Só acaba quando termina

Vez por outra, Stanislau ainda sente saudades daquela morena. Nem tanto da sua conversa, mas das farras, da forma como trepava e principalmente do jeito carinhoso que aquela moça tratava ele quando estavam na cama.

Era um churrasco na Ilha de Itamaracá. Um aniversário. Convidado por sua prima, Stanislau nem quis saber da sua condição de penetra e foi pra festa.

Acordou, era quase nove horas. Comeu um resto de inhame, fez um pão com ovo e bebeu um todynho.Vestiu nosso manto sagrado, daqueles antigo com o nome de Mancuso estampado nas costas, tirou o carro da garagem, passou na casa da prima e, se mandaram para Itamaracá.

O sol torrava aquele sábado. Já no primeiro posto de gasolina, abasteceram o tanque e o isopor com latas de cervejas. Stanislau entregou o comando da direção à Gisela e abriu sua primeira latinha.

— Ai, não acredito! Tu já vai beber?

— Calor da porra desse. – ele respondeu e deu uma golada.

Abreu e Lima. Igarassu. Itapissuma. Engarrafamento nas três. Chegaram em Jaguaribe, era quase uma hora da tarde.

A casa era bem perto da praia e o som tava nas alturas. Um gordinho de bermudão colorido dançava perto da churrasqueira. A música, pra quem não estava com a cuca cheia de cachaça, era um pagode de péssima qualidade.

Stanislau foi apresentado a dona da festa e Gisela cuidou de enturmá-lo. Ele nem percebeu o detalhe da ornamentação da mesa do bolo de aniversário. O que ele percebeu mesmo, foi aquela morena de shortinho branco, biquíni estampado e diadema combinando com o short, que requebrava esbanjando um charme de fazer inveja a qualquer mulata de Sargentelli, Gretchen, Fátima Boa Viagem ou essas malhadinhas do Faustão.

Stanislau ficou hipnotizado. Não tirou o olhos de cima da menina. Ela fez que não notou.

Foi quando uma mente de bom gosto resolveu botar um forrozinho. Rolou uma seqüência de Assisão. A morena remexia gostoso numa rodinha de amigas. Stanislau balançava o esqueleto com a prima. O ritmo desacelera e Flávio José domina o som. O  tricolor não titubeou, largou a prima, tomou um pouco de cerveja e partiu pra cima. Ela já estava esperando e querendo. E os dois passaram a xotear agarradinhos.

Já emendavam na quarta ou quinta música e conversavam numa boa. Stanislau já tinha ficado duas vezes de pau duro e ela nem ligou. Corpinho suado, cada vez mais se colava nele.

— tu é corajoso. Vem pra festa de rubro-negro, com camisa do Santa…. – ela disse.

— festa de rubro-negro?!

— visse não, as bolas vermelhas e pretas lá na mesa?

Ele desviou o rumo da conversa. Na hora dos parabéns, já estava abraçado com Milena. Sem faltar com o respeito, deram alguns beijos e curtiram a festa até o final. Cinco dias depois, se encontraram, tomaram umas, deram outros beijos de boca e foram se conquistando até que transaram enlouquecidamente. Milena era do tipo que chupava com ética e não tinha dificuldades para gozar.

Já se passavam uns dois meses de muito amor, sexo, farras e bebedeiras. No dia da nossa estreia no estadual desse ano, pela primeira vez Stanislau vai pegar Milena na casa dela. Haviam combinado de irem juntos para praia e depois para o Arruda. Ela inventou uma desculpa e não foi para o jogo. Deixou Stanislau na mão.

Exatamente às 19h12, Milena tem a sínica ideia de mandar uma mensagem para ele. “Nem começou direito e vcs já levam essa enfiada”. E botou aquelas carinhas idiotas sorrindo.

Stanislau, sem nenhuma cerimônia, enviou um sonoro VTNC. E tratou de abandonar aquela buceta.

Essa semana, ele não se segurou e mandou um áudio com a música Carcará. Ao final, botou uma carinha bem idiota sorrindo.

ps.: E hoje, lá em Salgueiro, o jogo só acaba quando termina. Bora Santa Cruz!! TRIIIII!!

Sanfona Coral rumo a Salgueiro!

Srs e Sras, a Sanfona voltou.  Pois é, ontem foi aniversário de Chiló, e hoje, nesse domingo dia 26 de abril de 2015, a gente comemorou.

