Constatação óbvia: os cronistas corais estão fora de forma

Amigos corais, olhando as postagens das últimas semanas, diria que estamos totalmente fora de forma. É como se o Blog, nos dias de hoje, estivesse com Carlinhos Bala e Rosenblick na redação.

Explico.

O Santa Cruz vem de duas vitórias incontestáveis.  Dois a zero no Boa Esporte (27/05), fora de casa. O arremate veio na sexta (30/05): 2 x 0 no então bicho-papão Joinville, com um partidaço de Carlos Alberto, segundo me informou meu amigo Inácio França. Teve até olé, em pleno Aflitos.

Olhemos as postagens. A última é do dia 27 de maio, falando do tijolaço na Ilha do Retiro. Depois disso, um sepulcral silêncio. Nada. Uma linha sequer. Os cronistas mergulhados em seus afazeres, esqueceram de levantar a poeira que nos tapava o futebol. Justamente no momento em que surge um time, os três responsáveis por este Blog, olhavam a programação do São João 2014.

Sinceramente, é preciso um mea-culpa. Quando o time vai mal, escrevemos rios, os dedos sangram, há urros que são escutados até em Ouricuri. Milhares de comentaristas saem de suas casas, apartamentos, passam horas nas lan-house da vida, o treinador vira um resto de lixo de ontem, saem listas de dispensados por segundos, a vida vira um inferno.

Parece que não percebemos que o time está com novo ânimo, disposto, ganhando personalidade, que há algo novo no horizonte.  De repente, estamos na oitava posição e poderemos terminar esta primeira fase entre os quatro ou cinco melhores da Série B.

Liguei de Curitiba, onde estava, para saber como tinha sido o jogo contra o Joinville, Inácio França passou 90 minutos me contando o jogo, lance por lance. Parecia um louco. Gastei mais com o telefonema do que com o jantar, num restaurante bom pacas, chamado “Alemão”. Minha mulher achou ridículo eu ter conversado durante todo o jantar, com várias outras pessoas na mesa.

Sim, mas cadê isso aqui no Blog?

Andei por São Paulo, Curitiba, Gerrá estava empenhado em se apresentar pelas principais casas de forró do Sertão, Inácio França fazendo coisas pelo norte da Amazônia ou Goiás, não sei ao certo.

Não tem desculpa.

Os cronistas do Blog do Santinha estão fora de forma. Sejamos amenos – perderam o tempo da bola.

O mínimo que podemos esperar é um texto rasgando o marasmo, escrito pelo senhor Gerrá Lima, que faz aniversário amanhã, justamente no dia do jogo contra a Ponte Preta.

Aguardemos. Desta vez, o Blog não acompanhou o time.

Tédius futebolísticus

Tédio é uma coisa que dificilmente tenho na vida. Acho que conto nos dedos as vezes que senti tédio. O sujeito entediado, na minha opinião, é pouquíssimo criativo. Tenho minhas pilhas de livros, os amigos, minha companheira, os gatos, tenho os bares prediletos, a turma da pelada, duzentas mil coisas para fazer. Falta-me tempo, espaço e motivação para sentir tédio. Às vezes, fico sem fazer nada, só olhando para o tempo, e nem assim eu sinto tédio.

Sim Zé Ruela, como diz o velho zagueiro Stênio, e o que o combustível tem a ver com o posto de saúde?

É que nunca imaginei que o Santa Cruz, este de 2014, fosse me provocar tanto tédio como estou sentindo agora.

Empates e mais empates, jogos absolutamente previsíveis, uma zaga que é uma verdadeira mãe. Eu ligo a TV (ou o rádio) e já sei. Se o Santa fizer um gol, não vai dar nem tempo de comemorar, que vem o empate.

Leio os três jornais diariamente, por força do  hábito (e do trabalho). As matérias sobre o Santa exalam tédio. “Esses empates estão incomodando”, dizem atletas, comissão técnica, dirigentes, quase dormindo. Os jornalistas ficam caçando algo interessante para falar sobre o Mais Querido, uma novidade, mas isso fica uma tarefa mais para Dirceu Borboleta. Uma casa de repouso para a velhice, em Aldeia, deve estar mais animada que as dependências do Arruda.

