Minha companhia é o meu melhor lugar

Corri nas tarefas do trabalho e consegui sair mais cedo, a tempo de passar em casa e vestir o manto sagrado.

Cansado, mas animado e confiante, me mandei para o Arruda.

Antes, porém, quando estava saindo de casa, tive o desprazer de escutar Seu Luís dizer que o jogo era difícil. Que o Criciúma quase empatava com o Bahia na Fonte Nova.

Fosse eu, Nelson Rodrigues, teria chamado ele de idiota da objetividade.

Sim…, precisamente às seis e quarenta e sete, me encontrei com o resto da tropa. De um tempo pra cá, o ritual da turma é antes da partida, comer espetinho, tomar litrinho e, se Samarone estiver, beber umas lapadas de aguardente. Tudo isto, ao som de um excelente brega, na radiola de ficha. De lá, cada um se manda para o seu setor preferido, aquele que dá sorte.

Todos tem seu ritual e no estádio, o seu território.

Naná e cia, obrigatoriamente, tomam uma no Poço da Panela, segue para o Arruda e antes de entrar para as sociais, eles bebem no bar de Abílio.

Nas sociais, Naná, Boy, Ninha, Oswaldo Titio e Diazepan ficam sempre entre o banco de reservas do Santa Cruz e a barra do canal. Sentam mais ou menos no quinto ou sexto degrau.

Quem encontrei no jogo, foi Mardônio. Na nossa pelada semanal, o apelido dele é John Lenon. Ele também gosta das sociais.

Descobri que Mardônio ver o primeiro tempo em um lado e o segundo em outro. Vai para onde o Santa está atacando e se posiciona rente a linha de escanteio. Jonh não é muito de beber antes do jogo.

Samarone já é famoso. As vezes já vem de casa tomando sua latinha. Quem quiser saber se ele está no estádio é só mirar os olhos para aquele escudo que fica na lateral do gramado, no lado da arquibancada, e ir levantando a vista para ver se encontra o barbudo encostado no parapeito. Por tradição, o poeta gosta de assistir ao jogo com uma e outras na cabeça.

Tem uma galera gente boa que demarcou um território na arquibancada, batizaram de Ventilão e só assistem ao jogo de lá. João Peruca, Jr Black, Marquito e outros bons são praticamente donos daquele território. Antes de irem para o Ventilão, os caras fazem a preliminar no Tonhão.

Na época da Sanfona Coral, tomávamos a primeira no Poço da Panela. Depois tinha o fezão, feijoada e aguardente, num apartamento na Jaqueira e, antes de entrar no estádio, bebíamos na lendária Churrascaria Colosso.

A Sanfona sempre ficava na arquibancada. Quando alguém perguntava onde podiam nos encontrar, o ponto de referência era o banco do time adversário e um isopor de cerveja no chão.

Enfim, cada um com seus caminhos, seus rituais e seus locais preferidos.

No meu caso, meus lugares preferidos estão diretamente relacionados à minha companhia. Vou pras cadeiras, arquibancada ou sociais. Vou para qualquer lugar. Mas detesto estar junto dos amargurados, azedos e dos idiotas da objetividade.

 

Prudência não faz mal a ninguém

Passei uma vista nos comentários para ver se compreendo melhor a lapada que levamos das Barbies. (Opa, Barbie, não! Alvirosas).

Pois bem, depois de ter tido prazer de conhecer Birigui e de ter passado a noite da sexta-feira ouvindo nosso eterno goleiro contar histórias e declarar amor ao Santa Cruz e a Recife, acordei cedo no sábado e fui ao Arruda. Estava confiante na vitória.

Fui até a nossa sede para comprar os ingressos e dar um abraço em Paulo Aguiar pelo lançamento do livro 100 nomes em 100 anos. Um vento positivo circulava pelas bandas do Arruda.

Encontrei um monte de gente boa. Senti em todos, a confiança num resultado positivo. Até um guarda da polícia de trânsito que me pediu para tirar o carro da rua das Moças estava confiante. “Hoje a gente ganha”.

