O futebol é uma coisa linda

Quando a gente estava passando na frente da casa de Dona Edná, já bem pertinho da entrada no Portão 7, a torcida gritou gol. Como se fosse possível ver o replay do gol, o corre-corre foi grande para entrar no estádio.

Passando pela catraca, Marconi profetizou: “hoje é goleada”. E quase foi.

O futebol é essa coisa linda e surpreendente. O jogo estava horrível, aos 15 minutos do segundo tempo já tinha gente pedindo para acabar. A irritação começava a tomar conta da torcida. Até minha filha disse que tinha se arrependido de ter ido pro jogo. Falei para ela: “calma. O jogo só acaba quando termina”.

De repente, com Wellington César e João Ananias na cabeça da área, o Santa Cruz mudou da água pro vinho e derramou alegria na massa coral.

Tivemos apenas 38% de posse de bola e vencemos o jogo com direito a perder alguns gols incríveis. Se as três bolas na trave tivessem entrado, seria somente 6 a 0.

Mas 3 a 0 foi ótimo.

Um gol para cada uma das minha mulheres. Alessandra, Mariá e Sofia.

Um gol para cada uma das nossas cores.

Um gol para Chiló, João Peruca e João Valadares, velhos companheiros da arquibancada e da Sanfona Coral. Nos encontramos ontem e fizemos aquela corrente pra frente.

Um gol para Madson. Outro para Guilardo. E o terceiro para Wlad. No golaço de Bruno Paulo, o terceiro gol, imaginei os três abraçados, cheios de aguardente no quengo e gritando: “agora a gente chega. No cu da jovem, no cu da jovem”.

Os 3 a 0 foi também para Caroline, Aurélie e Bertille. As garotas são francesas. Estão aqui há duas semanas e ontem foram levadas por Julio Vila Nova para conhecer a magia do Arruda. Elas são formadas em Letras, vieram com apoio da Embaixada da França para dar aula de francês. Caroline na UFRPE, Aurélie na UFPE e Bertille no Colégio de Aplicação. Julio tá meio na função de cicerone. Já levou elas para comer feijoada, para ver orquestra de frevo em Olinda e ontem foi a vez de ir ao futebol. As meninas ficaram encantadas com o que viram no jogo.

Bertille comentou para Julio Vila Nova.

— Le fut est très important pour comprendre la culture du Brèsil.

Julio ressaltou.

— d’accord. Mais à Pernambuco, Santa Cruz est plus important que le fut pour comprendre le peuple du Brèsil.

Bertille respondeu com aquele sotaque francês.

— Hum-run! Sí. Sí!

E eu fico aqui pensando… O futebol é mesmo uma coisa linda!

Só a vitória. Somente isso!

Ontem recebi pelo zap uma imagem do eterno Rosembrick. Parece que o Mago vai jogar pela Cabense. Sou fã dele.

Na mesma hora me bateu uma lembrança boa: aquele time de 2005. Ali era pura raça. Valença na zaga. Na cabeça da área, tinha Neto. Na lateral-direita, Osmar. O lateral-esquerdo era Peris e Xavier. Andrade Cabeção nosso batedor de falta. No ataque Bala e Reinaldo. E no meio, o Mago Rosembrick.

Na Sanfona Coral, a gente cantava assim: “devagar, que o Mago é de barro/devagar, que ele pode cair”.

Quando eu vejo jogadores do quilate de Barbio e outras desgraças que já passaram por aqui, tenho a certeza que Rosembrick levou azar no futebol. As vezes falta um bom empresário pra cuidar da carreira do atleta. As vezes falta uma boa estrutura familiar. As vezes falta juízo. Mas bola, o Mago tem. Melhor do que muitos Marcinhos e outros pernas-de-pau que vestiram a nossa camisa.

Aos 38 anos, se tivesse tido mais sorte, Rosembrick seria titular tranquilamente neste time do Santa Cruz.

Voltando para 2005, era um jogo no Arruda. Santa Cruz x Vitória da Bahia. Eu me lembro de um traço que ele deu em um jogador do Vitória. O Mago vem em velocidade em direção a linha de fundo, o adversário chega para marcar. Rosembrick prende a bola e mete de letra por baixo das pernas do baiano, que fica mais perdido do que cachorro quando cai do caminhão de mudança. Aquilo foi mágico.