As entrevistas dos jogadores, do treinador, são tédio puro. Sobram explicações lógicas. Não tem um que fale uma loucura, que diga uma asneira, nem que seja para alegrar o ambiente, a torcida. Nem a reles, simplória provocação. É quase um time politicamente correto. Até Caça-Rato, que tinha umas ondinhas, está bem comportado. Se o jogo de amanhã for de portões fechados mesmo, não vamos escutar sequer um grito de um jogador pedindo para apertar a marcação. Um reles “toca essa boca, caralho!” vamos escutar. O jogador que chamar o outro de “filho da puta”, porque perdeu um gol feito, é capaz de ser multado.

Na pelada que jogo toda quarta-feira, os caras parecem um bando de doidos. Levar um gol de bobeira é capaz de levar a uma guerra civil. Há discussões que duram dois dias. O sujeito que leva um gol no finalzinho, sai do campo como se tivesse morrido alguém da família. Ontem, Jorge Coxinha gritou tanto com Danilo, porque ele não cruzou a bola de primeira, que saiu do campo com cãibra nas cordas vocais.

Temos um time com vocação para escoteiros. E futebol não é coisa para bons moços. O pior é que já passou a idade para isso e a massa coral adora loucuras. Eu mesmo, tenho uma simpatia atávica por doidos de pedra.

O Santa, por sinal, tem uma tradição de ter doido no time. Lembremos de Gabriel, de Django. Mais recentemente, tivemos Brasão. Lembro que Brasão fez um gol e veio comemorar no escudo. De repente, ele tirou a imagem de um santo do meião e passou a beijar.

Não precisa ser nem craque. Basta um grão de loucura, para incendiar a torcida. Nosso Santa está mais parecendo aqueles caras que estão de saco cheio do trabalho, do casamento, e vão empurrando com  barriga.

Tédios futebolísticus, é o que estou vivendo.

Dizem que dia de sábado tem pelada na Tamarineira. Vou lá, dar uma olhada, para ver se pesco algum doido bom de bola, que queira jogar no Santa. A pior coisa do mundo é um clube que não nos dá sequer assunto para comentar com os amigos.

Nem tanto, nem tão pouco

Nos comentários da Internet, prevalece mesmo é o mau-humor. Tenho um blog de crônicas, de vez em quando chega uma mensagem falando do Brasil. Parece que vivemos no pior país do mundo. Somos uma África piorada, um Congo falido. Como não tenho Facebook, twitter, whatsup, nem imagino como deve andar o azedume pelas famosas “redes sociais”.

Bem, mas vamos ao ponto principal, que é o Santa Cruz.

Vamos com cinco empates em cinco jogos. Já vi colunista dizendo que Sérgio Guedes, se não ganhar logo, corre o risco de cair.

Me dei ao trabalho de assistir Icasa X Santa no sábado passado, na casa do adversário, com um bom público, torcida apoiando etc. O primeiro tempo foi equilibrado, mas o técnico Sérgio Guedes mexeu bem no intervalo, o time ficou visivelmente melhor, mandou no jogo. Fizemos 1 x 0 num golaço do Carlos Alberto, sofremos o empate num erro bizarro do zagueiro Renan, o time poderia ter um “apagão”, mas mostrou personalidade e foi pra cima.

Perdemos quatro chances claras de gol. No mínimo, o Santa poderia ter ganho por 3 x 1. Repito um detalhe – o time teve atitude, personalidade, não se acovardou com a bunda na parede, como estava virando receita de bolo. Um gol e o campo só chegava até o círculo central, na base dos chutões.

Uma vitória nos deixaria na sétima posição, já na rodada passada.

Eu não estou achando o Santa Cruz nem tão bom, a ponto de inspirar arroubos ou grandes esperanças, e nem tão ruim, a ponto de me tirar o humor, o sono, ou fazer prognósticos catastróficos, como uma possível queda.

