Na memória.

Todo torcedor tricolor coral tem guardado um conjunto de memórias que remete ao Santa Cruz. É como um baú de relíquias que iremos carregar por toda a vida. Algumas são boas, outras estão repletas de tristeza ou incertezas.
Tenho duas lembranças que são a polaridade natural que representa o Mais Querido. Duas lembranças indeléveis, daquelas que, quando lembramos, parece que estamos lá, vívidas como o tempo presente.
Era dezembro de 1983. Na época, eu tinha doze anos. Tinha começado a beber cerveja com meu pai. Época em que o politicamente correto não existia: Os Trapalhões tiravam onda com tudo, a galera fumava dentro dos ônibus, todo mundo bebia e dirigia e ninguém imaginava que cinto de segurança seria uma coisa obrigatória.
O Arruda estava lotado. Tenho a nítida lembrança de meu pai me conduzindo por uma multidão mais louca do que a do Galo da Madrugada. A arquibancada literalmente tremeu. Pânico e alegria se misturaram naquele jogo longo, muito longo. Um mar de tricolores. A lembrança da Santamante e alguns nomes que ainda reverberam na mente: Luiz Neto, Birigui, Zé do Carmo, Henágio e Peu. E o maior de todos: Carlos Alberto Silva.
Ainda me lembro do sabor do cachorro quente com cerveja antes do jogo. Do cheiro de tira gosto do Colosso. E da alegria de meu pai pela conquista do Tri. Era tarde da noite quando voltamos para casa embriagados de cerveja e alegria.
A lembrança nefasta foi o ano de 2007. Foi um desastroso Pernambucano e o fim que todos já conhecem. Estava tomando uma com meu pai e alguns amigos no Ioiô após a desastrosa partida contra o Criciúma. Lembro de meu pai muito puto da vida:
“Quero que esse time vá se fuder. Isso não é Santa Cruz” – ele vociferava enquanto o garçom sempre trazia mais do que pedíamos.
Todo mundo só falava em salários atrasados e má administração do clube.
Parece que esse fantasma não quer mais largar o osso. Deu um frio na espinha a falta de vontade do time contra o Boa Esporte. Evidente que o torcedor tem que entender que jogador não torce, é um profissional que depende, como qualquer um, de seu salário. E sem salário em dia, meus amigos, fica difícil.
Tínhamos Grafite, Keno e João Paulo ano passado e poderíamos ter permanecido na Série A. O fantasma deu as caras e fudeu tudo. Hoje, se formos analisar os jogos em que deixamos de fazer o dever de casa, perceberemos que poderíamos estar com 31 pontos. Pode fazer as contas. Estaríamos na ponta da tabela. Evidente que seria ingenuidade só culpar os salários atrasados. Todos já sabemos quais problemas temos que resolver.
Sábado que vem tem o Paraná no meio do caminho. Vou tomar uma me lembrando de meu pai e da alegria que o Arruda me deu. São as lembranças boas que valem a pena. As ruins servem como lição.

Agora é na vera.