Voltei para casa pra almoçar e juntar a família. As meninas estavam eufóricas. A menor perguntou se eu tinha encontrado com Grafite e ficou triste quando eu disse que nosso atacante não iria jogar.

Por volta das 15h, saímos para o jogo.

Num sinal da Avenida Norte, o Tri-Tricolor/Tri-Tri-Tri-Tri-Tricolor toma conta do cruzamento. Motos e carros. Todo mundo é Santa Cruz.

Estaciono na Praça Luis Ignácio Pessoa de Melo. No trajeto que fizemos a pé, tudo é preto-branco-encarnado.

Na subida da rampa, encontro Chiló e o pequeno Rafa.

Assistimos ao jogo na mesma fileira. Nós e a gurizada. E vimos o Santa Cruz, até os 38 minutos da primeira etapa, jogar bola, esbanjar raça, dominar o adversário e vencer a partida.

Depois disto, quando sofremos o empate, o time foi desaparecendo de campo. Desceu para o vestiário já meio murcho e voltou pior.

Daí pra frente, não preciso descrever.

Quem foi viu, quem não foi ficou sabendo.

Perdemos um jogo que estava fácil. Faltou sabedoria.

Num jogo de futebol, é preciso saber dosar o pé no acelerador. Às vezes, é necessário jogar defensivamente. Tem certos momentos de uma partida, que é inteligente se ter uma postura de marcação. Daquela que você fica esperando o adversário lhe atacar, para você dar o bote na hora certa.

Mas o Santa Cruz parece que sofre de uma ansiedade descontrolada para jogar no ataque.

A impressão que dá é que Marcelotti tem certeza que está treinando uma equipe de estrelas e os jogadores também acreditam nisso.

Eu fosse treinador deste time, seguiria o modelo givanildiano de fazer futibó. Na dúvida, não ultrapassaria o sinal fechado.

Com a limitação que temos, não dá para querer que o time jogue ofensivamente sempre.

Mas estamos na luta.

Cabe a nós, apoiar e fazer a corrente positiva. Se Marcelotti controlar seu transtorno-obssessivo-compulsivo, temos chances reais de subir.

Um sonho guardado por quase 20 anos

Comecei a frequentar o Arruda, ainda quando não existia o parte de cima. A arquibancada superior.
De lá pra cá, tenho cravado na minha memória estão alguns fatos. Não sei o real motivo, mas tem coisas que estão tão vivas na minha caixola, que quando lembro é como se tivesse acontecido recentemente. No último final de semana, ontem…

Ecreveria linhas e linhas recordando com detalhes, as alegrias e o orgulho de ser do Santa Cruz.

O golaço de Marlon contra o Internacional. Fora da área, ele matou no peito e mandou no angulo. Um dos gols mais bonitos que já vi na minha vida.

O gol antológico de Luzinho. Um toró de inundar ruas e avenidas. O gramado encharcado. Luizinho pega a bola fora da área, carrega, ver o goleiro do Flamengo adiantado, e mete caprichosamente por cima. Foi uma das cenas mais excepcionais que já presenciei num estádio de futebol. Do momento do chute até a bola estufar as redes, o Arruda ficou calado. A coragem do jogador em chutar aquela bola e a beleza plástica do caminho que ela fez no ar, deixou até os refletores em silêncio, vendo tudo aquilo acontecer, esperando o ato final.

O drible e o gol de Jarbas. Ele entra na área pela direita, o zagueiro da barbie vem feito um doido. Jarbas ameaça chutar e dar um corte seco para dentro. O beque do alvirosa passa lotado. Jarbas manda de esquerda pros fundos da rede. O drible foi tão grande que torceu o tornozelo do zagueiro adversário.

O time de 1983. Ricardo Rocha, Zé do Carmo, Henágio, Marco Antônio, Angelo e outros. No gol, Luiz Neto e Birigui. Os dois eram tão bons que o treinador fazia um revezamento entre eles. Numa partida jogava um, no próximo jogo entrava o outro. Naquele ano fomos campeões. Aliás, fomos tri-super campeões. No jogo final, num Arruda lotado de gente, ganhamos nos penaltis, com Luiz Neto defendendo a derradeira penalidade que a Barbie cobrou e nosso zagueirão Gomes decretando nossa vitória.