Nesse time de hoje, não tem ninguém que jogue o que Rosembrick jogou. Podem juntar Léo Lima, Barbio e Pitibull que não dá um Rosembrick.

Tenho saudades de 2005. Daquela energia boa que tomou conta da gente. Fazíamos a festa no cimento da arquibancada. Quem acompanhou a Sanfona Coral sabe que a gente ficava sempre no mesmo lugar e que tínhamos alguns rituais e superstições.

Hoje vou para arquibancada pra ver se algum espírito bom daquele ano encarna nesse time de atual. Pra ver se alguma coisa sobrenatural que esteve no Arruda em dois mil e noventa e cinco, aparece de novo e nos salva do rebaixamento.

Por um instante vou tentar abstrair e esquecer que o Santa Cruz é um clube tratado como se estivéssemos nos anos 70. Um clube que não tem transparência. Para quem não sabe, nem o estatuto está disponível no site oficial. Um clube que parou no tempo.

Vou me mandar esquecendo dos Barbios, Facundos e tantos perronhas que vestem nossa camisa.

Daqui a pouco, quando a bola começar a rolar, quero cegar e ver apenas nossa vitória para sairmos dessa zona. Pra mim basta um a zero, com um gol de Primão de fora da área.

Cego, eu quero somente os três pontos. Somente isso.

Tão perto e tão distante.

Meus amigos, esse aí na foto – com cara de otário na frente da Arena das Dunas durante a partida do Santinha contra o ABC – sou eu. Pois é, do lado de fora.
Como havia publicado antes, nesse feriado viajei para um congresso de Filosofia em Natal. Minha palestra deveria ser no sábado às 15h30. O negócio foi tão desorganizado que acabei minha fala exatamente às 19 horas, início da partida. Estava em um hotel em Ponta Negra. Tomei um táxi voando e cheguei na Arena faltando 5 minutos para o término do primeiro tempo. Na bilheteria:
“Um ingresso para o portão A, entrada da torcida visitante”, eu disse.
“Não tem mais ingresso”, disse rispidamente a rapariga da atendente.
“Como é que é? Ainda nem acabou o primeiro tempo”.
“Não tem mais ingresso. O sistema fechou”, ela respondeu ainda mais grossa.
Não só eu fiquei puto e com cara de otário. Uma porrada de tricolores corais de Parnamirim, que havia acabado de chegar, levaram essa sobrada também. Gritaria… cadê o filho da puta do gerente… isso é foda… quero meus direitos… a puta que pariu e… nada. Ficamos do lado de fora. E sem explicação alguma.
“Isso é um desrespeito do carai com a torcida do Santa Cruz”, disse um boyzinho de Parnamirim.
Voltei para Ponta Negra ouvindo o jogo pelo rádio. Tão perto e tão distante de ver o Santinha. Assim como estava tão perto a nossa saída da zona. Mas que, agora, parece algo bem distante. Um amigo vaticinou:
“Professor, quando o Santinha tá lá em cima, aparece uma porrada de urubu para sugar o clube. Aí a gente se fode e cai. Lá embaixo, em tempos de vacas magras, só os que realmente amam o clube aparecem, daí a gente sobe. Assim não dá”.
Nem posso falar da partida. Vi os lances depois. Perdemos muitos gols. E, por sorte, não levamos uns três. Martelotte disse que o time evoluiu. Essa eu não entendi. Sei apenas de uma coisa: está na hora de se criar um movimento pró Santa Cruz oriundo de sua torcida, de seus sócios.
Esse papo de que sempre foi assim no Santa Cruz não cola mais. É preciso transparência em tudo, reforma no estatuto, peneira geral, reforma política, administrativa e financeira e, o que julgo o mais importante, viver na era presente. Basta dessa administração da década de 80. Estamos vivendo no passado e é lá que ficaremos se nada for feito.
O futebol brasileiro, como um todo, precisa se modernizar. Sempre penso no exemplo dos clubes espanhóis. O nosso Santinha parou no tempo. As velhas caras e raposas de sempre, os velhos interesses particulares, a falta de profissionalismo, a desorganização financeira, os ducados, a falta de transparência política e, especialmente, contábil, entre tantas outras coisas, já encheram nosso saco. Basta. A torcida não aguenta mais ficar com essa cara de otário.
Imaginar que jogadores da séricê possam surgir como salvadores da pátria é de lascar. Estamos fudidos e mal pagos. Acho que, por enquanto, só resta torcer para que Martelotte esteja certo. Caso contrário, teremos saudade quando o rebaixamento estava tão distante. Agora, tão perto.

