Terça-feira, não tem desculpa. Todos ao Arruda!

Parece mesmo que recebemos uma transfusão de sangue. O time, que antes sofria de  uma anemia crônica, agora é outro.

Saímos da UTI e estamos bem perto de ter alta.

Digo isto porque a sala dos rebaixados está somente a três pontos da gente. Mas por outro lado, se engrenar uma boa sequência de vitórias, a gente entra de vez na briga pelo G-4.

Sim, como eu ia dizendo, somos outros.

Basta ver a beleza do gol do nosso pirralha. Pra fazer um golaço como o de Renatinho, o cabra precisa ter acima de tudo, auto-confiança e alegria correndo nas veias.

Se não me engano, já são sete partidas sem perder, cinco sob o comando de Marcelotti. É certo que pegamos o embalo.

E agora, meus senhores, chegou a nossa hora. Se nosso esquadrão saiu da UTI, a gente precisa sair de casa e correr pro Arruda. Com nossa torcida em campo, esse time engrena e dispara de vez.

E imaginem quando Grafite estiver pronto. Ninguém segura o  Mais Querido.

Como bem disse Alírio, nós somos os heróis ocultos desse clube centenário. Certíssimo presidente. Desde nossa fundação, tem sido assim. A massa coral é o principal combustível, é a força motriz desse clube centenário.

E agora, é hora de vestir a camisa, chegar junto e jogar com o time. De defender, atacar, de bater escanteio, de matar a jogada adversário, driblar e fazer gol.

Hora de intimidar o adversário com nosso grito. De pegar os meninos que estão de férias, juntar a família e se mandar pro Arruda. Convocar os vizinhos, os amigos. Distribuir ingressos, pagar a passagem e dar carona.

Já dei uma olhada na previsão do tempo. Terça-feira o dia estarár lindo. Um arco-iris preto-branco-encarnado vai aparecer no céu da cidade. A noite, o céu ficará limpo, brilhando e a lua vem nos ver jogar.

E amanhã mesmo, já vou comprar meus ingressos.

Terça-feira, não tem desculpa. Todos ao Arruda. Foi assim que o frequentador assíduo desse Blog, o Coral, escreveu nos comentários do texto de Samarone.

Estou contigo Coral.

“Nada” pode justificar uma ausência do verdadeiro torcedor do Santa Cruz neste jogo contra o CRB.

Nesta terça, todos as ruas, avenidas, becos e ladeiras nos levarão para Avenida Beberibe.

“O Santa Cruz tomou uma transfusão de sangue!”

Quando desci para comprar o pão, na quarta-feira, o jornal “AquiPE” tinha uma foto de Grafite na capa e o título:

“O artilheiro está de volta”.

Caso raríssimo: o jornal foi mais importante que o pão.

Depois do meio-dia, já fui me concentrando para a cerimônia da chegada do craque: 15h30, no Arrudão.

Às 14h, liguei para Esequias.

“Já estou a caminho do Arruda”, disse. O bicho é apressado mesmo.

Na sede, uma efervescência. Fui à sala para atualizar minha situação de sócio, mas não cabia nem a sombra de ninguém.

No bar de Abílio, aquela agitação.

Após dar uma boa golada, Esequias solta uma frase sonora e musical:

“O Santa Cruz se reencontra com o Santa Cruz”.

Começa a falar sobre a história do Santa, sua origem negra, humilde, batalhadora, e arrematou.

“Esse negro Grafite é a cara do Santa”.

Foi uma sorte imensa ter conversado com Esequias. Minutos depois, uma amiga de uma TV me pegou para uma entrevista. Usei os mesmos argumentos do meu amigo e devem ter me achado inteligente pacas. Valeu Esequias!

Depois de circular por tudo que era canto, chegamos às sociais, lotadas. Os vendedores gritavam a plenos pulmões:

“CERVEJA, Coca e água!”