– Gerrá, rola um forrozinho! Sanfona Coral, chopp, jogo, caldinho e uns amigos bons!

– Chió, meu velho! Tu sabe que eu não abro nem pra um trem, né?! Vamo simbora!

Aí, a festa começou a rolar. Chiló e Taia organizaram a parada. Datashow, cabo hdmi, caixinha de som, essas coisas. Chopp, caldinho, feijoada, aguardente e u forrozinho de primeira.

Uma tricolozada de primeira qualidadade. Sebba, Geó, Pedoca e família, Taia e seu pequeno Rafa, Renato Coloral, etc e tal.

Aí, a gente soube que a porra da TV Globo não iria transmitir o jogo.

– Relaxa, Chiló. Eu quero que a Globo, tome no cu. – eu disse, já cheio de Mata Verde na cabeça.

Ao final, a gente cantou:

“Ô Salgueiro, Ô Salgueiro, me arresponda por favor, tu tirasse a leoa, mas quem manda é o TRICOLOR!”

Simbora pra Salgueiro! Quem vai?!

 

Feliz da vida

Cumprimentei as meninas da recepção com um bom dia. Nem sei o time que elas torcem. Peguei minha ficha e, pra esquentar, fui fazer dez minutinhos de exercício aeróbico na bicicleta ergométrica.

Um pouco à frente, uma gordona se esforçava nuns abdominais. Na esteira, um baixinho pingava de suor. Na bicicleta ao lado, um senhor de barba branca também pedalava e conversa umas besteiras sobre viagem com sua personal.

A música tava até boa. Rolava “Samba Makossa” de Chico Science e Nação Zumbi. Samba Maioral / Onde é que você se meteu / Antes de chegar na roda meu irmão / .

Fiquei por ali. Calado. Pedalando sem sair do lugar e pensando em coisas miúdas.

Foi quando um dos treinadores se dirigiu a mim e disse: “tá feliz, né?!”

O rapaz nem mesmo deu bom dia, nem mesmo perguntou se estava tudo bem. Foi logo perguntando de forma afirmativa se eu estava feliz.

Não deu tempo de responder absolutamente nada.

— foi pior pra vocês. Foi pior. – ele disse tentando sorrir.

Eu quis dizer algo, fazer um comentário, iniciar uma conversa, mas ele não deu espaço. Ainda consegui falar rapidamente, “só assisti ao primeiro tempo”.

— como eu tava dizendo, foi muito pior pra vocês. Agora o foco é o pernambucano. – ele emendou.

Puxei um pouco de ar, mas antes que eu soltasse alguma palavra, não deu tempo.

— E vamos chegar descansados. Veja o que eu estou lhe dizendo.

Uma garota veio pedir informações sobre sua série de exercícios. Aproveitei a deixa e me saí.

A gordona tentava uns alongamentos da parte anterior da coxa. Barba branca, acompanhado se sua personal, estava na voadora.

O baixinho agora mandava ver nos exercícios para os braços. No esforço para levantar sua maromba, o bicho fazia uma careta feia arretada. “O baixinho tá se fodendo”, eu pensei.

Peguei os pesos, amarrei nas canelas e comecei as flexões do joelho.

Segundo o ortopedista, se eu quiser continuar jogando minha peladinha semanal, tenho que fortalecer a musculatura dos joelhos e do tendão de Aquiles do calcanhar esquerdo.

Lá vem ele. O rapaz parece que estava mesmo disposto a conversar comigo e atrapalhar meu tempo.

— sim…, como eu tava dizendo mesmo. Agora nosso foco é o estadual e teremos tempo para treinar. Pior mesmo foi pra vocês. – ele sentenciou.

E saiu dizendo umas coisas que entraram no meu ouvido e rapidamente saíram pelo outro.

Organizei a ideia e preparei o bote. Mas ele foi mais ligeiro. Olhou para um dos treinadores e mandou em alto e bom som.

— Óa, tá é feliz, óa. – ele disse apontando pra mim.

— E tu bastante preocupado, né?!

Emendei um tchau e saí de perto. Fui beber água.

Correndo na esteira, a gordona finalizava sua série. Não vi nem o baixinho, nem o senhor grisalho.

Bebi minha água e saí feliz da vida.

Deixem o menino jogar

Menino pobre, criado nas vias marginais da cidade, nasceu com o dom de saber jogar bola e o destino quis que ele fosse treinar futebol.