Alguém traga de volta minha esperança

Procurei meu amigo Zeca na tela da TV. Toda vez que davam um close nos nossos heróis que foram ao jogo, eu ficava tentando achar o filósofo. Não consegui falar com ele. Mas pelo que vi da pelada, Zeca deve estar enchendo a cara de álcool, fumando e escutando heavy metal nas alturas.

Uns acham que a questão são os salários atrasados. Outros dizem que a culpa é de Jomar e Tininho. Tem gente que quer ver o diabo, mas não quer encontrar com Alírio. Com todos os amigos que converso, mando a pergunta: e aí, tu acredita que com esse time que está aí a gente se livra da C? Alguns fogem dela, como um americano foge do furacão. Quase todos respondem: acredito não.

Hoje, nem precisava ter jogado um grande futebol. Bastava uma vitória. Uma simples vitória de 1 a 0, daquelas que engana torcedor, seria o suficiente para renovar nossas esperanças. Se tivesse vencido hoje, a massa coral voltaria com gosto de gás e jogaria junto. Teríamos a semana para motivar o povão. Mas do jeito que está aí, só o mais fervoroso otimista, daqueles fundamentalista, tem fé que este nosso elenco pode fazer mais do que vem fazendo.

Tá difícil, meus nobres! Quando penso numa outra volta para sericê, bate um desespero, uma morgação geral.

Segunda-feira quero conversar com Ivonaldo, o cara da xerox, pra ver se ele injeta ânimo nas minhas veias. Até quarta-feira, ele estava bem otimista.

E vou esperar Zeca dar o ar da graça por aqui e mandar suas impressões. Afinal, ele estava em Natal.

Hoje, não escrevo mais. Vai só esse textinho, mesmo. Não vou perder tempo falando da ruindade de cada jogador, dos erros da diretoria, da falta de dinheiro, das eternas mazelas do nosso querido Clube.

Minha vontade mesmo é mandar todo mundo pra puta-que-pariu!

Um por todos

Texto enviado por LUCAS PINTO*

A idolatria do povo coral por Catatau está consolidada e eternizada. Ter sua face estampada numa bandeira (ou “trapo”, como chamam os barra-bravas), para em todo jogo transmitir alguma mensagem da torcida, não é para qualquer um. E esse guerreiro acaba de chegar lá.

É um espetáculo à parte, sim. A carreirinha, o levante da torcida, o repórter na rádio “Catatau vai chamar alguém”… mas vai além. Ele não apenas está indo buscar um jogador que precisa entrar na cancha, com concentração total. Não apenas está acionando mais um atleta que vai à campo, para lutar junto aos companheiros.
Ele, naquele momento, está levando a mensagem de todos torcedores que estejam na arquibancada. De que é necessário garra, vontade, empenho, concentração, de que está ali em campo uma camisa diferenciada. Uma camisa que tem ideologia, que carrega o peso de uma cultura de luta.

E faz com maestria! Catatau simboliza a esperança da torcida. Esperança por uma vitória, ou pela manutenção desta, por dias melhores para eles, para nós, para o glorioso Santa Cruz.
É muito mais do que uma carreirinha!
São 23 anos de clube. São 23 campanhas, 23 temporadas. Muitas alegrias, muitas tristezas, e uma dificuldade insistente. O cara está no clube desde 1994. Passou por tudo que houve de mais louco nesse período, sempre com muita irreverência, compromisso e, acima de tudo, respeito. É muita história escrita com essas cores. Muito suor pelo Mais Querido.

Existe uma máxima na torcida de que Catatau tem a cara do Santa Cruz. E tem! Negro, coral, que começou de baixo, que ralou muito por suas evoluções e conquistas. Persistente. E agora, eterno. Mais Santa Cruz que isso, impossível.

