Desde o início da semana fiquei enchendo o saco dos amigos, atrás de ingresso para o jogo de Costa Rica e Grécia. Me atabaquei e entrei na onda da Copa do Mundo. Além disso, confiei no taco da turma de Costa Rica. No final da manhã de ontem, Sebba e sua companheira Dani conseguiram comprar um ingresso para mim.
Pois bem, pela segunda vez na minha vida, viajei para assistir a um jogo na Arena Pernambuco. Havia ido ver Santa Cruz e Luverdense, naquele jogo pela seribê, quando empatamos em zero a zero.
Desta vez, fui usufruindo do padrão FIFA. Com direito a BRT entupido de gente, cerveja Brahma ao preço de dez reais, lugarzinho marcado, bagunça no banheiro, gente querendo aparecer a todo custo no telão, essas coisas.
Chegamos à Praça do Derby por volta das duas da tarde.
Tudo bem organizado. Filas para comprar a pulseirinha que permitia o acesso ao ônibus, fila para entrar no coletivo, orientadores educados dando as dicas e mostrando as direções.
Os crentes aproveitavam para fazer suas pregações e os camelôs para vender suas bebidas e lanches.
Uma linda tarde de domingo. Com o Recife sem engarrafamento e sem ruas alagadas.
Ainda na fila para pegar o BRT, cravei Costa Rica no bolão. Eu só não, todo mundo que conheço apostou na seleção costarriquenha e acreditou que iria ver um belo futebol. O menor placar que ouvi foi 2 a 0 pros latinos.
Nos iludimos, bonitinho! A seleção de Costa Rica jogou um futebol horrível.
Aquilo que vi ontem deu calo na vista. Foi uma das piores peladas que já presenciei. A coisa foi tão feia que de uma hora pra outra comecei a torcer pela Grécia. Lá pras tantas, me vi torcendo pela decisão por pênaltis, pois só assim, os duzentos e vinte reais que paguei valeriam a pena.
Naqueles dois times, Carlos Alberto, Léo Gamalho, Sandro Manoel e até Pingo seriam titulares. Oziel, Raul e Betinho, tranquilamente teriam vaga no banco.
Pior do que a peleja foi ter que conviver durante 120 minutos com um bando de tabacudo falando besteiras perto de mim e umas meninas dando gritinhos histéricos. Ao meu lado tinha uma galeguinha que vibrava com qualquer ataque. Seja de quem fosse, a moça se empolgava.
– Você está torcendo por quem? – eu perguntei.
– Pela Costa Rica, mas também pela Grécia. – ela disse.
“Agora foi que fudeu a tabaca de xola”, eu pensei.
Três coisentos se danaram a querer puxar o grito de guerra deles. Ninguém acompanhava, mas eles insistiam com aquela chatice. Virei pra um deles, um gordinho de boné e perguntei em alto e bom som:
– Ei nobre, é tudo mesmo? diz aí, é tudo mesmo?
Um paulista careca, vestido com uma camisa do Corinthians, cheio de álcool no juízo, e que também falava suas merdas, quis botar fogo na história.
– Olha aí, manô. Tu vai deixar o Cobra Coral tirar onda? Ô loco, meu!
O gordinho deu uma recuada e quis ser educado:
– Aqui somos todos pernambucanos. Estamos na copa. Isso é o que interessa. O que vale é a amizade.
“Amizade de cu é rola”, eu pensei. Mas deixei para lá. Não dei bola e tentei me concentrar na pelada que estava acontecendo no gramado.
Na minha fileira, a fila V, havia um grego. Um grandão branquelo que gritava a pleno pulmões um negócio que ninguém entendia. “Eloz”. “É nós”. “Elhós”. Sei lá.
O Zé Ruela do corintiano quis puxar conversa, outra vez. Olhou pra mim e disse:
– Ô meu! Esse é o time do Caça-Ratô? É o time que desceu para seridê?
Pensei “vai te fuder” e respondi:
– É o time que tem a maior média de público no Brasil e que tem a maior torcida do Norte e Nordeste. Aqui a gente não abre time do sul, não!
O sujeito quis tirar onda e começou a baixar o nível.
– Ô loco! Eu soube que o governo aqui paga pra vocês irem pro jogo. Qualquer dia vou te convidar pra ir numa favela lá em São Paulo.
Encerrei o papo com a categoria de um beque de usina.
– Vou não, meu velho. Tou a fim de comer cu de paulista, não!
Resolvi o problema, aliás, os dois. O paulista deu uma pipocada e desapareceu. A galeguinha que torcia pelo espetáculo e dava gritos finos no meu pé do ouvido, saiu de mansinho e não voltou mais.
Alguns me deram total apoio. Um cara que estava na minha frente apertou minha mão. Outro sujeito fez um legal pra mim. Sebba gargalhou de alegria. Sossegados, podemos ver as cobranças das penalidades entre Costa Rica e Grécia, que por sorte, foi na barra onde estávamos.
O jogo terminou. A Costa Rica se classificou. E a cerveja acabou.
Voltamos para casa morrendo de fome e espremidos dentro de um BRT lotado de idiotas.