Ruindade, tabu e cabaços voadores.

Assisti ao jogo do Santinha contra o Salgueiro no Bar Sukito – na esquina do 13 de Maio. Sama não pôde vir, estava resolvendo questões amorosas. Muito justo e está perdoado.
Pedi uma cerveja antes de o jogo começar. À minha direita estava sentado um senhor torcedor da Barbie e que descia o sarrafo em tudo e todos. À minha esquerda, um tricolor mais irado ainda – era tanto xingamento que pensei que, assim que o juiz desse o apito inicial, o apocalipse iria se instalar na terra.
Logo que a partida começou, o Santa Cruz foi para cima. Estava com vontade e muita garra. Barbio corre pelo meio de campo, toca para Pitbull que lança em profundidade Léo Costa que quase faz um golaço. “Começamos bem”, pensei. Será que as substituições de Eutrópio deram certo?
Chegando aos dez minutos do primeiro tempo, Pitbull pega a bola fora da área, chuta e a bola desvia no zagueiro. Golaço! Todo tricolor santacruzense deve ter pensado:
“Pronto, vamos dar uma lapada homérica no Carcará. E como é que a gente perdeu desse time na semana passada?”
Entretanto, alguma coisa estranha ocorreu depois do gol. Parecia que tinha alguém escondido nas arquibancadas com um controle remoto todo poderoso. O time do Santa foi desligado, ficou offline e sem conexão.
O espaço entre o meio de campo e o ataque cresceu e o Santinha não conseguia atacar. O segundo tempo foi ainda pior. Ainda bem que Júlio César está se firmando como um grande goleiro. Estamos criando um novo paredão.
Mas, pior do que a desconexão com o ataque foi a atuação das laterais. Vítor, que vem fazendo boas atuações, parecia cansado de guerra. Mais cansado do que corredor no fim de maratona no Saara. O desgaste muscular deve estar atrapalhando. Jogou muito abaixo de sua própria média. E Tiago Costa parecia disperso, desentrosado, mal posicionado. As laterais batiam cabeça, erravam no domínio e saída de bola e na marcação.
Evidente que quebrar um tabu de seis anos é muito bom. Vencer é sempre bom. Mas fiquei preocupado com esse time. Eu pensava que era uma questão de ajustes no posicionamento, corrigir a transição da bola e acertar mais os passes. Estava enganado. É preciso pensar na ruindade como um elemento presente. Não dá para vacilar diante do Central na próxima rodada, mesmo sabendo que esse regulamento esquizofrênico nos beneficia.
E não é que a Patativa fez sua primeira pontuação, colocando o Belo Jardim mais distante de nós?! Chega a ser vergonhoso ter uma preocupação dessas. Não entrar na semifinal nesse campeonato é um insulto à torcida.
O mais legal dessa rodada, contudo, foi que o cabaço de quem era invicto foi para o espaço. Foi cabaço voando para tudo que era lado. A zoeira no zap foi grande.
A ressaca de hoje mostrou que é preciso muita cerveja e paciência nesse campeonato. Não sei qual vou precisar mais.

Evoé, Baco!