Enfim…! O título de 93, uma falta batida por Nunes que quebrou o dedo do goleiro da leoa, as doidices de Gabriel, as faltas de Amarildo. Etc. Etc. Etc.

No fim de semana, conversando com Chiló, entre um gole e outro de cerveja, fomos lembrando de boas histórias. Lá pras tantas, ele mandou:

— Gerrá, tenho dois ídolos daquela época dos anos 80. Marlon e Birigui.

Coincidentemente, também idolatro Birigui. Birigui não, São Birigui. Aquele que fechou a barra na decisão de 1986 e garantiu nosso título. https://www.youtube.com/watch?v=t5Y3rJN4VM4

Naquele dia, minha vontade era invadir o gramado para abraçar nosso goleiro.

Eu só, não! Toda uma geração que teve o prazer e o privilégio de vê-lo em campo. Edgar Assis, por exemplo, me confidenciou que no tempo de Birigui, ele passou três anos indo pro Arruda fantasiado do nosso goleirão. Imagino que vários garotos também iam.

Nessa sexta, Birigui chega por aqui. Vai no sábado ao Arruda, para entregar a Thiago Cardoso uma camisa comemorativa e torcer pela nossa vitória.

Por volta das 17 horas, no Aeroporto dos Guararapes, meu ídolo chega. Se tudo der certo, vou realizar um sonho que já tem quase de vinte anos de idade. Chegar bem pertinho do melhor goleiro que já vi jogando no nosso Santa Cruz e abraçá-lo.

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Sábado, 17 de outubro, além do jogo, tem mais um atrativo no Arruda. Às 9h, na nossa sede, mais precisamente em frente ao Museu do Santa Cruz (Sala de Memórias), nosso amigo Paulo Aguiar (Blog Torcedor Coral) estará lançando o livro: Santa Cruz 100 Nomes em 100 Anos.

Tem que ser na base do álcool, da reza e do secador

Por sorte do destino, não fui para Maceió.

O plano de voo era sair daqui por volta das 14h, pegar a BR-101,  ir direto para o estádio, ver o jogo, depois tomar uma de leve na beira-mar da capital alagoana, dormir por lá e voltar bem cedinho do dia seguinte. Mas a razão me cutucou e lembrou que fora de casa, o Santa Cruz não é lá essa coisa toda. Bateu a desconfiança e, na hora do almoço, desisti de pegar a estrada.

Por um cabelinho de sapo, não fui assistir ao jogo no telão do Arruda.

Achei a ideia arretada. Logo que abortei definitivamente o plano de voo para Maceió, entrei em contato com Robson Sena para saber como seria a história do telão no Arruda. Ele me mandou um foto que mostrava já as mesas arrumadas por trás da barra da Rua das Moças e deu as coordenadas. “Sócio não paga, vai ter cerveja e tira-gosto. Começa a partir das 17h”.

Me animei.Comecei a trocar mensagens, avisei a alguns amigos, articulei com uns e outros, organizei o horário de ir buscar a filha no inglês. Mas quando escutei a escalação, a ficha caiu e a desconfiança mandou o recado.

— Ei, é Marlon improvisado na zaga e Renatinho vai entrar de frente.

Pensei direitinho e declinei da ideia de ir ao Arruda.  Para não ser esculhambado, tratei de não avisar a Samarone, Robson e Esequias. E caso eles ligassem, já estava com a desculpa pronta.

Por muito pouco, não fui ver o jogo num bar.

Chiló ficou enchendo meu saco, me chamando para ir com ele e Geó para o Bar Real. Pertinho de onde moro, poderia beber a vontade e não correria nenhum risco de encontrar um bafômetro pela frente. Até gostei da ideia. Só que quando cheguei em casa, a primeira dama me pergunta se vou assistir em algum lugar.

Digo que sim.

Ela indaga.

— Será que dá pra ganhar hoje? Esse time do Santa Cruz é uma gangorra danada!

Pronto, morguei de novo. Farrapei com Chiló e Geó.

