Alguém traga de volta minha esperança

Procurei meu amigo Zeca na tela da TV. Toda vez que davam um close nos nossos heróis que foram ao jogo, eu ficava tentando achar o filósofo. Não consegui falar com ele. Mas pelo que vi da pelada, Zeca deve estar enchendo a cara de álcool, fumando e escutando heavy metal nas alturas.

Uns acham que a questão são os salários atrasados. Outros dizem que a culpa é de Jomar e Tininho. Tem gente que quer ver o diabo, mas não quer encontrar com Alírio. Com todos os amigos que converso, mando a pergunta: e aí, tu acredita que com esse time que está aí a gente se livra da C? Alguns fogem dela, como um americano foge do furacão. Quase todos respondem: acredito não.

Hoje, nem precisava ter jogado um grande futebol. Bastava uma vitória. Uma simples vitória de 1 a 0, daquelas que engana torcedor, seria o suficiente para renovar nossas esperanças. Se tivesse vencido hoje, a massa coral voltaria com gosto de gás e jogaria junto. Teríamos a semana para motivar o povão. Mas do jeito que está aí, só o mais fervoroso otimista, daqueles fundamentalista, tem fé que este nosso elenco pode fazer mais do que vem fazendo.

Tá difícil, meus nobres! Quando penso numa outra volta para sericê, bate um desespero, uma morgação geral.

Segunda-feira quero conversar com Ivonaldo, o cara da xerox, pra ver se ele injeta ânimo nas minhas veias. Até quarta-feira, ele estava bem otimista.

E vou esperar Zeca dar o ar da graça por aqui e mandar suas impressões. Afinal, ele estava em Natal.

Hoje, não escrevo mais. Vai só esse textinho, mesmo. Não vou perder tempo falando da ruindade de cada jogador, dos erros da diretoria, da falta de dinheiro, das eternas mazelas do nosso querido Clube.

Minha vontade mesmo é mandar todo mundo pra puta-que-pariu!

Um por todos

Texto enviado por LUCAS PINTO*

A idolatria do povo coral por Catatau está consolidada e eternizada. Ter sua face estampada numa bandeira (ou “trapo”, como chamam os barra-bravas), para em todo jogo transmitir alguma mensagem da torcida, não é para qualquer um. E esse guerreiro acaba de chegar lá.

É um espetáculo à parte, sim. A carreirinha, o levante da torcida, o repórter na rádio “Catatau vai chamar alguém”… mas vai além. Ele não apenas está indo buscar um jogador que precisa entrar na cancha, com concentração total. Não apenas está acionando mais um atleta que vai à campo, para lutar junto aos companheiros.
Ele, naquele momento, está levando a mensagem de todos torcedores que estejam na arquibancada. De que é necessário garra, vontade, empenho, concentração, de que está ali em campo uma camisa diferenciada. Uma camisa que tem ideologia, que carrega o peso de uma cultura de luta.

E faz com maestria! Catatau simboliza a esperança da torcida. Esperança por uma vitória, ou pela manutenção desta, por dias melhores para eles, para nós, para o glorioso Santa Cruz.
É muito mais do que uma carreirinha!
São 23 anos de clube. São 23 campanhas, 23 temporadas. Muitas alegrias, muitas tristezas, e uma dificuldade insistente. O cara está no clube desde 1994. Passou por tudo que houve de mais louco nesse período, sempre com muita irreverência, compromisso e, acima de tudo, respeito. É muita história escrita com essas cores. Muito suor pelo Mais Querido.

Existe uma máxima na torcida de que Catatau tem a cara do Santa Cruz. E tem! Negro, coral, que começou de baixo, que ralou muito por suas evoluções e conquistas. Persistente. E agora, eterno. Mais Santa Cruz que isso, impossível.

O sonho de confeccionar esta homenagem é antigo entre os membros da Portão 10. Mas não havia momento melhor do que este para realização. Não apenas pela situação do campeonato, mas principalmente pelo estado de extrema dificuldade em que se encontram nossos funcionários. São meses e mais meses sem receber.
Mas, que assim como nosso “mito”, estão lá. Firmes! Fazendo a segurança, a limpeza, fazendo o clube, sem abandonar o barco. Esse pessoal pode e deve se sentir homenageado juntamente ao nosso massagista. Independente do período e da função, também é por todos vocês.