Precisamos contratar jogadores, melhorar o meio de campo e consertar essa zaga, que agora vive batendo cabeça. Vi que acabaram de contratar o Araújo, com 36 anos. Porra, não tem gente mais jovem para dar um gás nesse time não? Tanto moleque bom de bola por aí, doido para jogar num clube grande como o Santa…

Na chegada do treinador, fiquei ressabiado. Ainda estava na memória aquele choramingo todo, quando ele saiu do Sport, derrotado. Ele me parecia mais um roqueiro que brigou com a banda e foi morar num sítio em Cotia. Mas, por estranho que pareça, o Santa estava precisando de alguém como ele. Um sujeito mais equilibrado, que conversasse com os jogadores, que fosse tirando o clima pesado da derrota (e como foi a derrota) para o arquirrival, na semifinal do Estadual. Esse trabalho mais psicológico, miúdo, era necessário. Ele foi resgatando a confiança de alguns jogadores. E sem confiança, o sujeito tem medo até de um sogro gago.

Não sei o que pensam os demais cronistas e comentaristas deste Blog do Santinha, mas não vejo horizontes sombrios para nosso Santa, ao longo dessa jornada. Podemos sim, olhar cada vez mais para a parte de cima da tabela.

Vamos ficar atentos, com os pés no chão, mas esse azedume nacional é contagioso. O Brasil não é o pior dos países do mundo e o Santa, nem de longe, é o pior time da Série B.

A Copa do Mundo, pelo amor de Deus! A Copa do Mundo!

Amigos corais, tive a infelicidade de ir à Arena Pernambuco, ver nosso time em campo. Sobre a ida, instalações, acessibilidade e outras lorotas, o cronista Gerrá Lima irá escrever, em sua crônica da Segunda-Feira.

Sobre nosso time, só posso dizer que está um time ENCRUADO. No Aurélio, “encruado” tem vários significados, mas o que uso aqui é o oficial, o “tornar cru”, mas o figurado, o “não progredir”, “não crescer”. Quem nunca já disse “essa projeto está encruado”? “O menino, depois que resolveu ser padre, encruou”. Nosso time está assim. O Santa Cruz está uma murrinha dos seiscentos diabos.

Na defesa, aquele aperreio. No meio, nada acontece. No ataque, o coitado do Léo Gamalho parece mais o Róbson Cruzoé, numa ilha cercada de zagueiros. Quando a bola chega para ele, é quadrada. Ele tem que dominar, polir a bola, torná-la redonda e ver o que faz da vida. E o sujeito ainda foi artilheiro do Pernambucano!

Pois bem. Voltei daquela pelada sentindo cheiro de fantasmas. Corri à tabela. Jogamos quatro vezes e temos incríveis quatro pontos. Teremos seis jogos até dia 03/06. São 18 pontos em jogo (contra Icasa, Oeste, America-MG, Boa Esporte, Joinville e Ponte Preta). Não sei se o STJD vai dar alguma colher de chá para o Santa. Como temos apenas mais dois jogos em casa, Pode ser que não vejamos mais o time em campo até a Copa do Mundo.

Depois disso, vem algo divino. A Copa do Mundo.

Graças à Copa, a Série B será interrompida dia 03 de junho e só retorna dia 15 de julho.
Ou seja, 42 dias para a gente aproveitar. Contratar jogador, treinar, dispensar jogador, fazer um salseiro dos mil diabos para ver se esse time desarna. Sim, meus amigos, precisamos desarnar com urgência. Com esse futebol que nem sequer arroz-com-feijão é, nós somos candidatos à famigerada Série C.

E eu não aguento mais isso. Não tenho mais saúde nem preparo psicológico para isso. A turma do “Não vai ter Copa” que me perdoe, mas acho uma estupidez gastar essas fortunas todas e depois, na hora da festa, mostrar ao mundo que não somos capazes de realizar os jogos mais aguardados pelo planeta. Tem que ter Copa sim. E urgente! Por mim, a abertura não deveria ser dia 12 de junho, contra a Croácia, no Itaquerão, mas já na semana que vem.

Aqui do meu reduto coral, abro as janelas e dou um grito: “A Copa!Pelo amor de Deus, a Copa do Mundo!” Os mais fanáticos pensarão que estou seco para ver mais um título da Canarinha. Não, meus amigos. Minha aflição é para darmos uma pausa e saramos os calos que nascem nos olhos a cada jogo. O Santa está com um time desesperadamente ruim.

