Quando a gente estava passando na frente da casa de Dona Edná, já bem pertinho da entrada no Portão 7, a torcida gritou gol. Como se fosse possível ver o replay do gol, o corre-corre foi grande para entrar no estádio.
Passando pela catraca, Marconi profetizou: “hoje é goleada”. E quase foi.
O futebol é essa coisa linda e surpreendente. O jogo estava horrível, aos 15 minutos do segundo tempo já tinha gente pedindo para acabar. A irritação começava a tomar conta da torcida. Até minha filha disse que tinha se arrependido de ter ido pro jogo. Falei para ela: “calma. O jogo só acaba quando termina”.
De repente, com Wellington César e João Ananias na cabeça da área, o Santa Cruz mudou da água pro vinho e derramou alegria na massa coral.
Tivemos apenas 38% de posse de bola e vencemos o jogo com direito a perder alguns gols incríveis. Se as três bolas na trave tivessem entrado, seria somente 6 a 0.
Mas 3 a 0 foi ótimo.
Um gol para cada uma das minha mulheres. Alessandra, Mariá e Sofia.
Um gol para cada uma das nossas cores.
Um gol para Chiló, João Peruca e João Valadares, velhos companheiros da arquibancada e da Sanfona Coral. Nos encontramos ontem e fizemos aquela corrente pra frente.
Um gol para Madson. Outro para Guilardo. E o terceiro para Wlad. No golaço de Bruno Paulo, o terceiro gol, imaginei os três abraçados, cheios de aguardente no quengo e gritando: “agora a gente chega. No cu da jovem, no cu da jovem”.
Os 3 a 0 foi também para Caroline, Aurélie e Bertille. As garotas são francesas. Estão aqui há duas semanas e ontem foram levadas por Julio Vila Nova para conhecer a magia do Arruda. Elas são formadas em Letras, vieram com apoio da Embaixada da França para dar aula de francês. Caroline na UFRPE, Aurélie na UFPE e Bertille no Colégio de Aplicação. Julio tá meio na função de cicerone. Já levou elas para comer feijoada, para ver orquestra de frevo em Olinda e ontem foi a vez de ir ao futebol. As meninas ficaram encantadas com o que viram no jogo.
Bertille comentou para Julio Vila Nova.
— Le fut est très important pour comprendre la culture du Brèsil.
Julio ressaltou.
— d’accord. Mais à Pernambuco, Santa Cruz est plus important que le fut pour comprendre le peuple du Brèsil.
Bertille respondeu com aquele sotaque francês.
— Hum-run! Sí. Sí!
E eu fico aqui pensando… O futebol é mesmo uma coisa linda!