O sonho de confeccionar esta homenagem é antigo entre os membros da Portão 10. Mas não havia momento melhor do que este para realização. Não apenas pela situação do campeonato, mas principalmente pelo estado de extrema dificuldade em que se encontram nossos funcionários. São meses e mais meses sem receber.
Mas, que assim como nosso “mito”, estão lá. Firmes! Fazendo a segurança, a limpeza, fazendo o clube, sem abandonar o barco. Esse pessoal pode e deve se sentir homenageado juntamente ao nosso massagista. Independente do período e da função, também é por todos vocês.

Catatau, que por sua vez, além de massagista, é o legítimo faz-tudo do departamento de futebol do Tricolor. Carrega o carrinho dos materiais, todo treino e todo jogo. Enche as garrafas de água e prepara cada assento do Expresso Coral. Sempre com alegria!
O cara que o vê trabalhando assim (e os demais funcionários também) todo dia e ainda entra em campo para fazer corpo mole, é um belo de um “miseravi”.
Dos jogadores, não cobro mais amor à camisa. Mas respeito, sim. E se ainda ousam não respeitar o Santa Cruz, que no mínimo respeitem o sacrifício diário dos companheiros de trabalho, de quem está aqui há anos pelejando, e segue na batalha, simplesmente por entender o que é esse clube!

Ao receber a homenagem, na tarde do dia 4 de Setembro de 2017, ele se emocionou. Certamente, chegou em casa e viu que nada foi em vão, e que a estrada ainda é longa, com grandes pelejas, mas que as forças estão renovadas!
E não se emocionou sozinho. A multidão coral foi tomada pelo impacto desse ato, desse marco. As raízes corais foram fortalecidas, a alcunha de Clube do Povo foi honrada. A ideologia foi praticada, e como resultado, veio uma onda de orgulho pelo que somos e sempre seremos. Um povo sofrido, mas guerreiro, batalhador demais! Persistente!
E honrado, como Catatau.

 

 

 

 

Bendito congresso de Filosofia.

Na quinta, dia 7, viajarei para Natal para participar de um Congresso de Filosofia Antiga. Volto no domingo à tarde. E o melhor de tudo: minha palestra será no início da tarde de sábado. O que fazer depois da palestra? O óbvio: ir para a Arena das Dunas assistir ao jogo do Santinha contra o ABC. Bendito congresso, meus amigos.
Entretanto, o que esperar desse jogo é outra coisa. Venho acompanhando a resenha do rádio nesse período sem jogo. Martelotte está se virando com o que tem. Não é de se estranhar que tenha adotado o esquema mais feijão com arroz que existe, o 4-4-2.
O 4-4-2 é quase como um modelo de estratégia orgânico. Ainda mais quando sabemos que a inteligência tática anda meio escassa pelas bandas do Arruda. Diante de um time que vinha demonstrando esquema algum, o mais seguro é fazer o básico.
O que tenho escutado com freqüência é que, durante a semana e com a chegada do novo treinador, o clima entre os jogadores mudou bastante. Sempre escuto ou leio a palavra motivação. Como não canso de repetir, atitude mental é uma das coisas fundamentais no trabalho em equipe.
O Santinha fez um jogo treino contra a Cabense. Lembro de uns treinos desses em que o empate era a realidade. Conseguimos ganhar de 5. Não dá para medir nada por isso, mas creio que é possível pensar em um mínimo de comprometimento do elenco diante da situação crítica em que estamos.
Em outra situação, iria para o jogo em Natal confiante. Não vai dar. Vou desconfiado que só a porra. Mas, é claro, vou torcer e vibrar pelo nosso Santinha. Ganhar do ABC é tão fundamental quanto respirar.
Tiago Costa, que não vem numa boa fase, só faz repetir que o grupo está, agora, motivado. Martelotte, de seu lado, vem fazendo testes em todos os treinos. Os velhos problemas de sempre.
Das movimentações, acho que Jacsson deveria entrar no lugar de Júlio César. Sheik tem que ficar no banco. Atrás, possivelmente, teremos Nininho, Salles, Sandro e Tiago Costa. Rezar para que as batidas de cabeça possam ceder lugar a um mínimo de organização tática.
Derley, João Ananias e João Paulo estão à disposição. Na frente, Pitbull fez quatro gols no jogo treino. André Luís deve compor a ligação com ele e Grafite. Léo Lima retornou aos treinos. Vítor, depois daquela fatalidade, saiu da fisioterapia e já deu umas carreiras no gramado. Mas não dá para contar com ele por enquanto.
No mais, meus amigos, é torcer para que a garra volte a fazer parte desse elenco e que eu possa voltar de Natal mais animado. Vai ser cana e haja coração (e fígado)!