Meus amigos tricolores, não sei vocês, mas fiquei com a nítida impressão de que a séribê começou para valer mesmo na 13ª rodada quando o Santa Cruz empatou com a Luverdense. Pareceu-me que, de repente, todos os times acordaram para a competição.
Confesso que, de início, estava achando essa séribê meia boca. Tinha a sensação de que seria fácil e que não teríamos que nos preocupar com o descenso. Lerdo engano. Não apenas porque o eterno fantasma dos salários atrasados bate em nossa porta mais uma vez, mas também pela dinâmica que o campeonato ganhou e pela postura dos times.
Estava em Salvador realizando uma série de palestras sobre Filosofia Antiga e Cabala quando o Santinha pegou as barbies do Capibaribe. Creio que todo tricolor coral achou que seria moleza e que a vitória seria uma questão de tempo. Novamente, lerdo engano.
Entre uma palestra e outra, um acarajé e uma cerveja, acompanhei o jogo pela internet. Ficou aquele gosto de “puta que pariu, como é que pode isso?”.
Ontem, liguei para Samarone.
“E aí, vais para a Arena?”.
“Porra, vai dar não. Tô liso”.
Não só a crise, mas salários atrasados até umas horas. E tem neguinho dizendo que Sama ficou rico no Santa Cruz. Para ajudar meu amigo, montamos um curso de Filosofia e Estética na Casa Azul, o sebo e espaço literário de Sama em Olinda. A situação não está fácil, meus amigos. Menos um companheiro de jogo.
Como minha esposa estava de plantão e com o carro, fiquei num dilema da porra. Ir para a Arena de ônibus é uma das coisas mais absurdas que um ser humano pode fazer. Gerrá está viajando. Meu amigo Fábio Martins também. Incrível, mas não tenho o número de Juninho. Não tinha carona alguma. Nenhum companheiro de jogo à vista.
Restava ir de Uber. Peraí. Vamos calcular. Uber para ir + ingresso + cervas + tira + Uber para voltar = uma grana fuderosa. Com o coração partido e o bolso chorando, fiquei tomando uma num barzinho aqui na frente de casa, acompanhando a vitória do Santinha pra cima do Vila Nova (só me lembrava de Túlio Maravilha).
Confesso que estou em dívida com o Mais Querido. Ontem à noite chamei minha esposa:
“É o seguinte: sexta irei para a Arena de qualquer jeito. Deixe o carro aqui ou me leve. Não posso perder esse jogo por nada”.
Ela me olhou como se eu estivesse falando de uma grande cirurgia inadiável.
Promessa é dívida: sexta-feira estarei lá no setor oeste. Foda-se tudo. O Santinha merece meu esforço. Paixão é paixão, meus amigos. E dívida é dívida.
Enquanto isso, persiste a saudade de nosso Arruda.

Simples assim.

Meus amigos tricolores, esse jogo contra o Oeste foi um dos piores jogos que vi na vida. O Santinha estava apático, sem esquema tático, errando muitos passes, mal posicionado, completamente perdido dentro do campo.
Como o sujeito fica muito puto com essas coisas e quer mandar todo o mundo para a puta que pariu, muitas vezes é melhor respirar fundo e tentar se acalmar.
Começamos a decair na tabela e é preciso agir logo – mas logo mesmo – antes que as coisas fiquem piores. Já que parece que o Capíbaribe vai mesmo para a séricê, temos três vagas para o descenso. É preciso atentar para isso.
Sendo bem curto e grosso, tem umas coisas simples que devem ser mudadas.
Bruno Silva não dá, meus amigos. Sem chances. Nem precisa comentar.
Barbio pela esquerda é tão burro e ruim que temos que perguntar: se deu certo pela direita, por que raios colocar o cara na esquerda?
Júlio César de atacante? É brincadeira. Dava um longo banco para ele. Chamem Jacsson. Foi a vergonha do ano.
Até que tentei dar um crédito para Adriano Teixeira. Sinto muito, ele não entende porra nenhuma em ser treinador. Continue funcionário, jamais técnico.
A lateral direita é uma desgraça. Um corredor imenso. Vallés precisa levar um esporro – já que só tem tu, vai tu mesmo.
Roberto… meus amigos, o que é isso? Desnutrição, salário atrasado, retardo mental, preguiça?
Sem sistema tático, não tem como ganhar de ninguém. A bola é confusa, o posicionamento é aleatório. Augusto parecia uma barata tonta.
Acredito que seria saudável se a Diretoria de Futebol – que acho que já ta na hora de mudar – montasse uma comissão de avaliação técnica para analisar possíveis contratações, sopesar sobre o futuro treinador, deliberar sobre as estratégias e modelos de jogo. Vimos muitas decisões atabalhoadas e equivocadas. Isso tem que parar.
Depois de seis empates, o Oeste – que, cá entre nós, é muito fraco – conseguiu uma vitória que denota nossa fragilidade.
Ninguém tem mais saco para essas oscilações contínuas. Temos que jogar com o que possuímos – isso é fato – mas temos, ao menos, que saber o que estamos fazendo.
Simples assim.

São João na Arena.

