times, dois jogos e cada vencedor fazia a final.

Vencemos a primeira partida numa cagada daquelas. Perdíamos de 2 a 1 e no último minuto, depois de um bate rebate, empatamos. Fomos para os pênaltis e ganhamos.

O nosso esquadrão era o mais franco. No gol, Seu Paulo. Baixinho e barrigudo, Seu Paulo dizia que já tinha treinado no Sete de Setembro. A verdade é que Seu Paulo levava cada gol safado arretado. Não lembro bem quem era a zaga. Sei que no time tinha eu, Rosinaldo, Dudu, Carlito, Morcego e Cara Pálida. Junior Fake também era um dos nossos.

Pegamos na final o time de Mirandinha.

Com cinco minutos do primeiro tempo, lateral para eles. A bola é lançada na nossa área e Seu Paulo inventa em sair do gol, mas perde o tempo da bola. Gol de Mirandinha. Aos trancos e barrancos, no esquema “do pescoço pra baixo é canela”, seguramos o placar. No intervalo, entre uma água e outra, a palavra mais pronunciada por mim e Rosinaldo era: pau, raça, sangue, vontade.

Rosinaldo foi curto e objetivo: “quem tiver cansado pede pra cagar e sai!”

Eu chamei Carlito do lado e orientei: ‘aquele boyzinho, o magrinho que tá no meio, pau nele que ele amarela. Eu sei que tu sabe bater!”

Na primeira oportunidade, uma bola dividida perto da nossa área, Carlito tirou o boyzinho da partida. Nosso jogador levou apenas um amarelo e ouviu o juiz pedir calma.

O jogo seguia truncado, quando numa falha monstruosa, o zagueiro deles atrasou uma bola errada e Rosinaldo, botando pra fora o resto de oxigênio que ainda tinha no pulmão, conseguiu chegar antes do goleiro. Empatamos. Faltavam uns 10 minutos para acabar. Eu cansei e pedi para sair. Rosinaldo, também. Fomos para o lado de fora e nossa função foi injetar combustível na turma. “Vai caralho, é raça, porra!”, gritávamos procurando tirar suor das veias da nossa equipe.

Foi quando Junior Fake partiu pela direita, fez um-dois com Dudu e acertou um chutaço no ângulo. 2 a 1. Viramos o jogo. Estávamos com a mão na grade de cerveja.

Dali pra frente, nos transformamos em gigantes.

Rosinaldo aos gritos de “agora é camisa”, eu aos berros de “é raça” e nosso time botando fogo pelas ventas.

Seguramos o placar até o final e tomamos duas grades de cerveja sem pagar um tostão.