Catatau, que por sua vez, além de massagista, é o legítimo faz-tudo do departamento de futebol do Tricolor. Carrega o carrinho dos materiais, todo treino e todo jogo. Enche as garrafas de água e prepara cada assento do Expresso Coral. Sempre com alegria!
O cara que o vê trabalhando assim (e os demais funcionários também) todo dia e ainda entra em campo para fazer corpo mole, é um belo de um “miseravi”.
Dos jogadores, não cobro mais amor à camisa. Mas respeito, sim. E se ainda ousam não respeitar o Santa Cruz, que no mínimo respeitem o sacrifício diário dos companheiros de trabalho, de quem está aqui há anos pelejando, e segue na batalha, simplesmente por entender o que é esse clube!

Ao receber a homenagem, na tarde do dia 4 de Setembro de 2017, ele se emocionou. Certamente, chegou em casa e viu que nada foi em vão, e que a estrada ainda é longa, com grandes pelejas, mas que as forças estão renovadas!
E não se emocionou sozinho. A multidão coral foi tomada pelo impacto desse ato, desse marco. As raízes corais foram fortalecidas, a alcunha de Clube do Povo foi honrada. A ideologia foi praticada, e como resultado, veio uma onda de orgulho pelo que somos e sempre seremos. Um povo sofrido, mas guerreiro, batalhador demais! Persistente!
E honrado, como Catatau.

 

 

 

 

Mirem-se no exemplo de 1999

Pronto, entramos na zona. Estamos mais perto do que nunca da Sericê. Os mais otimistas, na sua mais pura fé e paixão, ou apenas por puro engano,  achavam que esta possibilidade era apenas delírio dos pessimistas.

Com essa bola que estamos jogando, muitos já falavam e previam: rumo a terceira. E estão certos.

Há quem diga que o motivo é falta de salário. Pode ser. Ninguém gosta de trabalhar sem saber se vai receber o salário. Concordo que todo e qualquer empregado deve receber em dia. Entretanto, falta de dinheiro, salários atrasados e dividas sempre fizeram parte do cotidiano do Santa Cruz Futebol Clube. Alguém me mostre algum ano que não falaram de falta de dinheiro no nosso clube.

O que falta mesmo é alma, é raça, é esses caras jogarem bola com o coração no bico da chuteira. E isso é o que vai nos levando para mais um rebaixamento.

Esse grupo de jogadores não nos representa. Nós, tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda, não nos encantamos com craques e espetáculos, nós vibramos é com quem transpira garra. Nós, o povão que frequenta a arquibancada do Arruda, nos orgulhamos quando vemos o jogador suar sangue, comer grama, transpirar vontade. Nós, a massa coral, trazemos na memória as grandes conquistas na base da raça.

Não lembro de um jogo nessa Séribê, onde a gente comentasse que o time mostrou vontade. A maioria dos atletas que hoje estão no Santa, joga apenas por obrigação.

Nessa hora, me recordo de 1999. O presidente era Jonas Alvarenga e o presidente do Conselho Deliberativo era Antônio Luiz Neto. Tínhamos um time de estrelas. Mancuso e cia. Um bando de descompromissado, isso sim. Fazíamos uma campanha vergonhosa na Seribê. Em pleno Arruda, levamos uma goleada do América Mineiro. 5 a 1 pra eles. Fui para aquele jogo de muletas. Tinha feito uma artroscopia no joelho. Saímos do estádio revoltados e certos que cairíamos para terceira divisão. Naquela ocasião, falei para o meu pai: se continuar jogando desse jeito, vamos cair.

Hoje fui almoçar na casa do meu velho. Seu Geraldo tem 81 anos. Guarda na gaveta sua primeira carteirinha de sócio do Santa Cruz. Hoje foi ele quem me disse: com esse futebol aí, o Santa vai ser rebaixado. O time é morto e não tem alma.

Em 99, primeiro se dispensou o treinador Artuzinho. Nereu assumiu e foi o encarregado de fazer uma limpeza no elenco. Só ficou quem incorporou o verdadeiro espírito de guerreiro. O time saiu do quase rebaixamento, para o acesso à primeira divisão.

Hoje só vejo uma saída: Alírio e sua diretoria criar coragem para fazer o mesmo que foi feito em 1999. Uma limpeza geral do treinador até o elenco.

Desse jeito nossa a esperança voltará e a torcida chegará junto.