Enquanto as fogueiras ainda crepitavam em homenagem a São João, os fogos ainda explodiam e o forró animava o rala bucho, pouco mais de 9 mil tricolores corais rumaram para a Arena para torcer pelo Santa Cruz contra o Figueirense.
Na entrada do setor oeste, me encontrei com Juninho e seus amigos. Pense numa galera boa de papo e de copo – garantia de um jogo mais interessante ainda, com as análises mais criativas possíveis.
O jogo se dividiu em três momentos cruciais: 1. O primeiro tempo: Figueirense mandando no jogo e nosso meio de campo e nossa defesa zonzos que nem barata chapada de Baygon; 2. No segundo tempo, o Santinha voltou diferente, buscando a bola, muito mais agressivo, com velocidade e objetividade e 3. O juiz que estava com a porra, distribuindo amarelo para tudo que era lado e querendo aparecer mais do que todo mundo.
O primeiro tempo mostrou que Jaime, Roberto e Bruno Silva estavam desconectados. Não havia estratégia e posicionamento de defesa. Jaime cometeu erros crassos e Bruno Silva, tenha santa paciência, errou demais. Nossa sorte é que Robinho, do Figueirense, é ruim que dói. O Gol dos catarinenses foi resultado de uma lambança generalizada de nossa defesa. Era pressão o tempo todo.
No meio, Léo Lima estava isolado, a bola não chegava. A insistência na verticalização do ataque não poderia dar em nada. Isso facilita a marcação da defesa adversária, inibe a criatividade e não encontra espaço para o toque, resultando numa avalanche de passes errados. Termos saído com o prejuízo de um gol apenas foi lucro.
No intervalo, entre uma cerva e outra, Juninho disse algo que assino embaixo:
“Não adianta contratar um novo técnico que vá manter esse mesmo esquema tático. O problema, entre tantos outros, é esse esquema. A Diretoria deveria conversar com o novo técnico e saber se ele pode mudar esse quadro. Nem que seja – ele disse em tom de pilhéria – para fazer um 4-4-2”.
O segundo tempo, por seu turno, foi bem diferente. A deusa Fortuna decidiu dar uma mãozinha ao Santinha: das três substituições que Adriano fez, duas foram por contusões. E não é que o negócio deu certo.
Primeiramente, Barbio pela direita foi a coisa mais inteligente dos últimos tempos. O futebol dele melhorou visivelmente. Esteve aguerrido, brigando pela bola, buscando o jogo: ou seja, realmente entrou na partida. João Paulo deu mais velocidade à esquerda, criou mais e ainda voltava para auxiliar na marcação. Augusto entrou e fez o gol de empate. Fomos visivelmente superiores no segundo tempo.
Com os problemas recorrentes da lateral direita, os atletas que ainda estão no departamento médico, falta de um esquema tático lúcido, salários atrasados e essa visão da Diretoria… temos muito o que fazer para que essa séribê, que parece tão fácil, não se torne um pesadelo.

Eu tenho dois amores.

