Futebol é apaixonante porque, assim como a existência, é dialético. Tudo muda, nada é perene, apenas a paixão pelo time do coração. E quando o assunto é Santa Cruz – em essência um clube de paixão desde o nascimento – a coisa fica louca.
Todo tricolor coral estava emputecido até à alma com aquela vergonhosa derrota contra o Afogados. Perder três pênaltis é foda. Mas logo em seguida vem um jogo teste para cardíaco. Quem não sentiu um calafrio na espinha quando Anderson entrou na área do CRB nos momentos finais do jogo? Quem não pensou: “Puta que pariu, nos fudemos. Acabou”. Aí vem o gol nos minutos finais e uma disputa ensandecida de pênaltis.
Não foi diferente com o péssimo jogo contra o ABC lá. Na verdade, que dois times ruins da porra. Contudo, tratava-se de um jogo de 180 minutos e nada estava decidido. E a decisão foi aqui, no Mundão do Arruda.
O jogo de ontem corrobora a minha premissa maior acima exposta. O torcedor do Santinha estava confiante desconfiando. Anunciaram o retorno de Danny Morais na resenha, mas o jogador foi poupado. A esperança é que a bola chegasse em Pipico e o atacante voltasse a marcar. E não foi isso o que aconteceu?
Marcos Martins, em uma cobrança primorosa, levantou a bola na área e Pipico se antecipou ao zagueiro e fez um golaço de cabeça. O Arruda fervilhou.
Ainda no primeiro tempo, Ítalo Henrique rouba a bola do ataque do ABC e faz um lançamento lindo, digno de Champions League. Pipico passa pelo último homem da zaga, Henrique – que tinha acabado de entrar e que deveria ter levado vermelho pela falta– e é derrubado antes de ficar na cara do gol.
Aí o negócio virou pintura. Charles bate a falta com força, numa trivela digna de Nelinho, faz um golaço e o Arruda, sem acreditar no que via, explode de alegria.
Mas não parou por aí. O homem de 1,9 milhão de reais – Pipico, o nosso ciborgue Steve Austin – recebe o passe de Allan Dias na grande área, é novamente marcado por Henrique, dá um senhor drible no marcador que mete a mão na bola e é pênalti. Uma questão: se esse puto já tinha um amarelo, por que não foi expulso ao meter a mão na bola na área?
Pipico foi lá e meteu 3×0 no fraquíssimo ABC. Pipico, o nome de 1,9 milhão de reais.
Foda-se se o time do ABC é muito ruim. Jogamos feito time grande. Evidente que não sou doido de achar que tudo se resolveu, tem muita coisa para ser corrigida ainda. Mas que o jogo foi digno da torcida e do nome glorioso do Santa Cruz, isso foi. A ressaca dessa quinta-feira tem nome e valor: Pipico e um milhão e novecentos mil reais. Valeu demais!
Santa Cruz…Santa Cruz… junta mais essa vitória!!!