Enlouquecemos. E sábado está longe. E viva as tricoletes!

 

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Amigos corais, a cidade está louca.

A torcida do Santa tem este poder mágico, metafórico, de perturbar o juízo de uma das maiores capitais do Brasil.

Caminha-se duas esquinas, e o verdureiro comenta:

“Grafite tá chegando, visse?’

Joga-se no bicho:

“Vai dar cobra”.

Vou, bucolicamente, tirar xerox para minhas aulas de literatura da quinta-feira, passo em frente ao Kaldácio.

“E aí, poeta, já comprasse o ingresso?’, me pergunta o dono da venda.

Mostro o ingresso na carteira.

Sem pedir, ele já me bota um Ele/Ela.

Eu, por questão moral, bebo. Deixo as xerox para amanhã.

Carlinhos Monteverde beberica algo. Se aproxima, liga o celular.

“Já escutasse?’

É uma música para Grafite, que ele fez no dia da chegada do negão: A volta.

Escuto, maravilhado.

“Está bombando na Internet, no meu Facebook”.

Ele me dá uma cópia e diz:

“Mandei fazer dez mil, para vender sábado, a R$ 5,00. De cada disco, R$ 1,00 vai para o Santa”.

Volto e vejo se o sapato que deixei para consertar está pronto.

“A cobra está invocada”, me diz o Rufião Melancólico da rua da Saudade.

Dou uma parada para jogar no bicho.

“Se der cobra, a banca vai quebrar”, diz a mulher que passa o jogo.

Dou uma parada no Princesa Isabel, para saber das novidades. Alguém tem notícias do Sport, Náutico?

“Eu só quero chegar perto do G-4 faltando dez rodadas. Deixa a coisa e a barbie na ilusão. Só quero na reta final”, me diz o vendedor de amendoim.

“Faltando dez rodadas, ninguém segura o Santinha”.

Já perto de casa, encontro Júnior Black.

“Sábado não vou beber. Meu pai quer ir ao Arruda”.

Nunca ouvi isso na minha vida. Júnior Black sóbrio no Arruda, levando o pai.

A custo, chego em casa.

Acho que, por ser escritor sobre o Santa, a população coral se acha no direito de desabafar comigo suas dores e esperanças.

Na portaria, está Joab, o rei do Morro da Conceição.

Ele acende um cigarro metafísico e me diz, com um sorriso:

“A massa coral endoidou de novo, Samarone”.

Eu sei. E como ninguém aguenta mais ver a foto de Grafite, botei a imagem das tricoletes dos anos 1980.

Faz parte da loucura.

Separa as chuteiras, Grafite!

Ainda bem que não assisti a derrota do Oeste sozinho, no bar Sukito, aqui defronte ao Parque 13 de Maio. Meu amigo Zeca chegou uns vinte minutos antes e começamos a luta.

Começo do jogo. Bola na cabeça de João Paulo. Ele sobe sozinho, olha para o canto esquerdo do goleiro, acerta em cheio, o goleiro fica só olhando a pelota, que vai exatamente… na trave!

Temos este problema bem democrático. De cada dez chances, fazemos uma.

“Hora de tomar uma serotonina”, disse Zeca, após ver a bola na trave.

Serotonina = Uma dose de Pitú + limão + caldinho de feijão.

Durante os 90 minutos, aproveitamos para conversar sobre temas os mais variados. Como ele é filósofo e especialista na obra do alemão Heidegger (parece que leu tudo no original, em alemão), tivemos futebol meia boca, filosofia, literatura etc.

Já estávamos caminhando para puxar a fatura, quando o sujeito fez um gol do Oeste, lá na gaveta. Zeca ficou meio invocado, achando que o Paredão catou borboleta. O sujeito da frente, um coral solitário, se virou para defender nosso Thiago Cardoso, mas o fato é que vacilamos.

Do alto da minha prosopopéia, só faço contar os minuotos para chegarmos ao dia 8 de agosto, às 16h30, no Arruda.

Tenho uma intuição muito apurada e ela me diz que Grafite vai resolver nosso problema existencial com o gol,  nesta Série B.

Amanhã mesmo vou comprar meu ingresso. Fui para um evento do Unicef, no auditório do clube, atualizei minha ficha de sócio, mas vacilei e não comprei o ingresso.

Parece que já perdi a promoção.