Sábado passado, no dia do jogo do Santinha contra o Inter, eu tinha combinado de ir ao Arruda com André Tricolor, Samarone e mais dois amigos. Só esqueci de avisar minha esposa. Pior: esqueci que era aniversário dela. Só me lembrei na sexta à tarde quando ela me pediu para ajeitar as coisas para a festa do sábado.
“Putz, eu pensei, agora não tem Houdini que se safe dessa”. E não me safei. Farrapei geral e assisti ao jogo pela internet. Passei a semana toda pensando no jogo, no Arruda, nos amigos, na cerveja e numa possível vitória. Estava otimista e acreditando em Adriano Teixeira. Bem, o Santa meteu pressão, mas o gramado não ajudou muito. Mesmo assim, queria ter estado no estádio. Não tem comparação essa emoção. Como também não tem comparação a emoção de uma companheira de longas datas.
Como cantaria o rei Reginaldo Rossi: “Eu tenho dois amores…” Nem vou prosseguir para evitar problemas. Fiquei imaginando quantos tricolores já passaram por essa situação: o jogo rolando, o pensamento na partida, mas o corpo em outro lugar, com outras obrigações.
Hoje, enquanto esperava meus alunos para entregarem os trabalhos da segunda avaliação, liguei o PC da faculdade e fiquei acompanhando o jogo contra o América-MG. Estava na mente com aquela declaração do Bruno Paulo: “Nosso time é bom”. Fazia tempo que não ouvia um jogador do Santa Cruz dizer isso. Fiquei feliz com essa alegria e confiança. Fundamental para nosso sucesso. E o jogo em si?
Meus amigos, que pressão foi essa que levamos no primeiro tempo? Os volantes estavam mais perdidos do que cego em tiroteio, a zaga não marcava os espaços e Pitbull e Bruno Paulo aceitaram o posicionamento da defesa adversária numa passividade preocupante.
Jaime sempre me deixa preocupado. Nininho é sazonal. Mas creio que é inegável que deixamos de ser um time retranqueiro – o que, particularmente, me irritava e muito. A notícia de pagamento de um dos meses atrasados foi providencial. Porém, não podemos achar que Adriano Teixeira, apesar do apoio demonstrado pelo elenco, possa entrar e jogar pelos jogadores.
Primão deu uma vacilada no segundo tempo – que foi bem morno – que quase mata a torcida do coração. Novamente, vimos o América crescer. Pará e Hugo Cabral deram volume de jogo e nossa defesa parecia não entrar no clima. Do nosso lado, os cruzamentos não davam em nada – um vazio imenso no ataque. Na metade do segundo tempo, João Paulo entrou no lugar de André Luís e Kelvy substituiu Nininho. Resultado? Matheusinho faz um golaço aos 33 minutos.
Essa derrota complicou um pouco a nossa situação na tabela. Contudo, essa competição está bem embolada. Já disse antes: basta não boicotarmos a nós mesmos que não tem mistério. Não vamos desanimar ou deixar que aquela velha hiena, o Hardy, venha com sua nuvem negra pairar sobre nossas cabeças e vaticinando: “Oh, vida! Oh, azar!”.

Nesse próximo sábado – no dia de São João – irei pagar minha dívida moral com meu outro amor. Não sou muito fã da Arena. Na verdade, acho um martírio chegar lá. Mas ainda bem que o jogo será às 16h30. Uma pena que a CBF tenha barrado a promoção de ingressos a RS5,00. É dessas promoções que nossa torcida, que é do povo, precisa para incentivar o Mais Querido.
Se minha esposa fez com que eu ficasse em casa tomando todas e vendo a partida contra o Inter online, o Santa Cruz fará com que eu me desloque para o fim de mundo da Arena para torcer pelo Santinha contra a Figueirense. É isso que dá o cara querer ter dois amores na vida.
Paixão, amor, cuidado, seja lá o que for, exige presença, assiduidade, comprometimento. Para ser a torcida mais apaixonada do Brasil, precisamos comparecer aos jogos. Está na hora de sermos mais alegres novamente, acreditar que Adriano conseguirá unir esse grupo e melhorar nosso desempenho. Está na hora de sermos um pouco mais otimistas.

Habemus técnico!

