Fui ontem ao Arruda. Consegui chegar antes das 18h, a tempo de tomar uma cerveja, bater um papo e encontrar alguns amigos.
Pra variar, Samarone perdeu o jogo. Ele achava que a partida seria às 19h30, começou a beber por volta das 16h e quando pensou em sair, já estava com a cuca cheia de cachaça e faltava somente quinze minutos para bater o centro.
O jogo não foi lá essas coisas. A chuva e o vento tomaram conta da apresentação. Mas, como diria o filósofo, “o que vale é os três pontos”.
Bom mesmo foi ver a animação hoje na feira.
Sou daqueles que gosta do movimento e da conversa no meio da feira. Prefiro a companhia dos feirantes, à solidão de um supermercado.
Além disso, o preço dos produtos é bem mais barato.
Na minha agenda, o começo da manhã das quartas é destinado a fazer feira. Acordo, visto o manto sagrado, levo as meninas ao colégio e me mando pra Casa Amarela.
Queijo coalho eu compro no mercado. A turma do box em que faço a compra, é quase toda do Santa Cruz. O sorriso dos caras estava de um canto a outro da boca.
— É Grafite, meu véi! O negão né brochador, não!
Gritou o moreno de bigode que sempre me despacha, pra um magro vestido com uma camisa amarela. Me entregou um pedaço de queijo e perguntou:
— E aí, dotô, o que tá achando?
— Tá meio salgado.
— Não, o Santa?
— Ah…., tá chegando. Grafite fora de forma tá fazendo um gol por partida, imagine quando o bicho tiver no ponto.
Bigode sorriu.
No outro lado, um gordinho fez uns passinhos e cantou:
— acabou o caô / o Grafite chegou / o Grafite chegou.
A gargalhada foi geral.
Provei umas castanhas e fui para o pátio da feira.
Ali a resenha é grande. Apesar do desprezo do poder público, o pessoal é sempre bem animado. Uns mais, outros menos. Mas no geral, a piada, a tiração de onda e alegria dominam o espaço.
Passo no freguês da acerola. A plaquinha de papelão avisa: 1 é R$ 3,00.
Uma moça faz a pechincha: 2 por 5?
— É leve. Dá pra fazer! Mas num se acostume não, senão eu quebro!
Um altão com voz aguda está aos berros:
— Baixou. Baixou. Quem vai querer a banana!
O outro grita:
— Te lasca!
Chego à barraca da freguesa das verduras. A alface tá bonita, danada! E o precinho do tomate está na medida, dois reais. Em se tratando de futebol, a dona é torcedora do time da Abdias e o marido é tricolor coral santacruzense das bandas do Arruda.
— Que cara é essa, tá triste? Cadê o maridão? – eu pergunto.
— Desde sábado que aquele miserável bebe! Quando a porra do time dele ganha, eu já sei que vai dar problema. Eu queria que aquela porra se acabasse.
— Que é isso, freguesa?! Faça isso não! Desejando que meu time se acabe… – eu disse.
— Não. Seu time, não. Eu queria é que aquela desgraça se acabasse na cachaça.
Lembrei de Samarone.
Peguei minhas verduras e sai assobiando, “acabô o caô, o Grafite chegou, o Grafite chegou”.