Descendo a ladeira

Aos poucos, uma onda de pessimismo tomou conta do Santa Cruz. Também pudera,  já são cinco rodadas sem vencer, sendo quatro derrotas seguidas.

Em três jogos como mandante, fizemos apenas 1 ponto. Pior do que isto, é ver que o time não esboça reação. Até parece que os atletas estão sem querer jogar. Estamos descendo a ladeira.

A única certeza que temos é que os jogadores não estão com os salários em dia e a diretoria não consegue administrar esta situação.

Cabe lembrar que  salários atrasados não é um fato que acontece somente no Santa Cruz. E jogar a culpa do que está acontecendo na falta de dinheiro, é esquecer que já nascemos lisos e até hoje vivemos na pobreza. Não lembro quando foi que conseguimos pagar os salários em dia.

Temos a sensação que os bastidores do  futebol do nosso Santa está sem comando. Depois que Tininho se afastou do clube, a impressão que dá é que a diretoria de futebol está acéfala. Mas isto era algo previsível que acontecesse, pois durante todos estes anos, não se procurou oxigenar o departamento de futebol.  Um clube do tamanho do Santa Cruz não pode ter apenas um ou dois diretores de futebol. Bastou Tininho adoecer e ficou um vazio. Outro dia, até Givanildo falou sobre isto.

O presidente tenta dialogar e acender a esperança da massa coral. Mas os torcedores já não acreditam mais na palavra dele. Por vezes fazem até piada.

No seu primeiro ano de mandato, Alírio nos deu o céu. Mas este ano, o fantasma de voltarmos para o inferno do campeonato brasileiro, faz a torcida esquecer as alegrias. Estamos na porta do cabaré e, dependendo do desenrolar da rodada, entraremos na zona já no próximo final de semana.

A torcida está atordoada. Alguns só reclamam. Outros apontam falhas. Uns culpam a torcida. Quase ninguém defende a diretoria. E poucos apresentam soluções. Nem a notícia da volta de Grafite conseguiu animar os tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda.

Diante deste cenário, já tem torcedor pedindo a cabeça do treinador e uma limpeza no elenco. Tem até gente sugerindo a renúncia do presidente e convocação de eleições.

Eu fico por aqui! Escrevendo essas coisas, sem ter uma opinião formada sobre o que fazer e pensando besteiras. Cheguei até a lembrar de Nereu Pinheiro para treinador e Jonas Alvarenga para presidência.

Volte para o seu lar

Passei uns dias longe do Recife. Me mandei para o interior de Pernambuco. Bezerros –Arcorverde – Triunfo – Serra Talhada – Salgueiro – Serrita.

Quando entro de férias, tento desligar geral. Vejo muito pouco as notícias e quase não acesso as redes sociais. Faço questão de me afastar da correria do mundo.

Difícil é ficar longe do Santa Cruz. Por mais que a gente queira, sempre tem um tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda por perto.

Em Bezerros nem preciso falar. Meu sogro é do Santa. E ainda tem Julio Vila Nova que, vez por outra, eu encontro naquela cidade. Mais especificamente no mercado, comendo buchada de bode e tomando uma branquinha.

Saímos de Bezerros e fomos para Triunfo. No caminho paramos em Arcoverde para visitar os queridos amigos do Samba de Coco Raízes de Arcoverde. Trabalhei com aquele povo e tenho um carinho enorme por eles. Assim que chegamos lá, dei um abraço em Seu Damião e ele, com a voz mansa de sempre, me perguntou:

— Homi… e o nosso Santa Cruz?

— Oh, Seu Damião… tá indo, né? Mas vai melhorar! – eu disse.

Ele abriu um sorriso e completou:

— Vai. Quando a gente menos espera a cobra dá um bote.

Passamos algumas horas lá na sede do Raízes de Arcoverde, conversando e matando a saudade. Almoçamos no Cruzeiro e pegamos a 232 com destino para Triunfo. Passamos por Flores e subimos a serra. No começo da noite, chegamos em Triunfo. Um friozinho bom danado. O cansaço da viagem fez a gente se aquietar no hotel. Tomamos uma de leve e fomos dormir.

Desço para tomar o café da manhã. Quando entro no restaurante do hotel, um cidadão tá sentado com a família. Vestido com o manto sagrado, ele ajudava a filhinha comer um cuscuz com leite.