Meus amigos tricolores, realmente não dá para ter certeza absoluta se Adriano Teixeira será nosso treinador em definitivo nessa séribê. Mas, diante da crise e de nossas reais possibilidades, acredito que seja prudente dar mais oportunidades à prata da casa. Como o próprio frisou: “Sou um funcionário do Santa Cruz!”. Em psicologia organizacional isso se chama pertencimento.
O jogo de ontem contra o Ceará teve dois tempos bem diferentes. Ao final do primeiro tempo, não duvido que todo tricolor coral estava desejando estrangular de Alírio ao roupeiro do clube. Foi terrível. Um show de horrores.
Contudo, a água virou vinho no segundo tempo. Ninguém esperava mudanças tão salutares para nosso futebol. Enquanto Roberto levava bolas nas costas (desculpem esse trocadilho infame, mas verdadeiro) e a ala esquerda se constituía num verdadeiro corredor para o ataque adversário (Adriano tem que consertar isso logo), nosso meio de campo começou a se organizar e nosso ataque, finalmente, foi o destaque.
O velho Giba não esperava tanta determinação e empenho. Nininho mostrou muita garra. Jaime ficou na mediania. Elicarlos continua na sua montanha russa particular. Primão – e isso é realmente inacreditável – decidiu jogar bola. Léo Lima superou as expectativas e coroou sua atuação com um golaço. André Luís, como sempre, tem se saído muito bem: tribla, cria, se movimenta e faz a diferença. Novamente um gol a partir de uma pintura sua.
Mas não podemos esquecer as lições do passado. No início da Série A, escrevi aqui que os salários estavam começando a atrasar e que isso iria afetar nosso desempenho. Alguns me chamaram de doido e sem assunto. Infelizmente, deu no que deu. Estamos, agora, com dois meses de atraso. A responsabilidade da Diretoria é imensa. Essa séribê não mete medo, já disse isso. Mas se começarmos a boicotarmos a nós mesmos, o negócio ficará difícil.
Nem vou discutir, aqui e agora, transparência, escolhas, gestão centrada etc. Já discutimos isso demais e sabemos no que dá: dirigentes surdos e preocupados com suas visões pessoais, muitas vezes se esquecendo de ouvir sua torcida e dos interesses maiores do clube. Mas tenhamos esperança: vamos torcer por Adriano Teixeira – uma prática comum em diversos clubes com transição de treinador – e apostar que os salários não irão desfigurar o trabalho do Santinha. Jogador é profissional e não torcedor.
Com essa vitória, não é possível que o Arruda não tenha, ao menos, um número maior de torcedores contra o Internacional. Tem promoção de ingresso. Claro que não estamos em nenhum mar de rosas – ninguém aqui é idiota – mas creio que está na hora de pensarmos positivo, cobrar com lucidez, manter o pensamento crítico e comparecer ao campo.
A média de público da séribê em 2016 – na média dos clubes mandantes – variaram de 17000 pagantes para o Bahia a 1000 do Bragantino, tendo 4500 do Vila Nova no meio da tabela. Ou seja, uma variação enorme. E isso computado apenas a média do mandante. Jogando fora, o desastre se instala. O problema do torcedor se afastar do gramado é universal. Quando se pensa nos estaduais, o negócio complica.
Desanimar? Jamais. Vamos tomar cerveja, comer espetinho e cachorro-quente, debater com os amigos, gritar como loucos e ganhar do Inter. Estamos no G-4. Juntar mais uma vitória depende, como sempre, de um monte de fatores. E a presença do torcedor é uma das motivações fundamentais.

Chuva, desencontros, erros e acertos.

