Uma linda vitória

Ainda estou em êxtase. De alma lavada e com o coração transbordando de felicidade. Estou assim…, de bem com a vida, distribuindo abraços e espalhando sorrisos.

Senhores, que vitória. Que raça. Uma vitória que só merece aplausos.

Hoje, para o nosso Santa Cruz, eu jogo confetes, abro uma cerveja, faço um brinde e estampo no peito o orgulho que tenho de torcer pelo time do povo. Aquele que quando joga a poeira se levanta.

O triunfo desta tarde ensoralada, eu tomo a liberdade de dedicar a garota anônima que passou por mim no supermercado, reparou a minha camisa e perguntou quanto foi o jogo. Seu olhos brilharam de alegria.

Dedico a Delmes Herval, meu sogro, que esta semana sofreu um AVC, está internado, mas hoje fez questão vestir nosso manto sagrado e mandou sintonizar a televisão do quarto do hospital para ver o Santa ganhar.

Dedico a Zé, a João, a Maria e Severina.

A toda zona norte. A sul, a leste e a zona oeste.

A minha linda Mariá que não tirou os olhos da televisão e viu toda a partida junto de mim. Pulava, gritava, comentava. E da maneira mais pura, aliviou o meu nervosismo com sua confiança no time.

Só sei que quando a gente ganha, meu mundo fica em paz.

Suas avenidas, becos e ladeiras se iluminam. Janelas e portas ficam abertas. Os poetas declamam na praça. As pessoas se abraçam e conversam na calçada. Os meninos jogam bola no meio da rua.

Quando o Santa Cruz ganha desse jeito, eu lembro de Pablo do Bar Raízes que, depois do jogo, cheio dos paus, ligou para mim pra saber se Samarone tinha morrido.

Lembro de Raul Holanda, Danilo, Birigui, Fred Arruda e todos os tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda que estão exilados pelos quatro cantos do mundo.

Lembro da alegria da Portão 10, do bandeirão da Inferno.

Lembro da piscina quarada de gente nas nossas conquistas.

Lembro de Bráulio de Castro, Maestro Forró, Spok, Jr Black, Bruno Pedrosa, Gildo Brasáfrica, Cannibal e tudo que é artista do Santa Cruz.

Quando o nosso querido Santinha ganha desse jeito, eu tento apagar alguns dias do calendário. Fico contando os minutos e tento acelerar o relógio para apressar o tempo, na vontade que o próximo jogo chegue logo e eu corra para o Arruda, para ter o prazer de ver o meu Santa jogar e voltar a recordar de tudo que é bom nessa vida!

P.S.: Soube agora que o time chega por voltas das 10h e já tem um monte de gente se organizando para ir até o aeroporto.

Daqui pra Sábado, vou curtir minha irracionalidade

Pra onde a gente olha tem torcedor fazendo conta, arriscando palpite e tentando adivinhar quem vai subir para primeira divisão. Entre otimismo, lamentações, esperança e nervosismo, cada um dá seu pitaco.

Só sei que toda vez que procuro lógica nos resultados dessa seribê, fico mais perdido do que cego em tiroteio, cheio de dúvidas e na certeza que futebol nunca será uma ciência exata.

Vejam como são as coisas.

A barbie vence a gente no Arruda, depois leva uma enfiada de quatro a um do Botafogo na Arena e, quando todo mundo achava que elas estavam mortas, vão lá em Salvador e vencem o Vitória. Vitória que recebe mais de 20 milhões de cota e que até pouco tempo era dado como certo na seriá de 2016.

E mais, mesmo tomando uma sonora goleada do Luverdense lá em Lucas do Rio Verde, a barbie ainda tem chances de subir.

Sim, esse mesmo Luverdense não conseguiu nos vencer lá na casa deles, mas estreou no campeonato ganhando para o América de Minas que agora está na segunda colocação e é treinado pelo velho conhecido Givanildo Oliveira. Ontem eles ganharam fácil do  Paysandu que passou algumas rodadas no G-4 e agora parece que saiu de vez.

O Paysandu é uma doidice. Vence o Botafogo no Maracanã, mas é incapaz de vencer o Mogi Miri e o Macaé em Belém do Pará. Vem aqui no Arruda, nos vence com gol de Betinho, mas perde de Bragantino, Boa Esporte e Atlético Goianiense. Nenhum desses três conseguiu ganhar da gente na casa deles.