Pelo bem do nosso amado Santa Cruz, a pausa para a Copa do Mundo é quase uma bênção divina. O hexa da seleção, me perdoem os mais fanáticos, é um reles, mísero detalhe, diante do que estamos vivendo.

O profeta

Amigos corais, fui a um debate ontem na Rádio Transamérica com os senhores Gerrá Lima e Inácio França. O tema era a questão da violência das organizadas, a crise na sociedade com esse tema, a falta de uma política articulada para enfrentar este enorme desafio etc.
Mas no caminho, Gerrá, com aquela tranquilidade ipsepiana dele, me comentou:
“Óia, tás sabendo que o Jurídico do Santa conseguiu liberar o jogo do sábado para a torcida?”
Eu me virei e quase tive um torcicolo.
“Como é, Gerrá?”
“É. Deu na rádio agorinha. O jogo do sábado, que seria de portões fechados, vai ser na Arena, e com portões abertos”.
Depois ele passou a me explicar sobre a ação do clube junto à CBF, detalhes de bastidores, a questão das provas, o pedido de adiamento do julgamento para a semana que vem etc. Eu cada dia desconfio mais que o jornalismo brasileiro está perdendo um grande profissional. O sujeito sabe de tudo. Cronista de primeira ele já é.
Estou achando que Gerrá está virando é profeta.
Lá pelas tantas, arrematou:
“Eu tô achando que esse Lisca não fica nem até amanhã”.
(Duas horas depois, a rádio anunciou a queda do treinador do Náutico).
**
Depois do debate, fomos tomar umas e ver o jogo. Ele comentou:
“Meu palpite é três a um para o Santa. E Caça-Rato vai fazer o gol dele, para mostrar que Felipão cometeu um erro grave, ao não convocá-lo”.
Tomamos nossos birinaites e aos 45 minutos do primeiro tempo, Flávio Caça-Rato soltou um foguete na gaveta. Gol do Santa!
“É Caça Rato da Seleção, porra!”, gritou Gerrá, assustando até os garçons.
Lá pelas tantas, ele arrematou:
“Sábado aquela Arena vai ficar pequena para a massa coral”.
Depois ele deu uns três telefonemas, falou com um empresário que aluga Van, táxi, charrete, Toyota e avisou:
“Já tem três Vans alugadas. Falta só pegar o nome da turma e o erregê”.
**
Liguei há pouco para Gerrá. Ele disse que a turma da “Minha Cobra”, “Kombi Coral” e “Sanfona Coral” já confirmaram presença.
Os veículos vão sair do Poço da Panela, defronte à venda de Seu Vital. A concentração já vai começar no final da manhã.
Antes de desligar, ele soltou mais uma profecia:
“Aquela Arena vai ficar pequena para a torcida do Santa. Vai ter mais gente do que nos jogos da Copa”.
**
Nota: Quem quiser ir nas Vans de Gerrá, deixe comentário aqui no blog.

Blog de luto

Nós que fazemos o Blog do Santinha estamos de luto pelo assassinato de um jovem, vítima de um assassino, ontem, no entorno do Arruda. Um assassino foi capaz de jogar um vaso sanitário, de uma das áreas do estádio, em cima de pessoas inocentes.

Poderia ter sido qualquer um dos 8.039 torcedores que foram ao Arruda ontem.

Ou qualquer um que faz parte da família dos blogueiros aqui reunidos (e que estavam no estádio, ontem);

Gerrá Lima, sua esposa, Alessandra, a as duas filhas;
Inácio França e o cunhado, Paulo;
Samarone Lima.

Todos andaram no entorno do Arruda, ontem, e tiveram a sorte de não serem atingidos por um vaso sanitário, na cabeça.

Nós que fazemos o Blog esperamos que seja feita Justiça, com a prisão do(s) responsáveis. E torcemos para que mais uma morte de torcedor nos ajude a refletir e mudar esta realidade do futebol brasileiro.