Meus amigos tricolores, chegou o Carnaval. Evoé, Baco. A festa da alegria, embriaguez, fantasia e loucura. E a maior loucura de todas: teremos jogo no sábado do Galo. Pense numa tabela feita por um cara muito doido.
Possivelmente estarei tão bêbado que terei que ver o jogo na manhã de domingo novamente para entender o que aconteceu. Mas não tenho dúvidas: iremos arrancar uma bela vitória.
Estava ontem em Seu Sebastião conversando sobre esse jogo contra o Uniclinic (Quem foi o maluco que colocou esse nome?) quando a troça Siri na Lata passou desenbestada na porta do ilustre bar tricolor. O frevo, meus amigos, ferve.
Fiquei instigado e sai em direção ao Levino. Essa troça é muito foda. Além de tocar as músicas do mestre Levino Ferreira – um dos maiores compositores de frevo de rua – possui um repertório que foge do lugar comum.
Eu estava me aproximando da 7 de setembro procurando uma passarinha para tomar uma cana quando ouvi alguém me chamando: “Zeca, porra, vem aqui!”. Era Juninho, um antigo amigo de colégio. Estudamos dez anos juntos no saudoso Nóbrega.
Amigo de colégio é uma coisa interessante. Você pode passar vinte anos sem ver o sujeito e, quando o rever, parece que o último encontro foi ontem. Ficamos tomando umas cervas e falando sobre o Santinha e sobre frevo. Juninho é um apaixonado pelo Santa Cruz e pelo frevo. Conhece tudo sobre nossa música maior – mas não é músico, uma frustração que foi resolvida com as filhas que estudam, agora, no conservatório.
E, como todo tricolor santacruzense, é o maior torcedor do Santinha. De repente, ele me saiu com essa:
“Zeca, já falei com Gerrá que tu é um alter ego que escreve no Blog. Tu nunca falava de futebol no Nóbrega”.
“Vai tomar no cu, Juninho. Tinhas quantos anos quando fosse ao Arruda pela primeira vez?”.
“Sete”.
“Se fudeu. Eu tinha cinco”.
E aí começou aquele lengalenga sobre quem foi mais a campo:quem viu Fu Manchu ou Ramón jogar; quem estava na inauguração da arquibancada superior; quem viu a inauguração do placar eletrônico; quem estava no jogo contra o Palmeiras que teve um público monstruoso; quem presenciou o cabaço da leoa voar e por aí afora.
“Juninho, eu não tinha saco de discutir futebol com vocês. Tu e Rostand (outro amigo do Nóbrega e torcedor coisado) viviam brigando na hora do recreio. O cara tinha que ter muito saco para entrar naquela frescura”.
O bloco saiu e seguimos a orquestra. Frevos maravilhosos. Juninho ia solfejando as notas que eram cuspidas pelos metais. Sou metaleiro de corpo e alma, mas o frevo está no sangue desde sempre. Antes de tudo, sou pernambucano com muito orgulho.
A noite seguiu. Assim como o frevo que invadia as ruas e as antigas calçadas da cidade. Foi muito bom reencontrar um grande amigo das antigas. Ainda mais um cara que é apaixonado pelo frevo e pelo Santinha. O início de Carnaval foi arretado. Espero rever Juninho logo para retornarmos a discussão sobre quem ama mais o Santa Cruz. E comentar nossa vitória desse sábado.
Acho que isso ocorrerá em Olinda na troça Minha Cobra. Vai ser cana.
Vamos embora que a alegria só acaba na quarta-feira ingrata. Evoé, Baco!
Um excelente Carnaval para todos. Na paz e na alegria, pois esse é o verdadeiro espírito de Baco, o deus do êxtase e da felicidade sem fim.

O Clássico das Tensões.

O Clássico das Multidões – que, no caso desse sábado, pode muito bem ser chamado de Clássico das Tensões – revelou uma nova faceta desse time do Santa Cruz e que segue aquilo que os amigos tricolores Genivaldo, Marcos e Arnildo disseram aqui no Blog: time macho do caralho!
A pilha que o menino Everton Felipe deu antes da partida foi salutar para nós. O Santinha entrou em campo como se estivesse entrando no octógono do UFC: sangue nos olhos, vontade de ganhar e dar porrada em todo mundo.
O nome da partida: Vítor. Puta que pariu, o cara estava endiabrado. Jogou com muita garra, uma disposição absurda e se revelando um talento para lá de qualquer expectativa.
Claro que a qualidade de Diego Souza foi fundamental para o gol do Do Recife (a coisa). Mas não tem quem me tire da cabeça a ideia de que Jaime deu uma puta vacilada no lance.
A expulsão de André Luís – com o placar desfavorável – parecia ter decretado, em definitivo, nossa primeira derrota. Uma porra. O time se superou. Ao contrário do que poderia se esperar, até jogou mais. E isso mesmo diante das lambanças da arbitragem.
E Pitbull, meus amigos, é Pitbull. Deu um mata leão nos coisados com um toque magistral. Três tricolores contra cinco leoas, mas um toque de bola refinado que acabou com o nosso gol. Que coisa mais bonita. Ele tem tudo para ser o nosso grande ídolo nessa temporada.
E Júlio César está cada vez melhor. Jogou muito. Fez defesas dificílimas que ajudaram a manter o empate. Estava envolvido com a partida, totalmente dentro do espírito do clássico.
Mas isso não quer dizer que está tudo bem. Muito pelo contrário. A garra do time foi muito maior – maior mesmo – do que a qualidade do nosso futebol. Claro que a qualidade do passe no meio de campo vem melhorando, mas há muito trabalho para ser feito.
É preciso equacionar os espaços entre defesa e meio de campo e entre meio de campo e ataque. E melhorar o domínio e saída de bola.
Barbio me pareceu mais perdido do que gringo no meio do Galo da Madrugada. Estabanado, afobado e sem noção de posicionamento.
Em campo, o jogo foi muito pegado. Aquele chute de Leandro Pereira em Jaime era para ter sido cartão vermelho. E ainda estou na dúvida se Pitbull estava realmente impedido. Magrão ia se fuder. Esse Rufino não me engana.
Por fim, vou dar meu palpite para essa temporada: Pitbull será o artilheiro e o Santa Cruz será o campeão do PE 2017. Eita porra, me arretei.