Vamos a outro concorrente nosso. O Bahia Futebol de Bastidores. Clube que também recebe seus vinte e tantos milhões de cota da televisão.

Eles vieram jogar contra nosso Santa Cruz e chegaram aqui em Recife por cima. Saíram com 3 a 1 na sacola. Perderam fora para o Bragantino, apenas empataram com o América em casa e ganharam para o Criciúma no apagar das luzes. Esse Bahia levou duas lapadas do seu rival em Salvador, o Vitória. 4 a 1 no primeiro jogo e 3 a 1 no segundo.

Quem está comendo pelas beiradas é o Sampaio Correa. Está em colado no G-4.

Nesse campeonato eles não conseguiram vencer nosso time, mas em compensação foram lá em Natal e derrotaram o ABC, com o qual a gente apenas empatou. No  Maranhão o Sampaio perdeu para o América de Minas que perdeu para o Santa no Arruda.

Por fim, o Botafogo. O time mais rico do campeonato. Falam que recebeu da TV mais de quarenta milhões.

Não sei o que pensam os botafoguenses, mas pelo que vi dos resultado do time carioca, a turma por lá deve ser uma lamentação só. Como mandante eles perderam pontos diante de equipes como: Oeste, Luverdense, Boa Esporte,  Criciúma e já agora na reta final, perdeu para o quase rebaixado Ceará. Já era para estar com o acesso garantido.

Pois é, meus amigos…! A essa altura do campeonato, doido é quem fica procurando lógica para dar seu palpite.

Eu vou apenas torcer, rezar e beber. Sejamos irracionais.

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Pra continuar ajudando a Samarone no projeto de reedição do livro Zé é só clicar aí www.catarse.me/ze_apml

Hoje não escrevo sobre futebol

Amigos corais, há dez anos ocupo este precioso espaço voltado para tudo o que envolve nosso amado clube, o Santa Cruz Futebol Clube. Primeiro com o amigo-irmão, Inácio França, depois com vários colaboradores, e finalmente com o nosso prata da casa, o grande Gerrá Lima, amigo de todas as horas.
Bem, como temos jogo apenas no sábado, achei que poderia falar sobre outro assunto, que não a nossa luta para voltar à Série A, a expectativa etc.
Meu texto de hoje é para pedir o apoio dos leitores deste Blog para um projeto que lancei dia 28 de outubro, no site www.catarse.me, para conseguir financiar uma nova edição do meu primeiro livro, publicado em 1998, intitulado “Zé – reportagem biográfica”, e que há alguns anos está esgotado.
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Resumindo cinco anos de pesquisa (1993 a 1998):

Zé era o apelido do José Carlos Novais da Mata Machado, mineiro que teve uma grande atuação durante a Ditadura Militar (1964 a 1985). Filho de um grande jurista mineiro, Edgard da Mata Machado, o Zé cresceu respirando política, acabou se tornando uma das lideranças da Ação Popular (AP), foi preso no Congresso da UNE de 1968, cumpriu a cana, e quando saiu, e mergulhou na clandestinidade.
Ele foi preso em 1973, quando militava na APML e morto no DOI-CODI do Recife, após brutais sessões de tortura, na madrugada de 27 para 28 de outubro de 1973. O DOI-CODI funcionava onde agora é aquele Hospital do Exército, ali perto do Parque 13 de maio.
O que tornou a história mais dramática foi que o cunhado do Zé, Gilberto Prata, aceitou trabalhar para a repressão. Foi um “infiltrado” na APML para repassar informações. Foi por causa disso que ele foi encontrado pela repressão. Várias pessoas morreram por conta dessa infiltração. Dois deles eram pernambucanos: Eduardo Collier Filho e Fernando Santa Cruz, presos em 1974 e desaparecidos.
O livro conta a história dele, desde a adolescência em Belo Horizonte, até a morte. Em uma passagem pelo Recife, o Zé fez vários amigos, que consegui entrevistar, para construir a narrativa. Na verdade, conta várias histórias e como era o país, debaixo de uma ditadura.
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Agora, quero reeditar o livro, com muitas novas informações sobre o caso, que a Comissão da Verdade de Pernambuco já conseguiu. Coisas que a gente não tinha acesso, como jornalista, na década de 1990.
Aos que compartilham meus textos, aqui no Blog, ou que já leram algum dos meus livros, peço uma pequena pausa para ver um vídeo que postei no site, além do texto que embasa o pedido de financiamento coletivo. O link é:

www.catarse.me/ze_apml

É bem simples e fácil. Você pode doar valores que vão de R$ 20,00 a R$ 5 mil (mas corra, porque só tem duas vagas para este tipo de doação).
Mas uma grande ajuda, de verdade, é também espalhar o link do projeto em suas redes sociais. Tenho até dia 29 de novembro para conseguir a meta. Se não alcançarmos o valor, tudo é devolvido para quem colaborou.
A vida me levou a esta história incrível, de um sujeito que passou por tudo, lutando por aquilo que acreditava. Foi líder estudantil, preso, virou clandestino, casou, teve filho, passou fome, até que foi preso e massacrado até a morte.
Seu corpo foi enterrado como indigente no Cemitério da Várzea. Coube a uma valente advogada, Mércia Albuquerque, encontrar o corpo e lutar, em nome da família, para que os restos mortais fosse exumados e enviados para Belo Horizonte. A família recebeu um caixão lacrado, para que não vissem o que tinham feito com ele.
É isso o que pretendo – trazer de novo essa história. Quando vejo algumas pessoas, de forma tresloucada, pedindo “intervenção militar”, em manifestações públicas, acho que precisamos saber mais sobre como foi aquele período.
Como jornalista e escritor, me coube também este cargo de cronista do Blog do Santinha, coisa que me enche de orgulho.
Peço a vocês que me ajudem, nesta empreitada. Se você acha que R$ 20,00 é pouco, basta ver o número de comentário deste blog. Se 90 pessoas doarem R$ 20,00 é uma puta ajuda.
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Amanhã, o Blog do Santinha volta a se dedicar à nossa obsessão infinita – o Santa Cruz Futebol Clube.

É hora de secar e de “apoiar”

Hoje é dia de usar o secador no volume máximo. Não só contra o Bahia Futebol Axé Music, mas contra todos que estão por perto do nosso Santa.

Não tem muito o que ficar filosofando. Não tem outra pedida. É secar, torcer, rezar, azarar, fazer despacho, promessa, etc e tal. Fora isso, o resto é conversa paralela.

Por falar em conversa paralela, um dos fundadores deste espaço, está com um projeto na rua. O escritor, poeta, jornalista, peladeiro e frequentador assíduo das arquibancadas do Arruda, Samarone Lima, pretende reescrever o livro Zé. Publicado há 17 anos, hoje este livro artigo raro.

Para isto, Sama resolveu buscar apoio e patrocínio junto aos amigos reais e virtuais, através de um financiamento coletivo (crowdfunding). Na prática, podemos dizer que um crowdfunding é se usar as redes sociais para se conseguir dinheiro para execução de um projeto.

Bom, a empreitada do cabeludo está bem explicadinha no seguinte endereço https://www.catarse.me/ze_apml. Tem até um vídeo, onde Samarone fala sobre o projeto.

Pra saber, contribuir, apoiar e compartilhar é só clicar no link acima e mandar brasa.

 

Minha companhia é o meu melhor lugar

Corri nas tarefas do trabalho e consegui sair mais cedo, a tempo de passar em casa e vestir o manto sagrado.

Cansado, mas animado e confiante, me mandei para o Arruda.

Antes, porém, quando estava saindo de casa, tive o desprazer de escutar Seu Luís dizer que o jogo era difícil. Que o Criciúma quase empatava com o Bahia na Fonte Nova.

Fosse eu, Nelson Rodrigues, teria chamado ele de idiota da objetividade.

Sim…, precisamente às seis e quarenta e sete, me encontrei com o resto da tropa. De um tempo pra cá, o ritual da turma é antes da partida, comer espetinho, tomar litrinho e, se Samarone estiver, beber umas lapadas de aguardente. Tudo isto, ao som de um excelente brega, na radiola de ficha. De lá, cada um se manda para o seu setor preferido, aquele que dá sorte.

Todos tem seu ritual e no estádio, o seu território.

Naná e cia, obrigatoriamente, tomam uma no Poço da Panela, segue para o Arruda e antes de entrar para as sociais, eles bebem no bar de Abílio.

Nas sociais, Naná, Boy, Ninha, Oswaldo Titio e Diazepan ficam sempre entre o banco de reservas do Santa Cruz e a barra do canal. Sentam mais ou menos no quinto ou sexto degrau.

Quem encontrei no jogo, foi Mardônio. Na nossa pelada semanal, o apelido dele é John Lenon. Ele também gosta das sociais.