A tabela, o melhor antidepressivo

Aos que ainda estão choramingando a eliminação da Copa do Nordeste e da final do Pernambucano, aos que acham que estamos no pior dos mundos, que as coisas estão péssimas, que tudo está ruim, que estão com aquela conversa fiada de que só vão voltar ao Arruda por algum motivo muito especial, eu dou uma sugestão prática – pegue a tabela da Série B, puxe a sua agenda para o lado e vá anotando, semana após semana, os jogos do Santa Cruz, no Arruda e fora.
Vai durar meia hora e a depressão vai passar na hora.
Foi isso o que fiz sexta-feira, antes mesmo do jogo contra os portugueses de desportos. Anotei com caneta todos os jogos e horários. Senti um alívio tremendo.
Pela primeira vez, desde o longínguo ano de 2008, quando fizemos a estreia na Série C, estamos de volta a um campeonato nacional com 38 rodadas. Foram sete anos na base de poucos jogos e mata-mata, pouco dinheiro, fora da TV, com uma sortezinha de transmitirem a Série C pela TV Brasil.
Trinta e oito rodadas, porra!
Nós comemos o pão que o diabo amassou, jogamos contra times que nem lembro o nome, viajamos feito uns doidos em carreatas de desepsperados, passamos por humilhações as mais terríveis, vimos o fundo do poço e o pós-fundo-do-poço e agora fica esse faniquito?
Olhe sua agenda de 2008.
Lembra que nós fomos eliminados na segunda fase da Série C?
E que beijamos a lona na Série D? Tem coisa pior que isso?
Pois pegue a tabela da Série B e veja o que nos espera, ao longo do ano. Dois jogos por semana, às terças e sábados.
Vamos ao caso de maio, o singelo maio, mês das mães.
Na véspera do meu aniversário (2/05), sexta-feira que vem, pegamos o Paraná, no Arruda (21h).
Dia 10 de maio (sábado), pegamos a Luverdense, às 16h20.
Dia 17 de maio (sábado seguinte) vamos ao estádio Mauro Sampaio, pegar o escrete do Icasa.
Dia 20 de maio (terça), vamos ao estádio Dos Amaros, enfrentar o Oeste.
Dia 23 de maio (sexta), 19h30, pegamos o America-MG no Arrudão.
Dia 27 de maio (terça), vamos ao estádio Dilzon Melo, encarar o Boa Esporte.
Dia 30 de maio (sexta), encaramos a Ponte Preta, no Arrudão.
Ou seja: Em um mês, é bem provável que tenhamos mais jogos pela Série B do que em toda a Série C de 2008.
Eu poderia copiar a tabela inteira, para os deprimidinhos corais verem o tamanho do buraco que saímos (e o tamanho do desafio que nos espera), mas não sou corno para gastar uma hora e meia anotando nome de estádio, de clubes adversários e horários.
Sim, perdemos duas semifinais para o principal adversário, que tem dinheiro para contratar e descontratar, que tem uma infraestrutura fuderosa, que só o departamento de marketing deve gerar mais receita que nossos ingressos, mas eles, até outro dia, estavam aí engasgados, doentes, alarmados e infelizes com o tri-vicecampeonato (dois deles em casa) para um clube à beira da falência que foi o Santa Cruz. Toda entrevista ou reportagem vinha com os dois bordões: “desde 2010 não ganhamos nada”;”estamos engasgados com o Santa Cruz”; “desde 2010 não ganhamos nada”; “estamos engasgados com o Santa Cruz.
*
Durante o ano de 2014, você, torcedor coral, vai ter jogo no São João, no aniversário do filho, no batizado do sobrinho, no dia do noivado, no Dia das Crianças, nos 50 anos de casamento do sogro, na formatura do sobrinho, na véspera de Finados, vai ter hora que sua mullher vai dizer:
“Esse campeonato não acaba nunca?”
Nessa hora, você vai dar um sorrisinho e lembrar do pesadelo que viveu.
O último jogo do Santa pela Série B será dia 29 de novembro, no Serra Dourada, contra o Atlético/GO.
O que temos a fazer é sair dessa letargia, achando que estamos no pior dos mundos, cobrar contratações, pressionar a diretoria dentro dos moldes legais, ir a campo, levar nossa turma, pegar o manto coral, a bandeira e dar a volta por cima.
Outro dia éramos tricampeões, tiramos onda, curtimos, tomamos todas com os amigos, mas o futebol é assim mesmo, ele dá voltas e rasteiras.
Poderíamos ser tetracampeões, mas não fomos. Paciência. Os caras fizeram (e bem) o dever de casa.
Pegue sua tabela. É melhor que antidepressivo. Em alguns casos, melhor que Viagra.