Chove chuva, chove sem parar.

Uma chuva fina caía sobre o Arruda no início da partida contra o CRB no sábado passado. Havia poucos torcedores nas sociais. O clima era de desconfiança. A frase de Pessoa, “o dia deu em chuvoso”, parecia adornar aquela tarde.
Logo a chuva se avolumou e virou um dilúvio. Protegi meu copo de cerveja naquelas capas de chuva que vendem por R$ 5,00 nos estádios. No gramado, o que todos presenciaram foi um Santa Cruz completamente atabalhoado, sem esquema tático algum.
Mesmo depois do gol de Grafite e dos gritos de “acabou o caô”, a sensação era de que as coisas não se encaixavam. Sandro até que demonstrou vontade, mas Yuri deixou claro que nasceu para outra coisa – incrível como ele demora a pensar a jogada. Bruno Paulo não tem mais explicação. A falta de criação no meio já virou piada.
No intervalo, quando fui pegar outra cerva, me encontrei com Juninho e Jorge. Conversamos sobre o caos do clube, diretoria, Tininho, Jomar, fora Giva, Alírio, o papel dos conselheiros, mudança no estatuto, as eleições que se aproximam, enfim, os velhos problemas de sempre.
O segundo tempo revelou o naufrágio que não queríamos. Jorge até que tentou entoar umas loas para ver se o segundo gol chegava, mas foi o CRB quem mandou nas cartas e no jogo. Encharcados de chuva e putos com a péssima atuação, fomos ao Abílio tomar a saideira. Lá encontramos Jerry e Mark.
Como estava todo mundo muito indignado com a crise e a eminência de uma séricê, mudamos de assunto. Como bons ingleses, Jerry e Mark falaram sobre futebol, mas cricket e boxe também. Como não saco nada de cricket, conversamos sobre a história do boxe e a luta entre Mayweater e Connor naquela noite.
“Zeca, você tem que assistir ao documentário chamado Four Kings. Os quatro grandes do boxe: Sugar Ray Leonard, Marvin Hagler, Thomas Hearns e Roberto Duran”, indicou Jerry.
The Fabulous Four. Valeu, Jerry, documentário muito foda. Nada como a velha e boa old school. No final da noite, depois de peregrinar pela Boa Vista com Juninho e Jorge, fui ver a surra que Connor McGregor levou de Mayweater.
Acordei no domingo com uma ressaca triste. Pensei no barco afundando, Giva indo embora, os marinheiros à deriva, sobrevivendo num pequeno bote… por enquanto.
Que Martelotte possa salvar essa galera do naufrágio. E que esse dilúvio que se prenunciou de maneira amarga sobre o Arruda possa ceder lugar a um verão, por pequeno que seja. Que 2015 se repita.
E que o espírito, a garra, a inteligência e a vontade dos Fabulous Four possa nos inspirar daqui em diante. Porque a situação, meus amigos, não é fácil. Nada fácil. Mas, sempre repito isso, atitude mental é tudo.

Um pouco de futebol.