Para nossa sorte, veio para o Santa Cruz.

Por um descuido, vítima da imaturidade e de todo um contexto social, o jovem atleta, empolgado por ter sido promovido para os profissionais, festejou e exagerou na dose. Era uma sexta-feira que antecedia a rodada do final de semana. Escalado pra jogar no domingo, foi pego no antidoping e a casa caiu para Raniel.

Sobre Raniel, transcrevo aqui, parte um comentário postado por Eduardo Ramos, no texto anterior.

Raniel não é um algoz. Raniel é vítima do meio onde vive, ou vivia, onde as drogas são vendidas e consumidas sem que haja ações efetivas e eficazes dos poderes públicos para coibir o tráfico e, por conseguinte, o consumo.

Daqui a pouco, lá no Rio de Janeiro, Raniel vai ser julgado de forma definitiva.

Pelo que vi, depois do que for decidido, não caberá mais nenhum tipo de recurso por parte do Santa Cruz.

Espero (e torço) que não punam o garoto com o afastamento dele dos gramados. Isto seria fechar todas as possibilidades de recuperação social. Seria mandá-lo de volta para o mundo da marginalidade.

Aguardemos que o STJD julgue o caso usando também o recurso da sensibilidade e responsabilidade social. Que aja sem hipocrisia e permitam que Raniel faça o que sabe e gosta: jogar bola.

O eterno despreparo da polícia

Eu tinha uns seis anos, quando meu pai me levou pela primeira vez ao Arruda. Depois daquele dia, era um dos programas de lazer que mais fazíamos juntos. Normalmente, ficávamos nas sociais e, vez por outra, minha mãe nos acompanhava.

Hoje, o coroa prefere ouvir pelo rádio ou assistir pela televisão e eu continuo indo ao estádio.

Daquele tempo para cá, muita coisa ficou diferente. O Arruda aumentou de tamanho, acabaram com o torneio inicio, não vendem mais rolete de cana e a cerveja está proibida.

O que não mudou foi a polícia.

Certa vez, meu pai e os amigos dele resolveram ir para as cadeiras. Era jogo de grande público. Mais de 45.000 pagantes. Olhando da corcunda do meu velho, aquele mar de gente enchia meus olhos de beleza. Fomos para as cadeiras. Com o ingresso na mão, nos deparamos com um tumulto enorme na entrada. Não havia torcida organizada, mesmo assim a polícia meteu o cacete pra cima. Um amigo do meu pai resolveu questionar e levou uns gritos. Foi chamado de “Seu Merda” e outros adjetivos.

Teve outra ocasião, eu já adulto, em que fomos ver Santa Cruz x Ypiranga. Meus primos haviam telefonado avisando que estavam vindo da Capital da Sulanca, mas como o jogo era a noite, iriam direto pro Arruda. Fui com meu pai e ficamos na arquibancada. Era um jogo de pouca torcida, daqueles que você assiste sentado no cimento.

No intervalo, saímos caminhando tranquilamente pela arquibancada e fomos em direção ao local onde estava o grupo de torcedores do time de Santa Cruz do Capibaribe. Fomos impedidos pela polícia de atravessar para o outro lado. Tentei argumentar que apenas iria levar meu pai para cumprimentar alguns parentes. Meus primos e alguns conhecidos acenavam de lá. Não houve acordo. Meu pai perguntou a um dos fardados: “você acha mesmo que eu nessa idade vou brigar com alguém?”

“Fique calado. Eu já disse que não pode. Vai, sai daqui, sai!”, o policial retrucou e foi pegando no cassetete em tom de ameaça.

Já passei sufoco na ilha, nos aflitos e em Caruaru.

No Agreste, foi num jogo contra o Central. Alugamos uma Van e saímos daqui por volta das 18h. Tínhamos duas horas e meia para chegar lá, mas o senhor que foi dirigindo não passava de oitenta quilômetros nem a pau. Chegamos em cima da hora. Perguntamos a um policial qual era a entrada da torcida do Santa, ele educadamente apontou indicando o portão de acesso.

Corremos e entramos no Lacerdão.

Para nossa surpresa havíamos emburacado no meio da torcida adversária. Até aguardente jogaram na gente. Por pouco o pau não cantou. A polícia chegou no empurrando. Por mais que tentássemos explicar o ocorrido, era em vão. Ele pareciam que tinham sido treinados para não escutar. Depois de muita discussão, bate-boca e ameaça de prisão, nos levaram para o lado dos tricolores.