Recolhendo os escombros

Amigos Inácio França e Gerrá Lima;

Não sei por onde vocês andam, nesta segunda-feira, feriado de Tiradentes. Creio que em alguma praia com a mulher e os filhos ou tomando umas com os amigos. Pela quantidade de comentários a serem liberados no Blog do Santinha e pela última crônica, postada dia 15 de abril, vocês realmente perderam a paciência.
Pois bem, amigos, tenho uma nova. O treinador Vica agora é ex.
No sábado passado, após o empate melancólico com o ABC (o gol deles foi de Dênis Marques, vejam que ironia), finalmente ele passou na sala da diretoria e disse o óbvio – “não dá mais”.
O que mais lamento, meus amigos, é que o homem chegou com o time muito mal na Série C, deu um tranco, um freio de arrumação, o famoso “só joga quem treina bem”, e embalamos.
E fomos campeões da Série C.
Depois disso, amigos, mergulhamos num desastre.
Porque um time de futebol pode perder tudo, menos a alma. O Santa, nos últimos jogos, não era nem a sombra daquele time de guerreiros que tantas alegrias nos deu, durante três anos. Perdeu a alma. Depois de muito tempo, vivemos um pesadelo trágico – um Santa Cruz com medo de ir ao ataque, de ganhar jogo, sem arrojo. Sem a alma, não há como ter coragem. Sem coragem, o sujeito é humilhado até na liga de dominó.
Nosso time ficou burocrático como uma repartição pública, funcionando a base de máquina de datilografia e carimbo. Faltou pouco para os jogadores escreverem um ditado antes de cada jogo, com a frase “proibido se arriscar” ou “nada de assustar o adversário”.
Nossa maior desilusão era olhar para Catatau, sonhando com mudanças no time que todos sabiam quais eram, e nada.
Nunca Roberto Carlos foi tão citado.
“Perdemos nos detalhes”.
“Eles venceram num detalhe”.
“Clássico se perde no detalhe”.
Pois é, caros França e Gerrá. Estamos ainda recolhendo os escombros. Eliminação da Copa do Nordeste e do Estadual. Tudo bastante dolorido, sofrido. Onde estão Natan, Renatinho, Everton Sena? Onde estão os jogadores? O outro, que bateu o pênalti errado, ficou deprimido. Mas ele vai buscar o salário integral ou não?
Não fui ao jogo do sábado. Ausência absoluta de vontade. Não li resenhas, não escutei rádios, nada vi na TV.
Demoras, no futebol, são fatais.
Nisso, nosso principal rival é muito eficiente. Se tivessem perdido três partidas seguidas para nosso time, o técnico teria sido demitido depois do jogo. Era o que deveria ter sido feito. Mas vocês sabem como as coisas funcionam no Arruda…
Aguardo o retorno de vocês para ver se animamos o espírito da massa coral. A sorte é que essa massa tem o dom de dar a volta por cima por qualquer alegria mínima.
No momento, não tenho a menor idéia de qual seria esta alegria mínima.