Descobri que Mardônio ver o primeiro tempo em um lado e o segundo em outro. Vai para onde o Santa está atacando e se posiciona rente a linha de escanteio. Jonh não é muito de beber antes do jogo.

Samarone já é famoso. As vezes já vem de casa tomando sua latinha. Quem quiser saber se ele está no estádio é só mirar os olhos para aquele escudo que fica na lateral do gramado, no lado da arquibancada, e ir levantando a vista para ver se encontra o barbudo encostado no parapeito. Por tradição, o poeta gosta de assistir ao jogo com uma e outras na cabeça.

Tem uma galera gente boa que demarcou um território na arquibancada, batizaram de Ventilão e só assistem ao jogo de lá. João Peruca, Jr Black, Marquito e outros bons são praticamente donos daquele território. Antes de irem para o Ventilão, os caras fazem a preliminar no Tonhão.

Na época da Sanfona Coral, tomávamos a primeira no Poço da Panela. Depois tinha o fezão, feijoada e aguardente, num apartamento na Jaqueira e, antes de entrar no estádio, bebíamos na lendária Churrascaria Colosso.

A Sanfona sempre ficava na arquibancada. Quando alguém perguntava onde podiam nos encontrar, o ponto de referência era o banco do time adversário e um isopor de cerveja no chão.

Enfim, cada um com seus caminhos, seus rituais e seus locais preferidos.

No meu caso, meus lugares preferidos estão diretamente relacionados à minha companhia. Vou pras cadeiras, arquibancada ou sociais. Vou para qualquer lugar. Mas detesto estar junto dos amargurados, azedos e dos idiotas da objetividade.

 

Pois eu acredito até o último apito

Segunda-feira, 6h47. Abro o Blog do Santinha para a tradicional postagem semanal e vejo a quantidade de comentários:256.
Não me dei ao trabalho de ler todos, porque acabaria meio-dia e com úlcera.
Para uma grande parte dos que deixam mensagem aqui, o Santa parece mais um time da Muribeca, ou da Mustardinha, a diretoria é abençoada pela incompetência, todas as quizilas do mundo estão do nosso lado, nosso elenco é composto de atletas em fim de carreira, pangarés de todos os tipos.
Aqui-acolá, um torcedor coral faz ponderações, ressalta coisas positivas, aponta viradas memoráveis, jogos que pareciam perdidos, lembra que ainda temos chances reais de conseguir uma vaga para a Série A.
Do alto da minha prosopopéia futebolística-santa-cruzense, eu aviso: minha obsessão pelo acesso só termina quando o juiz apitar pela última vez e o sujeito da rádio consultar a combinação de resultados para nos informar que “não dá mais para o Santa subir”. (toc toc toc).
Mas minha obsessão quer mesmo escutar é:
“Uma classificação dramática! No último minuto! O Santa Cruz está classificado para a Série A em 2016! Festa da torcida coral em todo o estado! Os jogadores estão desmaiados em campo!”
Amanhã temos mais um jogo decisivo. E depois mais outro. E espero que seja assim até a última rodada.
O Santa pode estar perdendo de quatro a zero, faltando dez minutos. Eu nunca saio. No futebol, tudo é possível.
Algum desses mau-humorados corais, que acham o time “uma desgraça”, vai uma pergunta: eles acreditavam, com sinceridade, que o Santa Cruz tinha alguma chance de ser campeão pernambucano de 2015.
(Isso é uma pergunta. O computador que estou usando, da minha mulher, não tem o ponto de interrogação).
Pois fomos comendo belas beiradas e a taça está no Arruda.
Quando acabou o contrato de João Paulo, ouvi horrores sobre a diretoria, a incompetência etc. O contrato já foi renovado até dezembro.
A Fifa botou para quebrar em Raniel, botou o atleta para o gancho até fevereiro de 2016, o clube recorreu, o moleque já está de volta aos campos. Se não desencantou ainda, paciência.
Até a última rodada, o último apito, estarei com a esperança acesa, apoiando o Mais Querido.
Não é que eu seja otimista ou pessimista.
É que eu sou puto com esse negócio de não lutar até o fim.
Isso, por sinal, nunca combinou com o Santa.
Até amanhã, no Arruda, mesmo que chova aquelas facas da Tramontina.
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Nossa homenagem, do Blog do Santinha, ao grande craque Henágio Figueiredo dos Santos, que sempre estará na memória da massa coral.