Na ilha e nos aflitos, por duas únicas vezes inventei de ir para as cadeiras e passei por situações complicadas.

No campo do Sport, na entrada das cadeiras, uma multidão tentava entrar. Já estava quase na hora do jogo começar, mas haviam fechado os portões.

Começou a confusão.

Todos mostravam seus ingressos, mas a polícia já chegou botando os cavalos por cima de todos. Vi um senhor levar uma queda e seu filho, um pirralho de uns dez anos, cair desesperadamente no choro. Depois de muito empurra-empurra, gente pisoteada, conseguimos entrar. Lá dentro estava explicado o tumulto. Haviam vendido mais ingressos do que deviam. Meu amigo, Alexandre, assistiu ao jogo sentado nos degraus.

Já nos aflitos, na primeira partida da decisão de 2002, fomos para as cadeiras e antes do término da partida, resolvemos ir embora. Chovia bastante naquele dia.

Era eu, minha esposa e Alexandre.

Sob o argumento de que quem devia sair primeiro era a torcida do Santa Cruz, a polícia nos impediu de deixar o estádio..

“Senhor, a gente torce pelo Santa Cruz”, eu disse e mostrei minha carteira de sócio. “Mas aqui é o local da torcida do Náutico”, ainda calmo, respondeu o policial.

“A gente tá vindo das cadeiras. Lá também é da torcida do Santa Cruz”, argumentou Alessandra. Ela ainda tentou contemporizar, mostrando que fazia parte do TJD.

“Não importa, senhora! Por aqui vocês só saem depois. É a ordem”, o policial respondeu e já foi botando o cassetete na altura dos nossos peitos. Éramos apensas três. Eles eram uns dez.

Nossa sorte foi um amigo jornalista que ia passando e nos levou junto com sua equipe de trabalho.

Eu poderia aqui traçar várias e várias linhas com situações parecidas como estas. Conheço infinitos casos de amigos que também já foram vítimas desse eterno despreparo da polícia.

Levante a mão, quem não já viveu esse tipo de experiência.

Apoiado, Presidente!

Nós que fazemos o Blog do Santinha, apoiamos na íntegra a nota oficial emitida pelo Santa Cruz.

O Santa Cruz Futebol Clube vem tornar público seu repúdio veemente à violência sofrida pela sua torcida no acesso ao Estádio da Ilha do Retiro, no clássico de domingo, 5 de abril de 2015. A violência que atingiu os torcedores do Santa Cruz não foi casual. É consequência da recorrente falta de estrutura oferecida pelo clube mandante para receber a torcida visitante. 
Na ocasião, foi disponibilizado apenas um portão com poucas catracas para o acesso de quase 6 mil torcedores, causando tumulto e retardando a entrada ao estádio, como vem se tornando praxe nos clássicos realizados entre os dois clubes na Ilha do Retiro. Esse descaso gerou uma aglomeração desnecessária diante do portão mencionado, onde homens, mulheres, jovens e crianças ficaram expostos a riscos como empurra-empurra e confrontos com grupos de torcedores rivais, conforme pode ser comprovado por uma série de fotos que circulam desde ontem nas redes sociais. 
A garantia do acesso tranquilo, ordeiro e seguro para a torcida visitante é um dever do clube mandante. A negligência – deliberada ou não – não pode ficar impune. O Santa Cruz Futebol Clube cobra da Federação Pernambucana de Futebol que os fatos sejam devidamente apurados e, confirmada a responsabilidade, que o clube mandante seja punido nos termos do Estatuto do Torcedor e do Regulamento do Campeonato Pernambucano. 
Também causaram perplexidade as imagens veiculadas pelas emissoras de TV e redes sociais da truculência de alguns policiais militares que deveriam garantir a segurança de homens, mulheres, jovens e crianças, mas, ao contrário, agrediram de forma covarde aqueles que eram as vítimas da incompetência e negligência alheias. Não foi a primeira vez que torcedores e imprensa relataram agressões gratuitas praticadas por alguns policiais militares completamente despreparados para lidar com os torcedores que frequentam os estádios pernambucanos. 
Não queremos acreditar que a violência praticada por alguns agentes do Estado esteja relacionada ao preconceito de setores da sociedade contra as camadas de mais baixa renda da população, exatamente o estrato social que caracteriza a torcida coral. Por isso, o Santa Cruz Futebol Clube espera que o Governo do Estado de Pernambuco identifique e puna exemplarmente os responsáveis. E que, de uma vez por todas, a postura da Polícia Militar passe a ser de respeito aos torcedores e suas famílias, independentemente das cores do seu time de coração. 