Comemos, nos arrumamos e fomos perambular pela cidade e pelos arredores. Pico do papagaio, Gruta dos holandeses e outros lugares. A noite, tomar uma porque ninguém é de ferro.

Nos indicaram a cachaçaria e o Beto’s Bar. Escolhemos o Beto’s. A noite começava e o frio já beirava os 14 graus. Pedi uma cachaça. Pedimos uma tilápia. Alguém na mesa perguntou:

— aqui tem wi-fi?

— tem sim! – Beto afirmou.

— Qual é a senha?

— tricolordoarruda. – ele disse.

— Oxente, tu torce pelo Santa Cruz? – eu perguntei.

— Claro. Todo mundo tem que ter pelo menos uma qualidade. – Beto respondeu.

Pronto, virei freguês. Bebemos até quase meia-noite. Boa parte da noite fiquei no balcão, conversando e apreciando a coleção de cachaça espalhada pelas prateleiras. Por toda coleção, entre uma garrafa e outra, o Santa Cruz aparece. Canecas, copos, flâmulas, bonecos e uma garrafa de cachaça com o nosso escudo.

É impressionante como tem gente nossa pelo meio do mundo.

Você viaja e o Santa está sempre por perto.

Daqui a pouco o jogo começa. Espero juntar mais uma vitória. Espero mais ainda que o Santa Cruz volte para o Arruda. Volte para o seu lar. Eu e a massa coral estamos morrendo de saudades!

Recife tem encantos mil

Ele chegou por aqui e foi logo conquistando alguns fãs. Era um desconhecido. Jogou bonito, vestiu a camisa e caiu na graça da torcida. Fez o gol da vitória e foi se tornando ídolo.

A gente é assim. Basta o sujeito mostrar um pouco de serviço e já se idolatra, já se inventa uma musiquinha e um grito de guerra. Afinal, nós somos a torcida mais apaixonada do Brasil. E, como disse Rosana, quando a paixão é cega, a gente fica cega!

Certa vez, lembro como se fosse hoje, o Santa Cruz contratou um anão. Um tal de Luciano Bebê. Pouco mais de um metro e meio, uma cabeça de arrombar navio, o atleta fez bonito na estreia. A mais pura euforia tomou conta da massa coral. “Um craque”. “Esse vai ser nosso maestro”. “Agora temos um meia”. Sobraram elogios para o nanico atleta.

No final da história, a turma queria era afogar esse Luciano Bebê no canal do Arruda. “Jogador ruim do carai”. “Manda esse fela-da-puta embora”. “Como é que contratam uma desgraça dessa?”

Sim…, como eu tava dizendo, ele chegou aqui no começo do ano e mostrou futebol. Acendeu nossa esperança. Cara de gente boa, foi logo virando ídolo.

Teve gente até que apostou e cravou: esse cara sabe jogar. Vai nos dar muita alegria!

Só que o bom rapaz, parece que se desmantelou pela beleza da cidade. As praias, a água quente do mar, o cheiro do mangue, o caldinho de feijão, o caranguejo, o batuque, o mulheril.

Recife é sensacional e tem encantos mil, meu chapa. E o cara descobriu que isso aqui é um paraíso tropical, que o povo daqui gosta de cantar e que aqui tem muita cachaça e muita mulher, bicho!

E a vida virou: churrascos, bebedeiras, festas e garotinhas. A bola ficou para depois. Ficou em segundo plano.

Bem que ele podia ter se ligado que o povo daqui tem religião e gosta de rezar. Melhor seria que fosse para a igreja.

Mas as novinhas dão prazer e mexem com a cabeça do rapaz. O jovem atleta esqueceu o futebol e agora só pensa em carne, carvão, cerveja gelada e buceta. Mergulhou de cabeça na barca.

E aquele ditado se tornou realidade: “sorte no amor, azar no jogo”. A bola murchou. Seu futebol minguou.

É farra que não acaba mais. Seja no Recife, Olinda, Paulista e até no interior, se o time dele ganhou, bebe Pitú, se empatou, bebe Pitú e se perdeu, também bebe Pitú.

Acorda garoto! Nem todo mundo é Garrincha. Nem todo peladeiro dá certo no futebol.

Desse jeito, meu jovem, não tem fígado que aguente, não tem torcida que tenha paciência.

Ah! É Givanildo!

Não consegui ir ao jogo. Definitivamente, aquela Arena não foi feita pra mim. É sempre complicado viajar para aquele lugar.