Prudência não faz mal a ninguém

Passei uma vista nos comentários para ver se compreendo melhor a lapada que levamos das Barbies. (Opa, Barbie, não! Alvirosas).

Pois bem, depois de ter tido prazer de conhecer Birigui e de ter passado a noite da sexta-feira ouvindo nosso eterno goleiro contar histórias e declarar amor ao Santa Cruz e a Recife, acordei cedo no sábado e fui ao Arruda. Estava confiante na vitória.

Fui até a nossa sede para comprar os ingressos e dar um abraço em Paulo Aguiar pelo lançamento do livro 100 nomes em 100 anos. Um vento positivo circulava pelas bandas do Arruda.

Encontrei um monte de gente boa. Senti em todos, a confiança num resultado positivo. Até um guarda da polícia de trânsito que me pediu para tirar o carro da rua das Moças estava confiante. “Hoje a gente ganha”.

Voltei para casa pra almoçar e juntar a família. As meninas estavam eufóricas. A menor perguntou se eu tinha encontrado com Grafite e ficou triste quando eu disse que nosso atacante não iria jogar.

Por volta das 15h, saímos para o jogo.

Num sinal da Avenida Norte, o Tri-Tricolor/Tri-Tri-Tri-Tri-Tricolor toma conta do cruzamento. Motos e carros. Todo mundo é Santa Cruz.

Estaciono na Praça Luis Ignácio Pessoa de Melo. No trajeto que fizemos a pé, tudo é preto-branco-encarnado.

Na subida da rampa, encontro Chiló e o pequeno Rafa.

Assistimos ao jogo na mesma fileira. Nós e a gurizada. E vimos o Santa Cruz, até os 38 minutos da primeira etapa, jogar bola, esbanjar raça, dominar o adversário e vencer a partida.

Depois disto, quando sofremos o empate, o time foi desaparecendo de campo. Desceu para o vestiário já meio murcho e voltou pior.

Daí pra frente, não preciso descrever.

Quem foi viu, quem não foi ficou sabendo.

Perdemos um jogo que estava fácil. Faltou sabedoria.

Num jogo de futebol, é preciso saber dosar o pé no acelerador. Às vezes, é necessário jogar defensivamente. Tem certos momentos de uma partida, que é inteligente se ter uma postura de marcação. Daquela que você fica esperando o adversário lhe atacar, para você dar o bote na hora certa.

Mas o Santa Cruz parece que sofre de uma ansiedade descontrolada para jogar no ataque.

A impressão que dá é que Marcelotti tem certeza que está treinando uma equipe de estrelas e os jogadores também acreditam nisso.

Eu fosse treinador deste time, seguiria o modelo givanildiano de fazer futibó. Na dúvida, não ultrapassaria o sinal fechado.

Com a limitação que temos, não dá para querer que o time jogue ofensivamente sempre.

Mas estamos na luta.

Cabe a nós, apoiar e fazer a corrente positiva. Se Marcelotti controlar seu transtorno-obssessivo-compulsivo, temos chances reais de subir.

Um sonho guardado por quase 20 anos

Comecei a frequentar o Arruda, ainda quando não existia o parte de cima. A arquibancada superior.
De lá pra cá, tenho cravado na minha memória estão alguns fatos. Não sei o real motivo, mas tem coisas que estão tão vivas na minha caixola, que quando lembro é como se tivesse acontecido recentemente. No último final de semana, ontem…

Ecreveria linhas e linhas recordando com detalhes, as alegrias e o orgulho de ser do Santa Cruz.

O golaço de Marlon contra o Internacional. Fora da área, ele matou no peito e mandou no angulo. Um dos gols mais bonitos que já vi na minha vida.

O gol antológico de Luzinho. Um toró de inundar ruas e avenidas. O gramado encharcado. Luizinho pega a bola fora da área, carrega, ver o goleiro do Flamengo adiantado, e mete caprichosamente por cima. Foi uma das cenas mais excepcionais que já presenciei num estádio de futebol. Do momento do chute até a bola estufar as redes, o Arruda ficou calado. A coragem do jogador em chutar aquela bola e a beleza plástica do caminho que ela fez no ar, deixou até os refletores em silêncio, vendo tudo aquilo acontecer, esperando o ato final.