Não tem problema. Vou pagar mais caro com todo o gosto.

Grafite, meu querido, separe as chuteiras e, ao pisar no gramado do Arruda, nos encha de alegria com seus belos gols.

O dia seguinte…

Amigos corais, estou começando a me preocupar com os momentos antes dos jogos do Santa.

Explico.

Como não podemos mais beber durante o jogo, estou mandando ver antes. E com cano de ferro.

Vou resumir para facilitar.

Domingo, lá pelas nove horas, acordei. Lembremos que o jogo foi no sábado, 16h30.

Olhei o cenário. Eu estava no colchão da sala, ainda com a camisa do Mais Querido, ainda com a camisa que vou para todos os jogos.

O placar?

Não lembrava.

Quem encontei antes do jogo e como cheguei em casa?

Nada.

Minha mulher acordou e perguntou:

“E ai, Barba, como foi o Santinha ontem?’

Glub.

“Ahm, foi legal, mais uma vitória”.

Ela foi tomar banho e liguei o rádio. Porra, será que ganhamos mesmo?

Notícias do rádio: Lava-jato, o aloprado do Eduardo Cunha, crise, crise, crise, o Brasil só pronuncia esta palavra.

“Vamos agora à resenha esportiva…”

Opa, é agora.

Fiquei torcendo por uma vitória.

“A cobra fez bonito: três a zero no Atlético”.

Ufa…

Detalhes dos gols. Eu só lembrava de alguma alegria, mas tudo era uma grande amnésia.

Silvinha saiu do banheiro.

“Quanto foi mesmo o jogo?’

“Três a zero”, respondi com uma rara certeza, já estufando o peito.

Depois fui ao Poço da Panela.

Naná disse que me viu antes do jogo, me deu dois ingressos que tinha sobrando, que conversei com ele etc.

Alguém por aí tem os telefones do pessoal do AA, aqui na região da Boa Vista ou Santo Amaro?

O foda é a morgada…

Amigos corais, o sujeito ser cronista semanal do Santa Cruz Futebol Clube é quase viver com transtorno tripolar.

Vejam a última crônica do senhor Gerrá Lima. Uma ode à vitória contra o CRB. Ele narra o segundo tempo. O Santa com com um homem a menos (após virar o primeiro tempo perdendo de 1 x 0), o campo molhado, chuva que só a gota, dez mil abnegados torcendo, e  o que faz o Mais Querido?

Joga 45 minutos de encher os olhos, vira o jogo e arranca os três pontos.

Então vem o jogo contra os alvirrubros, no sábado, naquela desgraça da Arena.

Segundo tempo com um jogador a mais (após um primeiro tempo meia boca total), o que faz o Santinha?

Não joga nada, leva o segundo gol e perde o jogo.

Terminou o jogo, fiquei com aquele sentimento de morgação na boca. Uma semana inteira com os duas-cores rindo à toa, cantando loas.

Hoje, não vou ver TV, nem escutar rádio, nem espiar jornais.

É a famosa Morgada, com M maiúsculo.

Só fui para aquela desgraça da Arena num jogo contra a Luverdense, para nunca mais.

Sei que a diretoria anterior negociou cinco jogos com a Arena, para esta Série B. Parece, inclusive, que é a própria Arena quem escolhe os jogos. Ou seja – fica só com o filé. Já imaginaram Grafite fazendo a estreia na Arena, e não no Arruda?

Escutem o que eu digo – se a gente for mesmo disputar 15 pontos naquele lugar sem alma, sem história, sem memória, sem a força da massa coral, estamos numa fria.

Por hoje é só.

“O Santa Cruz tomou uma transfusão de sangue!”

Quando desci para comprar o pão, na quarta-feira, o jornal “AquiPE” tinha uma foto de Grafite na capa e o título:

“O artilheiro está de volta”.

Caso raríssimo: o jornal foi mais importante que o pão.

Depois do meio-dia, já fui me concentrando para a cerimônia da chegada do craque: 15h30, no Arrudão.

Às 14h, liguei para Esequias.

“Já estou a caminho do Arruda”, disse. O bicho é apressado mesmo.

Na sede, uma efervescência. Fui à sala para atualizar minha situação de sócio, mas não cabia nem a sombra de ninguém.

No bar de Abílio, aquela agitação.