Terminei indo ver o jogo na casa do meu vizinho Breno. Cheguei por lá já estávamos perdendo de 1 a 0. O time engrenou uma reação e o primeiro tempo acabou empatado. Minha confiança voltou. Comecei o segundo tempo, acreditando piamente que voltaríamos com os três ponto. Mas dos sete minutos em diante, a tal confiança foi indo embora, deu lugar a raiva e no final a desconfiança voltou.

Ainda bem que não fui para Maceió, nem pro telão do Arruda e nem para o bar.

E ainda bem que o próximo jogo é no dia 17 de outubro.

Daqui pra lá, vou aumentar o estoque de álcool, fazer reza e promessas pra Jesus, santos e orixás.

Sim, e comprar um bocado de secador.

Toda a energia é para nossa vitória

Pelo visto, a venda de calculadoras e tabuadas deve ter crescido um bocado aqui em Pernambuco.

Não paro de receber mensagens dos mais diversos amigos tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda.

Um amigo me enviou uma planilha em Excel que atualiza a classificação e mostra o percentual de chances de classificação de cada equipe.

Outro mandou ma zap-zap com uma imagem que comparava a classificação da seribê de 2014 com a de 2015.

É conta de somar, subtrair, cálculos percentuais, estatísticas, probabilidades, mmc, mdc, funções exponenciais, derivadas e etecetera.

O tema é um só: nossas chances de entrar no tal G-4 e de subir para série A.

Há quem defenda que é melhor ficar na segunda divisão.

Eu penso diferente.

Mas isto é assunto para ser tratado depois, pois a superstiçãofutebolística manda que a gente não bote os carros na frente dos bois.

Só sei que todas as vezes que abro uma dessas mensagens cheia de prognósticos, previsões e comparações, fico mais confuso ainda. E aí, a ansiedade rompe a gravidade e sobe feito um foguete.

Ontem inventei de entrar no site da CBF para olhar a classificação final dos últimos campeonatos da segundona, quando percebi eu estava no Google fazendo pesquisa sobre todas as edições da seribê do brasileiro na era dos pontos corridos. Fechei a janela e decidi de uma vez por todas que não vou mais desperdiçar energia fazendo contas. No máximo, ao final da rodada, dou uma olhada na tábua de classificação para ver como as coisas ficaram.

E é assim que hoje vou pro Arruda: desprovido de cálculos e fórmulas matemáticas.

Não quero nem saber de contas e percentuais. Não me importa a escalação, nem o esquema tático.

Vou para entrar em campo, jogar com o time, fazer gol, defender, bater escanteio e transpirar raça.

E hoje, quando o juiz apitar e baterem o centro, vou me lembrar de Dona Santina. Para ela não importava os jogadores, muito menos o campeonato e as estatísticas.

Dona Santina, nascida naquele mesmo ano em que um grupo de jovens, que batiam pelada no Largo de Santa Cruz, fundou o nosso Clube, queria apenas ter a alegria de saber que seu time do coração, o Santa Cruz Futebol Clube, venceu mais um jogo.

Não sei onde Dona Santina está. Ontem ela se foi. Mas hoje, quando o juiz apitar e encerrar a partida, quero que ela abra o sorriso e comemore mais uma vitória.

Aos amigos torcedores cronistas

Por Paulo Batista

Amizades que se constroem por causa de futebol costumam render.

A história começa na arquibancada, na esperança do resultado, na euforia da vitória, na desilusão da desclassificação, no êxtase do título ou na cornetagem pra cima do jogador que não agrada quase ninguém.

E segue depois na cerveja dividida nos botecos com os parceiros ou com os adversários, seja tirando onda ou deixando claro toda a indignação com os acontecidos da bola rolando.

Agora, quando os atalhos dos campos fazem se encontrar os caras que escrevem ou desenham sobre seus times, o estrago total está feito. São horas e horas de histórias.

Não tem trégua pra juíz ladrão, técnico retranqueiro, jogador indolente, dirigente desonesto ou empresário sanguessuga.