Eles exageravam na palavra “CERVEJA” porque sabiam que aquele momento era único, sem proibição. A massa coral se esbaldou nas Itaipava geladíssimas.

Foi uma linda e tanto, divisora de águas. O clube realmente está se modificando. Marketing, comunicação e futebol funcionaram numa rara e perfeita harmonia.

“CERVEJA, Coca e água!”, insistiam os vendedores.

Até a TV Globo, que adora uma exclusividade, exibiu, no Globo Esporte, a entrevista que Grafite deu à TV Coral. Golaço!

Na volta, dei uma espiada na entrevista coletiva. O Negão fala bem que só.

Dei um abraço no eterno Rodolfo Aguiar, que soltou o arremate:

“Hoje o Santa Cruz tomou uma transfusão de sangue!”

Sangue negro, pois, como o das nossas origens.

Seja bem-vindo, meu nobre!

Era inicio do campeonato brasileiro. Naquele jogo, resolvi ir para as sociais. Mal bateram o centro, a turma já estava reclamando. Ao meu lado, Gilvandro se invocava. Não com o time, mas com chatice da turma das sociais. “Deixem o time jogar, bando de filho da puta”, ele resmungou.

Lá na frente, o ataque perde um gol feito e a chiadeira é geral. “Vai ser grosso assim, na casa da rapariga da tua mãe”. “Bicho ruim do caralho”.

Foi quando Gilvandro olhou pra mim, ajeitou os óculos e disse: “esse negão não é de todo ruim não. Esse cara tem potencial. A merda é que a torcida não tem paciência, nenhuma”.

Gilvandro falava como se fosse o mestre Telê Santana.

Foi quando meteram uma bola pro negão, ele botou a pelota na frente, deixou uns três marcadores para trás, entrou na área e chutou por fora. O azedume das sociais atingiu seu limite máximo. Um cara ao meu lado ameaçou entrar em campo pra tomar satisfação com o nosso centroavante. Um senhor se esgoelava e cuspia tudo que era de xingamentos em direção ao camisa nove.

Gilvandro respirou fundo, controlou os nervos e preferiu se retirar daquele lugar. Movido pela mesma causa, acompanhei meu amigo.

Assistimos o resto da partida, perto do portão de saída das sociais.

Dali pra frente, nosso papo foi sobre Grafite. Não exatamente sobre os tantos gols que ele perdeu naquela partida, mas sobre seu traquejo, sua disposição em campo e, principalmente, sobre sua história.

Pedimos uma cerveja.

“Meu camarada, ele começou a jogar profissionalmente aos 20 anos. Esse rapaz só precisa aprender alguns fundamentos. Tem tudo pra ser um grande atacante”.

Gilvandro foi certeiro. Grafite deslanchou.

Menino pobre, preto, nem pensava ser jogador profissional. Chegou por aqui em 2001, enfrentou a pressão da massa coral, não amarelou e se mandou por esse mundo afora, levando o Recife e o Santa Cruz no coração.

Por onde passou, conquistou títulos, fez gols, foi artilheiro, se tornou ídolo.

Seguindo pela contramão da atual lógica do futebol, depois de quase quinze anos, Grafite chega de novo ao Arruda.

O carinho, o amor e a paixão o trouxeram de volta para vestir nosso manto sagrado.

Seja bem-vindo meu nobre!

Saiba que o povão está em festa e com orgulho de ser Santa Cruz.

Uma geração de tricolores corais santacruzenses das bandas do Arruda que nunca te viram jogar, já te tem como ídolo.

Cá pra nós, Grafite, tu és a cara da nossa torcida!

Sábado coral

Amigos corais, imaginemos a cena ideal. É sábado, as chuvas deram uma pausinha, o dia está exageradamente belo. Você tem saúde, algum dinheiro no bolso, e, tirando os problemas normais da vida, você não está vivendo nenhum drama espetacular. Nenhuma tragédia faz parte deste dia. E às 16h30, o Santa Cruz joga, em pleno Arruda.