Esse gol tinha que ser dele

Aquela jogada ainda não saiu da minha cabeça. Vez por outra, ela bate na porta da minha cachola e aí, eu fico me lembrando daquela pintura lance.

Ele acabara de entrar no jogo. Já estamos no segundo tempo. A partida está empatada e a torcida impaciente.

O garoto pega a bola na lateral do nosso meio-campo. Ginga o corpo franzino pra lá, faz que vai driblar, engana os marcadores, surpreende a todos os presentes e toca para o companheiro que parte pela direita e puxa o contra ataque.

Pelo meio, o menino abusado deu o passe e partiu na carreira. Preto, de pernas finas, com passos firmes, ele conhece como ninguém cada folha daquela grama. O rapaz voa pelo gramado e acompanha a jogada.

Dono de uma personalidade de quem já nasceu craque, ele não tem medo e pede a bola.

“Eu, eu, eu”. “Toca, toca, toca”.

Recebe o passe e, com a coragem de quem tem intimidade com a pelota, numa fração de segundos, ele olha a barra, vê onde o  arqueiro está colocado, mira e bate de primeira.

O goleiro nem se mexeu. Ficou estático. Parado. Apenas girou a cabeça e assistiu à bola entrar caprichosamente no fundo da rede.

De onde eu estava, lá longe, no alto, do outro lado e em posição diagonal, não consegui acompanhar a trajetória da bola. Até achei que tinha sido um chutezinho qualquer. Uma cafofa. Só me dei conta do fato real, quando vi o barbante sendo estufado e o grito de gol ecoando pelo nosso estádio.

Golaço. Gol do caralho. É gol, porra!

Pulei da cadeira. De punhos fechados e coração batendo forte, vibrei com há tempo eu não fazia. Fiquei em êxtase.

Ao meu lado, uma moça se abraçou com um amigo. Um pirralho, na faixa de uns treze pra catorze anos, quase leva uma queda nas escadas.

A vibração da torcida foi algo diferente. Foi um ato coletivo de carinho. Não apenas pelo gol, nem somente pela grande jogada, mas pelo ator principal.

“Tinha que ser dele. Tinha que ser dele”, gritava um senhor.

Sim! Claro! Concordei plenamente.

Aquele gol era para ser dele. Não podia ser de mais ninguém.

“Esse menino não merece chibata e castigo. Ele merece é jogar, jogar e jogar”, eu falei.

Ontem, antes de dormir, eu revi o lance.

Cada vez que vejo, parece que o gol fica mais bonito.

Hoje pela manhã, um colega chegou e perguntou se eu havia visto o gol que um tal de Soares fez no jogo Barcelona e Real Madrid. Descreveu toda a jogada e ao final falou que foi um golaço.

“Vi não. Nem assisti ao jogo. Duvido que tenha sido mais bonito do que o gol que Raniel fez sábado”, eu disse.

100 anos de amor e paixão pelo Santa Cruz

Eu nunca imaginei que um dia, alguém iria telefonar para mim, me convidando para um aniversário de cem anos.

Meu celular toca.

“Oi Gerrá. Sou Catarina, tudo bom? Você não me conhece. Peguei teu número com fulano de tal (desculpem mas não prestei atenção ao nome de quem deu meu número a Catarina). Sabe o que é? É que meu avô vai completar 100 anos. E vamos fazer uma festa para ele, lá em Bezerros. Ele é torcedor do Santa Cruz. Será que vocês poderiam levar a Minha Cobra para festa do meu avô?”

Daí pra frente foram trocas de e-mails, telefonemas, mensagens, etc. Aos poucos a história foi se organizando. A turma de Catarina mandou buscar a Minha Cobra e fez questão de contratar a orquestra oficial da Troça.

Domingo passado, fomos participar dos cem anos de Seu José de Félix.

Uma festa linda. Daquelas que contagia o mais morgado dos seres humanos. Festa que fica registrada no caderno da memória.