Amanhã é dia de ir para o Arruda. Como estarei dando aula numa turma de mestrado até as 16 horas, vou sair voando e chegar no pontapé inicial. Mas isso não me impede de pedir o melhor cachorro-quente do mundo e tomar umas cervas durante a partida. Depois é ir encontrar os amigos no Abílio após o jogo para escutar a resenha.
Mais uma vez estamos naquela situação de uma partida que será um divisor de águas. Ainda continuo achando que o mestre Giva está mais desmotivado do que puta velha. E quando o capitão desiste do barco na tempestade, o desastre é iminente. Mas é possível pensar que esse estado de espírito tenha surgido pela impossibilidade de repetir uma escalação seguida desde que começou.
Torcendo para que o velho Grafa possa servir como elemento motivador para esse grupo. Será fundamental um líder a partir de agora. A boa notícia – hoje não vou tocar nos velhos problemas de sempre – é que João Paulo e Ricardo Bueno estão de volta. O menino Alison chegou cheio de vontade e otimismo. Yuri já propagou que o time virá com nova atitude.
Também continuo defendendo a titularidade de Jacsson. Se a crise é, por enquanto, incontornável, a melhor saída é atitude mental, postura, vontade e garra. Sim, aquilo que Gerrá pontuou anteriormente: garra sempre foi o nosso diferencial. E contra o CRB nesse sábado temos que ter muita garra para sairmos da zona.
João Ananias deve entrar como titular. Onde será que foi parar o futebol de Anderson Sales e Léo Lima? Que os deuses do futebol tenham um pouco de misericórdia e permitam que eles voltem a jogar bola. Todo tricolor coral deve estar com saudades daquelas faltas que deixavam o Arruda com a respiração presa.
Torcer, também, para que Grafite jogue com garra, imbuído do espírito ancestral que anima nossas cores. Se o time mostrar força de vontade, empenho, espírito de equipe e, o que julgo uma das coisas mais importantes, respeito por sua torcida antes de tudo, dá para termos um pouco de esperança.
O quadro é favorável? Claro que não sou louco. Nossa situação é complicada em todos os sentidos. Mas só hoje – só hoje mesmo – quero pensar apenas em futebol. Estarei no Arruda torcendo para que o capitão se arrete e decida, por amor à sua tripulação, domar a tempestade. Que os marujos transpirem sangue para salvar a embarcação do naufrágio.
E que nós, os velhos torcedores de sempre, possamos estar presentes diante dessa mudança de atitude. Porque, sejamos sinceros, um pouco de esperança não faz mal a ninguém.
No fim das contas, espero estar no Abílio ouvindo resenhas positivas até que as últimas luzes do Arruda se apaguem. Paixão é assim mesmo: uma coisa de doido.

Mirem-se no exemplo de 1999

Pronto, entramos na zona. Estamos mais perto do que nunca da Sericê. Os mais otimistas, na sua mais pura fé e paixão, ou apenas por puro engano,  achavam que esta possibilidade era apenas delírio dos pessimistas.

Com essa bola que estamos jogando, muitos já falavam e previam: rumo a terceira. E estão certos.

Há quem diga que o motivo é falta de salário. Pode ser. Ninguém gosta de trabalhar sem saber se vai receber o salário. Concordo que todo e qualquer empregado deve receber em dia. Entretanto, falta de dinheiro, salários atrasados e dividas sempre fizeram parte do cotidiano do Santa Cruz Futebol Clube. Alguém me mostre algum ano que não falaram de falta de dinheiro no nosso clube.

O que falta mesmo é alma, é raça, é esses caras jogarem bola com o coração no bico da chuteira. E isso é o que vai nos levando para mais um rebaixamento.

Esse grupo de jogadores não nos representa. Nós, tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda, não nos encantamos com craques e espetáculos, nós vibramos é com quem transpira garra. Nós, o povão que frequenta a arquibancada do Arruda, nos orgulhamos quando vemos o jogador suar sangue, comer grama, transpirar vontade. Nós, a massa coral, trazemos na memória as grandes conquistas na base da raça.

Não lembro de um jogo nessa Séribê, onde a gente comentasse que o time mostrou vontade. A maioria dos atletas que hoje estão no Santa, joga apenas por obrigação.

Nessa hora, me recordo de 1999. O presidente era Jonas Alvarenga e o presidente do Conselho Deliberativo era Antônio Luiz Neto. Tínhamos um time de estrelas. Mancuso e cia. Um bando de descompromissado, isso sim. Fazíamos uma campanha vergonhosa na Seribê. Em pleno Arruda, levamos uma goleada do América Mineiro. 5 a 1 pra eles. Fui para aquele jogo de muletas. Tinha feito uma artroscopia no joelho. Saímos do estádio revoltados e certos que cairíamos para terceira divisão. Naquela ocasião, falei para o meu pai: se continuar jogando desse jeito, vamos cair.