Toda honra e toda glória aos craques que fizeram história e aos raçudos que nunca desistem. Justiça feita às figuras inusitadas que torcem na arquibancada. Paixão infinita demonstrada com entusiasmo.

Muitos amigos vieram primeiro por seus textos publicados nesse universo dos blogs de malucos geniais fanáticos iluminados.

Eles me foram apresentados sempre por outros sujeitos de capacidade admirável e sensibilidade inteligente que povoam as bancadas dos estádios nos lugares onde estive, acreditem.

Quando encontro esses cronistas em versão, carne e osso, cérebro e camisa de time, eu já os conheço. Então dá-lhe história, petisco e cerveja… mais e mais arquibancada. E mais ideias também.

É assim que acontece. Deve ter sido assim desde a hora em que inventaram o futebol, a melhor de todas as invenções.

*Paulo Batista é cartunista, publica no blog Boteco da Lusa e nesta quarta-feira(23), a partir das 19h, no Espaço Cultural Bar Mamulengo, na Praça do Arsenal, estará batendo papo com o Blog do Santinha e o Blog do Mequinha.

Ganhamos ontem, quarta-feira tem mais!

Não fosse o futebol esta coisa tão surpreendente, ontem na volta da viagem a São Lourenço da Mata, teríamos enfrentado um engarrafamento gigante de revolta, tristeza e reclamações.

Nem o mais otimista de todos, depois de Marcelotti ter encarnado o verdadeiro Professor Pardal e abusado de fazer substituições malucas, imaginaria que o baixinho Vitor entraria feito um foguete na área do adversário e faria um gol de cabeça aos 44 minutos do segundo tempo.

Juntamos mais uma vitória e colamos no G-4.

O dois a um que metemos nos cearenses, trouxe de volta a esperança. E não fosse sorte e esperança, eu seria torcedor de jogo de xadrez.

Falta pouco meus senhores. Bem pouquinho. Um tiquinho de nada. Com mais uma ou duas rodadas, temos chances reais de entrar no meio da turma que vai subir.

Me apego ao que defende Paulo Batista do Blog Boteco da Lusa e tantos outros que conheço. “É melhor engrenar o arranque no final, do que começar a todo vapor e depois ir caindo pelas tabelas”.

Paulo está aqui em Recife e foi para o jogo. Vestiu a camisa do Santa Cruz, pegou a mão de sua Isabel e se juntou a nós nas cadeiras que ficam atrás da barra.

Conheci eles tem uns dois meses. Quando falei para Esequias que iria passear em São Paulo, ele foi certeiro e me colocou em contato com o casal. São torcedores da Portuguesa e apaixonados por futebol. Pessoas do bem. Daquelas de sorriso fácil e boa conversa.

No jogo de ontem, Paulo vibrava e torcia como se fosse Santa Cruz desde nascença.

É impressionante o poder agregador que tem o futebol. E mais ainda, o nosso clube. Há uma mistura de respeito e carinho espalhado por este mundo afora quando falamos que somos Santa Cruz.

Desta vez que estive em São Paulo, fiz uma visita ao Morumbi. Um esquema bem organizado. Em horários marcados, um guia leva grupos de torcedores para conhecer as dependências do estádio e vai explicando as coisas. Há certa altura, o rapaz que nos guiava começou a perguntar o time da cada um. E foi tirando onda. Quando dissemos em alto e bom som que torcíamos pelo Santa Cruz, ao invés de piadas vieram elogios. Por alguns instantes viramos atração.

Mas voltando ao meu amigo Paulo Batista, na próxima quarta-feira, dia 23, a partir das 19 horas, no Espaço Cultural Bar do Mamulengo, nós do Blog do Santinha sentaremos com Paulo(Boteco da Luca) e a turma que faz o Blog do Mequinha, para bater papo sobre futebol, para contar boas histórias, dar pitacos, trocar ideias e celebrar a amizade.

Quem quiser é ir, é só chegar. As portas estarão abertas para todos.

No Raízes, juntei mais uma vitória

Me desculpe, os que querem ficar punhetando com essa história de Raniel, mas eu vou é traçar umas linhas respeito do jogo de ontem.