Após dar uma boa golada, Esequias solta uma frase sonora e musical:

“O Santa Cruz se reencontra com o Santa Cruz”.

Começa a falar sobre a história do Santa, sua origem negra, humilde, batalhadora, e arrematou.

“Esse negro Grafite é a cara do Santa”.

Foi uma sorte imensa ter conversado com Esequias. Minutos depois, uma amiga de uma TV me pegou para uma entrevista. Usei os mesmos argumentos do meu amigo e devem ter me achado inteligente pacas. Valeu Esequias!

Depois de circular por tudo que era canto, chegamos às sociais, lotadas. Os vendedores gritavam a plenos pulmões:

“CERVEJA, Coca e água!”

Eles exageravam na palavra “CERVEJA” porque sabiam que aquele momento era único, sem proibição. A massa coral se esbaldou nas Itaipava geladíssimas.

Foi uma linda e tanto, divisora de águas. O clube realmente está se modificando. Marketing, comunicação e futebol funcionaram numa rara e perfeita harmonia.

“CERVEJA, Coca e água!”, insistiam os vendedores.

Até a TV Globo, que adora uma exclusividade, exibiu, no Globo Esporte, a entrevista que Grafite deu à TV Coral. Golaço!

Na volta, dei uma espiada na entrevista coletiva. O Negão fala bem que só.

Dei um abraço no eterno Rodolfo Aguiar, que soltou o arremate:

“Hoje o Santa Cruz tomou uma transfusão de sangue!”

Sangue negro, pois, como o das nossas origens.

Sábado coral

Amigos corais, imaginemos a cena ideal. É sábado, as chuvas deram uma pausinha, o dia está exageradamente belo. Você tem saúde, algum dinheiro no bolso, e, tirando os problemas normais da vida, você não está vivendo nenhum drama espetacular. Nenhuma tragédia faz parte deste dia. E às 16h30, o Santa Cruz joga, em pleno Arruda.

Acrescentemos um ovo de codorna ao seu caldinho de feijoada – você vive no Recife, ou próximo ao Recife. E pode ir ao jogo. E vai. E sorri, com uma certa vaidade, ao saber que o estádio do seu clube não é uma opulenta e desalmada Arena, a vinte ou trinta quilômetros de sua casa. Seu estádio é o Arruda, onde certamente seu pai ou seus irmãos ou parte dos seus amigos sorriu, sofreu, chorou, amou. Cada pedaço daquele colossso tem cheiro, memória, vida.

Seu estádio está encravado na Zona Norte do Recife, a mais bela da cidade, com seus morros e sua história, em plena Avenida Beberibe, não na Avenida Deus é Fiel (endereço da Arena Pernambuco).

Se você torce pelo Santa e não agradece por esta combinação de fatos ideais, me perdoe, meu amigo, mas você está sendo ingrato com a vida. E ingratidão cobra um preço enorme.

Como não sou chegado a ingratidão, compartilho meu sábado coral.

Saí de casa às 14h em ponto. Mal chego ao Parque 13 de Maio, passa um Avenida Norte/Macaxeira. A cobradora me dá o troco saboreando uma delicosa “quentinha”. O ônibus quase não para e rapidinho estamos na encruzilhada. Resolvo descer, para tomar alguma cerva com algum amigo, já que marquei com Esequias às 15h. Dou uma passeada, tem um trio de forró, aquela agitação, eu só ficaria se fosse a finada Sanfona Coral. Debreei.

Fiz o contorno, voltei. Gosto de caminhar, mas eu só pensava na gelada. Precisava tomar uma atitude. Passa um Dois Unidos/Prefeitura. Mal entrou no veículo, passam uns batedores a todo vapor, como se tivessem escoltando algo muito importante, um rei da Inglaterra, o Papa Francisco ou aquela mulher da propaganda da Itaipava, a Verão.

Era mais que isso – a escolta do ônibus coral, com os atletas e comissão técnica, patrimônio da torcida mais apaixonada do Brasil.

“Esse ônibus ainda é o velho. O novo vai chagar mais tarde, com Grafite dentro”, me disse o motorista, com um riso de satisfação.

Ele, por sinal, está mais bem informado que eu.

Quando o ônibus passou defronte ao bar Dragão, pedi para dar uma paradinha.

“Desce por aqui mesmo”, disse o motorista.

Desci pela frente. Quem disse que neste mundo não há cortesia?