Hoje fui almoçar na casa do meu velho. Seu Geraldo tem 81 anos. Guarda na gaveta sua primeira carteirinha de sócio do Santa Cruz. Hoje foi ele quem me disse: com esse futebol aí, o Santa vai ser rebaixado. O time é morto e não tem alma.

Em 99, primeiro se dispensou o treinador Artuzinho. Nereu assumiu e foi o encarregado de fazer uma limpeza no elenco. Só ficou quem incorporou o verdadeiro espírito de guerreiro. O time saiu do quase rebaixamento, para o acesso à primeira divisão.

Hoje só vejo uma saída: Alírio e sua diretoria criar coragem para fazer o mesmo que foi feito em 1999. Uma limpeza geral do treinador até o elenco.

Desse jeito nossa a esperança voltará e a torcida chegará junto.

Um returno para lá de tenso.

Talento, motivação e estratégia são elementos fundamentais no futebol. Mas a atual realidade do futebol brasileiro quase sempre está atrelada a dividas exorbitantes. O mestre Nelson Rodrigues costumava dizer que futebol não é só racionalização, mas muita emoção.
Entretanto, um clube é gerido, possui departamentos, diretoria e presidência. Daí ser necessário pensar o universo de cada time se valendo da razão. As estratégias de gestão envolvem um projeto de planejamento financeiro, econômico, político, cultural e esportivo.
O Santa Cruz vem continuamente demonstrando sua incompetência nesse quesito. Já cansamos de falar disso aqui. A culpa é sempre do passado. O problema é que, no presente, não encontramos soluções que sejam postas em prática. Já sugeri, aqui, e isso umas dez mil vezes, que transparência, CT e valores de base e um departamento de futebol competente são passos iniciais tão necessários quanto respirar.
Além do mais, quando recebemos notícias de Doriva, Eutrópio ou Carlos Alberto, por exemplo, e os bloqueios constantes de nossas contas, chega a ser uma ofensa à inteligência a lerdeza de nosso departamento jurídico.
Evidente que, em campo, a motivação dos jogadores está atrelada a diversos fatores. Um dos mais relevantes é salário em dia. Não tem como não pensar na desmotivação desse grupo treinando. E se você não treina adequadamente, meus amigos, é muito possível que os resultados sejam negativos.
A contratação de Grafite, creio eu, vai possuir muito mais um efeito motivador na equipe do que resultados em gol. A presença de um líder, em momentos de crise, é muito importante. A falta de identidade desse elenco é assustadora. Creio que o velho Grafa dará um gás novo nesse returno que se inicia no próximo sábado, mas um gás psicológico, não tanto futebolístico.
Talento, por seu turno, é uma questão complicada. Ainda bem que alguma mente minimamente inteligente mandou Travassos (pelo amor de Deus) e Jaime (vixe Maria) para bem longe do Arruda. As coisas por aqui são lentas…. bem lentas.
Esse returno parece que vai ser mais tenso do que estávamos esperando. Sempre defendi o velho Givanildo – por sua história e competência. Defendi sua chegada atual no Santinha. Mas fiquei surpreso com sua entrevista de chegada. Ele já foi largando que qualquer coisa iria embora. Ele está adorando repetir isso em suas entrevistas. Creio que está na hora de acharmos outro treinador. O velho Giva parece desmotivado – e disso, tenho certeza, já estamos fartos.
A crise nos clubes do Brasil, entretanto, não inviabiliza a vida da maioria dos times. Devido a uma incompetência invisível, isso nos afeta e muito. Não é de se estranhar que, aqui e ali, surja a lebre da terceirização. Co-gestão ou venda total é um tema que ainda iremos nos demorar aqui, mas que já vale a pena começar a pensar, basta ver a realidade de muitos clubes europeus.
Por enquanto, nos resta seguir a indicação do mestre Rodrigues e torcer para que algo de bom aconteça com nosso Mais Querido. Sábado começa a reta final e a parada vai ser tensa. Numa boa, a séricê agora, nesse momento ainda mais complicado, pode significar um fundo do poço muito fundo.
Mas vamos lá. Tomar todas no sábado e torcer por uma vitória.