Acrescentemos um ovo de codorna ao seu caldinho de feijoada – você vive no Recife, ou próximo ao Recife. E pode ir ao jogo. E vai. E sorri, com uma certa vaidade, ao saber que o estádio do seu clube não é uma opulenta e desalmada Arena, a vinte ou trinta quilômetros de sua casa. Seu estádio é o Arruda, onde certamente seu pai ou seus irmãos ou parte dos seus amigos sorriu, sofreu, chorou, amou. Cada pedaço daquele colossso tem cheiro, memória, vida.

Seu estádio está encravado na Zona Norte do Recife, a mais bela da cidade, com seus morros e sua história, em plena Avenida Beberibe, não na Avenida Deus é Fiel (endereço da Arena Pernambuco).

Se você torce pelo Santa e não agradece por esta combinação de fatos ideais, me perdoe, meu amigo, mas você está sendo ingrato com a vida. E ingratidão cobra um preço enorme.

Como não sou chegado a ingratidão, compartilho meu sábado coral.

Saí de casa às 14h em ponto. Mal chego ao Parque 13 de Maio, passa um Avenida Norte/Macaxeira. A cobradora me dá o troco saboreando uma delicosa “quentinha”. O ônibus quase não para e rapidinho estamos na encruzilhada. Resolvo descer, para tomar alguma cerva com algum amigo, já que marquei com Esequias às 15h. Dou uma passeada, tem um trio de forró, aquela agitação, eu só ficaria se fosse a finada Sanfona Coral. Debreei.

Fiz o contorno, voltei. Gosto de caminhar, mas eu só pensava na gelada. Precisava tomar uma atitude. Passa um Dois Unidos/Prefeitura. Mal entrou no veículo, passam uns batedores a todo vapor, como se tivessem escoltando algo muito importante, um rei da Inglaterra, o Papa Francisco ou aquela mulher da propaganda da Itaipava, a Verão.

Era mais que isso – a escolta do ônibus coral, com os atletas e comissão técnica, patrimônio da torcida mais apaixonada do Brasil.

“Esse ônibus ainda é o velho. O novo vai chagar mais tarde, com Grafite dentro”, me disse o motorista, com um riso de satisfação.

Ele, por sinal, está mais bem informado que eu.

Quando o ônibus passou defronte ao bar Dragão, pedi para dar uma paradinha.

“Desce por aqui mesmo”, disse o motorista.

Desci pela frente. Quem disse que neste mundo não há cortesia?

Ninguém conhecido de novo. Porra, onde estão meus amigos às 14h30 de um sábado de jogo do Santa? Tomei uma cerva e vi a galera passando. Vou me embora é para o Arruda, pensei. E obedeci a mim mesmo. Encontrei com Esequias, sofri para comprar meu ingresso de arquibancada (a diretoria vai ter que mexer naquele vespeiro com urgência, já que os cambistas estão mandando e desmandando), e finalmente cheguei ao Bar de Abílio.

Voltando às minhas metafísicas dos costumes clubísticos. Se você chega uma hora antes do jogo e vai ao bar de Abílio, dentro da sede e não encontra um amigo, ou você é insuportável ou é dente-de-leite da torcida do Santa. Ou é um seminarista. Ou coroinha da Igreja. Ou candidato a pastor.

Estava lá Esequias, claro, com aquela conversinha mansa dele. Como ele é colecionador de coisas do Santa Cruz, levei um punhado de ingressos que venho guardando. Ele arregalou os olhos e ficou apreciando cada um, como se fossem figurinhas de um álbum da vida inteira. Bebemos nossa cerva gelada. É uma coisa da Idade Média, proibir uma reles e simplória cerveja num estádio de futebol. Os idiotas que fazem leis, neste país, são mesquinhos. Jogo pragas neles todos os dias.

Já na entrada, encontrei Pablo, da Planalto Coral. Ele e uma amiga. Dos três, o menos cabeludo era eu.