A princípio, tentamos organizar uma VAN para nos levar. Samarone foi o primeiro a botar o nome na lista. Inácio se animou, mas logo deu pra trás. Boy, Ninha e Naná confirmaram presença. Na lista já tinha dez nomes. Mas faltando uns três dias para o evento, o povo foi farrapando. Dos dez que deram o nome, oito já haviam desistido. Pra não correr risco, resolvi ir de carro. Chamei um conhecido que não bebe, para dirigir e nos mandamos para Bezerros. Eu, Alessandra, Esequias e Maria.

Chegamos antes da missa que foi celebrada em ação de graças. A capela da casa de recepção tava lotada e ficamos embaixo de um toldo colocado ao lado da capela. Nossa curiosidade era ver o aniversariante de perto, afinal de contas não é nada comum se encontrar por aí, alguém com um século de vida.

Seu Zé de Félix chegou. Esbanjando alegria e com um sorriso no rosto, foi recepcionado pela banda marcial Cônego Alexandre.

Um senhor que estava ao meu lado disse baixinho, “ele foi trombonista dessa banda”.

Ao meu lado, Esequias comentou, “Gerrá, o véi tá inteiro todo”.

“Meu irmão, tem nego que não chega nem nos oitenta nessa forma aí”, eu disse.

A paixão e o amor pelo Santa Cruz forma herdados do pai. Seu Félix, pai de Seu José, chegou a jogar no Santa Cruz. Era do tipo que torcia pelo Santa até assistindo videotaipe de jogo. “Mesmo sabendo que o Santa tinha perdido, meu bisavô assistia os videotaipes e ficava torcendo para o Santa Cruz empatar”, me disse Catarina.

Seu Zé de Félix mora em Vitória de Santo Antão. Escuta tudo que é resenha e é frequentador assíduo do Arruda. Sócio em dia, este ano ele foi até para os amistosos. Seu clã é formado por nove filhos, 20 netos e 10 bisnetos.

Certa vez, há uns três anos atrás, ou seja, aos noventa e sete anos de idade, Seu Zé de Félix saiu de Vitória com uns amigos para um jogo do Arruda. Chegaram em cima da hora, no corre-corre, compraram ingressos do Todos com a nota, se mandaram para o anel superior e deram de cara com a Inferno. A torcida foi ao delírio, “uh, terror! O vovô é tricolor!” e Seu Zé fez a festa da galera. Assistiu à partida e ao final foi escoltado por alguns integrantes da organizada até onde o carro estava estacionado.

Ontem, perguntei a Catarina:  “E aí, vocês vão domingo?”

“É claro. Vovô, papai, meus primos, todo mundo!”

Não sei se ela me incluiu nesse todo mundo, mas domingo eu também vou.

Nossa casa é o Arruda – capítulo final

Encerramos aqui, nossa série de textos sobre a desgraça que é levar o Santa Cruz para jogar lá em São Lourenço da Mata, na Itaipava Arena Pernambuco. A famosa Arena do Defunto.

Esta semana, com todos os tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda que encontrei, perguntei sobre essa coisa de fazer jogos na Arena. Sem exceção, os tantos com quem falei não gostam de ir para Arena Pernambuco. A reclamação é geral e os motivos são vários.

No embalo do assunto, pegamos por e-mail a opinião de outros frequentadores assíduos do nosso Arruda.

O descontentamento de todos é claro.

O bom seria era que nosso Conselho Deliberativo e o Executivo tomassem uma atitude com relação aos cinco jogos que ainda teremos que fazer lá na Arena do Defunto, para não acontecer o que houve no ano passado, quando fizemos jogos importantíssimos longe da nossa casa. E que não inventem de querer levar mais jogos para aquele fim de mundo.

Ontem, recebi um texto que foi publicado no www.central3.com.br, cujo título é “A libertadores será goumertizada?”. Gabriel Brito, o autor, expõe seu ponto de vista sobre esse modelo de comportamento padronizado que são essas tais Arenas que chegaram por aqui e vão se alastrando pela América do Sul.

O cara termina o texto dizendo o seguinte:

“Depois, ao sair do estádio comportado e cheiroso, esse mesmo torcedor não encontrará a malha de transporte inglesa, o sistema de saúde alemão, a segurança pública holandesa ou os direitos sociais franceses. E, consumado o golpe, se questionará aonde foi que deixamos a nossa alma.”

Tenho pra mim que Gabriel já deve ter vindo assistir a algum jogo na Arena daqui.

Vou ficando por aqui, torcendo para que domingo nosso time vença o jogo lá no sertão e junte mais uma vitória.