Os Hooligans no Clássico das Multidões.

Confesso que estou começando a ficar nervoso com esse jogo de sábado. O cara escuta a resenha no rádio, lê os jornais, assiste à TV e ouve, nas ruas, a torcida dizendo: “Pitbull vai estraçaiá a coisa. Au, au, au, au”.
Sábado será o teste de fogo para Eutrópio e para a torcida tricolor. O treino fechado mostra que é preciso ter a cabeça no lugar e acertar alguns pontos: espaços na defesa, conexão do meio de campo com o ataque e ir além da bola parada na hora de atacar.
Apostaram no argentino Parra e em Júlio César (que é meu aluno no curso de Direito). Espero que os dois mostrem serviço quando entrarem em campo nos próximos jogos.
Mas esse sábado é o dia do Clássico das Multidões. O dia em que o sujeito acorda eletrizado, só pensando na hora de entrar em campo e celebrar com a torcida. O zap explode de mensagens dos dois lados – a gozação sadia é fundamental para manter o espírito do futebol brasileiro.
Sábado é dia de marchar para o Arruda confiante em nossos guerreiros. Dia de lotar o Mundão e celebrar essa paixão no mês de nosso aniversário. Dia de ser feliz, comungar com a essência desse esporte maravilhoso e dessa torcida alucinada. Dia de tomar uma em Abílio, comer o cachorro-quente da arquibancada e acompanhar, com os nervos à flor da pele, o jogo também pelo rádio.
Uma pena que muitos torcedores ainda insistam em transformar essa festa tão linda num campo de batalha. Já escrevi aqui – na crônica “Meu dia de Mancuso” – que levei uma baita carreira da torcida dos coisados. Um amigo que torce pela leoa já foi espancado por torcedores do Santa Cruz só porque estava com a camisa do time adversário e entrou numa rua tomada por tricolores.
Uma tristeza a permanência desse clima medieval. Sempre fui a favor das torcidas organizadas. Essas surgiram para enaltecer a paixão do torcedor por seu clube. Elas embelezam a festa nos estádios, dão identidade ao time e calor na comemoração de um gol.
Mas os baderneiros confundem tudo. Os Holligans PE querem transformar essa festa em um inferno. Creio que seria muito salutar adotar a postura que o governo da Inglaterra tomou em relação a esse problema: tipificar essas ações como crime e punir de maneira severa, monitorar os arruaceiros e banir dos estádios aqueles que não querem amar, mas sim, lutar.
Futebol é lugar do amor, da paixão e da alegria. Por isso, acredito que seria também importante iniciar um trabalho de ação social para reeducar esses torcedores. No fundo, a paixão pelo time ainda está lá. E é essa que deve existir e ser glorificada.
Inegável que todo torcedor que for ao Arruda nesse sábado terá um pouco de receio da violência. Minha esposa sempre pede para, no Clássico das Multidões, eu ir sem a camisa do Santinha. Uma pena esse medo, essa invasão de nossa liberdade. Nós que queremos apenas torcer.
Resta torcer para que o esquema policial esteja bem montado e que o Estado faça sua parte. E que a festa, e apenas essa, seja a realidade desse sábado.
Paz nos estádios. Paz nos corações.
Futebol é amor. E Clássico, meus amigos, é Clássico. Tem que respeitar.

1914, um ano especial.