A moça foi revistada por duas policiais militares. Não foi uma revista, aquilo. Foi um baculejo que quase alcançou as entranhas. Revistaram a bolsa da moça ítem por ítem. Eu e Pablo passamos rapidinho e ficamos vendo a cena. Era tão absurdo, que teve hora que virou luta de classe. Será que a revista numa moça branca com cabelo liso e aloirado seria a mesma de uma mulher negra, de cabelos crespos?

Mas entramos. E toda vez que entro naquelas arquibancadas, fico imediatamente três graus mais feliz. Celsius ou Fahrenheit, não importa. Os rostos, as figuras, as conversas, a paixão incansável por um time obstinado, teimoso, que não se dobra. Ou seja – a torcida do Santa é a metáfora perfeita do clube.

O fato é que veio o gol e a vitória e os três pontos.

E se Grafite vem mesmo, para resolver o drama do gol, saiam da frente – a gente vai soltar fogo pelas ventas.

**

Ps. É preciso aplaudir de pé os senhores Inácio França e Laércio Portela pelo novo site do clube (www.santacruzpe.com.br). Está bonito pacas, dinâmico, articulado com as redes sociais etc. Se forem olhar o site agora, já tem a entrevista com o treinador após o jogo, fotos da partida e  os melhores lances (filmagens da TV Coral). É de dar gosto. 

Empaterrota

Desde quarta-feira estou em Fortaleza. Vim para o lançamento de meu último livro de poesias e já conheci um bocado de escritores, artistas, compositores.  A turma  daqui bebe com paixão e profissionalismo.

O esquema para o jogo estava rigorosamente perfeito. Desde que botei minha postagem, conclamando para irmos ao jogo no Castelão (“Arena Castelão” um caralho), recebi retorno de corais que iriam ver o Santinha. O José Paulo me ligou, oferecendo carona. No domingo, às 13h, ele passaria aqui no hotel onde estou e depois a gente se encontraria com a torcida “800 quilômetros de paixão”.

Já pensou? Uma vitória fora de casa, para começar uma arrancada?

No sábado, minha mãe avisou:

“Meu filho, você está lembrado do forró que sua tia Theresa convicou, né?”

O forró era domingo, começando mais ou menos 19h, na casa da querida tia. Estariam lá também vários primos e pessoas queridas, que não vejo há tempos.

Fiquei com aquilo martelando. Se eu fosse para o jogo, perderia o forró da tia. Não sou de ir para jogo do Santa e me comportar bem. Sei que beberia todas. Ultimamente, estou até já olhando os telefones do AA.

No sábado, fui dar uma entrevista na Rádio CBN e chamei um táxi. O sujeito era chato pacas e veio com a camisa do Ceará. É “Sócio-Bronze”, algo assim. Paga R$ 50,00 por mês e todo jogo do Ceará, como mandante, entra de graça, só com a carteirinha. Nem fila pega.

“No Castelão, tem uma área só para a gente, que é sócio”, disse.

Ele esculhambou o time de leste a oeste. Parecia a galera aqui do Blog, quando está de mau humor. Segundo Chatoso, o time nem de longe lembra o que ganhou a Copa do Nordeste.

Na volta, dei sorte. Um taxista torcedor do Fortaleza muito simpático disse que a “Carniça” (singelo apelido que a torcida do Fortaleza inventou para denominar o time rival) estava “só o bagaço” e que iria torcer pelo Santa.

“Macho, vocês têm que dar uma peiada boa nessa desgraça”, sugeriu.

Falei para ele sobre meu drama, de querer ir ao forró e ao jogo, mas ele, com seus cabelos brancos, foi direto:

“Rapaz, vá ver sua tia e sua família. Eles devem estar com saudades de você. E você sabe que jogo tem até o fim do ano”.

Depois dessa, o jeito foi fingir que esqueceria o jogo. O José Paulo me ligou e tive que declinar do convite. Minha irmã ficou de me buscar no hotel.