Nesse sábado, cheguei ao Arruda às 16h10. Fui em Seu Abílio comprar uma cerveja e ver se me encontrava com André Tricolor ou Samarone. Como estava muito em cima da hora do início da partida, não achei ninguém. Perambulei por ali um pouco, comprei meu ingresso e fui para as sociais.
Fiquei lá no alto, me abrigando da chuva. O árbitro – só Deus sabe o porquê – começou a partida uns minutos antes. Perdi 5 minutos de futebol. O público revelava o triste óbvio: a decisão da Champions e a forte chuva afastaram o torcedor de campo. Uma vergonha. E só me encontrei com Sama hoje, domingo, em Olinda.
“Eu estava nas arquibancadas – ele disse – com Esequias. Ele até tirou onda com tu e Gerrá dizendo que vocês preferiram ficar em casa vendo a decisão do Real Madrid e Juventus”.
“Vai te fuder – disse brincando – cheguei tarde e não te vi. No final do jogo me encontrei com Juninho e Jerry e ficamos tomando umas em Abílio. Eles me disseram que tinham te visto. Te procurei e nada. E meu time é um só: Santa Cruz Futebol Clube”.
Bem, e o jogo? O que mais me surpreendeu na partida foi o fato curioso de Eutrópio ter prometido um time e ter mantido a mesma coisa de sempre. Elicarlos deve ter feito a pior partida da vida dele. Anderson Salles parece que desaprendeu a marcar, bater falta e – pasmem! – pênalti.
André Luís está evoluindo e jogando com muita garra. Mas achei fundamental a entrada de Bruno Paulo. Ele entrou com seriedade. Sabe matar a bola e joga com inteligência. Espero que tenha futuro no Santinha. A outra substituição foi ambígua. João Paulo se deslocou o tempo todo, sempre em busca da bola e do jogo, mas espero que tenha sido o nervosismo da estreia a causa de tantos passes errados e de perder boas chances. Porém, creio que eles aumentaram nosso volume de jogo, melhoraram nosso posicionamento no meio e deram mais agressividade ao time. Dominamos o segundo tempo. Entre erros e acertos, saímos ganhando.
Nosso primeiro tempo foi sofrível. E esse gramado está uma vergonha. Encharcado desse jeito, fica mais difícil ainda. Mas o lance do gol de Roberto foi uma pintura. Logo em seguida nossa defesa parou e sofremos o empate. E pênalti perdido dá uma raiva danada. O lance do gol de André Luís foi uma coisa linda. Pagou o ingresso.
O gol anulado de Ricardo Bueno vai entrar para as cenas loucas e hilárias do futebol. O jogador ainda estava comemorando com a torcida quando o árbitro reiniciou a partida. Não tem quem me faça achar que esse lance foi impedido. Muito louco.
Entre chuva, dilúvio, final em Cardiff, erros, acertos e desencontros, sai com uma certeza desse jogo: a séribê não mete medo. O fantasma da séricê se foi. Acho que está na hora de alguém chamar Tininho para ele conversar com Eutrópio e acertar coisas fundamentais nesse time e que já estamos cansados de saber e comentar por aqui. Por que, se a galera continuar com esse nível nessa séribê, a gente sobe. No máximo, ficaremos onde estamos. E olhe que somos segundo colocado.

Divisor de águas.

Meus amigos tricolores, confesso que não estava muito esperançoso com o jogo contra o Atlético. Essa incompetência crônica de nosso meio e a ligação com o ataque não poderia sugerir outra coisa. Mas isso não significa perder as esperanças. Muito pelo contrário. Temos apenas um único foco agora e é isso que importa.
O jogo do sábado contra o ABC me traz dois questionamentos: 1. Será que as novas contratações conseguirão solucionar – ou ao menos atenuar – essa incapacidade de criação no meio, a qualidade do passe e a ligação com o ataque? 2. Ou será que Eutrópio, mesmo com as novas caras, permanecerá na retranca e numa cegueira tática absurda quanto ao meio?
Isso significa: a culpa dessa incompetência é do treinador ou dos jogadores que desempenham essa função? Caso a culpa seja dos jogadores, não tem técnico no mundo que faça perronha se posicionar bem, tocar a bola com categoria, visualizar a movimentação e conectar a bola do meio para o ataque.
Mas também indica que, caso as novas contratações se mostrem eficientes naquilo que devem fazer, e a eficiência dê as caras, devemos começar a pensar seriamente na troca de nosso professor.
Nas últimas entrevistas, Eutrópio me parece ambíguo. Por um lado sempre insiste no tempo e, por outro, parece encobrir sua insatisfação com as peças de que dispõe. Não pude acompanhar o jogo contra o CRB. Larguei da faculdade às 22h10. Assim que entrei no carro e liguei o rádio, Tininho estava dando uma entrevista. Sua serenidade me fez pensar que tínhamos ganhado do CRB – um time que vem de uma regularidade imensa e que se traduz na sua posição na tabela. Eutrópio, na sua fala, me alertou para esse paradoxo que ele se depara. Fiquei atônito com os dois falando – até parecia que era outro jogo.
Hoje ouvi nosso treinador dando a entender que vai modificar e muito o Santinha no sábado. Esse papo de desgaste não cola. A questão deve ser a falta de qualidade técnica de uma parte do elenco. Ou esconder a própria incompetência.
Possivelmente, nesse sábado – e espero que sim – tenhamos no meio João Paulo e Léo Lima (com a desconfiança no máximo, pois um ano sem jogar não é brincadeira. Mas vamos rezar para que a criatividade surja) e Augusto e Bruno Paulo no ataque. Ainda aposto em Pitbull – mas é preciso que a bola chegue.
É óbvio que não dá para julgar um jogador estreante. Uma partida apenas não dá para decidir nem a favor e nem contra de maneira absoluta. Entretanto, possibilita visualizarmos o que será de nosso futuro nessa competição tão complexa. O Inter patinou, o Paysandu cresceu na competição, tem neguinho querendo ir para a séricê e o ABC, na décima posição, vem de dois empates e uma vitória.
Esse jogo será nosso divisor de águas. Não definitivo, mas o indicativo do que podemos esperar para o futuro. Descobriremos, finalmente – e estou sendo o mais condescendente possível aqui – de quem é a culpa desse problema que está se tornando crônico. Um jogo que precisa da presença dos tricolores corais no Arruda. Na nossa casa.