Tentei combinar com Gileno de irmos juntos, não deu certo. Falei com Claudemir, deu errado. Mas não poderia deixar de assistir ao jogo, afinal, era a estreia de Givanildo. O nosso Givamito.

Então, resolvi ir para o bar. Por via das dúvidas, para não dar azar, falei com Marconi e fomos para o Bar Real. Ali, nunca vimos o Santa Cruz perder um jogo. Entre cervejas e tira-gostos, vimos a alegria dos garçons e, pela TV, o sorriso estampado na cara da nossa torcida.

Foi quando me lembrei de 2005.

Naquele ano fantástico, ganhamos o estadual com uma rodada de antecedência e pegamos o embalo para o brasileiro. Começamos a seribê, a todo vapor. Nas dez primeiras rodadas, metemos um 3 a 1 no Capibaribe, lá na casa deles, e enfiamos um 4 a 2 no Bahia, em plena Fonte Nova. Sorríamos, facilmente.

Naquela Seribê, ir para o Arruda era certeza de vitória. Carlinho Bala e Rosembrick eram nossos craques. Valença era raça pura na defesa. Andrade Cabeção dominava na proteção da zaga.

Naquela Seribê, era a Sanfona Coral, a Kombi Coral, o fezão da casa de João, a bebedeira, os abraços coletivos, as farras no Empório, as amizades, a felicidade. Não havia bafômetro, nem cinto de segurança. No motor da Kombi Coral, a gasolina passava pelo carburador e o álcool pelo fígado do motorista e dos passageiros. A gente sorria à toa.

Nosso time nem era lá essas coisas, mas tinha raça e comando. O velho Giva era o professor. E todos jogavam juntos. Treinador, jogadores e a torcida.

Fomos vencendo e nos mantendo entre os primeiros. O Arruda foi ficando pequeno. A cada jogo, a massa coral era maior e empurrava o time para Série A. Nos classificamos para as finais.

Sim, naquela época, eram pontos corridos e os quatro primeiros jogavam entre si para ver quem se classificaria para elite.

Santa Cruz, Grêmio, Capibaribe e Portuguesa foram disputar as finais. Foi quando Chiló ligou pra mim e disse:

— Bora pra São Paulo, fazer forró no Canindé?

Nem pensei. Disse sim, na hora. Alessandra também topou. Samarone foi no embalo. E assim nos mandamos para São Paulo, para ver Santa Cruz e Portuguesa. Na bagagem, camisa do Santa Cruz, sanfona, zabumba e triangulo. Viajamos de madrugada. Nos hospedamos na casa de amigos. No Canindé fizemos um forró que entrou para história. Duas cenas permanecem vivas na minha memória. Sempre que lembro, me emociono. A gente estava entrando no Estádio, tocando forró. Um senhor baixinho veio ao nosso encontro e chorou feito criança. Ele, ainda jovem, havia ido tentar a vida na capital paulista e desde que foi para lá nunca mais conseguiu voltar para Pernambuco. Tocamos Asa Branca e ele se abraçou conosco.

A outra, foi o velho Giva acenando e sorrindo para nós. Quando o Santa Cruz entrou em campo, puxamos um “Ah, é Givanildo!”. Ele levantou o braço, acenou para nós e sorriu. Aquilo foi de marcante.

Perdemos o jogo, mas continuamos nossa festa. Mesmo levando um sonoro 4 a 1, nossa alegria era imensa. A confiança no time e a crença no mito Givanildo, nos dava a certeza que aquele ano acabaria em festa.

Ontem, quando o jogo terminou, me veio a esperança de ver de novo a torcida gritar “Ah, é Givanildo” e ele acenar e sorrir para nós!

Sou mais a prata-da-casa do que os perronhas de fora

Texto enviado por Lucas Pinto

“Prata-da-casa”. A expressão utilizada para classificar um jogador como formado no clube, sempre me encantou.

Comecei a acompanhar futebol em 1999. Naquele ano o Santa teve uma conquista histórica, com um time recheado de jogadores da base.

“Fulano é prata-da-casa”, “Esse ai é prata-da-casa”, ouvir isso me despertava um sentimento bom por aquele cidadão. Já era um ponto a mais que o cara teria comigo.

E sigo até hoje, com esse pensamento consolidado.