Domingo comecei cedo a tomar umas jurubebas e caramurus. Almocei o cozidão da Dona Ermira botando os papos em dia com o Tonho, meu irmão, Pedim, Netão e os sobrinhos. O João Victor, sobrinho que nasceu no Recife, me recepcionou vestido com a camisa do Santa. O pestinha tem sete anos e usa três pilhas alcalinas em cada pé. Só parei quando bateu o sono.

Estava no hotel me recuperando da soneca, quando o Tonho me ligou.

“Gol do Santa Cruz aos 45 do segundo tempo: 3 x 2!”.

Quase dei um grito, mas iria assustar Silvinha.

Estava a caminho do frigobar, para abrir uma latinha (fone do AA, please), quando ele me ligou de novo.

“Empate da Carniça”.

Puta merda, que empate com sabor de derrota do caralho!

Minha irmã passou meia hora depois, no Fiat da minha mãe que só funciona bem mesmo o motor. Meu irmão diz que quando o carro chega na oficina, o mecânico toma logo uma antitetânica, de tanta ferrugem que tem.

O forró foi ótimo. Esqueci a derrota, digo, o empate, por umas duas horas. Chopp de rodo, tira-gosto etc.

José Paulo, obrigado pela oferta da carona. Tomamos umas no bar de Abílio, num jogo desses da vida. Espero que em outra posição na tabela…

Pela paz

O Blog do Santinha e o ex-presidente do Santa Cruz, José Neves, já não têm qualquer pendência jurídica. Depois de anos parada na Justiça, a ação cível impetrada contra o Blog teve marcada sua primeira audiência em meados de maio. O problema é que, a essa altura do século XXI, quando o Santa Cruz vive um momento totalmente diferente com paz e a busca pela união entre todos os protagonistas que fazem parte da história do clube, já não havia razão para continuar uma briga tão velha. O que passou passou e priu. Tanto os blogueiros quanto Zé Neves resolveram se antecipar à Justiça: antes mesmo da audiência, trocamos não sei quantos telefonemas e acertamos tudo.

Pelo acordo, Inácio e Samarone entregariam 10 cestas básicas cada um ao clube, para serem distribuídas entre os funcionários mais humildes do quadro administrativo. Zé, em troca, concordaria com a extinção da ação de uma vez por todas. A audiência teve que acontecer. A cena foi até engraçada: a assessora do juiz toda séria, toda cheia de dedos, com medo que nos engalfinhásssemos. E nós rindo, contando histórias de torcedores fanáticos, das demências de Samarone, dos apertos que Zé Neves passou em plena arquibancada da Ilha, quando tentou assistir sem ser reconhecido à final de 2013. Ou de 2012, já não lembro. A moça achou que estivéssemos tirando onda.

Ontem, tudo foi resolvido: as 20 cestas foram entregues ao diretor de Relações de Mercado & Comunicação do clube, o ilustríssimo senhor Jorge Arranja. Zé não pôde ir, enroscou-se numa reunião complicada, mas era para ele ter aparecido na foto. Samarone também não foi para Fortaleza lançar seu livro de poesias premiado junto com outros poetas cearenses desgarrados.

Vamos invadir o Castelão!

Amigos corais, por sorte do destino, lancei um livro de poesias ontem cá em Fortaleza, onde morei por mais de dez anos.

Só depois que cheguei foi que me avisaram que o Santa Cruz joga contra o Ceará, no sábado à tarde, em pleno Castelão.

Como eu tinha passagem de volta marcada para sábado à noite, vou à rodoviária daqui a pouco, para fazer a troca e voltar somente no domingo.

Agora a pergunta fatal: onde a massa coral se encontra, aqui em Fortaleza?

Dados sobre o adversário:

O Ceará está com quatro pontos em setes jogos, Uma vitória, um empate e cinco derrotas. Aproveitamento de 19%.