Pois bem, quando confirmaram meu curso aqui em Brasília, tratei logo de mandar um recado para Pablo.

“E aí, meu nobre, o jogo contra o Boa vai passar no Raízes? Tou na área”

“Claro. Venha pra cá.”

O Raízes é um dos lugares que sempre visito quando venho a Brasília. Conversa boa, música de qualidade, cerveja gelada, tira-gosto barato e uma energia preta-branca-encarnada circulando no ar.

Saí da aula nas carreiras e me mandei pra W3-Norte. Aqui pra nós, não me acostumo com essa cidade. Prefiro ruas com nomes de flores, arvores, ao invés desses códigos que usam na capital de país.

Voltemos ao assunto.

Vesti a camisa do Santa Cruz e fui pro Arrudinha (é assim que a turma daqui chama o bar Raízes).

A televisão já estava no local de sempre. Do lado de fora do bar e em cima de quatro grades de cerveja enfeitadas com uma bandeira do Santa Cruz.

O melhor de tudo é que Pablo deixa TV sem som. Aí, o jogo rola e a gente é poupado de estar ouvindo as besteiras que o comentarista fala. Ao invés da locução chata, é o jogo passando na tela e música no ouvido. Cascabulho, Nação Zumbi, Bob Marley, etc e tal.

Pablo fica pra lá e pra cá. Atende um, troca uma ideia com outro, senta pra ver o jogo, toma cerveja, levanta…

O primeiro tempo não foi lá essas coisas todas. O melhor da primeira etapa foi uma garota que chegou e perguntou quanto estava o jogo.

– Está zero a zero – Pablo disse.

– Vai fazer um gol agora, o Santa!

Foi a moça terminando de falar, Luizinho cruza e Bruno Moraes fuzila. A garota foi ovacionada.

Terminei minha primeira caipirinha, justamente na hora que perdemos o penalti.

Resenhamos um pouco. Um rasta chega e fala mansamente, “esse Santinha é do caralho!”

Começa o segundo tempo. O time é outro. Joga pra cima. Alegre. Dominando o adversário.

Um senhor chega oferecendo cigarros. Ninguém da mesa deu atenção.

Dois a zero.

– Será que hoje vamos golear? Faz tempo que não vejo o Santa golear fora de casa. – diz Valter Ananias.

Pablo manda uma cortesia pra mesa. Um prato de calabresa acebolada.

O garçon trás uma cerveja.

Três a zero. O jogo é nosso.

Mas o Santa Cruz não perde essa mania de dar seus apagões e leva um gol besta.

Bate o receio.

A partida termina. Dava pra fazer pelo menos mais um golzinho.

– esse gol que levamos, vai tirar uns cinco mil torcedores do jogo contra o Ceará. – sentencia Valter.

Achei um exagero.

Só sei que estou doido pra chegar em Recife, esquecer um pouco as mazelas daquela Arena e sábado viajar pra São Lourenço da Mata.

A hora é de apoiar. Quem tiver seus azedumes que fique assistindo no pêi-per-viu.

Anderson Aquino, vai embora

Fui criado aprendendo ser uma pessoa do bem, a pedir perdão e perdoar, a ter compaixão e desejar a paz ao próximo. Fiz catecismo e até primeira comunhão. Até hoje, mesmo sem ter fé em religião nenhuma, trago um pouco desses aprendizados.

Mas meus senhores, tudo nesse mundo tem limite. E nesse ponto, nessa coisa de querer o bem ao outro, quando se fala em futebol, meu limite vai até a beira do gramado. Dali pra frente, eu só desejo o bem pra quem faz bem ao Santa Cruz.

Dito isto, sem firulas, vamos ao que interessa.

Se eu pudesse, deixaria Anderson Aquino enterrado numa duna em Ponta Negra, comendo areia e torrando os miolos. E se Marcelotti ou algum dirigente viesse com aquela conversa mole de dar uma chance, que isso são coisas do futebol, eu enterrava junto de atacantezinho de quarta divisão.

Para quem não lembra, no jogo contra o Mogi Mirim no Arruda, foi o último penalti que este rapaz bateu. Chutou mal e quase perde. A bola bateu no goleiro e entrou por pura sorte nossa.