Ninguém conhecido de novo. Porra, onde estão meus amigos às 14h30 de um sábado de jogo do Santa? Tomei uma cerva e vi a galera passando. Vou me embora é para o Arruda, pensei. E obedeci a mim mesmo. Encontrei com Esequias, sofri para comprar meu ingresso de arquibancada (a diretoria vai ter que mexer naquele vespeiro com urgência, já que os cambistas estão mandando e desmandando), e finalmente cheguei ao Bar de Abílio.

Voltando às minhas metafísicas dos costumes clubísticos. Se você chega uma hora antes do jogo e vai ao bar de Abílio, dentro da sede e não encontra um amigo, ou você é insuportável ou é dente-de-leite da torcida do Santa. Ou é um seminarista. Ou coroinha da Igreja. Ou candidato a pastor.

Estava lá Esequias, claro, com aquela conversinha mansa dele. Como ele é colecionador de coisas do Santa Cruz, levei um punhado de ingressos que venho guardando. Ele arregalou os olhos e ficou apreciando cada um, como se fossem figurinhas de um álbum da vida inteira. Bebemos nossa cerva gelada. É uma coisa da Idade Média, proibir uma reles e simplória cerveja num estádio de futebol. Os idiotas que fazem leis, neste país, são mesquinhos. Jogo pragas neles todos os dias.

Já na entrada, encontrei Pablo, da Planalto Coral. Ele e uma amiga. Dos três, o menos cabeludo era eu.

A moça foi revistada por duas policiais militares. Não foi uma revista, aquilo. Foi um baculejo que quase alcançou as entranhas. Revistaram a bolsa da moça ítem por ítem. Eu e Pablo passamos rapidinho e ficamos vendo a cena. Era tão absurdo, que teve hora que virou luta de classe. Será que a revista numa moça branca com cabelo liso e aloirado seria a mesma de uma mulher negra, de cabelos crespos?

Mas entramos. E toda vez que entro naquelas arquibancadas, fico imediatamente três graus mais feliz. Celsius ou Fahrenheit, não importa. Os rostos, as figuras, as conversas, a paixão incansável por um time obstinado, teimoso, que não se dobra. Ou seja – a torcida do Santa é a metáfora perfeita do clube.

O fato é que veio o gol e a vitória e os três pontos.

E se Grafite vem mesmo, para resolver o drama do gol, saiam da frente – a gente vai soltar fogo pelas ventas.

**

Ps. É preciso aplaudir de pé os senhores Inácio França e Laércio Portela pelo novo site do clube (www.santacruzpe.com.br). Está bonito pacas, dinâmico, articulado com as redes sociais etc. Se forem olhar o site agora, já tem a entrevista com o treinador após o jogo, fotos da partida e  os melhores lances (filmagens da TV Coral). É de dar gosto. 

Empaterrota

Desde quarta-feira estou em Fortaleza. Vim para o lançamento de meu último livro de poesias e já conheci um bocado de escritores, artistas, compositores.  A turma  daqui bebe com paixão e profissionalismo.

O esquema para o jogo estava rigorosamente perfeito. Desde que botei minha postagem, conclamando para irmos ao jogo no Castelão (“Arena Castelão” um caralho), recebi retorno de corais que iriam ver o Santinha. O José Paulo me ligou, oferecendo carona. No domingo, às 13h, ele passaria aqui no hotel onde estou e depois a gente se encontraria com a torcida “800 quilômetros de paixão”.

Já pensou? Uma vitória fora de casa, para começar uma arrancada?

No sábado, minha mãe avisou:

“Meu filho, você está lembrado do forró que sua tia Theresa convicou, né?”

O forró era domingo, começando mais ou menos 19h, na casa da querida tia. Estariam lá também vários primos e pessoas queridas, que não vejo há tempos.

Fiquei com aquilo martelando. Se eu fosse para o jogo, perderia o forró da tia. Não sou de ir para jogo do Santa e me comportar bem. Sei que beberia todas. Ultimamente, estou até já olhando os telefones do AA.

No sábado, fui dar uma entrevista na Rádio CBN e chamei um táxi. O sujeito era chato pacas e veio com a camisa do Ceará. É “Sócio-Bronze”, algo assim. Paga R$ 50,00 por mês e todo jogo do Ceará, como mandante, entra de graça, só com a carteirinha. Nem fila pega.