Sei que Gerrá fez as contas dele, mas não lembro nosso percentual. Deve ser meio por cento melhor.

Mas a questão é pensar somente (e obcecadamente) na vitória, sábado.

Aguardo o retorno da massa coral, em Fortaleza, para irmos juntos ao Castelão. Se for perto da praia, melhor. É bom ir com gente conhecida, porque a turma das organizadas daqui bate pesado.

Sozinho, com a camisa do Mais Querido, posso virar picadinho.

Fazendo contas

Tá lasca acompanhar o meu time nesse período junino. Até agora, só pude ver alguns jogos do Santa Cruz. No Arruda, não fui a nenhum. Pela televisão, assisti aos jogos contra Macaé, Paraná e Luverdense.

Vou logo deixando claro que não é por mi-mi-mi, muito menos por cornura.

A bronca é que, infelizmente, os jogos têm coincidido com os forrós que a gente anda fazendo por aí. Parece que a CBF fez questão de atrapalhar minha ida ao Arruda, marcou esses nossos três primeiros jogos em casa, sempre na noite da sexta-feira.

Mesmo assim, tenho acompanhado essa campanha medíocre que estamos fazendo. Vejo os melhores momentos na internet, converso com um amigo, dou uma espiada nos comentários do Blog, essas coisas.

Confesso que já comecei a usar a calculadora.

Até agora, temos somente 23,8% de aproveitamento. Quase nada pra quem entrou na competição falando em se classificar para Série A.

Disputamos vinte e um pontos, ganhamos apenas cinco. E o pior, jogamos três partidas em casa e só fizemos quatro pontos.

Desde que inventaram os pontos corridos na Seribê, o percentual mais baixo de aproveitamento para um clube se livrar do rebaixamento foi em 2012. Naquele ano, o Guaratinguetá se segurou com quarenta e três pontos, o CRB fez quarenta e dois pontos e foi rebaixado. O Santa fez uma pífia campanha na Sericê (toc, toc, toc).

O ano onde a pontuação foi mais alta para não ser empurrado pra Sericê foi em 2007. Justamente o ano em que nosso Santa Cruz começou a rolar ladeira abaixo(toc, toc, toc, de novo).

Naquele brasileiro, o Ceará fez cinquenta pontos e conseguiu ficar em décimo sexto colocado. O primeiro dos rebaixados foi o Paulista que fez quarenta e cinco.

Ainda nos restam trinta e um jogos. Desses, dezesseis serão no Arruda. Não dá para saber ainda, quantos pontos são necessários para fugir desta sericê, mas dos jogos que restam em casa, para não correr risco de rebaixamento, vamos ter que ganhar praticamente todos.

Bom, mas trocaram o treinador. E torcedor que é torcedor, sempre renova as esperanças.

Espero que Martelloti consiga ajeitar esse time e animar o elenco. Só assim eu esqueço a calculadora de lado e deixo de fazer cálculos para ver se a gente consegue ficar na Seribê.

Deixemos de cornura!

Puta merda, nunca vi tanta azia, má-digestão, mau olhado, quizila, caminho fechado, ingrisia.

O time joga numa sexta-feira à noite, tem greve de metrô, ônibus, cai uma chuva de arrombar, e… perde;

Amanhã, jogo às 21h50, novamente sexta-feira. Se bobear, pode chover de novo.

Para arrematar, o time está uma bosta. Desculpem, mas hoje estou com a boca suja.

Sim, E DAÍ?

Quem abandona o time na magra, como estamos acostumados a ver? Sabemos bem: Náutico e Sport.

Quando estão na boa, é tudo lindo. Se cai na tabela, é vaia e estádio vazio. E somem da paisagem. Não se vê uma camisa na rua, nem para remédio.

Nós somos a torcida do Santa Cruz, caralho!

Amanhã é obrigação cívica não só ir ao estádio, como chamar amigos, mandar ver nesses negócios do Facebook, celular, convocando para empurrar o time.