Victory, my friends.

Meus amigos tricolores, o título dessa crônica está em inglês não por arrogância ou pedantismo. Muito pelo contrário. O Santa Cruz é internacional – melhor, a paixão pelo Santinha não tem fronteiras. Irei me explicar.
Fazia muito tempo – mas muito tempo mesmo – que eu não ia para as sociais. Meu pai, que nasceu em Cajueiro e passou metade da vida em Casa Amarela, sempre me levava para as arquibancadas, para o povão que é a essência do Mais Querido.
Mas nesse sábado, não encontrei nenhum amigo. Sama, Gerrá e Esequias não consegui encontrar. E meu amigo Fábio Martins foi barrado pela mulher. Sozinho, fui para as sociais para relembrar velhos tempos. Entretanto, e já disse isso aqui, nenhum tricolor coral fica sozinho no Arruda.
A grata surpresa foi encontrar meu amigo de escola, Juninho. Conversar com Juninho é sempre bom. O papo é de alto nível. E ficou melhor quando, no intervalo do jogo contra o Guarani, ele chamou um amigo dele, Big, que é contador, para conversar com a gente. Enquanto a pelota rolava, conversamos sobre o poder absoluto de Tininho no clube e os problemas que isso traz; os equívocos contábeis do balanço que o clube publicou e que depois sumiu; a necessidade ou não de um placar; o passivo absurdo do clube; a baixa média de público nos estaduais do Brasil; o espírito retranqueiro de Eutrópio; nosso fraco meio de campo; a solidez de nossa defesa etc. Assunto que só a porra.
No primeiro gol, após aquele passe primoroso de calcanhar de André Luís, Pitbull mandou para as redes e a torcida, sendo arquibancada ou sociais, foi ao delírio. É uma das melhores coisas do mundo comemorar um gol do Santinha no Arruda.
No intervalo, disse pra Juninho que Vadão é inteligente e iria usar a fraqueza de nosso meio de campo, Dito e feito. Empataram. Mas garra é garra e Bueno, na estreia, garantiu nossa vitória. Como disse Juninho: esperamos que ele não seja um novo Pereira.
Acabou o jogo e seguimos pra saideira em Abílio. Surgiram dois amigos de Juninho que deram o título dessa crônica: James, irlandês de Belfast, e Jerry, inglês da capital londrina. Pense em dois cabras bons e doidos que só a porra. Sentaram à nossa mesa e a conversa, claro, foi sobre nossa vitória. Num certo momento, eles falaram em inglês entre si. Como sou metido, perguntei em inglês se, depois de trinta anos vivendo no Brasil, eles ainda sentiam saudades de falar inglês. A resposta, obviamente, foi sim.
Ambos curtem o Sex Pistols, assim como eu. Juninho ficou puto e disse que isso não era música. Mandamos Juninho para aquele lugar e cantamos um trecho de God save the Queen imitando a voz despedaçada de Johnny Rotten.
James veio da Irlanda para o Brasil fugindo da crise econômica de lá e procurando trabalho aqui. Viajou pelo Brasil e aportou em terras recifenses. A paixão pelo Santinha foi a identificação de alguém que morou na industrial Manchester e compartilhou a vida do proletariado de lá. O Santa é time do povo, das massas, de gente que rala muito. Não tinha como não se identificar. James é de sorriso fácil e possui uma visão bem crítica e lúcida sobre nossos problemas sociais.
Jerry veio ao Brasil em busca de cerveja, praia e mulheres. Veio ao lugar certo. No Recife, se deparou com a mesma energia louca dos apaixonados ingleses por futebol exatamente aqui, no Arruda, no meio dessa massa ensandecida que vive e transpira o Santa Cruz. Jerry parece um hooligan pacifista e apaixonado pela vida. Fala com fervor sobre futebol e sobre o novo país que ele decidiu adotar e ser adotado.
Que dia maravilhoso. Cerveja, cachorro quente, espetinho, amigos e dois loucos da Europa que souberam escolher o que nosso país tem de melhor. E esse melhor, meus amigos, é o Santa Cruz. To all my friends!