“No Castelão, tem uma área só para a gente, que é sócio”, disse.

Ele esculhambou o time de leste a oeste. Parecia a galera aqui do Blog, quando está de mau humor. Segundo Chatoso, o time nem de longe lembra o que ganhou a Copa do Nordeste.

Na volta, dei sorte. Um taxista torcedor do Fortaleza muito simpático disse que a “Carniça” (singelo apelido que a torcida do Fortaleza inventou para denominar o time rival) estava “só o bagaço” e que iria torcer pelo Santa.

“Macho, vocês têm que dar uma peiada boa nessa desgraça”, sugeriu.

Falei para ele sobre meu drama, de querer ir ao forró e ao jogo, mas ele, com seus cabelos brancos, foi direto:

“Rapaz, vá ver sua tia e sua família. Eles devem estar com saudades de você. E você sabe que jogo tem até o fim do ano”.

Depois dessa, o jeito foi fingir que esqueceria o jogo. O José Paulo me ligou e tive que declinar do convite. Minha irmã ficou de me buscar no hotel.

Domingo comecei cedo a tomar umas jurubebas e caramurus. Almocei o cozidão da Dona Ermira botando os papos em dia com o Tonho, meu irmão, Pedim, Netão e os sobrinhos. O João Victor, sobrinho que nasceu no Recife, me recepcionou vestido com a camisa do Santa. O pestinha tem sete anos e usa três pilhas alcalinas em cada pé. Só parei quando bateu o sono.

Estava no hotel me recuperando da soneca, quando o Tonho me ligou.

“Gol do Santa Cruz aos 45 do segundo tempo: 3 x 2!”.

Quase dei um grito, mas iria assustar Silvinha.

Estava a caminho do frigobar, para abrir uma latinha (fone do AA, please), quando ele me ligou de novo.

“Empate da Carniça”.

Puta merda, que empate com sabor de derrota do caralho!

Minha irmã passou meia hora depois, no Fiat da minha mãe que só funciona bem mesmo o motor. Meu irmão diz que quando o carro chega na oficina, o mecânico toma logo uma antitetânica, de tanta ferrugem que tem.

O forró foi ótimo. Esqueci a derrota, digo, o empate, por umas duas horas. Chopp de rodo, tira-gosto etc.

José Paulo, obrigado pela oferta da carona. Tomamos umas no bar de Abílio, num jogo desses da vida. Espero que em outra posição na tabela…

Vamos invadir o Castelão!

Amigos corais, por sorte do destino, lancei um livro de poesias ontem cá em Fortaleza, onde morei por mais de dez anos.

Só depois que cheguei foi que me avisaram que o Santa Cruz joga contra o Ceará, no sábado à tarde, em pleno Castelão.

Como eu tinha passagem de volta marcada para sábado à noite, vou à rodoviária daqui a pouco, para fazer a troca e voltar somente no domingo.

Agora a pergunta fatal: onde a massa coral se encontra, aqui em Fortaleza?

Dados sobre o adversário:

O Ceará está com quatro pontos em setes jogos, Uma vitória, um empate e cinco derrotas. Aproveitamento de 19%.

Sei que Gerrá fez as contas dele, mas não lembro nosso percentual. Deve ser meio por cento melhor.

Mas a questão é pensar somente (e obcecadamente) na vitória, sábado.

Aguardo o retorno da massa coral, em Fortaleza, para irmos juntos ao Castelão. Se for perto da praia, melhor. É bom ir com gente conhecida, porque a turma das organizadas daqui bate pesado.

Sozinho, com a camisa do Mais Querido, posso virar picadinho.

Deixemos de cornura!

Puta merda, nunca vi tanta azia, má-digestão, mau olhado, quizila, caminho fechado, ingrisia.

O time joga numa sexta-feira à noite, tem greve de metrô, ônibus, cai uma chuva de arrombar, e… perde;

Amanhã, jogo às 21h50, novamente sexta-feira. Se bobear, pode chover de novo.

Para arrematar, o time está uma bosta. Desculpem, mas hoje estou com a boca suja.

Sim, E DAÍ?

Quem abandona o time na magra, como estamos acostumados a ver? Sabemos bem: Náutico e Sport.