A gente pode entupir os sites e blogs do mundo inteiro, com nossas justas reclamações, mas o simples gesto físico de ir ao estádio, amanhã, vale mais que mil palavras.

Desculpem o péssimo trocadilho, mas “Um tocedor do Santa Cruz vale mais que mil palavras”.

Deixemos de cornura, de mimimi, de raivinha, de raivona, de ódio, de mau agoro.

Vamos ao Arruda, fazer como certos casais, que se amama mas se afastam, resolvem “dar um tempo”, por pura raivinha, e se reencontram, três anos depois, e dizem, quase ao mesmo tempo:

“Quanto tempo perdido…”

Um ano que nunca será esquecido

Dei uma passada para ver os comentários e me deparo com uma boa nostalgia. Daquelas que faz o sujeito voltar no tempo e ter saudades.

O ano era 2005. O Santa Cruz foi campeão estadual. Ganhamos os dois turnos. No segundo, jogamos em Petrolina, numa quarta-feira e ganhamos o campeonato de forma antecipada e incontestável. O time do velho Giva foi campeão com os pés nas costas.

Da quarta-feira até a última rodada, o jogo contra a Barbie no domingo, a cidade ficou pintada de preto-branco-encarnado e o estoque de bebida da Região Metropolitana sofreu uma grande baixa.

Entramos na série B com o time todo organizado e fomos embalando. Lembro que ainda nas primeiras rodadas, metemos um 4 a 2 no Bahia, lá dentro.

Sem grandes craques, sem salário em dia e sem coordenador técnico, fosse aquela seribê de pontos corridos, teríamos sido campeões.

Naquela época, eu, Chiló e Alessandra já fazíamos uns forrozinhos para os amigos. Voltando do São João de Arcoverde, com triângulo, sanfona e zabumba no carro, Chiló deu a ideia de irmos para o Arruda tocar forró. Era um domingo de junho e o Santa Cruz iria jogar em casa. Fomos direto pro jogo e a farra foi grande. Ali nasceu a Sanfona Coral, que dias depois, numa mesa do Empório Sertanejo, foi constituída como torcida musical organizada.

Muita gente ainda pergunta por que a Sanfona não volta. Por um simples motivo, éramos movidos à cerveja e o precioso liquido não pode mais entrar na arquibancada.

Foi naquele ano mágico que Inácio e Samarone tiveram a brilhante ideia de fazer um blog, o Blog do Santinha.

Era em 2005 que João Peruca, filho de Zé, promovia o fezão. Se a rodada fosse no final de semana e o Santa jogasse no Arruda, Joãozinho fazia uma suculenta feijoada, botava umas aguardentes na roda e estava organizada a preliminar. Isso foi virando um ritual e todos tinham certeza que o fezão dava sorte. Ir para o jogo, sem antes comer a feijoada, dava um azar danado.

Tinha a Kombi Coral. Seguíamos para os jogos fazendo forró dentro da Kombi, dando carona a todo mundo que estivesse pelo caminho e parando de bar em bar para abastecer o organismo e jogar álcool dentro da pança de Naná.

Certa vez, íamos pela Santos Dumont e um rapaz vestido com nosso manto sagrado caminhava pela calçada. Paramos a kombi e oferecemos carona. Ele aceitou. Pra puxar conversa nos disse que estava vindo a pé do Mercado da Boa Vista, que sempre fazia isto. Quando ele acabou de dizer, Naná parou a kombi e botamos ele pra fora.

— Tu tás doido, é? Vai a pé que o Santa tá ganhando tudo. A gente não pode dar sopa pro azar.

2005 nunca será esquecido.

Um ano cheio de boas histórias. Nossa viagem para ver o jogo contra a Portuguesa. Nossa invasão ao treino no Arruda. As amizades que duram até hoje. As figuras. Os pergonagens.

Passaria horas e horas escrevendo sobre aqueles dias.