Meus amigos tricolores, 1914 foi um ano louco e especial a um só tempo. Para a maioria das pessoas, é o ano em que se inicia o absurdo da Primeira Guerra Mundial que culminaria, décadas depois, com as atrocidades do Nazismo. Mas teve coisa boa também.
Foi o ano em que se fundou a Seleção Brasileira de Futebol, o Ceará e o Paysandu.
Esse ano especial e louco viu o nascimento de Caymmi e, pela primeira vez, o aparecimento de Carlitos nas telas dos cinemas.
Não houve Prêmio Nobel de Literatura nesse ano. Porém, Aleister Crowley escreveu o célebre Livro da Lei e James Joyce, um dos maiores gênios da literatura, principiou sua obra-prima, Ulisses.
Mas, para nós tricolores, foi um ano fundamental: é o ano do nascimento do Santa Cruz Futebol Clube, o Terror do Nordeste, o Mais Querido, o Time do Povo, o Tricolor do Arruda.
No último dia 3 desse mês, estava em meu apartamento quando ouvi, no Largo da Santa Cruz, exatamente à meia-noite, fogos explodindo e gritos alucinados de “É tricolor!”. Coloquei minha camisa do Santinha e fui pra lá. Esequias e outros amigos estavam saudando o 103º aniversário de nossa paixão maior. Conversamos sobre o clube e os festejos.
No mesmo dia, às 18 horas, estava novamente no Largo, agora devidamente acomodado em Seu Sebastião, com Gerrá e Sama. As ruas estavam tomadas de vermelho, preto e branco. Que coisa mais linda de se ver.
Enquanto estávamos brahmeando e conversando sobre futebol, vi uma enorme inscrição numa janela no prédio que fica na esquina da Rua Velha: 1914. Que ano especial, pensei.
Podem dizer que o aniversário do Santa foi dia 3 e já passou. Eu comemoro durante todo fevereiro até cair de exaustão, embriaguez e alegria nas ladeiras de Olinda seguindo a troça Minha Cobra. Cada doido com sua mania.
E não é que os presentes de aniversário desse ano estão sendo bons? Demos uma lapada nas barbies e contra o Central demonstramos muita garra – espero que o velho espírito de guerreiros de nossa tradição tenha retornado definitivamente. Ontem, Pitbull (au, au, au, au) se arretou e ficamos na liderança do grupo. Acho que André Luís dançou.
O time tem muito o que melhorar, isso é inegável. A parte de conexão e criatividade tem que entrar nos eixos. O fato positivo é que estamos bem de bola parada. E creio que, com todos os prós e contras, a torcida está começando a se empolgar.
Dia 19 será o teste de fogo contra os coisados. Uma vitória no próximo domingo e o mês de aniversário será perfeito. Que assim seja!
E imaginar que essa paixão louca surgiu em 1914. Só temos que agradecer àquele grupo de jovens entusiastas que, em fevereiro daquele ano, fundaram o clube do povão, das massas, do coração e da vontade.
Te amamos, Santa Cruz.
Santa Cruz! Santa Cruz!
Junta mais esta vitória…

Pedronito, o goleiro Pedrinho.

Eu estava tomando umas cervas com alguns amigos na Encruzilhada no sábado anterior ao jogo contra o Capibaribe (as barbies). Depois da farra, peguei um táxi naquele ponto que fica perto do Tepam para voltar para a Boa Vista. Assim que entrei, o motorista disparou:
“O senhor gosta de futebol?”, disse com o carro já em movimento.
“Sim, sou apaixonado por futebol. Sou tricolor. E o senhor, torce para que time?”.
“Para os três, pois joguei nos três”.
Fiquei desconfiado: “Qual o seu nome?”.
“Meu pai era Pedro e minha mãe era Anita. Daí me chamarem de Pedronito. Mas era conhecido como Pedrinho”.
“Mas o senhor é muito magro para ser o lateral do Santa. O grande Pedrinho”.
“Não, não. Fui goleiro. Joguei no Santa, Sport e Náutico. Joguei no Palmeiras, Maguary, Fortaleza e Calouros do Ar. Joguei com Ademir da Guia, Garrincha e Vavá”.
Minha desconfiança foi aumentando. Esse bicho está mentindo, pensei.
“O senhor sabe, ele disse, que motorista de táxi e mulher mentem demais”.
“E é?”
“Vou provar que é verdade o que estou dizendo”, ele disse quando paramos na Manoel Borba. O velho Pedronito, o Pedrinho, desceu do carro e abriu a mala. Fiquei surpreso: uma porrada de recortes de jornais das décadas 50 e 60.
“Tá vendo aqui?”, ele disse apontando para uma foto do Palmeiras. “Esse aqui sou eu”.
E ele foi mostrando as fotos e reportagens de uma época de ouro do futebol brasileiro.
“Fui campeão pelo Santa Cruz”, disse com muito orgulho.
“E o senhor jogou contra Pelé?”.
“Se joguei?”, ele perguntou com lágrimas nos olhos. “Tive a honra de levar um gol de Pelé. A maior alegria de minha carreira”.
Puta que pariu, até eu fiquei emocionado.
“Joguei com Coutinho, também”.
Que história linda! E que orgulho enorme trespassava suas palavras e gestos.
Me despedi de Pedrinho pensando na minha infância no Arruda. Saudade desse tempo. Hoje, depois desse jogo horrível contra o Belo Jardim, só me resta relembrar.
O velho poder da História com seus heróis e detratores.