Anotações sobre a Teoria da Relatividade Futebolística

Amigos corais, devo ser um dos torcedores mais bestas da multidão que é esta encantada torcida do Santa.
Em caso de derrota, enrolo minha bandeira, volto pra casa chutando as pedrinhas, tomo umas, converso com Joab, o porteiro aqui do prédio e vou dormir. No dia seguinte, não olho os jornais, não vejo TV e a vida segue.
Em caso de vitória, eu comemoro, vibro, fico exultante, vejo todos os programas de TV, leio todos os jornais, escuto resenhas, mas eu não tenho a menor paciência, vocação, energia, para ficar mandando email, mensagem, telefonando para o adversário derrotado. Talvez seja por isso que nunca se lembram de fazer o mesmo comigo. Como não tenho facebook nem uatizape, não me aporrinho com desconhecidos, também.
Mas, como se sabem, andamos comendo o pão que o diabo amassou com o time da Ilha do Retiro.
Ganharam a primeira de 3 x 0. Os torcedores do Sport só faltaram comprar uma taça. A taça “Eu estava engasgado com três vice-campeonatos, porra!”.
Antônio, lá do meu trabalho, visitou minha sala umas 40 vezes, no mesmo dia, para tirar onda.
“Ganhasse três pontos, não foi? Parabéns”, eu respondia.
Depois, ganharam de 2 x 0, na Ilha do Retiro, quando o mais justo seria a vitória pelo magro 1 x 0. Nosso Paredão, quem diria, falhou pela primeira vez.
Um amigo que mora no prédio, gente finíssima, passou por mim no dia seguinte aos berros. Não era um pacato cidadão, comprando seu pão matinal – era um homem aos berros dizendo “meu freguês me apanhou de novo!”.
“É, ganhasse mais uma, né?”, respondi, e fui compara um pedaço de queiro para o café. Fiquei até com dor de ouvido.
Depois veio aquele escândalo do senhor Meira Ricci e perdemos a vaga na final da Copa do Nordeste por 2 x 1, com direito a gol nosso com nove jogadores em campo.
“Esse teu time é uma bosta, visse. Vão me levar quatro lapadas seguidas”, retomou Antônio.
“Beleza. Mas já ganhasse o título?”, respondi.
Depois veio o 1 x 1 no Arruda, com um gol aos 36 do segundo tempo. Os torcedores do Sport comemoraram como se fosse um título. Faltou apenas botar a faixa. Esse Santa Cruz realmente é uma pedra na chuteira deles.
Como a classificação do Estadual nos colocou de novo frente a frente, meu amigo aqui do prédio avisou:
“Vão ser duas lapadas, visse? Tás preparado?”
“Tens já o placar dos dois jogos?”, perguntei.
“Vão me apanhar mais duas”, prometeu Antônio.
“E apois”, respondi.
Ontem, no final da manhã, desci para buscar o jornal. Meu amigo aqui do prédio vinha chegando com outro amigo rubronegro e duas crianças. Uma delas, pela fatalidade do destino, vestia a camisa rubronegra.
Os dois tiraram muita onda, riram da vitória. Davam gargalhadas. Tinham até pena de mim.
“Vamos dar nessa merda de novo!”, prometeu meu amigo do prédio.
Eles entraram no elevador, meu amigo queria tirar uma porra de um “selfie”, mas é muita cornura o sujeito tirar um “selfie” com dois rubronegros, logo de manhã. Acho que iriam botar na hora no uatisap.
“Tás fodido hoje, visse?” foi a coisa mais singela que escutei.
Eles tinham algo fabuloso para um clássico – a ausência completa de dúvida. Tinham certeza absoluta que o Sport iria dar uma cipoada no Santa. Mais que isso. Eles já comemoravam a classificação para as finais. Acho que seguem a cartilha do treinador, o Batista Júnior, que avisou outro dia que seria campeão da Copa do Nordeste e do Estadual. Avisou não, ele decretou. Depois que pegou mal, pediu desculpas. Disse que entenderam errado. Tá certo.
Ontem, o Santa meteu 3 x 0 jogando bonito. No segundo gol, a torcida do Sport foi embora. Isso me chateou muito, porque ainda tivemos que esperar meia hora para sair do Arruda. Além disso, eles não viram o golaço do Gamalho, que está jogando o fino da bola.
Fui caminhando para a casa do Inácio, comemorar o aniversário de Dona Rita, sogra dele.
Não vi um rubronegro ao longo da ruas e avenidas.
Hoje vai acontecer um fenômeno que deve ser estudado pela ciência. Após uma derrota para o Santa, a torcida do Sport toma um chá de transparência. Eles literalmente somem da paisagem. Perdem a voz também. E detestam falar de futebol.
Meu amigo aqui do prédio, o Felipe, é DJ. Claro que vai dormir o dia inteiro. Quando me encontrar, acho que vai falar sobre o colégio dos filhos, que subiu a mensalidade de novo. Ou vai dizer que o importante é a Copa do Nordeste, já que o Estadual só é fundamental mesmo quando eles ganham.
São as relatividades da vida.
Antônio, lá do trabalho, vai fazer o que sempre faz quando o time dele perde para o Santa. Vai esculhambra seu próprio time, antes que eu fale algo.
Eu só faço dar uma risadinha besta e digo “é a vida”.
Isso encabula muito os caras.