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Gustavo Souto  – Auxiliar de Depto. Pessoal

Moro no bairro do Curado e estou mais perto da Arena que a maioria dos tricolores, daí fica mais fácil ir para os jogos. Fui para uns 6 jogos (America,Vasco, Vila Nova, Luverdense, Porto e Boa Esporte). Em um deles,  fui de transporte publico, pra mais nunca. Todas as outras vezes, procurei ir de carro ou em algum transporte alugado.
Não vejo reais motivos para o Santa Cruz jogar na Arena, um estádio sem necessidade nenhuma de ter sido construído. Para quem mora perto como eu, é bom(menos ruim), mas fico imaginando quem mora longe, que depende do transporte publico para chegar em casa. Um estadio mal localizado que se chama Arena Pernambuco, que nas emissoras de televisão falam que fica localizado em Recife, mas todos nos sabemos que se encontra em São Lourenço da Mata. Um bom exemplo dessa situação foi o primeiro clássico desse ano contra o Nautico(mandante) que teve como publico menos de 5.000 pessoas. Se o jogo fosse nos aflitos daria no minimo 15.000 pelo motivo da localização e transporte. A pessoa vai para arena gasta no minimo R$100,00(ingresso, estacionamento, comida ruim, guarana ruim e cerveja sem álcool)

O Arruda é nossa casa é onde me sinto bem e não troco ele por nenhum estadio. O dinheiro que foi gasto para construção do elefante branco mas conhecido como Arena Pernambuco deveria ter sido utilizado para reforma do nosso querido Arruda, da casa da barby e do mangue. 

Danilo Cardoso – Técnico em Informática

Já fui a 4 jogos na Arena e sou totalmente contra o Santa Cruz ir jogar ali. Nós temos um Estadio, não precisamos mandar jogos na Arena. Sem contar na mobilidade e a distancia pra chegar ali.

Infelizmente, o torcedor nunca é respeitado nessas decisões. Ninguém sabe quanto o clube realmente ganhou, não há uma transparência. Como eu já falei, o Arruda é nossa casa e nunca poderá ser deixado em segundo plano.

Ayrton Senna – Técnico em Refrigeração e estudante de engenharia mecânica

Para o santa cruz, mais do que Sport e Náutico, é um verdadeiro equívoco jogar na Arena!

É nítido que pra quem vai pra um jogo do Santa no Arruda, ver que a zona norte tem o Arruda como uma segunda casa. No Arruda a população de baixa renda tem a geral, e na arena? Alguém pode dizer: “mas tem todos com a nota” Mas é longe, a comida é cara, a bebida é cara, e se você precisar sair no meio do jogo pra casa numa emergência?? e aí? o que fazer?

Fui a 7 jogos na arena, mas não porque era na Arena, fui porque acompanho o time mesmo fora de casa e é assim que me sinto quando jogo na Arena. Pra mim e pra muita gente ali é como se estivesse jogando fora de casa. Primeiro que as regras que são impostas aos torcedores que se submetem a ir para lá são totalmente contra o verdadeiro sentido do futebol. A torcida não pode ficar em pé, o cara não pode tirar a camisa pra rodar e cantar jogando com o seu time, eu não posso levar a minha bandeira pra colocar em alguns espaços do parapeito da arquibancada.Querem que os torcedores apenas assistam ao jogo! Mas os torcedores não querem apenas assistir ao jogo, eles querem participar do jogo, querem jogar com o seu time. Essa é a essência que faz o torcedor por mais novo que seja ir no Arruda em seu primeiro jogo e ver 78 mil pessoas na arquibancada num clássico contra o seu maior rival, e grande parte dessa multidão fazer a diferença, jogar com o time, cantar, vibrar, balançar as suas bandeiras com a convicção de que estão defendendo a sua pátria. Isso faz a diferença! Isso sim é uma experiência marcante! E não ir a um lugar que não pode ter lotação máxima “por questões de segurança” num clássico. Ir num lugar que parece mais uma loja de um shopping onde você é tratado como apenas mais um consumidor! 

É inadmissível jogar como mandante na arena num clássico, quando o nosso estadio está apto a receber esse jogo e a torcida pronta a usar a sua própria casa. Mais inadmissível ainda é firmar um acordo dessa magnitude sem consultar o povo (torcida/sócios) que ajudou a construir a sua própria casa trazendo até materiais de construção. Desrespeito com a torcida! Nenhuma consulta foi realizada para saber a intenção dos torcedores em usar a arena.