Dando nos nervos.

Meus amigos tricolores, início de temporada – ainda mais com um time que é quase 100% novo – é para testar os nervos do camarada. Depois do jogo contra a Campinense, estava passando na frente do prédio vizinho ao meu. O porteiro de lá, o Galego, é tricolor e sempre conversa comigo sobre os jogos do Santinha. Ele disparou:
“Professor, que time ruim da mulesta é esse? Assim não vamos ganhar nada”.
“Calma, Galego. O time ainda está se arrumando. É complicado”, repliquei.
O jogo contra a Campinense deixou muito claro que muita coisa precisa ser feita. Até aos vinte minutos do primeiro tempo, as coisas não estavam tão mal. Mas bastou os paraibanos aumentarem o ritmo de jogo para demonstrar uma de nossas falhas mais sérias: falta de preparo físico.
Acredito que Júlio César e Léo Costa se firmarão nas suas posições. Mostraram que possuem vontade e talento pra jogar. Mas quem joga pelada sabe que craque, no meio de perronhas, não faz milagres.
E, por falar em jogador ruim, esse Jaime não parece ter condições nenhuma de continuar nesse time. Pelo amor de deus: despreparo físico, mal posicionado e errando bolas simples, quase entregando o ouro ao bandido.
A preparação do Campinense – com alguns jogadores da temporada passada e com mais jogos – se mostrou eficaz contra o Santinha. Os vacilos da nossa defesa deixaram qualquer um com uma pulga atrás da orelha.
Barbio e André ainda não disseram a que vieram. O empate terminou saindo como um bom resultado.
O mau humor e desconfiança da torcida – neste início – é perfeitamente compreensível. Ora, se o time tivesse sido campeão de PE, da Copa do NE e tivesse permanecido na Série A, não tenho dúvida que todos estariam sendo mais condescendentes e pacientes com esse novo time.
Mas, sejamos francos, ninguém engoliu aquele rebaixamento. Daí esse amargor que encontro em quase todo torcedor tricolor. Desconfiança e mágoa geram comentários amargos e desconfiados. Nada mais natural. Não é pessimismo, é raiva mesmo. Algo como alguém que foi traído e está puto da vida.
Início de temporada, com este time, é para dar nos nervos mesmo. Mas temos que ser pacientes, independente dos ânimos. Não tem como não reconhecer que a falta de preparo e entrosamento estão pesando contra.
Domingo é se preparar para fazer uma viagem dos infernos para ver o Santinha contra o Capibaribe (as barbies). Como o futebol é uma coisa meio irracional, vamos torcer para que o time encontre a garra que tanto nos define. Tomar um chazinho de camomila pra não se estressar não faz mal a ninguém. Mas jogar bem, também não.

Lar, doce lar.