Quando estão na boa, é tudo lindo. Se cai na tabela, é vaia e estádio vazio. E somem da paisagem. Não se vê uma camisa na rua, nem para remédio.

Nós somos a torcida do Santa Cruz, caralho!

Amanhã é obrigação cívica não só ir ao estádio, como chamar amigos, mandar ver nesses negócios do Facebook, celular, convocando para empurrar o time.

A gente pode entupir os sites e blogs do mundo inteiro, com nossas justas reclamações, mas o simples gesto físico de ir ao estádio, amanhã, vale mais que mil palavras.

Desculpem o péssimo trocadilho, mas “Um tocedor do Santa Cruz vale mais que mil palavras”.

Deixemos de cornura, de mimimi, de raivinha, de raivona, de ódio, de mau agoro.

Vamos ao Arruda, fazer como certos casais, que se amama mas se afastam, resolvem “dar um tempo”, por pura raivinha, e se reencontram, três anos depois, e dizem, quase ao mesmo tempo:

“Quanto tempo perdido…”

Uma vitória! Uma vitória para afastar o azedume!

Tenho um costume besta e absolutamente fora de moda, que é o de recortar notícias de jornais. Guardo, mando para os amigos, coleciono em cadernos. Sou o ser mais analógico do Brasil, quiçá da América Latina. Tenho 13 máquinas de datilografia, tesouras, colas diversas, enfim.  Algumas notícias recentes, da Folha de São Paulo:

“Corte de custos vai dificultar as renovações do Corinthians”.

O time está preocupado com o fraco orçamento para 2015: R$ 200 milhões.

Resultado: Acaba de levar a segunda lapada do arquirrival Palmeiras em plena Arena, salvando treinador palmeirense da demissão.

“Santos consegue empréstimo de R$ 8 milhões com o Banco BMG para quitar as dívidas com Robinho”.

Resultado: O rapaz está arrumando as malas.

“Justiça nega recurso do clube e mantém a penhora do Canindé”.

As dívidas trabalhistas da Lusa são de R$ 47 milhões. O TRT vai agendar a data do leilão e forma para a venda.

Então você pega o Santa Cruz, versão 2015.

O time começou do zero, praticamente montou um novo time. Sem dinheiro no cofre. Sem conta em banco. Sem o que chamam de “patrocinador Master”.

Sem Copa do Nordeste. Sem Copa do Brasil.

Não se sabe como, mas um time praticamente sem dinheiro arrancou o título do Estadual.

Começamos uma série B de mal jeito. O time está malamanhado, batendo cabeça, desorganizado, mas parece que tudo está se acabando.

Aqui nos comentários, referem-se a Ricardinho como um reles “entregador de colete” e coisas piores. De Tininho, que tem na conta quatro títulos em cinco anos, fora os acessos, outras barbaridades. Tem comentarista que exerce com rara felicidade a arte de ser desagradável.

Sinto muito, mas Ricardinho, com uma equipe modestíssima, levou o título para o Arruda.

Do outro lado tinha Lisca, Sérgio China e Eduardo Batista.  Quem está na foto dos bares, botequins e casas as mais diversas, é Ricardinho.

Dizem misérias sobre os bastidores do clube, há acusações monumentais, como se a diretoria estivesse nadando em dinheiro e contratar bons jogadores fosse uma questão simples – a de escolher o atleta e passar o cartão.

Não se iludam, camaradas, temos ainda um caminho grande pela frente. No último jogo, com chuva e greves diversas, tivemos cinco mil pessoas no Arruda. Sabem quanto isso dá, em dinheiro vivo?

Olho a tabela. Temos três pontos. O oitavo colocado tem seis.

Precisamos de uma vitória fora de casa, para afastar esse azedume, isso sim.

Do alto da minha prosopopéia, solto gritos lancinantes:

“Uma vitória! Uma vitória para afastar o azedume!”

Ps. Dei minha coleção de camisas, faixas e bandeiras para o colecionador Esequias Pierre. O senhor Gerrá Lima fez safadeza e insinuou que eu estava “cansado do Santa”. Já procurei meus advogados pala processá-lo por difamação e calúnia. Cansar do Santa, nem depois da morte.

Outra providência será a de banir do Blog aqueles textos eróticos (para não dizer coisa pior), que parecem ter sido escritos para a revista Brazil.

E quem tiver notícias do senhor Inácio França, favor ligar para nosso 0800 1914.