Corri nas tarefas do trabalho e consegui sair mais cedo, a tempo de passar em casa e vestir o manto sagrado.
Cansado, mas animado e confiante, me mandei para o Arruda.
Antes, porém, quando estava saindo de casa, tive o desprazer de escutar Seu Luís dizer que o jogo era difícil. Que o Criciúma quase empatava com o Bahia na Fonte Nova.
Fosse eu, Nelson Rodrigues, teria chamado ele de idiota da objetividade.
Sim…, precisamente às seis e quarenta e sete, me encontrei com o resto da tropa. De um tempo pra cá, o ritual da turma é antes da partida, comer espetinho, tomar litrinho e, se Samarone estiver, beber umas lapadas de aguardente. Tudo isto, ao som de um excelente brega, na radiola de ficha. De lá, cada um se manda para o seu setor preferido, aquele que dá sorte.
Todos tem seu ritual e no estádio, o seu território.
Naná e cia, obrigatoriamente, tomam uma no Poço da Panela, segue para o Arruda e antes de entrar para as sociais, eles bebem no bar de Abílio.
Nas sociais, Naná, Boy, Ninha, Oswaldo Titio e Diazepan ficam sempre entre o banco de reservas do Santa Cruz e a barra do canal. Sentam mais ou menos no quinto ou sexto degrau.
Quem encontrei no jogo, foi Mardônio. Na nossa pelada semanal, o apelido dele é John Lenon. Ele também gosta das sociais.
Descobri que Mardônio ver o primeiro tempo em um lado e o segundo em outro. Vai para onde o Santa está atacando e se posiciona rente a linha de escanteio. Jonh não é muito de beber antes do jogo.
Samarone já é famoso. As vezes já vem de casa tomando sua latinha. Quem quiser saber se ele está no estádio é só mirar os olhos para aquele escudo que fica na lateral do gramado, no lado da arquibancada, e ir levantando a vista para ver se encontra o barbudo encostado no parapeito. Por tradição, o poeta gosta de assistir ao jogo com uma e outras na cabeça.
Tem uma galera gente boa que demarcou um território na arquibancada, batizaram de Ventilão e só assistem ao jogo de lá. João Peruca, Jr Black, Marquito e outros bons são praticamente donos daquele território. Antes de irem para o Ventilão, os caras fazem a preliminar no Tonhão.
Na época da Sanfona Coral, tomávamos a primeira no Poço da Panela. Depois tinha o fezão, feijoada e aguardente, num apartamento na Jaqueira e, antes de entrar no estádio, bebíamos na lendária Churrascaria Colosso.
A Sanfona sempre ficava na arquibancada. Quando alguém perguntava onde podiam nos encontrar, o ponto de referência era o banco do time adversário e um isopor de cerveja no chão.
Enfim, cada um com seus caminhos, seus rituais e seus locais preferidos.
No meu caso, meus lugares preferidos estão diretamente relacionados à minha companhia. Vou pras cadeiras, arquibancada ou sociais. Vou para qualquer lugar. Mas detesto estar junto dos amargurados, azedos e dos idiotas da objetividade.