Com o pé direito.

Meus amigos tricolores, semana de correção de provas é um inferno para qualquer professor. Passei a semana toda em meio a um milhão de avaliações e sem ter tempo de acompanhar direito as notícias sobre a estreia de nosso Santinha na séribê. Dava tempo de ouvir apenas a resenha de onze horas no rádio.
Acabei as correções na manhã do sábado. Ao meio dia já estava tomando uma com os amigos e ansioso pelo jogo contra o Criciúma. No início da partida eu estava nervoso, assim como qualquer tricolor coral. Sabíamos das limitações técnicas e táticas de nosso meio de campo. A grata surpresa é que nossa defesa vem se comportando de maneira sólida. Na pancadaria da séribê, isso vai ser fundamental.
Mas precisamos urgentemente de algumas modificações. Estou ouvindo que o Santinha está pensando em trazer alguns jogadores do Salgueiro – custo baixo é nossa realidade. Particularmente, sou contra. Creio que o segredo do Salgueiro não é jogador A ou B, mas sim o esquema tático e a união do time. Precisamos pensar em outras possibilidades.
Já ta na hora de Eutrópio entender que tem que reorganizar esse esquema tático. Assim não dá. Ou, então, tá na hora de acharmos outro treinador. Tudo bem, começar ganhando é fundamental. Mas não podemos nos esquecer como foi a Série A ano passado. A questão financeira deve ser equacionada de qualquer maneira: colocar os pés no chão, gastar o que pode com inteligência e visar o futuro que já bateu em nossas portas. E sem salários em dias, meus amigos, não tem craque ou perronha que jogue.
A notícia muito triste foi a fratura na perna de Vítor. Uma pena mesmo – 4 meses parado. A notícia estranha foi o fato de nossa virada ter advindo de um gol com Barbio. Quem, em sã consciência, iria esperar uma coisa dessas?
Séribê é lugar de engenharia financeira, organização metodológica, transparência nas contas, inteligência nas contratações e na montagem do esquema tático e garra. Muita garra.
Na última postagem, percebi um alto nível nos comentários. Fiquei muito feliz com isso. Como seria bom dar o print desses comentários e levá-los para a Diretoria. Vou falar com Sama e Inácio sobre essa possibilidade. Esses caras precisam escutar sua torcida, ainda mais quando o discurso é feito de maneira inteligente, com críticas bem embasadas e compreendendo nossos limites e possibilidades.
Fiquei ainda mais feliz por saber que esse Blog é tão democrático. Cheguei a brincar com Gerrá; “Meu velho, há os torcedores do estilo Wlad e os torcedores do estilo Guilardo. O interessante é que os dois lados possuem excelentes argumentos. Isso é democracia pura!”.
Mesmo possuindo posições tão antagônicas, o respeito mútuo permanece porque, aqui, meus amigos, é o amor ao Santa Cruz que nos une. É esse amor que nos torna críticos, defensores, analistas, técnicos e comentaristas dessa nossa grande paixão. Que bom seria se toda rede social fosse assim.
A primeira rodada foi dura. Apenas o Inter deslanchou. Até o América/MG emperrou. Só sei que sábado, dia 20, estarei no Arruda contra o Guarani. Vou logo comprar uma camisa nova que, por sinal, ficou muito linda.
De uma coisa eu tenho certeza: teremos muito assunto daqui para frente. E não duvido que o nível das discussões tenda a ficar sempre melhor. Eita paixão arretada da porra!