O drible e o gol de Jarbas. Ele entra na área pela direita, o zagueiro da barbie vem feito um doido. Jarbas ameaça chutar e dar um corte seco para dentro. O beque do alvirosa passa lotado. Jarbas manda de esquerda pros fundos da rede. O drible foi tão grande que torceu o tornozelo do zagueiro adversário.

O time de 1983. Ricardo Rocha, Zé do Carmo, Henágio, Marco Antônio, Angelo e outros. No gol, Luiz Neto e Birigui. Os dois eram tão bons que o treinador fazia um revezamento entre eles. Numa partida jogava um, no próximo jogo entrava o outro. Naquele ano fomos campeões. Aliás, fomos tri-super campeões. No jogo final, num Arruda lotado de gente, ganhamos nos penaltis, com Luiz Neto defendendo a derradeira penalidade que a Barbie cobrou e nosso zagueirão Gomes decretando nossa vitória.

Enfim…! O título de 93, uma falta batida por Nunes que quebrou o dedo do goleiro da leoa, as doidices de Gabriel, as faltas de Amarildo. Etc. Etc. Etc.

No fim de semana, conversando com Chiló, entre um gole e outro de cerveja, fomos lembrando de boas histórias. Lá pras tantas, ele mandou:

— Gerrá, tenho dois ídolos daquela época dos anos 80. Marlon e Birigui.

Coincidentemente, também idolatro Birigui. Birigui não, São Birigui. Aquele que fechou a barra na decisão de 1986 e garantiu nosso título. https://www.youtube.com/watch?v=t5Y3rJN4VM4

Naquele dia, minha vontade era invadir o gramado para abraçar nosso goleiro.

Eu só, não! Toda uma geração que teve o prazer e o privilégio de vê-lo em campo. Edgar Assis, por exemplo, me confidenciou que no tempo de Birigui, ele passou três anos indo pro Arruda fantasiado do nosso goleirão. Imagino que vários garotos também iam.

Nessa sexta, Birigui chega por aqui. Vai no sábado ao Arruda, para entregar a Thiago Cardoso uma camisa comemorativa e torcer pela nossa vitória.

Por volta das 17 horas, no Aeroporto dos Guararapes, meu ídolo chega. Se tudo der certo, vou realizar um sonho que já tem quase de vinte anos de idade. Chegar bem pertinho do melhor goleiro que já vi jogando no nosso Santa Cruz e abraçá-lo.

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Sábado, 17 de outubro, além do jogo, tem mais um atrativo no Arruda. Às 9h, na nossa sede, mais precisamente em frente ao Museu do Santa Cruz (Sala de Memórias), nosso amigo Paulo Aguiar (Blog Torcedor Coral) estará lançando o livro: Santa Cruz 100 Nomes em 100 Anos.

Táticas obsessivas para não perder o “Clássico do ano”

Amigos corais, mandem avisos a todos.
Seja por email, facebook, bilhete, telegrama. anúncio em jornal.
Sem meias palavras, sábado que vem, dia 17 de outubro, você que é uma pessoa cordata, que aceita aniversário de tudo que é de criança no Recife, que topa casamentos ao entardecer, que comparece a formaturas em geral, eventuais funerais, que acha fundamental as boas relações com amigos, parentes, com as pessoas essenciais em sua vida – você, definitivamente, vai dizer um sonoro não.
Não vai poder ir ao aniversário de ninguém, porque, a partir do meio dia do sábado, estará inteiramente à disposição do Santa Cruz Futebol Clube.
Não vai poder participar de nenhum evento familiar depois das 12h, porque a família tem 365 dias para cobrar sua presença, e no dia 17 o Santa começa uma arrancada para o acesso à Série A.
Avise a todos os conhecidos, chegados, chapas, camaradas, amigos do peito, que estão absolutamente proibidos de morrer, entre a madrugada de sexta-feira e as 18h30 do sábado. Só após você sair do Arruda cantando “Junta mais essa vitória”, com um latão gelado na mão, avisos fúnebres, em geral, poderão, ser enviados.
Anuncie logo, faça alarde.
Fique nervoso já de agora.
Faça pantim.
Seja inventivo, criativo.
Qualquer ameaça de evento, que não seja no Arruda, sábado à tarde, faça um escândalo. Quando alguém comentar coisas do tipo “você não está bem”, comemore em silêncio.
Como um bom zagueiro, antecipe-se. Corte qualquer pretensão de tirá-lo de junto da massa coral.
Frases como “mas tem jogo do Santa toda semana” devem ser tratadas como uma infâmia, causadora de separação por justa causa. O que tem toda semana é feira, pagamento de contas, ministro sendo demitido.
Filhos cheios de manha e pedidos, têm até sexta à noite para algum pantim, eventual choramingo. Se você for ríspido, a partir de amanhã, a explicação é simples:
“Papai está nervoso com o jogo do Santa, filho!”
A partir de amanhã, as ligações ao celular devem triplicar.
Frases-mantra que devem ser repetidas (mesmo com o aparelho sem sinal):
“A turma vai se encontrar a partir das 13h no mesmo boteco, né”;
“Já comprei meu ingresso”;
“Só se o cara estiver doente, para perder esse clássico”;
“Até o Carlão decidiu ir…”;
“Não, minha mulher nem é doida de marcar nada no sábado”;
“Nem se fosse o aniversário do Papa, eu iria”.
No meio do jantar da quinta-feira, uma cruzada solene dos talheres, e a frase teatral:
“Estou absolutamente nervoso”.
No meio de um filme romântico, pela Netflix, tomando um vinho:
“Acho que o gol da vitória vai ser de Luizinho. Ele está comendo a bola”.
Além disso, você próprio, torcedor, que está lendo esta crônica – você está absolutamente proibido de adoecer, entre sexta de madrugada e sábado à noite.
Morrer, nem pensar.
Não se trai o Santa Cruz assim, na véspera de um jogo decisivo, sonhando com um minuto de silêncio póstumo.
Deixe para morrer depois do jogo.
A vitória seguirá com você para a eternidade.