Lucas Alves – Estudante

Estive em todos o jogos que fizemos lá. Como mandante e como visitante. Mas acho um absurdo ir jogar na Arena! Temos nossa casa, temos nossas tradições e temos nossas gloriosas histórias marcadas no Mundão do Arruda.
Eu cresci no Arruda, me apaixonei pelo Santa Cruz no Arruda e é lá que eu quero ficar. É ali que fica a minha segunda casa e eu não quero conforto de primeiro mundo, eu quero emoção e vibração de terceiro mundo!

Infelizmente teremos que cumprir o acordo que foi feito e um contrato que foi firmado. Nos resta jogar esses 5 jogos e lutar para que novos contratos não voltem a ser firmados.

Junior Aguiar – Jornalista

Já fui há vários jogos na Arena, incluindo os jogos da copa das Confederações e Copa do Mundo.

Definitivamente, quando o Santa joga na Arena é verdadeira merda.. Tudo é complicado. Transportes e tal. Além do mais, acredito que o povão mesmo da massa, aquele que realmente o Santa, não vai do jeito que vai no Arruda. 

Essa coisa de futebol moderno que transforma o torcedor em um mero expectador, é tudo que há de ruim e de infeliz!

Edgar Assis – Contador

O Santa Cruz tem estádio. Ir para a Arena só mostra o quanto somos dependentes do TCN. Acho uma merda pra torcida e pra quem gosta do futebol de verdade. Eu mesmo não vou pra nenhum dos cinco jogos restantes.

 

Nosso lugar é o Arruda

Pela terceira vez na minha vida fui assistir a um jogo na Itaipava Arena Pernambuco. A tal Arena do Defunto. O Dudumbo. A Arena do morto.

Havia ido numa partida entre Santa Cruz e Luverdense. Depois, fui ver uma pelada da Copa do Mundo, Grécia contra Costa Rica.

Empolgado com a vitória no meio da semana, resolvi ir mais uma vez para aquele estádio.

Me juntei a outros e alugamos a Van de Teresa.

Por incrível que pareça, levamos somente quarenta e cinco minutos para chegar naquele fim de mundo. É que Teresa é desenrolada e fez um caminho pra lá de esquisito e mal sinalizado, mas que é bem deserto, facilitando assim, nossa mobilidade.

Então, quando chegamos, ainda faltavam  uns quinze minutos para o começo da partida. Tempo suficiente para se tomar aquela cerveja, comer algum brebote e tirar uma onda. Mas ficamos sem ter o que fazer. No entorno daquele estádio não há uma barraca sequer para se comprar bebida descente e um bom tira-gosto.

Não tem espetinhos, nem caldinhos, muito menos amendoim. Não tem o delicioso cheiro da charque assada. Nem queijo coalho assado na brasa.

Tibério sentiu falta do bar de Abílio. Eu tive saudades das barracas da beira do canal. Alguém falou do bar da moela.

O que se ver ao redor daquela Arena, é um vazio de cor acinzentada. Uma grande área de concreto que esfria a emoção de quem realmente gosta de futebol.

Pra quem é frequentador assíduo do Arruda, é difícil se acostumar com esse modelo de estádio que querem nos enfiar goela abaixo.

Nele, falta o essencial para nós tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda: calor humano e o cheiro de povo.

Com quem eu falo, todos são unânimes em dizer que preferem o Arruda.

Não sei o que pensa o presidente Alírio sobre isso.

Muito menos os eternos cartolas do Santa. Rodolfo Aguiar, Antônio Luiz Neto, João Caixero, entre outros.

Só sei que o Santa Cruz já tem acertado de fazer seis jogos na Arena Pernambuco. Fizemos dois. Não faço a menor ideia de quais são as outras partidas, nem quanto nosso clube está ganhando com isso.

O que já deu para perceber é que a Federação, o estado e as forças ocultas estão fazendo de tudo para o Santa Cruz ir jogar lá. Afinal, aos quatro cantos se fala que a Arena está dando prejuízo danado e Pernambuco está pagando um preço alto pela sacanagem que fez.

Tenho a opinião que, em relação a este assunto, toda nossa torcida deve ser escutada. Não apenas o Conselho Deliberativo e os sócios.

E tenho a certeza que aquele estádio de São Lourenço da Mata, não é um local apropriado para nós tricolores de corpo e alma.

Ali não é espaço para o povão.