Nossos jogadores não são forjados em CT’s, em academias de ponta, em gramados de pura qualidade. Nossos pratas-da-casa são forjados em campo de barro, em alojamento eternamente em obras, em uma dificuldade reflexo do Santa Cruz. Eles são forjados como corais!

Não por menos, em toda nossa história de 103 anos, nossas conquistas históricas foram realizadas com times recheados de atletas da base. O ano de 1999, as conquistas desta década atual, e até  a de 1975.

Então, quando se forma um novo time, como o que estamos vendo em campo em 2017, com todo plantel recém-contratado, quem deveria ter o tal “crédito”?

Não compreendo, e jamais compreenderei. Por que quem mais sofre ataques, constantemente, são os nossos pratas-da-casa, não deveriam eles ter mais crédito?

Por que Elicarlos e Gino, não só ganham a vaga, como também a preferência da torcida?

Por que Valles é a prioridade quando sair do DM?

Temos atletas nossos, que não apenas são, no mínimo, do mesmo nível, mas que já tem títulos conquistados pelo Mais Querido, sempre com muita raça e identidade.

Existe uma expressão no futebol que diz: “esse aí ganhou a vaga porque veio de avião.”

Eu acho um absurdo, e quando vejo irmãos corais descendo o sarrafo desproporcionalmente em nossos pratas-da-casa, só vejo essa prática do “ganhar a vaga porque veio de avião” ser incentivada.

Nininho, por exemplo, no jogo contra o Ceará, foi o melhor em campo, vibrando em cada jogada. Aliás, após o retorno, fez mais jogos bons ou regulares do que ruins. Welington César, foi campeoníssimo pelo clube em 2016 e vinha muito bem, saiu do time na Série A por contusão.

Mas adivinha quem é detonado o jogo inteiro? Mas adivinha quem é o motivo de chacota por parte da torcida?

Isso mesmo, quem sua nossa camisa desde a pré-adolescência.

Passou da hora do pessoal despertar pra certas coisas “normais” do futebol.

Mas da minha parte, respeito, admiração e credibilidade, eles, os prata-da-casa, sempre terão, mesmo que no meio de um jogo eu, sem um pingo de sanidade, mande um deles pra puta-que-pariu.

Bom, independente de jogador da base, da rua, de qualquer lugar, a hora é da gente se abraçar de novo com nosso clube do coração. Sempre foi assim que o Santa Cruz conquistou as suas vitórias. Abraçado com a sua torcida. Que aliás, é a principal prata-da-casa que o Santinha possui, insubstituível em nossas batalhas!

Sábado, todos os caminhos nos levam ao Arruda!

Eu, Ivonaldo e Trombone

Encontrei com Ivonaldo, o cara da xerox. Eu estava entrando na lanchonete. De longe, Ivonaldo me chamou.

– Dotô!

Acenei para ele. Segui para o balcão. Pedi um suco de limão e um misto quente. Fui até onde Ivonaldo estava.

— Senta aí, Dotô! – ele disse.

— e aí, rapaz! E o nosso Santa Cruz? E agora, tás confiante? Botaram o treinador pra fora..

— olhe dotô, confiante ainda não, mas tou acreditando. Tiraram o treinador, bora ver né? Mas é cedo ainda. Só lá pro final dessa primeira fase é que a gente tem um raio-x dos problemas.

Foi quando chegou Maurício. Outro tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda. Pegou uma coca-cola e foi sentando. A turma costuma dizer que Maurício é um dos maiores corneteiros do Santa . Mauricio Trombone. Quando a turma chama ele de Maurício Trombone, o cara se arreta. “Pega aqui na vara”.

A moça trouxe meu misto e o suco de limão. Maurício pediu um pastel de carne. Ivonaldo, sem cerimônia nenhuma, olhou o decote da blusa dela.

— Maurício, meu velho, pra variar a conversa aqui é o Santa Cruz. Ivonaldo tá acreditando. E tu? – provoquei pra puxar conversa.

— É difícil. É difícil. Não temos lateral direito e nem volante. Falta um meia. E Adriano…, sei não viu. É fraco. Mas sabe qual é a bronca grande?

Ele mesmo cuidou de responder.

— A falta de dinheiro.

Balançamos a cabeça concordando. E Maurício Trombone continuou.

— o Santa Cruz é igual ao Brasil, ou se faz uma mudança geral nas estruturas ou vamos continuar do mesmo jeito.

Olhamos um para o outro e ele começou a sua tese.