A impressão que dá é que este sujeito, com a autorização do treinador, quer ter a todo custo a alcunha de artilheiro.

O futebol inoperante de Anderson Aquino hoje definitivamente foi coroado. Não fosse a penalidade máxima desperdiçada, estaríamos colado no quarto lugar.

No auge da minha raiva, fico pensando se já não estava na hora de se instituir pena de morte ou prisão perpetua para jogador de futebol.

Quem for de perdoar, me perdoe. Mas com esse tal de Anderson Aquino, eu sou pior do que Cara de Cachorro.

Vou ficando por aqui, para não me afogar numa garrafa de uisque. Espero que o feriadão esfrie meus nervos. Tomarei uns banhos de mar para ver se consigo limpar o ódio.

Espero que sim.

Pois, se no jogo contra o Paysandu, Anderson Aquino for escalado, eu rasgo meu ingresso.

E por favor, não me venham com essa história de “crédito”. Em futebol, quem vive de passado é ex-jogador.

 

 

 

 

O azedume de Cara de Cachorro

Vez por outra dou o azar de me sentar perto de Cara de Cachorro. Cabelo grisalho, quase careca, ontem ele estava com a gota-serena. Nem haviam soltado os fogos, e o bicho já reclamava do time.

A chatice e o azedume de Cara de Cachorro as vezes até servem como diversão, mas no fundo, muitos queriam era vê-lo amarrado, de olhos vendados e amordaçado do inicio até o final da partida.

Quando começou a tocar o Hino Nacional, quase estourando a veia da goela, ele mandou:

— Esses porras, nem o Hino sabem cantar!

— Caramba!  – eu pensei – Até disso o sujeito reclama.

No esquente, antes da bater o centro, Cara de Cachorro sentenciou:

— Hoje estamos lascados! O doido do Alemão está na zaga!

Começa a partida. CC xinga nosso volante e logo em seguida confunde Victor com Nininho. Alguém o corrigiu dizendo que não era Nininho e ele rebateu falando que era tudo a mesma porcaria.

O time mineiro pressiona e quase faz um gol. Cara de Cachorro grita:

— Não estou dizendo. É hoje.

A partida seguiu. O Santa Cruz começa a apertar. A torcida puxa o “vai pra cima deles, tricolor”. Um rapaz grita “bora Santa Cruz”. CC solta “vai na bola, jogador burro”.

Dos que jogaram ontem, ninguém escapou da língua ferina de Cara de Cachorro.

Thiago Cardoso – Sai na bola, goleiro pé de cimento. Vai aprender a pegar pênalti.

Victor – Isso é um doente. Imbecil.

Alemão – Esse doido vai terminar sendo expulso.

Néris – Beque de usina, joga direito. Isso é um jumento.

Marlon – Corre miserável. Seu morto!

Wellington César – Esse daí é um burro!

Moradei – O teu problema é que tu pensa que sabe jogar.

João Paulo – Esse filho da puta é um enganador.

Luizinho – Isso é um doido. Se deixar ele quer driblar até o gandula!

Bruno Moraes – Parece um boneco de Olinda! Deixa de ser atabacado!

Lelê – Só que ser o que não é. Isso é um chupa-sangue!

Daniel Costa – Jogador morto! Parece que tá cheio de lombriga!

Renatinho – Esse anão é muito idiota! Puto pequeno! Ele vai entrar. Agora é que lascou, mesmo!

Sacoman – Eu pensei que essa desgraça já tinha ido embora. Isso é um doente.

Posso estar enganado, mas as vezes tenho certeza que muita gente vai pro Arruda apenas para vomitar algum ódio que está preso no estômago. Não sei se é o caso de Cara de Cachorro, mas como diz meu amigo Chico de Catende, o maior filósofo-sexual que eu conheço, pode ser falta de amor, falta de fazer sexo.

Tudo bem que todo mundo foi ver o jogo contra o América Mineiro, invocado por causa do resultado da partida lá no Paraná. Mas tenho pra mim que tem torcedor que reclama até de uma boa trepada.