“Estamos de volta. Essa é nossa casa”, gritou um torcedor enquanto éramos espremidos para alcançar o portão 7 do Arruda. Na entrada, à minha frente, um policial barrou um adolescente negro. Ele parecia desconsolado.
“Vai ficar aí, boy’, ele disse.
“Júnior, meu velho’, disse na hora, ‘tu não vais entrar não, porra? Tás doido? Primeira do ano”.
O policial me olhou cismado, olhou pro menino e disse: “Vai, passa aí”. Ele entrou com um sorriso enorme no Mundão do Arruda. Não dava pra barrar ninguém nessa estreia.
Antes desse inferno, eu havia me encontrado com Esequias em seu Abílio.
“Uma pena que Sama e Gerrá estejam viajando’, eu disse, ‘mas é muito bom estar de volta ao Arruda. De volta ao lar”.
“Muito bom mesmo”, ele me respondeu com um largo sorriso.
Entretanto, apesar da alegria do retorno, percebi que havia uma desconfiança no ar. Não se tratava de uma alegria despojada, plena e leve. Tratava-se de uma alegria desconfiada. Mas isso era normal, afinal de contas, ninguém sabia direito que time era esse que iria jogar.
Dentro do estádio, cachorro-quente e cerveja. Senti-me de volta à infância. Um sentimento enorme de pertencimento invadiu meu espírito. Sorri sozinho, sentindo aquela velha felicidade de sempre.
O gramado estava detonado. Ao menos, percebi que a velha bandeira destroçada parou de tremular sobre o Arruda. Espero que a galera da patrimonial coloque uma bandeira de 10 metros que possamos ver do Marco Zero.
A arquibancada inferior estava lotada. Parecia o Galo da Madrugada. Vi muitas pessoas humildes – a cara desse time do povão – e muitos pais com crianças de colo. Que coisa linda!
Assim que a bola rolou, a torcida começou a se manifestar. Interessante é que ninguém sabia o nome de jogador algum. Exceção a Júlio César que, inclusive, fez uma defesa espetacular de uma bomba de Diogo Oliveira. Os comentários foram surgindo:
“Quem é esse 3? Vou demitir esse filho da puta”.
“Esse 10 é o nosso Messi”.
“Esse camisa 7 parece Renatinho maior”.
“Esse 2 é o Vítor?”
“Quem é esse camisa 23? Vai, lerdo. Acorda, porra!”.
Everton Santos e Primão se alternavam nas pontas. Aos 34 do primeiro tempo, David soltou a bola, Eduardo cruzou, rebote da defesa e Léo Costa não perdoou: Goooooooool! Cervejas voando, torcida pulando, todo mundo gritando. Isso é uma beleza.
Inegável que o time está desencontrado e que temos muito trabalho pela frente. Assim como ficou claro que não temos atacante. Primão bateu uma falta de primeira. Finalmente, me parece, temos um homem de bola parada.
No final, um torcedor xingou o Santinha: “Que time é esse?”.
Outro replicou na hora: “Tu queria o quê, porra? O time foi montado ontem. E já somos campeões”.
Valeu pela alegria e pela Taça Asa Branca. De volta ao lar. Lar, doce lar. De volta à temporada futebolística.

Nota: Nossa homenagem ao grande Carlos Alberto Silva, o técnico do trisuper em 1983. Quem se lembra de Henágio, Ricardo Rocha e Zé do Carmo, se lembra de Carlos Alberto Silva. Tempos de ouro para o Santa Cruz. Um grande treinador que merece ser eternamente lembrado. Uma honra saber que ele fez parte de nossa História. carlos-alberto-silva-em-agosto-em-homenagem-do-guarani-1378999015016_615x300

Vinte e um e Carnaval.