— Veja só o nosso estádio. Velho, ultrapassado e decadente. Olhe, no futebol atual, não faz mais sentido você ter um estádio para mais de 50.000 pessoas. Sabe quantos cabem no Allienz Parque? 43.713. Arena Fonte Nova? Cabem 47.907. Na Arena do Corinthians dá 45.000 pessoas. O Santa Cruz gasta quanto pra manter aquele elefante branco? Enche umas 3 ou 4 vezes no ano e depois fica com uma média de público baixa. Se muito for é 12.000 pessoas. E tome prejuízo. A turma da patrimonial tem que diminuir o Arruda. E tem que fazer negócio com aquele estádio. Fazer parceria com empresas de entretenimento e produtores culturais. Alugar para festas. Arrendar para eventos religiosos.

Trombone mordeu o pastel, deu uma golada na coca e seguiu.

— Outra coisa que não faz sentido: divisão de base. Se não tem estrutura para ter divisão de base, pra que ter divisão de base? Eu deixava no máximo o juvenil e os juniores. Ou então, tentava terceirizar a base. Entregava para alguém ou algum grupo e fazia um acordo que fosse bom para os dois lados. Se gasta muito com divisão de base.

Sabe outra coisa que não dá lucro nenhum? A parte social. Piscina, sede.. Pra que danado um departamento social? Pra manter a piscina? Eu mandava logo era fechar aquilo ali. Ou então, terceirizava também. Aliás, divisão de base e social devia era ser tudo terceirizado. Fazer parcerias. O clube não tem dinheiro pra custear isto não.

Separava as categorias de sócios. O sócio-torcedor, o dinheiro entrava para o clube. Já o sócio que quisesse tomar banho de piscina, pagava um valor a mais para a empresa que fosse tomar conta da piscina.

— E aí, Ivonaldo! O que tu acha? – eu provoquei.

— Eu? Eu num acho é nada. O Santa Cruz ganhando tá tudo certo, dotô.

Era pra ter vencido

Quase não vejo o jogo. Havia marcado com Marconi, mas fui vetado por causa da gripe. Em cima da hora, já com uns cinco minutos do primeiro tempo, o vizinho manda um zap e pergunta se estou vendo a partida. Não tive dúvida, assoei o nariz, botei o manto sagrado e fui para casa de Breno.

Meus amigos, vocês que entendem de futebol, me digam: Por que esse treinador insiste em morgar o time do Santa Cruz?

Tudo bem que levamos dois gols de pelada. Mas o jogo pau a pau, ainda faltando uns vinte minutos para acabar, ele resolve tirar o cara que, mesmo com toda limitação, tava conseguindo fazer o meio-campo, e botar um volante que não consegue dar um passe de um metro e meio.

Outra coisa que não entendi foi Nininho ter jogado os 90 minutos. O futebol desse rapaz é tão ruim que não dá raiva, dá pena.

Nininho merece um capítulo à parte.

Esse jogador não sabe marcar, nem atacar. Chega atrasado nas divididas. Não cruza certo. Não vai à linha de fundo. Parece que joga de ressaca. A impressão que dá é que Nininho tem uma verminose das brabas. Lombriga, ameba, oxiurus, essas coisas.  Ameba, por exemplo, dá dor abdominal, perca de peso. Já a lombriga causa falta de apetite, náusea. E o oxírus deixa o cabra sem sono, causa emagrecimento e dá uma coceira arretada no fiofó. Nininho parece anêmico, também. Talvez fosse o caso de fazer exame de fezes nesse atleta.

E aí, eu pergunto a vocês que entendem de futibó: por que Gino não entrou no lugar de Nininho?

E os dois gols que levamos? Duas bolas cruzadas, o adversário desmarcado  se antecipa e a gente fica olhando. Isso é falta de treinamento, leseira ou ruindade mesmo?

Sim, estamos no G-4. Ótimo. Roberto jogou bem e merece a titularidade. Anderson Sales tirou a inhaca. Nem tudo é desgraça.

Mas um jogo fácil desse, era para ter vencido. Eram mais três pontinhos na caçapa, e fora de casa. Estaríamos na liderança isolada do campeonato.

É esperar que os reforços estejam 100%, que o treinador consiga fazer o time jogar bola e que o Santa Cruz contrate um lateral-direito.

Do jeito que este campeonato está, não é tão difícil ser campeão.