Tem que ser na base do álcool, da reza e do secador

Por sorte do destino, não fui para Maceió.

O plano de voo era sair daqui por volta das 14h, pegar a BR-101,  ir direto para o estádio, ver o jogo, depois tomar uma de leve na beira-mar da capital alagoana, dormir por lá e voltar bem cedinho do dia seguinte. Mas a razão me cutucou e lembrou que fora de casa, o Santa Cruz não é lá essa coisa toda. Bateu a desconfiança e, na hora do almoço, desisti de pegar a estrada.

Por um cabelinho de sapo, não fui assistir ao jogo no telão do Arruda.

Achei a ideia arretada. Logo que abortei definitivamente o plano de voo para Maceió, entrei em contato com Robson Sena para saber como seria a história do telão no Arruda. Ele me mandou um foto que mostrava já as mesas arrumadas por trás da barra da Rua das Moças e deu as coordenadas. “Sócio não paga, vai ter cerveja e tira-gosto. Começa a partir das 17h”.

Me animei.Comecei a trocar mensagens, avisei a alguns amigos, articulei com uns e outros, organizei o horário de ir buscar a filha no inglês. Mas quando escutei a escalação, a ficha caiu e a desconfiança mandou o recado.

— Ei, é Marlon improvisado na zaga e Renatinho vai entrar de frente.

Pensei direitinho e declinei da ideia de ir ao Arruda.  Para não ser esculhambado, tratei de não avisar a Samarone, Robson e Esequias. E caso eles ligassem, já estava com a desculpa pronta.

Por muito pouco, não fui ver o jogo num bar.

Chiló ficou enchendo meu saco, me chamando para ir com ele e Geó para o Bar Real. Pertinho de onde moro, poderia beber a vontade e não correria nenhum risco de encontrar um bafômetro pela frente. Até gostei da ideia. Só que quando cheguei em casa, a primeira dama me pergunta se vou assistir em algum lugar.

Digo que sim.

Ela indaga.

— Será que dá pra ganhar hoje? Esse time do Santa Cruz é uma gangorra danada!

Pronto, morguei de novo. Farrapei com Chiló e Geó.

Terminei indo ver o jogo na casa do meu vizinho Breno. Cheguei por lá já estávamos perdendo de 1 a 0. O time engrenou uma reação e o primeiro tempo acabou empatado. Minha confiança voltou. Comecei o segundo tempo, acreditando piamente que voltaríamos com os três ponto. Mas dos sete minutos em diante, a tal confiança foi indo embora, deu lugar a raiva e no final a desconfiança voltou.

Ainda bem que não fui para Maceió, nem pro telão do Arruda e nem para o bar.

E ainda bem que o próximo jogo é no dia 17 de outubro.

Daqui pra lá, vou aumentar o estoque de álcool, fazer reza e promessas pra Jesus, santos e orixás.

Sim, e comprar um bocado de secador.