Meus amigos tricolores, todos já ouviram a célebre afirmativa de início de ano: “Ora, o ano só começa mesmo depois do Carnaval”. Pelas bandas do Recife e Olinda, esta festa que deveria durar três dias, na verdade, já começou em dezembro.
As ladeiras de Olinda já estão fervilhando. As prévias ensandecem os mais loucos e o Mercado da Boa Vista deve entrar para o Guinnes Book como a maior concentração domingueira do mundo.
Mas como nesse país nada segue regra alguma, o futebol decidiu nos presentear com a Taça Asa Branca já neste janeiro. Finalmente poderemos retornar ao Arruda. Próximo sábado, dia vinte e um, às 17:20 (eita horário louco da porra!), retornaremos à nossa casa.
É um bom momento para vermos como o time de Eutrópio está reagindo às suas ordens. A boa notícia é que diversos garotos da base – e que disputaram a Copa São Paulo – estão se tornando realidade. Temos agora Lucas, Thawan e Otávio. Espero que Eutrópio acerte essa defesa. Basta de tanta perronhice.
O Bady deu uma de bad boy e deu o pitu no velho Eutrópio. Debandou para a Turquia. Por outro lado, Elicarlos foi oficialmente apresentado. Disseram que ele deu a louca com as barbies por causa de salários atrasados. Se essa política de não respeitar o salário dos jogadores e dos funcionários continuar no Santa Cruz, vai ter muita gente dando a louca por essas bandas.
Sem dinheiro no bolso não tem como exigir bola em campo. Lembro do velho Robgol e do torcedor desconsolado chorando aos seus pés. Problema crônico do Santinha que nos afundou na Série A do ano passado. Basta ver o destaque que estão dando na mídia para Keno, Grafite e JP. Quem diria, hein?
O Payssandu também realizou um treino aberto para a torcida neste mês. Será um jogo interessante: duas equipes disputando uma taça, mas com um elenco tão novo quanto bumbum de bebê. A busca pelo entrosamento e identidade será a tônica nesta pré-temporada.
Depois do jogo é descer direto pro Carnaval para tomar todas. E por falar nessa festa tão especial, a troça carnavalesca mista, ofídica, etílica e erótica Minha Cobra está se preparando pra ficar dura, digo, para sair na rua.
Gerrá logo vai aparecer por aqui para publicar detalhes sobre a troça. Além de divulgar a camisa mais do que esperada. Vai ser cana, meus amigos.
Que ansiedade da porra: jogo no sábado e Carnaval por todos os lados. Recife e Olinda serão invadidas, novamente, pelas cores que traduzem seu espírito popular: vermelho, preto e branco.
Minha Cobra está doida pra subir.

Um quebra-cabeça da moléstia.

Meus amigos tricolores, mal começou o ano e a temporada futebolística bate à nossa porta. O desejo de voltar ao Arrudão e celebrar o nosso Santinha está agitando o coração de todos.
Como estou de férias em janeiro, é preciso muito engov e epocler para aguentar a pressão. E muito coração para o que estar por vir nos gramados.
Os meninos do sub-20 podem ser uma esperança para montarmos uma base caseira e eficiente. Basta de contratações absurdas que não trazem nenhum acréscimo ao elenco. O exemplo foi a integração de Léo Cotia ao elenco profissional. Daí essa eterna discussão sobre a construção de um CT. É algo tão fundamental como um bom tira gosto na mesa de bar para acompanhar o chopp.
Particularmente, ainda não consegui visualizar qual será a cara do Santa Cruz no Pernambucano. Não é fácil construir uma identidade do nada, do quase zero. Creio que os primeiros jogos servirão mais para arrumar a casa e construir, aos poucos, nossa identidade futebolística.
Eutrópio já começou com os treinos técnicos. É muita cara nova: Júlio César, Vítor, Thomás, Éverton Santos, Barbio, David, Jaime, Primão e por aí vai. Mesmo que conheçamos esses jogadores de outros clubes, apenas quando o time se acertar em campo sobre o comando do nosso treinador é que teremos uma ideia do que está por vir. Futebol é um esporte coletivo.
A época dos barbas se foi. Agora, só no carnaval lá no Poço da Panela.
O quebra-cabeça se complica quando o assunto é transparência, gastos e dívidas do clube. Acredito que só pode ser cobrado do torcedor uma participação efetiva quando estes itens forem esclarecidos. Não me parece uma boa idéia ficar dando dinheiro para um grupo que, sinceramente, não sei onde vão colocar essa grana. Enriquecer marmanjo na moleza não é algo que me interessa.
Outro ponto neste início de temporada é o campeonato pernambucano que é pra lá de estranho. Joga-se com alguns times para, depois, entrarem os “grandes”. Haja paciência para retornar aos estádios.
De uma coisa eu não abro mão: ser um otimista realista. Torcer por um time de futebol que desde sempre nada em dívidas não é para qualquer um. Contudo, ser passivo e não criticar o que tem de ser criticado é alienação. Paixão e razão são dois ingredientes essenciais no futebol.
Por fim, não vejo a hora de voltar ao Arruda, comer aquele velho cachorro-quente, tomar aquele velha cerveja e gritar feito um louco na hora do gol.
Santa Cruz de corpo e alma.